Ao longo do tempo, pesquisas vêm evidenciando a capacidade de plantas e animais em responderem a uma mesma infecção de formas diferentes, devido a variabilidade genética. No presente trabalho, os autores fazem uma excelente revisão dos mecanismos de auto-proteção contra doenças infecciosas e redução de seus danos.
A primeira estratégia do hospedeiro contra a invasão do patógeno é detectar o risco e EVITAR a exposição antes da instalação da infecção. O olfato e o paladar são capazes de detectar situações de riscos. Por exemplo, o metabolismo das bactérias gera produção de substâncias (putrecinas, metano, L-metionina, acil-hemosserina lactona) que possuem odor e gosto desagradáveis em tecidos em putrefação.
A genética do hospedeiro é responsável pela variabilidade da resposta de RESISTENCIA. A resistência detecta, neutraliza, destrói ou expulsa o patógeno. O hospedeiro também pode montar uma estratégia de TOLERANCIA para evitar os impactos negativos da infecção. A tolerância diminui as lesões no hospedeiro decorrentes da resposta do sistema imune que ocorre na tentativa de deter o patógeno.
A resposta imune exacerbada pode eliminar as células infectadas, todavia pode desestruturar a arquitetura, homeostase e função dos tecidos. Remodelagem da matriz extracelular, alterações no balanço eletrolítico, mudanças na pressão sanguínea e hematopoiese, são mecanismo que contribuem para a resposta de tolerância. Contudo, cada órgão varia frente às infecções. Tecidos cardíacos e sistema nervoso possuem baixa tolerância a hipóxia, já as células hematopoiéticas e epiteliais têm mais tolerância e capacidade de reparo. Entretanto existem tecidos que é necessário baixo potencial imunológico a tolerância, como os olhos, placenta e gônadas.
A tolerância basal é um mecanismo constitutivo de cada célula e ocorre através de genes que são expressos em baixos níveis, mas são hiper-ativados frente a lesões. Com desregulação desses genes, pode ocorrer patologias, como fibrose cística.
As infecções levam ao aparecimento de sintomas como fadiga, anorexia, febre e alteração do sono, considerados ‘comportamento de doença’. Apesar de não bem esclarecido, sugere-se que a fadiga se relacione com menos gasto de energia para combater melhor a infecção, e a febre com o aumento da função imune, com maior proteção a lesões teciduais. Portanto, o comportamento de doença pode estar relacionado com promoção da tolerância e também pode ser patógeno específico.
As defesas do organismo podem falhar devido a insuficiência do mecanismo de resistência e/ou tolerância, o que influenciará diretamente na escolha da terapia. Em caso de falha de tolerância, atuar na prevenção da lesão tecidual pode apresentar bons resultados, como visto na malária e sepse.
A virulência do patógeno, responsável por lesão direta ao tecido, possui componentes intrínseco ao patógeno (toxinas, virulência) e intrínseco ao hospedeiro (susceptibilidade ou tolerância), o que pode ser visto em patologias como a gripe aviária e Ebola, nas quais o patógeno causa imunopatologia em humanos, mas sem danos ao hospedeiro natural. A idade também pode influenciar na severidade da infecção. Em indivíduos muito novos ou muito velhos o sistema imune pode responder de forma imatura ou deteriorada, respectivamente, tornando-os mais susceptíveis à infecções.
Os conceitos de tolerância e resistência não são exclusivos para infecções, mas também para doenças auto-imunes e outras associadas a lesão tecidual, estresse, mau funcionamento ou perda de homeostase. Diante disso, o trabalho deixa claro que entender os mecanismos envolvidos nas patologias pode abrir caminhos para novas estratégias de tratamento.
HIGHLIGHTS
A auto-proteção contra doenças infecciosas e redução de seus danos são relacionadas com mecanismos de anulação, resistência e tolerância ao agente infeccioso.
Mecanismo de tolerância e resistência de um indivíduo está relacionado com sua idade, genética e com a virulência do patógeno.
O mecanismo de tolerância do sistema imune permite novas abordagens para tratamento de infecções e outras doenças.
Medzhitov, R., Schneider, D., & Soares, M. (2012). Disease Tolerance as a Defense Strategy Science, 335 (6071), 936-941 DOI: 10.1126/science.1214935
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