sexta-feira, 29 de junho de 2012

Coerção para citar, mais um desvio do fator de impacto


É verdade que algumas revistas científicas, em maior ou menor grau, “sugerem” aos autores que citem artigos previamente publicados nestes periódicos? Parece meio esdrúxulo, mas os exemplos se ampliam. A causa deste comportamento? Os editores querem aumentar o fator de impacto das revistas. As revistas com maior impacto tendem a receber os artigos de melhor qualidade.
Como avaliar o mérito de um trabalho científico? Parece óbvio que pela contribuição que os seus achados e conclusões para o avanço do conhecimento. Este julgamento, contudo, depende de um conhecimento apropriado e profundo pelo leitor e em investir tempo na leitura do trabalho e, eventualmente, em outros do campo. O que fazer se não há tempo para ler adequadamente todos os artigos que parecem relevantes numa busca da literatura? Comparar por um método rápido a qualidade dos artigos.
Como o avanço do conhecimento é feito baseado em relatos anteriores, os quais são citados nas novas publicações. Parece óbvio, assim, que o número de citações recebidas por um trabalho seja um indicador de que ele está sendo útil para novos avanços. Ou seja, quanto mais citado, mais valioso é o artigo. Há vários problemas com tal interpretação (o último post neste tema pode ser visto aqui), mas, em geral, o conceito é útil.  
Usando estes critérios é possível rapidamente ter uma indicação dos trabalhos mais relevantes entre os numerosos disponíveis no tema que se pretende estudar - aqueles que são mais citados.
O que fazer quando estou frente aos últimos números fascículos de uma revista e, portanto, nenhum dos artigos foi ainda citado, pela impossibilidade mesmo de citá-los antes de virem à luz. 
A qualidade das revistas poderá orientar a escolha dos artigos a serem lidos. Uma revista que publica muitos trabalhos que são amplamente citados será, pelo mesmo raciocínio das citações de um trabalho, uma revista de qualidade. O indicador que expressa, grosso modo, a média de citações recentes recebidas pelos artigos publicados na revista.
Um dos problemas com o uso intensivo e pouco questionado de indicadores como o fator de impacto é a manipulação para aumento artificial do indicador. No caso das revistas, o aumento do fator de impacto tem norteado muitas das decisões do editores. Uma das medidas problemáticas é o “estímulo excessivo”, na verdade, coação para que os autores citem trabalhos já publicados na revista o que contribui para o aumento do fator de impacto.
Uma publicação recente trata deste assunto e apresenta o problema de forma bem objetiva e com exemplos:
“Coercive self-citation refers to requests that (i) give no indication that the manuscript was lack- ing in attribution; (ii) make no suggestion as to specific articles, authors, or a body of work requiring review; and (iii) only guide authors to add citations from the editor’s journal. This quote from an editor as a condition for publication highlights the problem: “you cite Leukemia [once in 42 references]. Consequently, we kindly ask you to add references of articles published in Leukemia to your present article” (6). Gentler language may be used, but the message is clear: Add citations or risk rejection.”
Vale a pena ler para saber mais sobre o problema:
Coercive Citation in Academic Publishing; Wilhite, A. W., & Fong, E. A. (2012). Science335(6068), 542–543. doi:10.1126/science.1212540

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Peptídeos sintéticos para melhorar o imunodiagnóstico das leishmanioses humana e canina


Post de Rayssa Carvalho
A Leishmaniose Visceral é uma zoonose, causada pela Leishmania infantum, que tem como principal hospedeiro o cão. No Brasil, utiliza-se a Imunofluorescência indireta (RIFI) e o ELISA como principais testes diagnósticos. Entretanto, a especificidade e sensibilidade destas técnicas são comprometidas pelo uso de uma complexa mistura de antígenos, que reduz a acurácia destas favorecendo a manutenção de cães doentes, o que tem comprometido o controle da doença que é baseado na eliminação destes. Neste contexto o uso de combinações de antígenos, previamente definidos, aparece como uma alternativa favorável e que pode gerar melhores resultados. 
Com base nisso, o estudo com o título indicado acima do post (doi:10.1371/journal.pntd.0001622), testou combinações de peptídeos derivados de antígenos já utilizados no diagnóstico de Leishmaniose em soros de 106 cães e 44 pacientes humanos.
Os cães foram divididos em três grupos. O primeiro grupo é constituído por 14 soros negativos para leishmaniose; o segundo grupo é formado por soros de cães doentes, sendo 17 sintomáticos e 13 assintomáticos, oriundos de uma mesma área endêmica. O terceiro grupo é formado por 62 amostras, oriunda de diversas áreas endêmicas. Todos os soros foram testados sorologicamente (RIFI e ELISA) e parasitologicamente (PCR e esfregaço de medula óssea). Os soros positivos foram também divididos de acordo com a reatividade na RIFI em: baixa reatividade (n=20)(<1:320);intermediária (n=20)(>1:320<1:640) e alta reatividade (n=22)(>1:640).Os soros humanos foram obtidos de pacientes com Leishmaniose Visceral ativa.
As proteínas A2 (peptídeo 47), NH (peptídeo 17 e 18), LACK (peptídeo 19) e k39 (peptídeo 13) foram selecionadas de epítopos de células B, através de técnicas de bioinformática, e os peptídeos sintéticos derivados destas foram testados por ELISA nos soros selecionados.
Todos os peptídeos foram capazes de detectar os soros positivos tanto de cães sintomáticos como dos assintomáticos. Uma alta sensibilidade (100%) foi detectada em todos os peptídeos quando foram testados, individualmente, em cães com alta reatividade na RIFI. Entretanto, houve uma diminuição dessa sensibilidade, quando foram testados os soros de intermediaria a baixa reatividade na RIFI.
Para testar a hipótese de que a combinação de peptídeos poderia aumentar a sensibilidade do ELISA na detecção de LV, os autores fizeram combinações de dois peptídeos cada, e testaram nos soros de cães com baixa e intermediaria reatividade.
Nos soros com baixa reatividade, os peptídeos 13 e19, e 47 e 18 apresentaram os melhores resultados, com sensibilidade de 95% e especificidade de 100%.
Nos soros humanos selecionados, os peptídeos 17 e 19, individualmente, obtiveram os melhores resultados com uma sensibilidade de 100% e especificidade de 81% e 94%, respectivamente (Tabela 3). A combinação de peptídeos aumentou a sensibilidade e especificidade entre os peptídeos 13 e 19, 18 e 19, e 13 e 47 com sensibilidade de 100% e especificidade variando de 93% e 100% (Tabela 3)
Portanto, a combinação de peptídeos sintéticos identificados a partir de epítopos de células B, pode ser uma ferramenta útil no desenvolvimento de testes sorológicos com alta sensibilidade e especificidade na leishmaniose visceral humana e canina. 

segunda-feira, 25 de junho de 2012

CNPq divulga diretrizes básicas para integridade na atividade científica


Confira abaixo as diretrizes básicas para a integridade na atividade científica:
  1. O autor deve sempre dar crédito a todas as fontes que fundamentam diretamente seu trabalho.
  2. Toda citação in verbis de outro autor deve ser colocada entre aspas.
  3. Quando se resume um texto alheio, o autor deve procurar reproduzir o significado exato das idéias ou fatos apresentados pelo autor original, que deve ser citado.
  4. Quando em dúvida se um conceito ou fato é de conhecimento comum, não se deve deixar de fazer as citações adequadas.
  5. Quando se submete um manuscrito para publicação contendo informações, conclusões ou dados que já foram disseminados de forma significativa (p.ex. apresentado em conferência, divulgado na internet), o autor deve indicar claramente aos editores e leitores a existência da divulgação prévia da informação.
  6. Se os resultados de um estudo único complexo podem ser apresentados como um todo coesivo, não é considerado ético que eles sejam fragmentados em manuscritos individuais.
  7. Para evitar qualquer caracterização de autoplágio, o uso de textos e trabalhos anteriores do próprio autor deve ser assinalado, com as devidas referências e citações.
  8. O autor deve assegurar-se da correção de cada citação e que cada citação na bibliografia corresponda a uma citação no texto do manuscrito. O autor deve dar crédito também aos autores que primeiro relataram a observação ou ideia que está sendo apresentada.
  9. Quando estiver descrevendo o trabalho de outros, o autor não deve confiar em resumo secundário desse trabalho, o que pode levar a uma descrição falha do trabalho citado. Sempre que possível consultar a literatura original.
  10. Se um autor tiver necessidade de citar uma fonte secundária (p.ex. uma revisão) para descrever o conteúdo de uma fonte primária (p. ex. um artigo empírico de um periódico), ele deve certificar-se da sua correção e sempre indicar a fonte original da informação que está sendo relatada.
  11. A inclusão intencional de referências de relevância questionável com a finalidade de manipular fatores de impacto ou aumentar a probabilidade de aceitação do manuscrito é prática eticamente inaceitável.
  12. Quando for necessário utilizar informações de outra fonte, o autor deve escrever de tal modo que fique claro aos leitores quais ideias são suas e quais são oriundas das fontes consultadas.
  13. O autor tem a responsabilidade ética de relatar evidências que contrariem seu ponto de vista, sempre que existirem. Ademais, as evidências usadas em apoio a suas posições devem ser metodologicamente sólidas. Quando for necessário recorrer a estudos que apresentem deficiências metodológicas, estatísticas ou outras, tais defeitos devem ser claramente apontados aos leitores.
  14. O autor tem a obrigação ética de relatar todos os aspectos do estudo que possam ser importantes para a reprodutibilidade independente de sua pesquisa.
  15. Qualquer alteração dos resultados iniciais obtidos, como a eliminação de discrepâncias ou o uso de métodos estatísticos alternativos, deve ser claramente descrita junto com uma justificativa racional para o emprego de tais procedimentos.
  16. A inclusão de autores no manuscrito deve ser discutida antes de começar a colaboração e deve se fundamentar em orientações já estabelecidas, tais como as do International Committee of Medical Journal Editors.
  17. Somente as pessoas que emprestaram contribuição significativa ao trabalho merecem autoria em um manuscrito. Por contribuição significativa entende-se realização de experimentos, participação na elaboração do planejamento experimental, análise de resultados ou elaboração do corpo do manuscrito. Empréstimo de equipamentos, obtenção de financiamento ou supervisão geral, por si só não justificam a inclusão de novos autores, que devem ser objeto de agradecimento.
  18. A colaboração entre docentes e estudantes deve seguir os mesmos critérios. Os supervisores devem cuidar para que não se incluam na autoria estudantes com pequena ou nenhuma contribuição nem excluir aqueles que efetivamente participaram do trabalho.  Autoria fantasma em Ciência é eticamente inaceitável.
  19. Todos os autores de um trabalho são responsáveis pela veracidade e idoneidade do trabalho, cabendo ao primeiro autor e ao autor correspondente responsabilidade integral, e aos demais autores responsabilidade pelas suas contribuições individuais.
  20. Os autores devem ser capazes de descrever, quando solicitados, a sua contribuição pessoal ao trabalho.
  21. Todo trabalho de pesquisa deve ser conduzido dentro de padrões éticos na sua execução, seja com animais ou com seres humanos.
Texto no portal do CNPq (aqui).
Imagem vista aqui.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Mulheres na Ciência

Esta semana estive em um evento na Academia Brasileira de Ciências e fiquei muito feliz ao ouvir o presidente (Jacob Palis) dizer que a 12,5% dos afiliados da ABC são mulheres. Mais ainda, essa proporção é superior às Academias de Ciências do Reino Unido e da França, segundo o professor Palis. Como colocado no evento, não é muito mas é um bom começo. Como já falado anteriormente aqui e em outras mídias, é preciso aumentar esta participação feminina. Sobretudo quando observamos uma forte presença de meninas na graduação, ainda mais em Ciências Biológicas.
Pois bem, a Science Careers lançou uma série de artigos a esse respeito e neste tópico, um ensaio escrito por uma cientista autraliana me chamou a atenção. No ensaio, Tracy Ainsworth fala sobre uma carreira na ciência que seja family-friendly. Tracy lembra que a carreira em ciência tem vantagens como: trabalhar em um horário flexível, a possibilidade de viajar e de conhecer pessoas interessantes (ou nem tanto). Assim, Tracy ressalta a necessidade de encorajar as mulheres que começam na ciência, de permanecer na ciência. E as mulheres que assim fizeram podem e devem servir de modelo para as que estão em dúvida ou pensando em desistir.

Nesse sentido, o governo australiano vem tomando algumas iniciativas tais como:

- Fornecer licença maternidade de 6 meses com salário integral (12 meses com meio salário) 6 meses de extensão no prazo da bolsa.

- A agência financiadora deve subtrair um ano do tempo de experiência (após o doutorado) para cada filho de uma cientista candidata. Assim, uma candidata que tem doutorado há 15 anos e dois filhos teria sua produtividade avaliada em 13 anos ao invés de 15.

- Editais de pesquisa específicos para mulheres que querem retomar a carreira após uma pausa para a maternidade.

- Cursos de desenvolvimento profissional com treinamento em liderança e gestão em pesquisa, para mulheres.

Políticas direcionadas como essas podem fazer a diferença para uma cientista que quer continuar na carreira.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Atividade in vitro e in vivo de um complexo paladaciclo sobre Leishmania (Leishmania) amazonensis


ResearchBlogging.org
Post de Gabriela B. C. Garcia
A Organização Mundial de Saúde estima que 1,5 milhões de pessoas sejam infectadas com leishmaniose cutânea e 500.000 sejam diagnosticadas com leishmaniose visceral a cada ano. As formas de tratamento atualmente disponíveis são limitadas pela toxicidade para o hospedeiro, aliada ao desenvolvimento da resistência pelos parasitas (Goto et al, 2010 e Polonio et al, 2008). Em consequência, esta doença caracteriza-se como um grave problema de saúde pública. 
A busca por novas drogas leishmanicidas é um objetivo que tem mobilizado a comunidade científica. Pesquisadores (Maekawa et al, 1998; Ponte-Sucre et al, 2006 e Selzer et al, 1999) demonstraram in vitro e in vivo que inibidores de proteases de cisteína são capazes de comprometer a viabilidade dos parasitas do gênero Leishmania. Além disso, foi registrado que drogas antitumorais podem exibir atividade leishmanicida (Fuertes et al, 2008).  
Complexos ciclopaladados apresentaram atividade antitumoral in vitro e in vivo, além de baixa toxicidade em animais (Caires et al, 2007). A ação leishmanicida e tripanocida desses complexos também foi registrada (Fricker et al, 2008; Matsuo et al, 2010 e Navarro et al, 2008). Existem evidências de que complexos paladaciclos são capazes de destruir células tumorais através da suspensão da atividade da catepsina B e efeito inibitório sobre as proteases de cisteína de Leishmania (Bincoletto, 2005). Estes resultados motivaram Paladi e colaboradores (2012) a investigar os efeitos de um composto paladaciclo, DPPE 1.2, em promastigotas e amastigotas presentes em lesões cutâneas de camundongos infectados com L. (L.) amazonensis
Experimentos com promastigotas submetidos a 75 e 150 nM do DPPE 1.2 indicaram atividade inibidora de crescimento durante o primeiro dia de tratamento. Após 2 e 3 dias em contato com a droga, cerca de 100% dos parasitas foram eliminados. 
Em macrófagos infectados com L. (L.) amazonensis, a taxa de eficácia leishmanicida do DPPE 1.2 foi dependente da dose. Taxas similares de eliminação do parasita foram obtidas com o uso do Glucantime. No entanto, o presente antimonial agiu em concentrações significativamente mais elevadas (200x mais) em relação às concentrações do DPPE 1.2 utilizadas.
Camundongos BALB/c infectados receberam injeções de DPPE 1.2 em suas lesões no pé durante um mês. Após 24 dias de tratamento, esses animais apresentaram redução significativa do tamanho da lesão em comparação aos animais controle. Camundongos que receberam injeções de Glucantime exibiram melhora similar da lesão, após 16 dias de tratamento.  A diminuição da carga parasitária nos animais submetidos aos dois tratamentos foi considerável (97% - DPPE 1.2 e 99% - Glucantime).
Os resultados alcançados comprovam a ação leishmanicida do complexo paladaciclo DPPE 1.2 em L. (L.) amazonensis. São vantagens da referida droga em relação às outras:
  1. O DPPE 1.2 destrói promastigotas em concentrações muito baixas; 
  2. A atividade leishmanicida contra amastigotas apresenta toxicidade 10x menor aos macrófagos;
  3. A eficácia na eliminação do L. (L.) amazonensis é semelhante à de outros compostos testados, entretanto, maiores concentrações desses compostos são necessárias;  
  4. Ensaios da atividade hepática e renal foram feitos após o tratamento e indicaram que o DPPE 1.2 é aparentemente ausente de toxicidade para os camundongos BALB/c.
O DPPE 1.2 também exerceu influência na atividade proteolítica do parasita, através da inibição da ação das proteases de cisteína em amastigotas, mais significativamente, a redução na atividade da catepsina B. No entanto, as proteases de cisteína dos macrófagos não foram inibidas. No presente estudo, este complexo inibiu a catepsina B de L. (L.) amazonensis em concentrações acima das necessárias para matar o parasita. Estes resultados sugerem que não há uma relação direta entre o efeito leishmanicida do DPPE 1.2 e a inibição da catepsina B do L. (L.) amazonensis. Outros alvos justificam o efeito leishmanicida do DPPE 1.2. 
Complexos ciclopaladados têm sido relacionados com efeitos organela-específicos nas células tumorais. Eles podem induzir a permeabilidade lisossomal e mitocondrial, o que ocasiona apoptose celular (Barbosa et al, 2006; Santana et al, 2009). A indução de apoptose por DPPE 1.2 ainda não foi investigada.
Os protozoários Leishmania são eliminados através da ativação de macrófagos por INF-γ  e TNF-α e da produção de óxido nítrico (Bogdan et al, 1998), enquanto TGF-β é uma citocina imunossupressora conhecida por agravar a leishmaniose visceral e cutânea (Barral-Netto et al, 1992). A catepsina B de Leishmania está envolvida na conversão da forma latente de TGF-β à sua forma biologicamente ativa (Somanna et al, 2002). Assim, a inibição da catepsina B do parasita pelo DPPE 1.2, que contribui para a sua morte, pode estar relacionada a respostas protetoras decorrentes de uma menor expressão da forma ativa de TGF-β. 
A partir dos resultados obtidos conclui-se que o complexo paladaciclo DPPE 1.2 pode ser uma alternativa de tratamento contra a leishmaniose cutânea. Em vista da sua eficácia na eliminação do parasita e baixa toxicidade na administração intralesional in vivo, é interessante o desenvolvimento de novos estudos que auxiliem esse avanço. 

Paladi, C., Pimentel, I., Katz, S., Cunha, R., Judice, W., Caires, A., & Barbiéri, C. (2012). In Vitro and In Vivo Activity of a Palladacycle Complex on Leishmania (Leishmania) amazonensis PLoS Neglected Tropical Diseases, 6 (5) DOI: 10.1371/journal.pntd.0001626

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Carência de ferro protege contra malária grave e morte por Plasmodium falciparum em crianças jovens


Figura adaptada de Gwamaka et al., 2012: Deficiência de ferro é associada a uma menor % de visitas com parasitemia em todas as faixas etárias analisadas (odds ratio [95%confidence interval; CI] =  0.15 [0.12, 0.19], P <0,01). 
ResearchBlogging.org
Post de Ligia C. L. de Souza
Já é algo estabelecido no cotidiano do médico clínico a pesquisa de sinais, sintomas e dados laboratoriais de anemia. Presente em cerca de 30% da população - principalmente devido à carência de ferro - a condição anêmica, especialmente em crianças, pode levar a um déficit cognitivo, motor, ponderal e estatural. Guidelines internacionais indicam, portanto, a suplementação deste micronutriente em crianças de áreas de alta prevalência de anemia.
A África Subsaariana é uma dessas áreas. Nessa região, além da deficiência de ferro, há a infecção pelo Plasmodium falciparum - condições que lá despontam como maiores responsáveis pela anemia. Apesar da alta prevalência de anemia assinalar a necessidade de suplementação de ferro, ainda não há segurança dessa medida em áreas endêmicas de malária. Alguns estudos apontam para a deficiência de ferro como um fator protetor contra a malária, embora outros não identifiquem essa relação. 
Assim, um estudo de Gwamaka et al, realizado no nordeste da Tânzania – pertencente à África Subsaariana – monitorou clínica e laboratorialmente 785 crianças do nascimento até três anos de idade verificando quanto à carência de ferro (através de amostras de sangue colhidas rotineiramente a depender da idade),  como também quanto ao desenvolvimento de malária (esfregaço sanguíneo e visita clínica a cada 2 semanas no 1º ano e posteriormente a cada mês).  Os casos de malária grave eram definidos de acordo com a presença de parasitas no esfregaço sanguíneo juntamente com a presença de um ou mais critérios definidos pela OMS que incluem parâmetros de: angustia respiratória, convulsão, prostração, hipoglicemia e anemia severa. Já os casos de deficiência de ferro foram definidos com a concentração de ferritina (corrigido de acordo com a presença ou não de inflamação). 
Ao fim de 113 semanas de seguimento, 16% das 785 crianças haviam desenvolvido malária, com uma parasitemia média de 829 P. falciparum /200 glóbulos brancos. A prevalência de deficiência de ferro era baixa nos neonatos, mas aumentou rapidamente ao longo da infância.  Crianças com carência de ferro avaliadas nesse estudo tinham em relação às crianças com níveis normais de ferro, 6,6 vezes menos chance de ter malária (ver figura), 3,9 vezes menor parasitemia, 24 vezes menos hiperparasitemia e 4 vezes menos malária grave. 
Ou seja, a carência de ferro está associada não somente a uma menor chance de contrair malária, mas também a uma menor densidade parasitária. Ainda nesse estudo, ao longo de 3 anos, a deficiência de ferro em crianças de área endêmica foi associada à redução de 66% de chance de morte por malária em relação às demais crianças. Estes resultados são um grande avanço para as estratégias de saúde nas regiões endêmicas de malária por P. falciparum. Há necessidade de esboçar restrições à suplementação de ferro nessas localidades, afinal a condição ferropriva é um fator protetor contra a infecção por P. falciparum em crianças.
Transpondo esses dados para a população brasileira, encontramos a malária localizada na região norte do país, causada neste caso predominantemente por P. vivax. Em estudo, Cardoso et. al. encontrou deficiência de ferro em 45,6% dentre 1111 crianças de 6 meses a 10 anos na Amazônia brasileira. É necessário, dessa maneira, questionar se essa carência de ferro também é fator protetor contra a infecção por P. vivax para elaborar com segurança estratégias de combate à anemia em crianças de regiões com alta incidência de malária. 
 Referências
WHO. Health topics: Anaemia. Disponível em: http://www.who.int/topics/anaemia/en/. Acesso em: Maio de 2012.
CARDOSO, M. A.; Scopel, K. K.G.; Muniz P.T.; Underlying Factors Associated With Anemia In Amazonian Children: A Population-Based, Cross-Sectional Study. Disponível em: www.plosone.org. Acesso em: Maio de 2012.

Gwamaka M, Kurtis JD, Sorensen BE, Holte S, Morrison R, Mutabingwa TK, Fried M, & Duffy PE (2012). Iron deficiency protects against severe Plasmodium falciparum malaria and death in young children. Clinical infectious diseases : an official publication of the Infectious Diseases Society of America, 54 (8), 1137-44 PMID: 22354919

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Um blog aumenta sua visibilidade como professor



Muito interessante o post “Dicas para blogueiros iniciantes e/ou muito ocupados”de Gabriel Cunha no Ciensinando que é uma tradução autorizada do texto  “6 blog tips for busy academics”, escrito pelo Prof. Matt Might da University of Utah.
“Eu não tenho tempo” é a pior desculpa para não manter um blog. Sim, é comum eu ouvir isso de colegas da academia. O meu orientador no doutorado perguntou recentemente:
“Como você consegue escrever um monte de artigos e pedidos de financiamento, dar suas aulas, orientar seus estudantes, cuidar da sua família e ainda ter tempo para blogar? De onde vem esse tempo?”
Incluída nessas questões está a ideia de que blogar necessariamente exige tempo. Se isso fosse verdade, não poderia recomendar a atividade a alunos de doutorado ou quem busca um cargo de professor universitário. O segredo para manter um blog acadêmico com pouco esforço é transformar o ato de escrever em um subproduto de tudo que os acadêmicos normalmente fazem. Por exemplo:
  • Preparando uma palestra interessante? Coloque os pontos que irá discutir – ou seus slides – em um post.
  • Escrevendo uma resposta de e-mail detalhada? Adapte o “responder a todos” do e-mail para um “responder ao público” em um post.
  • Respondendo uma questão pela segunda vez? Transforme a resposta em um post.
  • Adaptando ou testando um novo protocolo, experimento ou atividade similar? Comente em um post.
  • Está em casa fazendo alguma coisa bem nerd? Escreva sobre o que aprendeu no processo.
Vou deixar as vantagens de se manter um blog acadêmico para outro post. Nesse momento, vou argumentar que esses benefícios não precisam ser muito elevados para compensarem o custo de tempo.”
Leia as estratégias para blogar de modo eficiente no Ciensinando.

Figura (vista aqui)

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Aperto nos médicos


Este post não e sobre a redução do salário dos médicos federais. Se trata de breve comentário para estimular a leitura de artigo. A revista The Economist publicou um artigo muito interessante (Squeezing out the doctor) sobre a redução do papel do médico como centro do cuidado em saúde no século atual.
“The past 150 years have been a golden age for doctors. In some ways, their job is much as it has been for millennia: they examine patients, diagnose their ailments and try to make them better. Since the mid-19th century, however, they have enjoyed new eminence. The rise of doctors’ associations and medical schools helped separate doctors from quacks. Licensing and prescribing laws enshrined their status. And as understanding, technology and technique evolved, doctors became more effective, able to diagnose consistently, treat effectively and advise on public-health interventions—such as hygiene and vaccination—that actually worked.
This has brought rewards. In developed countries, excluding America, doctors with no speciality earn about twice the income of the average worker, according to McKinsey, a consultancy. America’s specialist doctors earn ten times America’s average wage. A medical degree is a universal badge of respectability. Others make a living. Doctors save lives, too.”
“But this demand for health care looks unlikely to be met by doctors in the way the past century’s was. For one thing, to treat the 21st century’s problems with a 20th-century approach to health care would require an impossible number of doctors. For another, caring for chronic conditions is not what doctors are best at. For both these reasons doctors look set to become much less central to health care—a process which, in some places, has already started.”
Veja o artigo completo aqui.

As ilustrações são do próprio artigo.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Diagnóstico de malária em mulheres grávidas


Figura adaptada de Mayor et al: Comparação entre HRP2 ELISA, HRP2-RDT e microscopia de sangue periférico na detecção de P. falciparum em mulheres grávidas (detectados com qPCR de sangue periférico ou na placenta) .
ResearchBlogging.org
Post de Ligia C. L. de Souza
Na África, a cada ano cerca de 30 milhões de mulheres que vivem em região endêmica de malária engravidam. Durante a gravidez, com a queda da imunidade, as mulheres tornam-se mais suscetíveis à infecção por Plasmodium sp. e  suas complicações (anemia severa, morte, e maior risco fetal - prematuridade, aborto e baixo peso).  
Essa situação é agravada pela dificuldade do diagnóstico de malária nas grávidas. Isso se deve à capacidade do parasita em se alojar na placenta e permanecendo indetectável no sangue periférico. Por isso, em mulheres grávidas, as técnicas disponíveis para o diagnóstico de malária podem ser pouco sensíveis. Isso é um fator limitante do diagnóstico precoce e do tratamento efetivo contra o P.falciparum, itens fundamentais para redução da morbimortalidade e combate a essa moléstia neste grupo de pacientes.
Frente a esse impasse, Mayor et al avaliaram as ferramentas de diagnóstico de malária em mulheres grávidas em uma amostra de 272 grávidas participantes de um ensaio clínico realizado no sul de Moçambique – região com transmissão permanente de malária por P. falciparum. Assim, comparou-se o desempenho do exame microscópico (sangue periférico ou placenta), exame histológico da placenta, Diagnostic Rapid Tests – RDTs (que constata antígenos específicos do Plasmodium, como HRP2, no hospedeiro), Enzyme-linked Immunosorbent Assay de HRP2 (HRP2- ELISA) e qPCR (quantitative Polymerase Chain Reaction) - técnica mais sensível, porém não aplicável em locais com poucos recursos. Como também associou os resultados desses testes à anemia materna e ao baixo peso das crianças ao nascer. 
Este estudo revelou que o teste rápido (HRP2-RDT), técnica passível de ser utilizada em áreas pobres em recursos, demonstrou maior sensibilidade que o método mais largamente utilizado (exame microscópico de sangue periférico). Apesar disso, HRP2-RDT e HRP2-ELISA (utilizando sangue periférico) foram incapazes de identificar cerca de 61% das infecções reveladas com qPCR do sangue periférico ou da placenta (ver figura).  O teste rápido e o ELISA também revelaram maior sensibilidade para a detecção de malária placentária superando a análise microscópica (placenta ou sangue periférico) e até mesmo exame histológico do órgão. Entretanto, HRP2-RDT e ELISA estão muito aquém da sensibilidade do qPCR da placenta ( 48,9% de sensibilidade de HRP2-RDT em relação ao qPCR).
O risco de anemia foi verificado em todas as mulheres que tiveram positividade em quaisquer dos testes investigados. Mesmo aquelas positivas em qPCR e negativas nos demais testes, apresentaram um risco aumentado de anemia. Todavia, não se conseguiu obter uma correlação significante entre baixo peso das crianças ao nascer e positividade nos testes, possivelmente por limitações do número amostral. 
Logo, o estudo de Mayor et al mostrou que tanto a microscopia, como exame histológico da placenta, e RDT-HRP2 ou ELISA-HRP2 têm uma falha de cerca de 60% da detecção de malária. Ou seja, 60% das mulheres grávidas podem não ter o diagnóstico de malária, o que inviabiliza um acesso precoce ao tratamento e, por conseguinte impede um melhor prognóstico. Necessita-se, portanto, de pesquisas acerca de biomarcadores e técnicas diagnósticas que aliem fácil acesso à boa sensibilidade.
Referências
WHO. Lives at risk: malaria in pregnancy. Disponível em: http://www.who.int/features/2003/04b/en/. Acesso em: Maio de 2012.

Mayor A, Moro L, Aguilar R, Bardají A, Cisteró P, Serra-Casas E, Sigaúque B, Alonso PL, Ordi J, & Menéndez C (2012). How hidden can malaria be in pregnant women? Diagnosis by microscopy, placental histology, polymerase chain reaction and detection of histidine-rich protein 2 in plasma. Clinical infectious diseases : an official publication of the Infectious Diseases Society of America, 54 (11), 1561-8 PMID: 22447794

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Bruno Bezerril Andrade ganha Premio CAPES de Tese

Foto de Bruno ao receber outro Prêmio.

O Prêmio Capes de Tese 2011 da área Medicina II foi concedido a Bruno Bezerril Andrade pela tese “Identificação de potenciais determinantes imunológicos de gravidade da malária humana”, defendida no ano de 2010,  do Programa de Pós-Graduação de Patologia Humana da Universidade Federal da Bahia com trabalho realizado no Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz (FIOCRUZ). Grande parte do trabalho foi desenvolvida em Rondonia, no ICB V da USP.
Ao apresentar a lista de artigos que constituiriam a Tese, pode-se identificar os colaboradores, nas diversas instituições:

Manuscritos publicados na Tese e destaques recebidos / número de citações (ISI Web of Science) até 14 de Agosto de 2011:
  1. Andrade BB, Santos CJ, Camargo LM, Souza-Neto SM, Reis-Filho A, Clarencio J, Mendonça VR, Luz NF, Camargo EP, Barral A, Silva AA, Barral-Netto M 2011. Hepatitis B infection is associated with asymptomatic malaria in the brazilian Amazon. PLoS One, 6, e19841. Número de citações: 0
  2. Andrade BB, Araujo-Santos T, Luz NF, Khouri R, Bozza MT, Camargo LM, Barral A, Borges VM, Barral-Netto M 2010. Heme impairs prostaglandin E2 and TGF-beta production by human mononuclear cells via Cu/Zn superoxide dismutase: insight into the pathogenesis of severe malaria. J Immunol, 185, 1196-1204. Número de citações:
     
  3. Andrade BB, Reis-Filho A, Souza-Neto SM, Clarencio J, Camargo LM, Barral A, Barral-Netto M 2010. Severe Plasmodium vivax malaria exhibits marked inflammatory imbalance. Malar J, 9, 13. Este trabalho recebeu designação Highly accessed pelo Malaria Journal em razão da alta visibilidade em curto período após a publicação. Número de citações: 14
  4. Andrade BB, Reis-Filho A, Souza-Neto SM, Raffaele-Netto I, Camargo LM, Barral A, Barral-Netto M 2010. Plasma superoxide dismutase-1 as a surrogate marker of vivax malaria severity. PLoS Negl Trop Dis, 4, e650. Número de citações: 3
  5. Andrade BB, Reis-Filho A, Barros AM, Souza-Neto SM, Nogueira LL, Fukutani KF, Camargo EP, Camargo LM, Barral A, Duarte A, Barral-Netto M 2010. Towards a precise test for malaria diagnosis in the Brazilian Amazon: comparison among field microscopy, a rapid diagnostic test, nested PCR, and a computational expert system based on artificial neural networks. Malar J, 9, 117.Este trabalho recebeu designação Highly accessed pelo Malaria Journal em razão da alta visibilidade em curto período após a publicação.  Este trabalho mereceu uma reportagem inteira sobre os achados e implicações na malariologia publicada pelo site Science and Development Network – SciDev.net (veja a reportagem em no endereço http://tiny.cc/rd04b). Número de citações: 1
  6. Andrade BB, Rocha BC, Reis-Filho A, Camargo LM, Tadei WP, Moreira LA, Barral A, Barral-Netto M 2009. Anti-Anopheles darlingi saliva antibodies as marker of Plasmodium vivax infection and clinical immunity in the Brazilian Amazon. Malar J, 8, 121. Número de citações: 7
Para saber mais (sem ler todos os artigos) veja um artigo de revisão no qual os achados da Tese são discutidos e analisados:

Andrade BB, Barral-Netto M 2011. Biomarkers for susceptibility to infection and disease severity in human malariaMem Inst Osw Cruz, 106 (Suppl I): 70-78



quinta-feira, 7 de junho de 2012

O ônibus espacial americano e as bundas dos cavalos romanos


Os tanques de combustível sólido do Space Shuttle não puderam ser tão largos quanto queriam seus engenheiros. Tiveram que se adequar às medidas das bundas dos cavalos romanos….
Como assim? é a pergunta mais óbvia. Basta relembrar:
Os tanques de combustível são fabricados no Utah e precisam ser transportados por ferrovia, ou seja devem obedecer à bitola ferroviária.
A bitola ferroviária é de 4 pés e 85 polegadas, porque esta é a bitola das ferrovias inglesas. Esta medida das ferrovias advém do fato que os vagões eram fabricados pelas mesmas empresas que construíam as carroças.
A medida das carroças, por sua vez, foi originalmente determinada pela largura das estradas antigas da Europa. Os grandes construtores de estrada em toda a Europa foram os romanos pelo que a medida das bigas romanas foi o padrão utilizado para a largura das estradas.
Obviamente a largura da biga foi determinada pela largura de bunda de dois cavalos.
A história pode explicar muita coisa, mas algumas destas explicações que parecem corretas não o são. É bom ter cautela. Neste caso, se non è vero, è ben trovato.
Site da figura acima do post (aqui).

quarta-feira, 6 de junho de 2012

CENAS DO BRASIL - O Ciência Sem Fronteiras



CENAS DO BRASIL - 24.05.12: O Ciência Sem Fronteiras é um programa que busca promover a consolidação, expansão e internacionalização da ciência e tecnologia, da inovação e da competitividade brasileira por meio do intercâmbio e da mobilidade internacional. A iniciativa é fruto de esforço conjunto dos Ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e do Ministério da Educação (MEC), por meio de suas respectivas instituições de fomento -- CNPq e Capes --, e Secretarias de Ensino Superior e de Ensino Tecnológico do MEC. São mais de 100 mil bolsas de estudos para alunos brasileiros de graduação e pós-graduação em instituições internacionais. O programa também pretende atrair pesquisadores do exterior interessados em trabalhar no Brasil. Para debater sobre essas e outras questões os convidados deste programa são: Isaac Roitman, coordenador do Grupo de Trabalho de Educação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - SBPC; e Manoel Barral-Neto, vice-presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

segunda-feira, 4 de junho de 2012

A literatura médica adota o tablet


Definitivamente a área médica se encantou com o tablet. Na verdade um grande número de aplicativos médicos para iPhone já existe há algum tempo. Porém, a leitura de textos longos não é muito confortável nos smart phones. O tablet chegou e muitos livros apareceram no formato apropriado para eles. Contudo as revistas médicas demoram um pouco para aderir ao newsstand eletrônico. Esta barreira foi rompida. Quase todas as revistas de peso estão disponíveis para tablet.
Recentemente Tom Lewis publicou na iMedical Apps um post com (quase) todos os endereços de revistas médicas disponíveis (A complete list of all academic medical journals available for the iPad).
Veja o post completo e os endereços das revistas aqui.
A imagem acima do post é uma das grandes fotografias de Doisneaux. Ao ver a foto, além de gostar imenso das expressões dos alunos,  lamentei nunca ter tido o meu tablet em quadro-negro como eles.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

As maravilhas do óleo de coco. II- Perda de peso


Não há evidência firme que o óleo de coco altere (melhorando ou piorando) o perfil lipídico, como visto em post anterior (aqui), o que recomenda cautela na sua utilização. Precisa ser examinada a possibilidade que o óleo de coco promova perda de peso.
Neste tópico as evidências são mais fortes. Um trabalho de 1986, embora feito com apenas sete voluntários sadios indica a possibilidade que a substituição a longo prazo de triglicéridas de cadeia longa (LCT) por triglicéridas de cadeia média (MCT) produza perda de peso, e as MCTs são as principais componentes do óleo de coco (Seaton, T. B., Welle, S. L., Warenko, M. K., & Campbell, R. G. (1986). Thermic effect of medium-chain and long-chain triglycerides in man The American journal of clinical nutrition44(5), 630–634.)
Estes achados são reforçados por outros estudos. Um artigo de  2003, com 19 voluntários com sobrepeso, indica que a mudança da gordura da dieta na direção de oxidação resulta em diminuição do acúmulo de gordura e que se reflete em perda de peso corporal e de tecido adiposo subcutâneo (St-Onge, M.-P., & Jones, P. J. H. (2003). Greater rise in fat oxidation with medium-chain triglyceride consumption relative to long-chain triglyceride is associated with lower initial body weight and greater loss of subcutaneous adipose tissue. International Journal of Obesity, 27(12), 1565–1571. doi:10.1038/sj.ijo.0802467). 
Em estudo posterior, com 31 voluntários para avaliação de uma dieta rica em MCT os autores mostram que além de perda de peso, a dieta com MCTs não leva a efeitos adversos no perfil lipídico (St-Onge, M.-P., Bosarge, A., Goree, L. L. T., & Darnell, B. (2008). Medium chain triglyceride oil consumption as part of a weight loss diet does not lead to an adverse metabolic profile when compared to olive oil Journal of the American College of Nutrition, 27(5), 547–552.).
Além da perda de peso, o óleo de coco é usado em muitas aplicações cosméticas, inclusive para prevenção de dano capilar, sendo superior ao óleo de girassol ou óleo mineral:

“Among three oils, coconut oil was the only oil found to reduce the protein loss remarkably for both undamaged and damaged hair when used as a pre-wash and post-wash grooming product. Coconut oil, being a triglyceride of lauric acid (principal fatty acid), has a high affinity for hair proteins and, because of its low molecular weight and straight linear chain, is able to penetrate inside the hair shaft”. Effect of mineral oil, sunflower oil, and coconut oil on prevention of hair damage. (2003). Effect of mineral oil, sunflower oil, and coconut oil on prevention of hair damage., 54(2), 175–192.
Se quiser se apaixonar definitivamente pelo coco, recomendo a revisão “Coconut (Cocos nucifera L.: Arecaceae): In health promotion and disease prevention” (doi: 10.1016/S1995-7645(11)60078-3) com vários tópicos:
  • As an electrolyte
  • Antidote effect
  • Antioxidant effect
  • Cardioprotective effect
  • Antithrombotic effect
  • Antithrombotic effect
  • Hypolipidemic effect
  • Anticholecystitic effect
  • Antibacterial activity
  • Anticaries activity
  • Antidermatophytic activity
  • Antiviral effect
  • Antifungal effect
  • Antiprotozoal activity
  • Anticancer effect
  • Immunostimulatory effect
  • Antidiabetic effect
  • Hepatoprotective activity
  • Disinfectant activity
  • Insect repellant
  • Eco-friendly biodiesel
  • Hormone like effect
além destes 22 ítens ainda podia ser acrescentado que coco é bom para espinhela caída!
Se tiver ânimo para mais um post sobre óleo de coco, farei um sobre os seus efeitos imunológicos.