segunda-feira, 2 de julho de 2012

Detecção molecular de Leishmania

Post de Kiyoshi F. Fukutani


Seguem abaixo dois comentários sobre artigos de detecção de leishmania por PCR em tempo real. O primeiro deles foi publicado em marco deste ano, com o título de Molecular diagnosis of Old World Leishmaniasis: Real-time PCR based on tryparedoxin peroxidase gene for the detection and identification of Leishmania spp. Escrito Sharifeh Khosravi e colaboradores, todos provenientes do Irã, e é incrível como o Irã tem aparecido cada vez mais nos periódicos científicos. Segundo a revista Galileu (revista de circulação aberta e popular no brasil). “Qual país teve um "boom" de produção científica entre 1996 e 2008, saltando de 736 artigos publicados para 13.238? A resposta - o Irã - pode surpreender muitas pessoas, especialmente nos países ocidentais acostumados a liderar a maioria das pesquisas científicas. O Irã, no entanto, tem a maior taxa de crescimento na publicação de artigos científicos no mundo”...“E se as relações políticas entre o Irã e os EUA estão tensas, parece que os cientistas dos dois países estão se relacionando sem problemas: o número de trabalhos colaborativos entre eles aumentou quase cinco vezes (de 388 para 1831) no período estudado”... “A rápida ascensão do Oriente Médio, da China, da Índia e do Brasil no campo da ciência se destaca em um relatório publicado nesta semana pela Royal Society do Reino Unido, comparando a publicação global e as taxas de citações entre 1993 e 2003 com as taxas de citação entre 2004 e 2008”. Leia aqui.

Neste artigo cientifico é confirmada mais uma vez pelos autores a alta sensibilidade das técnicas moleculares em se identificar a presença do parasito. Porém, o diferencial deste trabalho é o alvo escolhido, que é o tryparedoxin peroxidase uma enzima presente nos tripanossomátideos que os protegem contra o stress oxidativo (aqui). Este gene está presente na Leishmania major em três cópias, em tandem no cromossomo 15 (Multicopy gene in tandem array, expressed in all life cycle stages (PMID:9632596), (PMID:9851612); Preferentially oxidise the sulphydrl groups on conserved cysteine residues (PMID:8386507). O ponto alto do texto é a adição de mais um gene a grande lista de possíveis marcadores para se detectar a Leishmania spp.

O outro artigo é de Weirather, do grupo da Mary E. Wilson: Serial Quantitative PCR Assay for detection, species discrimination, and quantification of Leishmania spp. in Human Samples. Publicado na Journal of clinical microbiology. Nov. 2011. Este artigo é muito denso e completo, selecionado por mim como um trabalho de cabeceira para implementação de técnicas de PCR para detecção do parasito. Inicialmente os autores descrevem os genes mais utilizados para detecção de Leishmania por PCR em tempo real, “visitando toda a vizinhança” do kDNA (tanto o mini como o max círculos) a polimerase. O texto também explica a variação da sensibilidade das reações a depender do número de cópias do alvo e os autores padronizam uma corrida com o SYBR e com  sondas Taqman para identificação das espécies de Leishmania através da análise da curva de dissociação.
Um ponto importante do artigo é o teste das amostras, mostrando que a metodologia aplicada é sensível o suficiente para trabalhar com as amostra dos pacientes de área endêmica e o experimento de Stage-Conversion, mostrando que estes genes mudam seu número de cópias a depender do estágio em que a Leishmania se encontra. Assim, os alvos de amplificação localizados no minicírculo são constantes, independente de onde se encontre a leishmania (flebotomieo ou dentro do macrófago) enquanto que os alvos do maxicírculo são diferenciáveis (no flebotomieo e no macrófago). O artigo também especula a possibilidade do parasito estar infectando bolsas de sangue, que foi material de estudo do meu mestrado. Ficamos por aqui até a próxima pessoal.




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