segunda-feira, 11 de junho de 2012

Diagnóstico de malária em mulheres grávidas


Figura adaptada de Mayor et al: Comparação entre HRP2 ELISA, HRP2-RDT e microscopia de sangue periférico na detecção de P. falciparum em mulheres grávidas (detectados com qPCR de sangue periférico ou na placenta) .
ResearchBlogging.org
Post de Ligia C. L. de Souza
Na África, a cada ano cerca de 30 milhões de mulheres que vivem em região endêmica de malária engravidam. Durante a gravidez, com a queda da imunidade, as mulheres tornam-se mais suscetíveis à infecção por Plasmodium sp. e  suas complicações (anemia severa, morte, e maior risco fetal - prematuridade, aborto e baixo peso).  
Essa situação é agravada pela dificuldade do diagnóstico de malária nas grávidas. Isso se deve à capacidade do parasita em se alojar na placenta e permanecendo indetectável no sangue periférico. Por isso, em mulheres grávidas, as técnicas disponíveis para o diagnóstico de malária podem ser pouco sensíveis. Isso é um fator limitante do diagnóstico precoce e do tratamento efetivo contra o P.falciparum, itens fundamentais para redução da morbimortalidade e combate a essa moléstia neste grupo de pacientes.
Frente a esse impasse, Mayor et al avaliaram as ferramentas de diagnóstico de malária em mulheres grávidas em uma amostra de 272 grávidas participantes de um ensaio clínico realizado no sul de Moçambique – região com transmissão permanente de malária por P. falciparum. Assim, comparou-se o desempenho do exame microscópico (sangue periférico ou placenta), exame histológico da placenta, Diagnostic Rapid Tests – RDTs (que constata antígenos específicos do Plasmodium, como HRP2, no hospedeiro), Enzyme-linked Immunosorbent Assay de HRP2 (HRP2- ELISA) e qPCR (quantitative Polymerase Chain Reaction) - técnica mais sensível, porém não aplicável em locais com poucos recursos. Como também associou os resultados desses testes à anemia materna e ao baixo peso das crianças ao nascer. 
Este estudo revelou que o teste rápido (HRP2-RDT), técnica passível de ser utilizada em áreas pobres em recursos, demonstrou maior sensibilidade que o método mais largamente utilizado (exame microscópico de sangue periférico). Apesar disso, HRP2-RDT e HRP2-ELISA (utilizando sangue periférico) foram incapazes de identificar cerca de 61% das infecções reveladas com qPCR do sangue periférico ou da placenta (ver figura).  O teste rápido e o ELISA também revelaram maior sensibilidade para a detecção de malária placentária superando a análise microscópica (placenta ou sangue periférico) e até mesmo exame histológico do órgão. Entretanto, HRP2-RDT e ELISA estão muito aquém da sensibilidade do qPCR da placenta ( 48,9% de sensibilidade de HRP2-RDT em relação ao qPCR).
O risco de anemia foi verificado em todas as mulheres que tiveram positividade em quaisquer dos testes investigados. Mesmo aquelas positivas em qPCR e negativas nos demais testes, apresentaram um risco aumentado de anemia. Todavia, não se conseguiu obter uma correlação significante entre baixo peso das crianças ao nascer e positividade nos testes, possivelmente por limitações do número amostral. 
Logo, o estudo de Mayor et al mostrou que tanto a microscopia, como exame histológico da placenta, e RDT-HRP2 ou ELISA-HRP2 têm uma falha de cerca de 60% da detecção de malária. Ou seja, 60% das mulheres grávidas podem não ter o diagnóstico de malária, o que inviabiliza um acesso precoce ao tratamento e, por conseguinte impede um melhor prognóstico. Necessita-se, portanto, de pesquisas acerca de biomarcadores e técnicas diagnósticas que aliem fácil acesso à boa sensibilidade.
Referências
WHO. Lives at risk: malaria in pregnancy. Disponível em: http://www.who.int/features/2003/04b/en/. Acesso em: Maio de 2012.

Mayor A, Moro L, Aguilar R, Bardají A, Cisteró P, Serra-Casas E, Sigaúque B, Alonso PL, Ordi J, & Menéndez C (2012). How hidden can malaria be in pregnant women? Diagnosis by microscopy, placental histology, polymerase chain reaction and detection of histidine-rich protein 2 in plasma. Clinical infectious diseases : an official publication of the Infectious Diseases Society of America, 54 (11), 1561-8 PMID: 22447794

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