Post de Fabiana Celes
A leishmaniose é grupo de doenças com espectro clínico distinto, que varia desde lesões cutâneas com cura espontânea até a forma visceral, mais grave e potencialmente fatal. O desenvolvimento de uma vacina efetiva contra a leishmaniose é factível, uma vez que os indivíduos acometidos pela leishmaniose cutânea (LC) desenvolvem uma proteção de longa duração após a cura. Esta proteção é observada tanto em indivíduos naturalmente infectados, quanto naqueles submetidos à leishmanização.
As vacinas de primeira geração contra leishmaniose consistiram em parasitas inteiros mortos ou frações destes associados ou não a moléculas adjuvantes. Algumas pesquisas avançaram até ensaios clínicos de fase 3, entretanto algumas destas demonstraram eficiência profilática limitada, fato que foi associado à ausência de moléculas adjuvantes adequadas.
Os oligodeoxinucleotídeos não metilados contendo CpG (ODNs-CPG) possuem ação adjuvante quando utilizados em vacinas, melhorando a função das células apresentadoras de antígeno e impulsionando o desenvolvimento de uma resposta imune humoral e celular específica contra o antígeno vacinal. Esta ação pode ser aprimorada quando ODNs-CpG são mantidos em proximidade com as moléculas antigênicas da vacina [1], o que pode ser feito através do encapsulamento destes compostos em lipossomas, por exemplo.
No presente trabalho, Sharg e colaboradores (2012) avaliaram o efeito protetor do antígeno solúvel de Leishmania major (SLA) encapsulado ou não em lipossomas (Lip), na presença ou ausência de ODNs-CpG. Para isso, camundongos BALB/c foram imunizados na pata esquerda (via subcutânea) com uma das seguintes formulações: Lip-SLA-CpG; Lip- SLA; SLA- CpG; SLA; ou tampão HEPES (CTR). O esquema de imunização consistiu em 3 doses com intervalos de 2 semanas entre elas.
Duas semanas após a última imunização os animais foram desafiados com L. major e verificou-se que o SLA sozinho não foi capaz inibir o desenvolvimento de lesão na pata nem de reduzir a carga parasitária no baço. A estimulação de esplenócitos destes animais demonstrou elevada produção de IL-4 e razão IgG2a/ IgG1 menor que 0,8, o que sugere o desenvolvimento de uma resposta do tipo Th2.
Em contrapartida, as imunizações com Lip-SLA-CpG, Lip-SLA e SLA-CpG foram capazes de controlar a lesão e reduzir a carga parasitária no baço, com baixa produção de IL-4. Quanto as subclasses de IgG, demonstrou-se que o CpG sozinho foi capaz de induzir uma resposta Th1 conferindo proteção parcial, mas o encapsulamento do SLA e CpG com lipossoma (Lip-SLA-CpG) elevou ainda mais esta resposta, apresentando maior razão IgG2a/IgG1.
Este trabalho ressalta que as moléculas adjuvantes e de delivery de antígenos tem um papel muito importante na eficácia de vacinas e estudos que contemplem estas moléculas podem contribuir significativamente para o desenvolvimento de uma vacina contra a leishmaniose.
Referências:
Heravi Shargh V, Jaafari MR, Khamesipour A, Jalali SA, Firouzmand H, Abbasi A, & Badiee A (2012). Cationic liposomes containing soluble Leishmania antigens (SLA) plus CpG ODNs induce protection against murine model of leishmaniasis. Parasitology research PMID: 22223037
[1] Bode C, Zhao G, Steinhagen F, Kinjo T, Klinman DM. CpG DNA as a vaccine adjuvant. Expert Rev Vaccines. 2011 Apr;10(4):499-511.
Muito bom!!!! Parabéns Fabiana pela escrita!
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