É verdade que algumas revistas científicas, em maior ou menor grau, “sugerem” aos autores que citem artigos previamente publicados nestes periódicos? Parece meio esdrúxulo, mas os exemplos se ampliam. A causa deste comportamento? Os editores querem aumentar o fator de impacto das revistas. As revistas com maior impacto tendem a receber os artigos de melhor qualidade.
Como avaliar o mérito de um trabalho científico? Parece óbvio que pela contribuição que os seus achados e conclusões para o avanço do conhecimento. Este julgamento, contudo, depende de um conhecimento apropriado e profundo pelo leitor e em investir tempo na leitura do trabalho e, eventualmente, em outros do campo. O que fazer se não há tempo para ler adequadamente todos os artigos que parecem relevantes numa busca da literatura? Comparar por um método rápido a qualidade dos artigos.
Como o avanço do conhecimento é feito baseado em relatos anteriores, os quais são citados nas novas publicações. Parece óbvio, assim, que o número de citações recebidas por um trabalho seja um indicador de que ele está sendo útil para novos avanços. Ou seja, quanto mais citado, mais valioso é o artigo. Há vários problemas com tal interpretação (o último post neste tema pode ser visto aqui), mas, em geral, o conceito é útil.
Usando estes critérios é possível rapidamente ter uma indicação dos trabalhos mais relevantes entre os numerosos disponíveis no tema que se pretende estudar - aqueles que são mais citados.
O que fazer quando estou frente aos últimos números fascículos de uma revista e, portanto, nenhum dos artigos foi ainda citado, pela impossibilidade mesmo de citá-los antes de virem à luz.
A qualidade das revistas poderá orientar a escolha dos artigos a serem lidos. Uma revista que publica muitos trabalhos que são amplamente citados será, pelo mesmo raciocínio das citações de um trabalho, uma revista de qualidade. O indicador que expressa, grosso modo, a média de citações recentes recebidas pelos artigos publicados na revista.
Um dos problemas com o uso intensivo e pouco questionado de indicadores como o fator de impacto é a manipulação para aumento artificial do indicador. No caso das revistas, o aumento do fator de impacto tem norteado muitas das decisões do editores. Uma das medidas problemáticas é o “estímulo excessivo”, na verdade, coação para que os autores citem trabalhos já publicados na revista o que contribui para o aumento do fator de impacto.
Uma publicação recente trata deste assunto e apresenta o problema de forma bem objetiva e com exemplos:
“Coercive self-citation refers to requests that (i) give no indication that the manuscript was lack- ing in attribution; (ii) make no suggestion as to specific articles, authors, or a body of work requiring review; and (iii) only guide authors to add citations from the editor’s journal. This quote from an editor as a condition for publication highlights the problem: “you cite Leukemia [once in 42 references]. Consequently, we kindly ask you to add references of articles published in Leukemia to your present article” (6). Gentler language may be used, but the message is clear: Add citations or risk rejection.”
Vale a pena ler para saber mais sobre o problema:
Coercive Citation in Academic Publishing; Wilhite, A. W., & Fong, E. A. (2012). Science, 335(6068), 542–543. doi:10.1126/science.1212540
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