Chegada de 2011, um espumante para brindar é quase obrigatório. Você se preocupa em como servi-lo?
A depender da idade, lembrará que antes servia-se o espumante em taças de boca bem larga - a famosa taça para champanhe. Somente mais tarde, passaram a dominar as taças flauta. Porque houve a mudança? A idéia é preservar as bolhas, ou seja não perder o CO2 na mistura.
Há embasamento científico na mudança do formato da taça? e para a maneira de servir: taça em pé ou taça inclinada? e a temperatura?
Claro que há. O que de Liger-Belair da Universidade de Reims (da França, comme il faut) tem feito muitas contribuições científicas no tema.
O champanhe contém cerca de 12 gramas de CO2 dissolvido por litro de bebida (9 gramas na garrafa de 750 ml tradicional). Quando se abre a garrafa se inicia a perda deste gás, pois a concentração de CO2 na atmosfera é muito mais baixa que no champanhe.
Quanto à temperatura, foram testadas as condições de perda de CO2 em temperaturas de 4oC, 12oC e 20oC em taças tipo flauta. Quanto menor a temperatura, menor a perda da concentração de CO2 o que comprova que a temperatura prolonga a efervescência da champanhe. A viscosidade do líquido, a qual depende da temperatura, também é importante neste processo.
Sobre a inclinação da taça? Ao servir verticalmente, promove-se maior turbulência e maior perda de CO2, simples assim, mas tudo corretamente e precisamente medido.
Veja a revisão feita por Gérard Liger-Belair: The Physics and Chemistry behind the Bubbling Properties of Champagne and Sparkling Wines: A State-of-the-Art Review
“In this review, the latest results about the chemical physics behind the bubbling properties of Champagne and sparkling wines are collected and fully illustrated. The chemistry of carbon dioxide molecules dissolved into the liquid matrix (section 2) is presented, as are the three main steps of a fleeting bubble's life, that is, the bubble nucleation on tiny particles stuck on the glass wall (section 3), the bubble ascent and growth through the liquid matrix (section 4), and the bursting of bubbles at the liquid surface (section 5), which constitutes the most intriguing, functional, and visually appealing step.”
Que saber mais detalhes? O mesmo grupo tem publicado bastante sobre o tema (as referências estão no final do post).
Se você não está disposto a muita leitura, aí vão as recomendações:
- taça flauta;
- manter a taça inclinada (como os bebedores de cerveja que não gostam de colarinho);
- servir a bebida a 4oC.
Não esqueça que no ano passado já comentamos sobre os efeitos benéficos da champagne sobre a saúde (aqui).
Liger-Belair, G., Bourget, M., Villaume, S., Jeandet, P., Pron, H., & Polidori, G. (2010). On the Losses of Dissolved CO
during Champagne Serving
Journal of Agricultural and Food Chemistry, 58 (15), 8768-8775 DOI: 10.1021/jf101239w
Gerard Liger-Belair, Marielle Bourget, Sandra Villaume, Philippe Jeandet, Hervé Pron and Guillaume Polidori
J. Agric. Food Chem., 2010, 58 (15), pp 8768–8775
Publication Date (Web): July 13, 2010 (Article)
DOI: 10.1021/jf101239w
Gerard Liger-Belair, Sandra Villaume, Clara Cilindre, Guillaume Polidori and Philippe Jeandet
J. Agric. Food Chem., 2009, 57 (11), pp 4939–4947
Publication Date (Web): May 6, 2009 (Article)
DOI: 10.1021/jf900804j
Gerard Liger-Belair, Sandra Villaume, Clara Cilindre and Philippe Jeandet
J. Agric. Food Chem., 2009, 57 (5), pp 1997–2003
Publication Date (Web): February 12, 2009 (Article)
DOI: 10.1021/jf803278b
Gérard Liger-Belair, Jean-Baptiste Religieux, Stéphane Fohanno, Marie-Anne Vialatte, Philippe Jeandet, and Guillaume Polidori
J. Agric. Food Chem., 2007, 55 (3), pp 882–888
Publication Date (Web): January 17, 2007 (Article)
DOI: 10.1021/jf062973+
Gérard Liger-Belair
J. Agric. Food Chem., 2005, 53 (8), pp 2788–2802
Publication Date (Web): March 18, 2005 (Review)
DOI: 10.1021/jf048259e
Gérard Liger-Belair, Alberto Tufaile, Philippe Jeandet, and José-Carlos Sartorelli
J. Agric. Food Chem., 2006, 54 (19), pp 6989–6994
Publication Date (Web): August 26, 2006 (Article)
DOI: 10.1021/jf061250n
Muito oportuno! Vamos colocar em prática! Feliz 2011 para todos! Luis Marcelo
ResponderExcluirO interessante é que, sem bases científicas, os franceses (sobretudo os da região de Champanhe, que costumam beber muito freqüentemente esse néctar) adotaram empiricamente a taça-flauta pois conservava bem melhor as qualidades organolépticas da bebida.
ResponderExcluirBebida que, para nós, é masculina, pois trata-se do (vinho de) Champanhe : “O Champagne”.
Inclusive, sugiro que aproveitem enquanto é tempo para abrir, sem receio nem sentimento de culpa, uma, duas, e mais garrafas, para acolher o ano 2011 que vem nos visitar (e só permanecerá entre nós durante 365 dias)... e antes de que algum cientista (abstinente, enófobo ou simplesmente francófobo) venha denunciar o champanhe como fonte de CO2 atmosférico....
que barato, posso beber champagne sem culpa e numa boa flute!
ResponderExcluirParabéns!
ResponderExcluirArlene
Vi um pouco tarde, mas não preciso esperar reveillon do ano que vem para testar né?
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