Post de Diego Moura Santos (LIP-CPqGM/FIOCRUZ)
A Leishmaniose, a doença do sono, a malária e a doença de Chagas são classificadas como doenças negligenciadas, que afetam principalmente as pessoas de regiões subdesenvolvidas. Segundo a OMS, 25% dos fármacos modernos foram sintetizados a partir de plantas medicinais [1], e mais de 80% da população em países subdesenvolvidos fazem uso da medicina tradicional para os tratamentos iniciais [2]. O desenvolvimento de tratamentos alternativos, com o uso de plantas medicinais, pode ser uma boa opção em lugares em que o acesso aos medicamentos é precário.
Burkina Faso é um país subdesenvolvido localizado no continente africano, onde a leishmaniose é uma doença endêmica. Devido à precariedade dos serviços de saúde, em que uma parcela da população só tem acesso a serviços primários, boa parte dos tratamentos das doenças é feita com plantas medicinais. Com o objetivo de avaliar se as plantas medicinais utilizadas pela população, para o tratamento de doenças parasitárias, realmente possui efeito antiparasitário, Sawadogo e colaboradores [3] fizeram ensaios simples, com culturas axênicas de Leishmania donovani e Trypanosoma brucei brucei. Estes parasitas foram plaqueados e tratados com extratos das diferentes espécies de plantas, e foi observado que todas as 5 plantas utilizadas mostraram atividade antitripanossoma, e apenas uma delas (Lantana ukambensis) mostrou atividade leishmanicida. Com objetivo semelhante ao do grupo acima, Dua e colaboradores [4] avaliaram a atividade antiparasitária de 17 plantas medicinais utilizadas numa região da Índia. Os autores obtiveram extratos das plantas e estes foram utilizados em diferentes concentrações para avaliar suas ações contra o Plasmodium falciparum, Trypanosoma brucei rhodesiense, Trypanosoma cruzi e Leishmania donovani. O IC50 de cada extrato foi avaliado, assim como o índice de seletividade da droga. Como controles positivos foram utilizados as seguintes drogas: Cloraquina (Plasmodium falciparum), Benzonidazol (Trypanosoma cruzi), Melarsoprol (Trypanosoma brucei rhodesiense) e Miltefosina (Leishmania donovani). Neste trabalho, foram produzidos 68 extratos das 17 plantas. O IC50 ≤ 6 µg/mL foi utilizado como ponto de corte, restando assim somente os extratos de seis plantas (ver tabela). Artemisia roxburghiana mostrou melhor atividade antimalária com IC50 0,42 µg/mL e índice de seletividade de 78. Em relação à atividade leishmanicida, os extratos das plantas Leucas cephalotes e Viola canescens mostraram IC50 de 3,61 e 0,4 µg/mL e índice de seletividade de 8 e 4 respectivamente. Apesar do baixo índice de seletividade da Leucas cephalotes e Viola canescens, os autores só encontraram uma maior toxicidade para células de linhagens (L-6 cells) no extrato da planta Viola canescens.
Diante do acima exposto, ambos os estudos fornecem dados que apóiam o uso da medicina natural e dão o primeiro passo em busca de novas drogas para o tratamento de doenças parasitárias.
Em relação ao segundo trabalho, os autores falharam em não tecer uma comparação entre os resultados obtidos por seus extratos medicinais e as drogas controles. Os resultados estão disponíveis numa tabela, à livre interpretação dos leitores.
1. WHO (2003) Traditional medicine fact sheet, vol 134. WHO, Geneva Zagana P, Klepetsanis P, Ioannou PV, Loiseau PM, Antimisiaris SG (2007) Tryp anocidal activi ty of arsonolipo so mes: effect of vesicle lipid composition. Biomed Pharmacother 61(8):499 – 504.
2. Farnsworth NR, Akelere O, Bingel A, Soejarto DD, Guo Z (1985) Medicinal plants in therapy. In: WHO (ed) WHO Bull 63:965 –981.
Nenhum comentário:
Postar um comentário