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quinta-feira, 19 de maio de 2011

As células T CD4 possuem papel importante na diferenciação de células dendríticas inflamatórias a partir de monócitos

Post de Natália Machado



ResearchBlogging.org
As células dendríticas (DCs) são fundamentais para a geração de resposta imune e são compostas por muitos subtipos. Em homeostasia, são as convencionais residentes e migratórias, as plasmocitóides e as de Langerhans. Após estimulo inflamatório, monócitos são recrutados e diferenciam em DC de modo dependente de GM-CSF. Embora muitas células linfóides e mielóides produzam GM-CSF in vitro, ainda não está claro qual a fonte desta citocina in vivo. O trabalho de Campbell e colaboradores [1] mostra de forma elegante a participação de células T CD4 na diferenciação das células dendríticas inflamatórias no modelo experimental de artrite.

Os autores estavam estudando o mecanismo de proteção contra a artrite em camundongos deficientes em NF-κB1 (Nfkb1-/-), mas não em c-Rel1 (Rel-/-), que em trabalho anterior eles demonstraram ser dependente de células T CD4 [2]. Eles transferiram células T CD4 esplênicas de camundongos WT, Il1r-1-/- ou Nfkb1-/- para Rag1-/-, e verificaram que nos camundongos que receberam células Nfkb1-/- não houve indução de artrite, diferentemente daqueles que receberam células T CD4 WT ou Il1r-1-/-. Apesar de que nos animais Nfkb1-/- a morte de células T CD4 por apoptose é maior do que a observada nos animais WT (uma vez que Rel/NF-κB é importante para sobrevivência celular por inibir apoptose) os autores demonstraram que em camundongos Nfkb1-/- transgênicos para Bcl2 em todos os leucócitos houve redução na apoptose de células T CD4 in vitro, porém manteve-se a inibição da artrite. Isto sugere que a sobrevivência das células T CD4 não é o mecanismo de proteção nos animais Nfkb1-/-.

Ao avaliar os efeitos da deficiência em NF-κB1 na expressão de marcadores de ativação, receptores e produção de citocinas, os autores verificaram expressão normal de CD25, CD69 e IL-17, porém aumentada de IL-2 e diminuída de GM-CSF, coincidente com menores níveis desta citocina no sobrenadante das culturas de células T CD4 estimuladas. Confirmando a importância deste último achado para o desenvolvimento da doença, a transferência de células T CD4 de animais GM-CSF-/- para Rag-/- levou a redução significativa da artrite, e a injeção de GM-CSF restaurou completamente a resposta dos animais Nfkb1-/- em todos os aspectos da doença. In vivo, no tecido sinovial inflamado e no linfonodo poplíteo drenante de animais WT, uma elevada proporção da população de células CD11c+ era constituída por dendríticas derivadas de monócitos, mas sua quantidade estava reduzida no linfonodo de animais GM-CSF-/-.






Animais depletados para CD11c(hi) foram utilizados para estabelecer a importância das DCs neste modelo. A doença foi significativamente reduzida nestes camundongos, mas alguma artrite residual estava presente. Para avaliar o papel do NF-κB, DCs de animais Nfkb1-/- foram utilizadas in vitro para MLR alogênico OVA-específico. Os resultados obtidos mostram que DCs Nfkb1-/- são similares às WT. No entanto, quando animais OT-II foram cruzados com animais Nfkb1-/-, OVA-específicos, as células T CD4 Nfkb1-/- não responderam ao estímulo in vitro com DCs esplênicas carregadas com OVA. Os autores também demonstraram a importância dos mesmos achados em outro modelo experimental, de indução de peritonite.

Os autores, com base nos achados mais relevantes deste estudo, concluem que NF-κB1 tem papel fundamental na produção de GM-CSF por células T CD4 ativadas durante resposta inflamatória. Além disso, GM-CSF produzido por estas células induz o desenvolvimento preferencial de DCs derivadas de monócitos.


Referências:

[1] Campbell IK, van Nieuwenhuijze A, Segura E, O'Donnell K, Coghill E, Hommel M, Gerondakis S, Villadangos JA, & Wicks IP (2011). Differentiation of Inflammatory Dendritic Cells Is Mediated by NF-{kappa}B1-Dependent GM-CSF Production in CD4 T Cells. J Immunol

[2] I.K. Campbell, S. Gerondakis, K. O’Donnell, I.P. Wicks, Distinct roles for the NF-kappaB1 (p50) and c-Rel transcription factors in inflammatory arthritis, J. Clin. Invest. 105 (2000) 1799-1806.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Consumo de álcool e melhora da artrite reumatóide


Uma notícia boa para o final de semana que se aproxima, ainda mais nesta época que as noites são, ainda, frescas. Poderá servir ainda para afastar a idéia que sexta-feira 13 dá azar. Devo advertir, contudo, que a notícia como dada aqui, talvez não passasse pelo crivo do NHS Choices e sua análise crítica.
O título: O consumo de álcool é inversamente associado com risco e gravidade da artrite reumatóide não é meu, é uma tradução literal do trabalho Alcohol consumption is inversely associated with risk and severity of rheumatoid arthritis, publicado no Rheumatology (doi:10.1093/rheumatology/keq20). Este não é um conceito novo. O possível efeito benéfico do álcool sobre a artrite reumatoide já foi avaliado em outras publicações, porém em grande parte testada em animais experimentais.
O estudo é robusto, envolveu 873 pacientes com artrite reumatoide e 1.004 controles. A frequencia de consumo de álcool foi registrada pelos participantes um questionário. As odds ratios de risco de artrite reumatóide foi calculada de acordo com o consumo de álcool e ajustada por idade, gênero e tabagismo. 
O risco de artrite reumatóide diminuiu de acordo com a frequencia de consumo de álcool. Os abstêmios tiveram um odds ratio para artrite reumatóide de 4,17 comparado com indivíduos que consumiam álcool mais de 10 dias por mês, numa diferença estatisticamente significante (P for trend <0.0001). 
Além disto, todas as medidas de gravidade da artrite reumatóide, incluindo a proteína C reativa, a escala visual de analogia de dor e o escore de Larsen tiveram uma relação inversa com o aumento do consumo de álcool, e esta relação foi também estatisticamente significante. O benefício foi observado em ambos os gêneros, embora mais pronunciado em homens.
Os autores chegam à conclusão clara:
Although there are some limitations to this study, our data suggest that alcohol consumption has an inverse and dose-related association with both risk and severity of RA.

Em entrevista sobre o artigo, os autores foram cautelosos e afirmaram que seus resultados são preliminares e que não recomendariam aos pacientes a ingestão de álcool para tratar da artrite. Além disto, lembraram que os pacientes devem observar os limites indicados para consumo de álcool.
Na discussão os autores registram as limitações do estudo:
“First, there are marked gender and age differences between the RA and control groups in this cohort. All analyses have therefore been adjusted for these factors, but we appreciate that this remains a weak- ness. 
Secondly, the study is retrospective in design and there is therefore a risk that recall bias may have influenced the participants reporting their alcohol consumption, and also a significant risk that drinking behaviour in patients with RA may have been influenced by the diagnosis of RA or their subsequent treatment. 
Furthermore, the alcohol consumption data on which this study is based represent a snapshot of drinking behaviour at one point in time. Some outcome measures of the study, such as mHAQ, pain VAS, CRP and DAS-28CRP, are also single time-point measurements recorded concordantly with drinking behaviour, and we can there- fore have reasonable confidence in the validity of the associations demonstrated.”
Considerando as limitações, provavelmente será necessário confirmar este estudo. Se forem fazer alguma pesquisa desta por aqui, eu me candidato a participar do grupo teste.


quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Malária cerebral e artrite também relacionadas com micropartículas de plaquetas


Tanto monócitos quanto plaquetas produzem micropartículas que são liberadas e participam de processos biológicos. As micropartículas de monócitos possuem fator tissular, fosfatidil-serina e moléculas de adesão como CD14, CD11a e CD18. Estas micropartículas tem sido descritas como envolvidas na coagulação e na aterogênese.
As micropartículas de plaquetas são liberadas quando estas células são ativadas. Elas expressam receptores de adesão funcionantes, como P-selectina e podem se ligar a neutrófilos e monócitos. As micropartículas de plaquetas ainda fornecem a superfície catalítica para fosfatidilserina e aceleram a coagulação. O envolvimento de micropartículas de plaquetas em enfermidades já é antigo e inclui doenças como a síndrome do desconforto respiratório do adulto (J Clin Invest. 1986; 78: 340–348), púrpura trombocitopênica (Ann Hematol. 1995; 70: 25–30), sepse meningogócica (Blood. 2000; 95: 930–935) e na doença vascular periférica (Blood Coagul Fibrinolysis. 2000; 11: 723–728). A lista é bastante longa e inclui progressão de tumor, psoríase e enfarto cerebral, diabetes etc.
Dois aspectos recentes motivam este post: as micropartículas de plaquetas foram implicadas na aderência do Plasmodium ao endotélio cerebral humano e na artrite reumatóide, ampliando o escopo de observações sobre as micropartículas.
O artigo “Platelet microparticles: a new player in malaria parasite cytoadherence to human brain endothelium” foi publicado, em 2009, no FASEB J (23: 3449-58). Era sabido que, in vitro, as plaquetas modulam a citoaderência das hemácias parasitadas por Plasmodium falciparum às células endoteliais. Neste estudo foi demonstrado que as microartículas de plaquetas se ligam às hemácias parasitadas por Plasmodium falciparum e transferem antígenos plaquetários para a superfície da hemácia parasitária (há pouca aderência às hemácias normais). Adicionalmente, o uptake de micropartículas plaquetárias também pode ser feito por células do endotélio cerebral humano, induzindo alterações no fenótipo endotelial. As micropartículas plaquetárias aumentam a aderência das hemácias parasitadas ao endotélio cerebral humano. 
Não há uma comprovação direta, mas são muitas evidências relacionando as micropartículas plaquetárias com a malária cerebral.
O outro estudo, “Platelets amplify inflammation in arthritis via collagen-dependent microparticle production” de 29 de janeiro passado (Science 327:580-3, 2010) destaca a participação das plaquetas na inflamação, além das mais conhecidas participações na trombose e no reparo tecidual.  Os autores mostraram que as micropartículas plaquetárias estavam presentes no líquido sinovial de pacientes com artrite reumatóide e outras formas de artrite inflamatória, mas não em pacientes com osteoartite. As micropartículas plaquetárias têm papel proinflamatório ao estimular a produção de citocinas pelos fibroblastos sinoviais via interleucina 1 (IL-1). Os autores evidenciaram uma redução das manifestações de artrite inflamatória experimental quando se faz a depleção de plaquetas, corroborando a importância deste mecanismo.
Um aspecto importante do trabalho é a demonstração que a glicoproteín VI, receptor de colágeno, é um elemento chave na geração de micropartículas plaquetárias na fisiopatologia da artrite.
Além de expandir a lista de doenças nas quais as micropartículas plaquetárias participam, este trabalho salienta a possibilidade de identificação dos elementos capazes de iniciar o processo de ativação de plaquetas/geração de micropartículas em cada enfermidade.

Faille, D., Combes, V., Mitchell, A., Fontaine, A., Juhan-Vague, I., Alessi, M., Chimini, G., Fusai, T., & Grau, G. (2009). Platelet microparticles: a new player in malaria parasite cytoadherence to human brain endothelium The FASEB Journal, 23 (10), 3449-3458 DOI: 10.1096/fj.09-135822

Boilard E, Nigrovic PA, Larabee K, Watts GF, Coblyn JS, Weinblatt ME, Massarotti EM, Remold-O'Donnell E, Farndale RW, Ware J, & Lee DM (2010). Platelets amplify inflammation in arthritis via collagen-dependent microparticle production. Science (New York, N.Y.), 327 (5965), 580-3 PMID: 20110505
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