quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Estudo Metabolômico Urinário em Infecção por Plasmodium vivax



ResearchBlogging.org
Post de Gabriela B. C. Garcia
Parasitas do gênero Plasmodium sp.  são os agentes etiológicos da malária, doença milenar que acomete 200 a 300 milhões de pessoas por ano. Ocorre principalmente na África Subsaariana, no Sudeste Asiático, entre outras regiões. Na Índia, o Plasmodium vivax é o principal responsável pela malária clínica (Joshi et al, 2008). Admite-se que a patogenicidade da doença esteja fortemente associada a complicações metabólicas resultantes da interação parasita/hospedeiro (obtenção de nutrientes ou liberação de metabólitos tóxicos pelo parasita). 

As infecções por P. vivax eram consideradas brandas, no entanto, relatos recentes de vários locais do mundo, incluindo os trabalhos de Andrade et al do nosso grupo, apontam que esta espécie também pode provocar malária grave. Assim, é importante compreender como a relação de parasitismo interfere no metabolismo do hospedeiro e na sua resposta à infecção. 
No artigo recém publicado no Malaria Journal, foi feita uma análise da resposta metabólica do hospedeiro associada à infecção, através de espectroscopia de RMN baseada em técnicas de metabonômica. Foram determinados três grupos de estudo: pacientes infectados por P. vivax, indivíduos sadios e pacientes febris não infectados por malária. Amostras de urina das classes citadas foram coletadas, submetidas à espectroscopia por ressonância magnética nuclear (RMN) e posterior análise estatística multivariada. A metabonômica é uma tecnologia que analisa de maneira global os metabólitos presentes nos fluidos biológicos que, seguida de métodos estatísticos [PCA] e/ou [OPLSDA], é capaz de traçar um perfil metabólico. A identidade da substância que é perturbada em resposta ao fator de estresse (genético ou ambiental) de interesse pode ser determinada com esta metodologia (Lindon et al, 2001). Esta técnica tem sido utilizada na identificação de novos biomarcadores em diferentes doenças. 
Os perfis metabólicos urinários dos grupos em estudo foram comparados com a finalidade de obtenção de marcadores específicos da malária. Os resultados demonstraram diferenças significativas no perfil metabólico urinário de pacientes com malária P. vivax, indivíduos sadios e pacientes febris não malária. De acordo com essas dessemelhanças, os metabólitos que foram delineados possibilitam o diagnóstico não invasivo da doença. 
Vários metabólitos diferiram entre os pacientes infectados e os dois grupos controle (ver tabelas 3 e 4). Entretanto, a observação de um aumento significativo nos níveis de ornitina e de N-acetilornitina na urina de indivíduos com malária (em comparação com pacientes febris não malária e indivíduos saudáveis, respectivamente), ratifica informações anteriores sobre o aumento de OCT no soro associado ao dano das células hepáticas (Lopansri  et al, 2006 e Sampath et al, 2002); ciclo da uréia prejudicado, e toxicidade por amônia durante malária em camundongos (Penet et al, 2007).  
A partir destas observações foi possível inferir que a diminuição significativa da ornitina no plasma de pacientes com malária clínica (Lopansri  et al, 2006) é devida ao aumento da excreção deste metabólito em pacientes infectados. 
Em conformidade com estudos anteriores e de razão desconhecida, foi observado um leve aumento nos níveis de ácido pipecólico em pacientes infectados versus pacientes febris não malária. O ácido pipecólico está associado a doenças crônicas do fígado nos seres humanos, o que contribui para a associação da malária com a disfunção hepática.  
Logo, foi possível determinar um perfil metabólico urinário em infecções por P. vivax, caracterizado principalmente pela alteração no ciclo da uréia e excreção aumentada de ornitina, altos níveis de ácido pipecólico e, consequentemente, provável lesão hepática. O trabalho em discussão foi pioneiro na análise metabolômica/metabonômica da malária humana e determinação da ornitina como possível biomarcador urinário da infecção malárica. Assim, novas possibilidades de diagnóstico não invasivo da malária podem surgir a partir da obtenção de biomarcadores específicos.     

Figura do site IsoLife


Sengupta, A., Ghosh, S., Basant, A., Malusare, S., Johri, P., Pathak, S., Sharma, S., & Sonawat, H. (2011). Global host metabolic response to Plasmodium vivax infection: a 1H NMR based urinary metabonomic study Malaria Journal, 10 (1) DOI: 10.1186/1475-2875-10-384

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