Post de Aldina Barral
A concessão, em 2009, do Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina a duas mulheres, assim como a concessão do Prêmio de Economia a uma mulher, levou-me a uma análise do reconhecimento da capacidade das mulheres pelas comissões do Prêmio Nobel. Este que é o prêmio de maior prestígio no mundo foi estabelecido por Alfred Nobel, em 1895, um ano antes de sua morte. Ele deixou uma parte de sua fortuna dedicada à formação de um fundo de investimento cujos lucros seriam distribuídos anualmente na forma de prêmios a serem concedidos para indivíduos que mais tivessem contribuído para o benefício da humanidade.
Entre 1901 e 2009, o Prêmio foi concedido 537 vezes para 829 indivíduos, com algumas pessoas o recebendo mais de uma vez. Apenas 41 vezes o prêmio foi concedido a mulheres. Marie Curie foi a primeira mulher a ganhar o Nobel e uma das poucas pessoas a recebê-lo duas vezes. Ela recebeu o Nobel de Física em 1903 e repetiu o feito, em Química, em 1911. Considerando a dupla premiação de Marie Curie, apenas 40 mulheres foram reconhecidas, enquanto o prêmio foi concedido a 765 homens. É digno de menção que Pierre, o marido de Marie Curie, assim como sua filha, Irène Joliot-Curie, e genro (Frederic Joliot, dividiu o Prêmio de Química com Irene em 1935) também foram premiados, constituindo a família mais laureada pelo Nobel.
A área de Fisiologia e Medicina teve 10 mulheres laureadas, ficando atrás de áreas de Literatura e da Paz, cada uma delas com 12 premiações femininas. A Química premiou quatro mulheres e a Física apenas duas. A área de Economia, com premiação mais recente, reconheceu a primeira mulher apenas este ano. Das 10 premiações femininas em Fisiologia e Medicina apenas uma é da área de imunologia (Françoise Barré-Sinoussi em 2008).
É importante mencionar que há uma diferença importante entre os primeiros e últimos anos de concessão do prêmio. Nos 70 anos após o início do prêmio (1901 até 1970) apenas 15 vezes as mulheres foram premiadas. De 1971 a 2009 (38 anos) houve 26 premiações a mulheres. Embora ainda bastante desigual, observa-se um reconhecimento crescente do papel feminino na ciência.
A mudança de reconhecimento das mulheres pelas comissões do Prêmio Nobel com a inflexão nos anos 70 é emblemática. Embora a luta pelos direitos femininos seja antiga ela é mais acentuada neste período. O livro “A mulher eunuco”, publicado por Germaine Greer em 1971, é considerado o manifesto mais realista da libertação da mulher.
A reivindicação de plena igualdade ainda não foi alcançada, mas houve progresso considerável. Durante o ImmunoRio 2007, tive oportunidade de rever alguns dados sobre a participação da mulher na ciência brasileira. Os dados da apresentação “Brazilian Society for Immunology: How much of an old boy´s club?” (veja abaixo) mostraram que a SBI tem uma maioria de mulheres entre seus associados, contudo há mais palestrantes masculinos (principalmente entre os convidados estrangeiros) nos congressos da SBI. As diretorias da SBI também apresentam historicamente uma participação feminina muito menor que a percentagem de mulheres entre os associados. A atual diretoria é uma exceção nesta regra. Considerando outras instituições no Brasil, como a Academia Brasileira de Ciências, vemos que as mulheres aumentaram bastante a sua participação, mas ainda são pouco numerosas nos comitês e nos cargos de direção.
No conjunto, observamos progresso no reconhecimento do papel da mulher mas ainda há muito a fazer. As mulheres não devem buscar privilégios indevidos, mas não devem se conformar com o preconceito.
Ilustração: Françoise Barré-Sinoussi recebe o Prêmio Nobel do Rei da Suécia.
legal,isso é so simbolico
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