quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

A Copa do Mundo e a pandemia de HIV


ResearchBlogging.org
Acabou o carnaval e já é hora de tratar de outro assunto muito sério durante este ano: Copa do Mundo. Como este blog só trata de esporte na sua relação com a saúde, começaremos analisando um problema de saúde pública durante os grande eventos esportivos.
Um artigo recente do Globalization and Health (2010, 6:1 doi:10.1186/1744-8603-6-1) tem como título: “Sex work and the 2010 FIFA World Cup: time for public health imperatives to prevail”. Encontrei o artigo na listagem de novos títulos do Biomed Central e chamou a atenção por estabelecer a relação entre a Copa do Mundo e o trabalho com sexo, ou como usado em partes do texto, a indústria do sexo. Os autores dizem: “International sporting events are thought to increase demand for paid sex”, embora as duas referências citadas não sejam científicas.  O foco central é a preocupação da transmissão do HIV durante a Copa.
Não sei quanto deste tema foi discutido em Copas anteriores e, à primeira vista, surge a preocupação com o preconceito por tratar-se de um país pobre.  Isto é, em parte, reforçado pela escassa autoria local. A maior parte dos autores é do International Centre for Reproductive Health, Department of Obstetrics and Gynaecology da Universidade de Ghent. Apenas um dos autores tem endereço exclusivamente local e como se trata de uma consultora independente não há relação com instituição local.
Com esta ressalva, admito que os autores convencem da necessidade de se discutir o assunto e tomar decisões baseadas no interesse da saúde pública. Isto decorre da situação local caracterizada por:
  • a infecção pelo HIV é uma pandemia; 
  • o trabalho do sexo é ilegal, como em boa parte do mundo, o que torna as trabalhadoras do sexo fragilizadas na busca de soluções de saúde;
  • a criminilização do sexo pago, torna o assunto não discutido seriamente pelas autoridades políticas e de saúde pública, o que leva à ausência
São identificadas cinco tópicos de vulnerabilidade na Africa do Sul em relação ao problema:  Acesso restrito ao serviço de saúde; Acesso restrito à proteção legal; Condições inseguras de trabalho; Estigma e Vulnerabilidade econômica. Pela análise destes tópicos, pesando a situação atual e o potencial de alteração com a descriminilazação do sexo pago, os autores concluem:
“Public discourses lamenting the “immorality” of sex work should be substituted for action that prioritises public health measures and legal frameworks which secure the long-term health of South Africans.”
“Public health goals and available evidence suggest that sex work is best approached in a context where it is decriminalised and where sex workers are empowered, not victimised or persecuted”
A minha impressão é que as recomendações feitas são bastante razoáveis, e superiores às baseadas em moralismo e preconceito. Contudo, não me pareceram completamente embasadas cientificamente. A própria situação de pouco financiamento para estudo e avaliação do probleam deve resultar na falta de dados suficientes para a tomada de decisões.
Do ponto de vista da saúde pública, poderia ser muito importante se a Copa do Mundo servisse para o avanço de medidas de saúde pública, e não somente em relação à indústria do sexo. Imagino que esta publicação se insere num esforço maior neste tema. Lamentavelmente, se ainda nada foi feito, creio que já não há tempo para mudanças importantes.

Richter, M., Chersich, M., Scorgie, F., Luchters, S., Temmerman, M., & Steen, R. (2010). Sex work and the 2010 FIFA World Cup: time for public health imperatives to prevail Globalization and Health, 6 (1) DOI: 10.1186/1744-8603-6-1

2 comentários:

  1. O ABC (Abstain, Be faithful, Condomise) provou ser inútil. Com relação a abstinência, que não é mais boa nem para padres, nem comento.
    Nossa política de tratamento indistinto com prevenção tem se mostrado muito mais valiosa.
    Não temos mais nada a lhes oferecer? Só não transar com uma prostituta africana já é o suficiente?? Ou usar preservativo com ela e lhe dar educação seria melhor?? Que pesadelo sem fim.

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  2. Se não há tempo para mudanças importantes da África do Sul, há tempo para mudanças no Brasil, motivadas pela Copa do Mundo de 2014.
    Se isso promover melhoria à saúde, já justifica a Copa neste país.

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