
Acabou o carnaval e já é hora de tratar de outro assunto muito sério durante este ano: Copa do Mundo. Como este blog só trata de esporte na sua relação com a saúde, começaremos analisando um problema de saúde pública durante os grande eventos esportivos.
Um artigo recente do Globalization and Health (2010, 6:1 doi:10.1186/1744-8603-6-1) tem como título: “Sex work and the 2010 FIFA World Cup: time for public health imperatives to prevail”. Encontrei o artigo na listagem de novos títulos do Biomed Central e chamou a atenção por estabelecer a relação entre a Copa do Mundo e o trabalho com sexo, ou como usado em partes do texto, a indústria do sexo. Os autores dizem: “International sporting events are thought to increase demand for paid sex”, embora as duas referências citadas não sejam científicas. O foco central é a preocupação da transmissão do HIV durante a Copa.
Não sei quanto deste tema foi discutido em Copas anteriores e, à primeira vista, surge a preocupação com o preconceito por tratar-se de um país pobre. Isto é, em parte, reforçado pela escassa autoria local. A maior parte dos autores é do International Centre for Reproductive Health, Department of Obstetrics and Gynaecology da Universidade de Ghent. Apenas um dos autores tem endereço exclusivamente local e como se trata de uma consultora independente não há relação com instituição local.
Com esta ressalva, admito que os autores convencem da necessidade de se discutir o assunto e tomar decisões baseadas no interesse da saúde pública. Isto decorre da situação local caracterizada por:
- a infecção pelo HIV é uma pandemia;
- o trabalho do sexo é ilegal, como em boa parte do mundo, o que torna as trabalhadoras do sexo fragilizadas na busca de soluções de saúde;
- a criminilização do sexo pago, torna o assunto não discutido seriamente pelas autoridades políticas e de saúde pública, o que leva à ausência
São identificadas cinco tópicos de vulnerabilidade na Africa do Sul em relação ao problema: Acesso restrito ao serviço de saúde; Acesso restrito à proteção legal; Condições inseguras de trabalho; Estigma e Vulnerabilidade econômica. Pela análise destes tópicos, pesando a situação atual e o potencial de alteração com a descriminilazação do sexo pago, os autores concluem:
“Public discourses lamenting the “immorality” of sex work should be substituted for action that prioritises public health measures and legal frameworks which secure the long-term health of South Africans.”
“Public health goals and available evidence suggest that sex work is best approached in a context where it is decriminalised and where sex workers are empowered, not victimised or persecuted”
A minha impressão é que as recomendações feitas são bastante razoáveis, e superiores às baseadas em moralismo e preconceito. Contudo, não me pareceram completamente embasadas cientificamente. A própria situação de pouco financiamento para estudo e avaliação do probleam deve resultar na falta de dados suficientes para a tomada de decisões.
Do ponto de vista da saúde pública, poderia ser muito importante se a Copa do Mundo servisse para o avanço de medidas de saúde pública, e não somente em relação à indústria do sexo. Imagino que esta publicação se insere num esforço maior neste tema. Lamentavelmente, se ainda nada foi feito, creio que já não há tempo para mudanças importantes.