Post de Manoel Barral e Bruno Andrade.
Post de divulgação de trabalho com participação do laboratório responsável pelo blog. Embora confiemos não haver conflito de interesse, pode haver viés de entusiasmo.
Luis Claudio Correia, que publica temas interessantes em seu blog Medicina Baseada em Evidências, contribui também para a medicina embasada cientificamente através da geração de dados. Ele acaba de publicar, em colaboração com pesquisadores do LIMI, o artigo: “Prognostic value of cytokines and chemokines in addition to the GRACE Score in non-ST-elevation acute coronary syndromes” (Luis C.L. Correia, Bruno B. Andrade, Valéria M. Borges, Jorge Clarêncio, Ana P. Bittencourt, Rafael Freitas, Alexandre C. Souza, Maria C. Almeida, Jamile Leal, J. Péricles Esteves, Manoel Barral-Netto. Clin Chimica Acta 411 (2010) 540–545. doi:10.1016/j.cca.2010.01.011).
Os pacientes com síndrome coronariana aguda com elevação não-ST estão sujeitos a riscos de recorrência de eventos durante a hospitalização. Se na chegada do paciente fosse possível determinar apropriadamente o verdadeiro risco ao qual o paciente está submetido, poderiam ser adotadas estratégias terapêuticas apropriadas para as situações individuais. Esta é assim, uma área de intensa investigação, com possibilidade de aplicação no cuidados aos pacientes.
A inflamação contribui para a desestabilização da placa de ateroma e, assim, ser relaciona com doença coronariana. Há publicações demonstrando que biomarcadores inflamatórios são preditores de risco na recorrência de eventos na síndrome coronariana aguda, independentemente dos fatores tradicionalmente utilizados. O próprio grupo de Luis Claudio publicou recentemente um artigo que demonstra que a proteina C reativa é um preditor de risco (Correia LC, Lima JC, Rocha MS, D'Oliveira JA, Pericles EJ. Does high-sensitivity. C-reactive protein add prognostic value to the TIMI-Risk Score in individuals with non-ST elevation acute coronary syndromes? Clin Chim Acta 2007;375:124–8).
Nesse contexto, para que um novo marcador seja realmente incorporado na prática clínica e seja utilizado no manuseio dos pacientes é necessário que demonstre ser capaz aumentar o poder de estratificação de riscos além dos modelos preditivos já existentes. Assim no trabalho de 2007, o grupo demonstrou que a avaliação da proteina C reativa adicionava valor preditivo ao escore de risco denominado TIMI, em pacientes com síndrome coronariana aguda não-ST.
A avaliação do risco individual na admissão de pacientes com síndrome coronariana aguda é realizada utilizando escores de risco, os quais incluem estimativas clínicas e/ou laboratoriais. No momento, o escore de risco validado e com maior aceitação é o escore GRACE (de Araujo GP, Ferreira J, Aguiar C, Seabra-Gomes R. TIMI, PURSUIT, and GRACE risk scores: sustained prognostic value and interaction with revascularization in NSTE- ACS. Eur Heart J 2005;26:865–72).
No estudo agora publicado com a colaboração do LIMI, foi avaliado se a dosagem de citocinas e quimiocinas adiciona valor ao risco previsto pelo GRACE. A determinação de um escore inflamatório, baseado na dosagem de citocinas (IL-1beta, L-6, IL-10, IL-12p70, e do receptor solúvel tipo I de TNF-α), quimiocinas (IL-8, CCL5, CXCL9, CCL2, and CXCL10) foi capaz de aumentar a capacidade prognóstica do GRACE.
Embora promissor, este dado deve ser analisado com a cautela necessária por ter sido obtido numa amostra relativamente pequena. Será necessário que estudos posteriores com amostragem maior e também por estudos realizados por outros grupos confirmem estes achados. Caso se confirme o valor potencial do escore inflamatório na previsão de risco coronariano, restarão as preocupações com o custo da incorporação de tais dosagens na prática médica.
Veja o resumo do trabalho:
“Background: Increased cytokine and chemokine levels are associated with cardiovascular events in patients with non-ST-elevation acute coronary syndromes (ACS), but the incremental prognostic value of these inflammatory markers is not known. We determined if cytokine and chemokine assessment adds prognostic information to the GRACE Score in patients with ACS.
Methods: Five cytokines (interleukin (IL)-1β, IL-6, IL-10, IL-12p70, and tumor necrosis factor (TNF)-α soluble receptor I), five chemokines (IL-8, CCL5, CXCL9, CCL2, and CXCL10) and C-reactive protein (CRP) were measured at admission of 87 patients admitted with ACS. Results: During hospitalization, the incidence of cardiovascular events was 13% (7 deaths, 1 nonfatal acute myocardial infarction, and 3 refractory unstable angina). Individuals who developed events had significantly greater levels of CRP, IL-1β, IL-12, TNF-α, IL-8, CXCL9 and CCL2, compared with those free of events. Thus, these markers were used to build an Inflammatory Score, by the input of one point for each of these variables above the 75th percentile. After adjustment for the GRACE Score, the Inflammatory Score independently predicted events (OR = 1.80; 95% CI = 1.12–1.88). Incorporation of the Inflammatory Score into the GRACE Score promoted a C-statistics improvement from 0.77 (95% CI=0.58–0.96) to 0.85 (95% CI = 0.71–1.0). Net reclassification improvement obtained with GRACE–Inflammatory Score was 13% (P=0.007), indicating a significant reclassification. When only CRP was incorporated into GRACE, the increase on C-statistics was not relevant (from 0.77 to 0.80).
Conclusion: Cytokines and chemokines measured at admission add prognostic information to the GRACE Score in patients admitted with ACS.”
Esta colaboração do LIMI representa um esforço do grupo no investimento de investigações aplicadas que buscam a resolução de problemas práticos. Além de estudos sobre imunopatogênese, o rastreamento de biomarcadores deve ser estimulado na medida em que pode trazer inúmeros benefícios na prática médica. Para tanto, colaborações, valiosas como essa com o Luís Cláudio são fundamentais.
Parabéns ao grupo.
ResponderExcluirA resposta inflamatória, incluindo a participação das citocinas avalaidas como preditoras de risco, parecem desempenhar importante papel na evolução das cardipatias isquêmicas de origem ateroscleróticas.
Sérgio