TLR e TIRAP na mediação da transcrição de citocinas inflamatórias.
Por Lígia Correia Lima de Souza
A malária está entre as três principais doenças infecciosas do planeta, no ano de 2010 a incidência foi cerca de 216 milhões de casos e 655.000 mortes. Os casos de malária grave cursam tipicamente com anemia, acidose metabólica, hipóxia, hipoglicemia, acidose lática, hipotensão e por vezes com malária cerebral. Nessa gama de manifestações, mediadores inflamatórios são de ampla importância na manifestação da doença grave. Para deflagrar a produção desses mediadores inflamatórios os TLRs (Toll-like receptors) desempenham um papel importante(ver figura).
Através do reconhecimento de padrões moleculares associados a patógenos (PAMPs), os TLRs promovem não somente a produção de citocinas inflamatórias, como também, a migração e maturação de células dendríticas, facilitando a comunicação entre a imunidade inata e a adquirida. A via mediada pelo TLR com produção de citocinas inflamatórias pode ser intensificada ou atenuada por polimorfismos genéticos nesses receptores ou em moléculas associadas. Em humanos TLR2, TLR4 e TLR9 estão envolvidos na resposta contra o plasmódio. Neste sentido, Zakeri et al (2011) investigou SNPs (Single nucleotide polymorphims) nos genes de TLR4, TLR9 e de TIRAP (uma proteína adaptadora associada com TLR) e os relacionou com o desfecho da infecção por malária leve em uma população iraniana.
Para isso, estudou-se 640 indivíduos - 320 saudáveis e 320 com malária sintomática. Foram feitos testes de PCR para constatar a infecção por Plasmodium vivax, Plasmodium falciparum ou coinfecção. Através de PCR seguido por corte com enzima de restrição (método RFLP – restriction fragment lenght polymorphim) e leitura em eletroforese com gel de agarose, bem como por meio de sequenciamento dos genes referidos, os seguintes polimorfismos foram analisados:
- No gene de TLR4 investigou-se D299G e T399I (SNPs que alteram o sítio de ligação do TLR e são correlacionados com malária grave)
- Na região promotora de TLR9 investigou T-1486C e T-1237C (associados com asma e malária placentária respectivamente)
- No gene de TIRAP o SNP S180L foi estudado (relacionado à redução da sinalização de TLR2 e TLR4, e a heterozigose é relacionada à proteção em malária grave e a uma resposta inflamatória moderada).
Entre os indivíduos infectados todos apresentaram monoinfecção por P. falciparum com malária leve. Após a análise dos polimorfismos descritos, não foi encontrada associação entre a distribuição dos alelos dos polimorfismos pesquisados e manifestações clínicas. Em seguida, analisou-se a frequência genotípica, não sendo encontrada associação entre os SNPs de TLR4, ou de TLR9 e as manifestações clínicas de malária leve. Por outro lado, heterozigose do SNP S180L do gene TIRAP foi mais frequente entre os indivíduos infectados que entre os não infectados (33.8 vs. 25.6; OR, 1.479; 95% CI, 1.051-2.081; P = 0.024).
Em diálogo com outros trabalhos, o estudo de Zakeri et al (2011), ao demonstrar níveis maiores de heterozigose de SNP S180L do gene TIRAP em indivíduos com malária leve, pode ratificar os trabalhos anteriores que associam o papel do SNP S180L com a proteção contra malária grave. Os heterozigotos para esse polimorfismo têm níveis intermediários de ativação das vias de TLR2 e TLR4, apresentando, portanto, uma resposta inflamatória moderada e protetora (com malária leve).
Por fim, entender a relação entre os polimorfismos e a gravidade, suscetibilidade ou resistência à malária é um grande avanço para a elaboração de estratégias terapêuticas e identificação de alvos para vacinas. Contudo, outros estudos em distintas populações são necessários para confirmar a relevância de tais variabilidades genéticas no desfecho clínico da malária e de outras doenças infecciosas.
Sedigheh Zakeri, Sakineh Pirahmadi, Akram A Mehrizi, & Navid D Djadid (2011). Genetic variation of TLR-4, TLR-9 and TIRAP genes in Iranian malaria patients Malaria Journal , 10 DOI: 10.1186/1475-2875-10-77
STEVENSON, M.M., RILEY E.M. Innate Immunity to Malaria. Nature Reviews, Immunology, March 2004 | Volume 4.
WHO, 10 facts on malária disponível em: http://www.who.int/features/factfiles/malaria/en/index .html, acesso em: 01 de set. 2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário