quarta-feira, 30 de maio de 2012

Proteomica para escolha de novos antígenos para vacina e diagnóstico na leishmaniose


Legenda: Superior esquerdo – extrato de promastigotas (Verde)
Superior direito – Amastigotas (Vermelho)
Inferior esquerdo – Padrão / Controle
Inferior direito – Sobreposição de amastigotas e promastigotas (amarelo para sobreposições)

Post de Leonardo Arruda
Com objetivo de identificar novos antígenos, foi publicadono ano passado um trabalho (Analysis of Leishmania chagasi by 2-D Difference Gel Eletrophoresis (2-D DIGE) and Immunoproteomic: Identification of Novel Candidate Antigens for Diagnostic Tests and Vaccine; DOI: 10.1021/pr101286y) que comparou o perfil proteômico de Leishmania chagasi entre proteínas de amastigotas contra promastigotas.
Para isso, os autores utilizaram uma combinação de poderosas ferramentas, como DIGE-2D, Western Blot 2D e MaldiTof, seguidas por uma análise através de softwares. 
Foram visualizados 900 spots, entre amastigotas e promastigotas (figura 1 DIGE-2D). Dentre eles, foram retirados 113 spots para identificação da proteína por Maldi-Tof. Cinco proteínas foram especificamente identificadas como pertencentes a fase amastigota, 25 únicas para a fase promastigota e 10 proteínas identificadas como presentes tanto nas fases amastigota quanto promastigota. Além disso, 41 proteínas foram identificadas usando soro de cães infectados por Western blot 2D, que entre elas, 3 foram reativas a IgM e 38 reativas a IgG total. Os autores também mapearam os epítopos para células B utilizando um arranjo de peptídios com soro de cães. O mapeamento de 180 epítopos para células T CD8+ foi realizado in silico para todas as proteínas reconhecidas por Western blot, e ao final, os autores encontraram 25 peptídios que poderão ser utilizados para diagnóstico ou desenvolvimento de vacinas para cães, baseados em sua reatividade com células B e T.
Mais ainda, entre as proteínas com o maior escore de imunogenicidade havia 19 proteínas com função hipotética e outras 7 com função putativa, o que agregou importantes informações para o conhecimento da função destas proteínas, já que não havia prévia descrição no que se refere a relação  hospedeiro X Leishmania.
O artigo poderá ser encontrado na íntegra aqui.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Intracellular Streptococcus pyogenes in Human Macrophages Display an Altered Gene Expression Profile

Post de Marcia Weber Carneiro


Intracellular Streptococcus pyogenes in Human Macrophages Display an Altered Gene Expression Profile
Erika Hertze et al.


            O Streptococcus pyogenes é patogeno humano intracelular importante no decorrer de infecções invasivas graves como da fasciíte necrosante. Porém, os mecanismos utilizados por este patógeno para se adaptar e persistir intracelularmente ainda não foi descrito. 
            Neste sentido, os autores determinaram o perfil de expressão gênica de S. pyogenes após a infecção em macrófagos humanos utilizando a técnica de microarranjo e RT-PCR. Eles coletaram as bactérias duas e seis horas após a infecção para estudar os eventos iniciais.
            A análise por microarranjo demonstrou que a expressão de 145 genes de Streptococcos foi significativamente alterada no ambiente intracelular. A maioria destes genes se relaciona com processos metabólicos e dependente de energia.  Os genes chaves regulados positivamente foram ihk e irr, que codificam um sistema regulatório, o TCS, que reconhece mudanças no ambiente como pH, concentração de íons e pressão osmótica. A comparação na expressão gênica, duas e seis horas após a infecção, revelou uma mudança brusca na resposta regulatória, no decorrer do tempo, com regulação negativa de genes ihk/irr e com uma regulação positiva de covR/STCS, ambos sendo TCSs. O covR esta mais bem estudado, e é responsável em reprimir a transcrição de fatores de virulência, como as proteases. Nos ensaios de re-infecção, as bactérias intracelulares apresentaram maior sobrevivência nos macrófagos após seis horas do que após duas horas após a infecção. Por outro lado, uma cepa de S. pyogenes,  deficiente em ihk/irr, apresentou uma redução significativa após a contagem de bactérias, quando comparados com bactérias selvagens após a infecção em macrófagos.
            Estes achados demonstram como a expressão gênica de S. pyogenes durante o ciclo intracelular é definido pela expressão temporal de dois sistemas específicos.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

O Gene CCL3L1 e a Susceptibilidade à Malária


ResearchBlogging.org
Post de Vitor R R de Mendonça
MIP-1α (macrophage inflammatory protein) é uma quimiocina responsável pela ativação e recrutamento de macrófagos. Esta molécula é secretada pela maioria dos leucócitos maduros e atua como um mediador pró-inflamatório, sendo inibida pela IL-4, IL-10 e IL-13. Os níveis séricos de MIP-1α estão aumentados em indivíduos com malária grave e não-complicada, induzindo a proliferação de macrófagos e expressão de TNF-α.
CCL3 e CCL3L1 são genes que codificam duas isoformas da MIP-1α, LD78α e LD78β respectivamente. Ambos os genes exibem um alto grau (96%) de homologia nas seqüências de nucleotídeos e a isoforma LD78β é 2x mais eficiente na quimiotaxia de monócitos e linfócitos do que a isoforma LD78α.  Além disso, ao contrário da presença de uma única cópia do CCL3, o gene CCL3L1 tem uma expressão variável de cópias, o que altera os níveis de MIP-1α (isoforma β). 
Recentemente publicado, o estudo de Carpenter e cols (2012) se propõe a investigar se a variação no número de cópias do CCL3L1 pode ter um papel na susceptibilidade ao número médio de episódios clínicos de malária, grau de parasitemia e níveis de hemoglobina. Para isto, um total de 922 indivíduos com malária por Plasmodium falciparum foram recrutados de uma população rural da Tanzânia entre 1993 e 1999 e genotipados para o número de cópias do gene CCL3L1. O número de cópias do gene na população do estudo (Africana) variou entre 0 a 10 cópias, com uma média de 04 cópias por indivíduo. O estudo do haplótipo (levando em consideração alelos microssatélites) demonstrou uma média de 2,1 cópias por cromossomo. Esse resultado contrasta com outros estudos com população Européia em que o número de cópias do CCL3L1 variou entre 0 a 05, com pico em 02 cópias do gene. Não se sabe ao certo a pressão evolutiva responsável pelo desenvolvimento e manutenção dessa divergência genética entre populações étnicas diferentes. 
Dentre os fenótipos analisados no estudo em questão (episódios de malária, parasitemia, hemoglobina), encontrou-se uma influência do número de cópias do CCL3L1 com os níveis de hemoglobina dos indivíduos. O número total de cópias do gene apresentou uma associação não-linear com os níveis de hemoglobina (p=0.035) e a análise específica por alelo identificou uma associação positiva dos valores de hemoglobina com o haplótipo de 2 cópias (p=0.021). Desta maneira, poucas cópias do gene CCL3L1 (associado a menor expressão de MIP-1α) está associado com a proteção contra anemia, ou altos níveis de hemoglobina, em pacientes com malária. 
Através dos resultados pouco expressivos do trabalho supracitado, conclui-se que não há evidências concretas e fortes sobre a participação do número de cópias do gene CCL3L1 em relação à susceptibilidade à malária por P. falciparum. Estudos em outras populações e com outras espécies do plasmódio devem ser realizados para ratificar os resultados do estudo de Carpenter e cols, visto que foi pioneiro na investigação desse perfil genético na malária.

Carpenter, D., Färnert, A., Rooth, I., Armour, J., & Shaw, M. (2012). CCL3L1 copy number and susceptibility to malaria Infection, Genetics and Evolution, 12 (5), 1147-1154 DOI: 10.1016/j.meegid.2012.03.021

sábado, 26 de maio de 2012

Winter School 2013 on Advanced Immunology


We are pleased to announce that the 2nd SIgN-IFReC Winter School 2013 on Advanced Immunology will be organized in Singapore from 20-25 January 2013. The school will take place in a beautiful Country Club along Marine Parade Park just 20 minutes from the City Centre. We expect to enroll 50 international students. We will select the students based on their quality and all costs relating to room and board will be offered to the participants. 
25 Travel Fellowships will be awarded on a competitive basis (SGD 1500 for applicants from America, SDG1000 for applicants from other regions). In addition, course registration fee of SDG 400 will be waived for fellowship awardees.
A copy of the flyer is enclosed and more information is available on the website (here).
We would appreciate it if you could disseminate this email together with the flyer to your staff.
If you have PhD students or early post-doc interested to participate please share with them this information.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

As maravilhas do óleo de coco. I- Perfil lipidico


Marina gostaria de saber se há embasamento científico para o grande sucesso atual do óleo de coco: “A moda da galera fitness/wellness é o óleo de coco. A fama é que emagrece e parece que tem dois estudos (Universidade de Columbia) que mostram que reduz a circunferência da cintura e o colesterol em obesos.” 
Mais um alimento milagroso?
The following are additional benefits from coconut oil:
  1. Provides a nutritional source of quick energy.
  2. Boosts energy and endurance, enhancing physical and athletic performance.
  3. Improves digestion and absorption of other nutrients including vitamins, minerals, and amino acids.
  4. Improves insulin secretion and utilization of blood glucose.
  5. Helps protect against osteoporosis.
  6. Reduces inflammation.
  7. Supports tissue healing and repair
  8. Supports the natural chemical balance of the skin.
  9. Softens skin and helps relieve dryness and flaking.
  10. Prevents wrinkles, sagging skin, and age spots.
  11. Promotes healthy looking hair and complexion.
segundo um artigo do Examiner.
Será verdade tudo isto? Para começar a posição oficial das associações, segundo indicado na Wikipedia:
“The United States Food and Drug Administration, World Health Organization,[3] International College of Nutrition,[4] the United States Department of Health and Human Services,[5] American Dietetic Association,[6] American Heart Association,[7] British National Health Service,[8] and Dietitians of Canada[6] recommend against the consumption of significant amounts of coconut oil due to its high levels of saturated fat.
Contudo, o óleo de coco contem uma grande proporção de ácido laurico, uma gordura saturada mas que eleva o HDL (lipoproteina de alta densidade)-colesterol (Mensink RP, Zock PL, Kester AD, Katan MB (May 2003). "Effects of dietary fatty acids and carbohydrates on the ratio of serum total to HDL cholesterol and on serum lipids and apolipoproteins: a meta-analysis of 60 controlled trials". Am. J. Clin. Nutr. 77 (5): 1146–55.) e o HDL-colesterol está relacionado com a redução do risco de infarto do miocárdio (embora não para todos - aguarde post relacionado a sair em breve). Poder-se-ia imaginar que o óleo de coco cria um perfil lipídico mais favorável (doi:10.1016/j.tifs.2009.06.003). Além disto, o óleo de coco é composto de triglicéridas de cadeia média, que não tem os mesmos riscos de outras gorduras saturadas (Kaunitz, H. (1986). "Medium chain triglycerides (MCT) in aging and arteriosclerosis". Journal of Environmental Pathology, Toxicology and Oncology 6 (3–4): 115–121)
Ou seja, a posição oficial parece ser muito conservadora. Cadê o embasamento experimental para ser contra?
Há um estudo que afirma:
“The results demonstrated the potential beneficiary effect of virgin coconut oil in lowering lipid levels in serum and tissues and LDL oxidation by physiological oxidants.”
mas é realizado em ratos! (doi: 10.1016/j.clinbiochem.2004.04.010).
Um estudo antigo, no homem, não mostra vantagens do óleo de coco no perfil lipidico (Reiser, R., Probstfield, J. L., Silvers, A., Scott, L. W., Shorney, M. L., Wood, R. D., O'Brien, B. C., et al. (1985). Plasma lipid and lipoprotein response of humans to beef fat, coconut oil and safflower oil The American journal of clinical nutrition, 42(2), 190–197.).
O artigo de Connor (Connor, W. E. (2000). Importance of n-3 fatty acids in health and disease The American journal of clinical nutrition, 71(1 Suppl), 171S–5S.) é citado num post pró-coco (Can coconut oil help you lose weight?) como “According to studies by William E. Connor of the Division of Endocrinology at Oregon Health Sciences University, fatty acids found in coconut oil can "favorably affect atherosclerosis, coronary heart disease, inflammatory disease, and perhaps even behavioral disorders."” mas o artigo é voltado para apresentar as vantagens do óleo de peixe e até comenta negativamente sobre o óleo de coco, embora em outro contexto: 
“In rhesus monkeys, n-3 fatty acid–deficient diets fed to pregnant animals and then continued after birth induce profound functional changes such as reduced vision, abnormal electroretinograms, impaired visual evoked potential, polydipsia, more stereotypic behavior (eg, pacing), and, perhaps, disturbances of cognition (31, 32). Some of these find- ings have been replicated in infants fed formulas deficient in n-3 fatty acids (eg, corn- and coconut-oil formulas).”
“A typical corn- and coconut-oil formula has a plethora of linoleic acid and little of ALA. Such formulas were still being marketed up to several years ago in Mexico (32). In the United States, such formulas were changed in the 1980s and soybean oil, which has a good ratio of linoleic acid to ALA (7:1), was introduced. The use of soybean oil has greatly improved the n-3 fatty acid status of currently marketed formulas.”

Ou seja, não há evidência para recomendar o uso do óleo de coco como benéfico para a área cardiovascular.
Chega de colesterol e a perda de peso?  
Como este post ficou longo, a parte de perda de peso fica para um outro post.

Imagem acima do post obtida do Examiner.


quinta-feira, 24 de maio de 2012

Propostas para a melhoria da Educação Científica no estado da Bahia

Artigo publicado no JC e-mail 4502, de 22 de Maio de 2012 (aqui), pelo grupo "Colaboração em pesquisa e prática em educação científica - CoPPEC":


"O grupo "Colaboração em pesquisa e prática em educação científica - CoPPEC" teve origem na comunidade virtual de práticas ComPratica e no grupo colaborativo de pesquisa descritos no JC E-mail, no dia 18 de abril de 2012, no artigo 16, intitulado "Comunidades de prática, pesquisa colaborativa e núcleos de pesquisa em ensino de ciências nas escolas: inovação educacional e democratização da produção de conhecimento".

Ainda no mês de abril de 2012, o secretário regional da SBPC Bahia, professor Nelson Pretto, da Faculdade de Educação da UFBA, nos solicitou contribuições para discussão a ser conduzida pela secretaria regional e pela Academia Baiana de Ciências sobre a melhoria da qualidade da educação científica no estado da Bahia. Em resposta a esta solicitação, preparamos o documento que ora divulgamos, que reúne nossas contribuições, com linhas gerais de propostas para a melhoria do ensino de ciências neste estado, mas certamente reproduzíveis em outros contextos estaduais.

1. Deve-se defender o professor como eixo central da transformação e da melhoria do ensino de ciências, como ator principal dos processos de interação discursiva que, em sala de aula, constituem o ensino e mediam a aprendizagem dos estudantes (Schoonmaker, 2007; El-Hani & Sepulveda, 2012).

1.1. Isso significa que, antes de qualquer outra intervenção nas escolas que busque melhorá-las, devem-se criar condições adequadas de trabalho para os professores, a começar por salários dignos, que vão além, de fato, do salário base proposto pelo governo federal. Este ponto é também importante para aumentar a valorização social da profissão docente, de modo que possam ser atraídos os melhores quadros para essa atividade de central importância na sociedade brasileira. Novos métodos de ensino, novos equipamentos, novos currículos etc., todos podem trazer sua contribuição ao ensino de ciências, mas sem a atuação de qualidade do professor de nada adiantarão. Essa atuação de qualidade depende de boas condições de trabalho e, também, de boa formação.

1.2. No que tange à formação, propõe-se uma ampla discussão nas universidades do estado da Bahia, capitaneada pela SBPC regional e pela Academia Baiana de Ciências, sobre as licenciaturas voltadas para o ensino de ciências, de modo que sejam discutidas, comparativamente, as abordagens seguidas por cada curso, como via de aprimoramento da formação docente. Em relação aos estágios da licenciatura, é importante que envolvam efetivamente a convivência dos estudantes com a escola e a possibilidade de propostas de trabalho colaborativas com os docentes no desenvolvimento de inovações educacionais, em parceria com os formadores de professores que trabalham desde a universidade. Também é importante implantar processo sistemático de avaliação dos resultados do PIBID: o programa tem propiciado processos colaborativos, por exemplo? Qual tem sido o papel dos professores da educação básica na orientação dos alunos bolsistas? Que tipo de vivência do cotidiano do trabalho docente o programa tem propiciado aos alunos da licenciatura? Há uma articulação entre PIBID e estágios supervisionados? Por fim, é preciso avaliar as condições de trabalho dos professores que orientam estágios, em termos de sua carga horária de trabalho, bem como quanto às condições materiais para a execução do mesmo.

2. Como diretriz de transformação do ensino de ciências nas escolas do estado da Bahia, propomos a ideia de que o sistema escolar público do estado e, logo, cada escola deve tornar-se produtora de conhecimento, não apenas reprodutora do mesmo (Hargreaves, 1999; McIntyre, 2005). Desta perspectiva, entende-se que a pesquisa docente nas escolas é uma via importante de transformação da realidade do ensino. Não se deve, contudo, assumir que, para que uma escola seja produtora de conhecimento, todos seus professores devem ser investigadores. Isso porque é importante respeitar a diversidade de vias de ação pedagógica e desenvolvimento profissional dos professores, sem estabelecer vias únicas para todos os sujeitos (Schoonmaker, 2007). Sobre este ponto, seguem algumas elaborações adicionais:

2.1. Neste sentido, devem ser reforçadas e estendidas iniciativas que já vemos em andamento em nosso estado, a exemplo de editais como o Edital de Inovações Educacionais, da SEC/IAT e da Fapesb, que disponibiliza bolsas de professor-investigador para docentes da educação básica em proporção significativa (70% dos recursos financiados), além de disponibilizar para as escolas recursos financeiros por meio de descentralização de recursos do FAED. Em caso de parceria com a universidade, o mesmo montante financiado para a universidade (incluindo bolsas) deve ser dirigido às escolas. É fundamental manter o procedimento de que este recurso seja usado de acordo com planilha construída pelos membros da equipe do projeto e assinada pelo diretor da escola, de modo a garantir o uso dos recursos para a finalidade do projeto. Outro aspecto importante a ser implementado e mantido no Edital de Inovações Educacionais é a possibilidade de que escolas da educação básica sejam proponentes de projetos para concorrerem no edital. Outra proposta que constitui iniciativa a ser mantida e estendida é o Edital de Popularização da Ciência da Fapesb, que, além de disponibilizar bolsa na modalidade de professor-investigador, também permite que as escolas da educação básica proponham projetos por si mesmas, com ou sem parceria com as universidades.

2.2. É importante, contudo, criar outras condições também necessárias à condução da pesquisa docente nas escolas, como a disponibilização de horas para a pesquisa, mediante diminuição da carga horária dos docentes da educação básica, e de espaços físicos específicos de trabalho, pesquisa e estudo. Além disso, para a escola tornar-se produtora de conhecimentos, afastando-se de sua atual condição de transmissora formal dos saberes científicos, é forçoso refletir sobre os tempos escolares, engessados em cronogramas que obrigam o cumprimento de uma carga horária muitas vezes em prol de si mesma, levando com freqüência a uma reprodução de informações descontextualizadas do cotidiano dos alunos e dos professores, de forma impositiva, cujas consequências estão bem à mostra no âmbito das principais pesquisas educacionais, que se referem à alfabetização científica dos alunos em formação básica e graduação. A incorporação da ciência na vida cotidiana dos estudantes demanda um tratamento dos conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais da ciência em conexão com suas próprias vidas, o que requer currículos menos repletos de conteúdos, menos engessados e mais flexíveis.

2.3. Deve-se ampliar a discussão nas universidades sobre a pesquisa docente conduzida por professores da educação básica, de modo a pôr em questão a posição hierárquica, de superioridade, que pesquisadores e universidade tendem a assumir em relação aos professores de educação básica e à escola (El-Hani & Greca, 2011, no prelo; El-Hani & Sepulveda, 2012). É importante criar procedimentos para divulgação entre os pares das inovações educacionais e pesquisas conduzidas por professores da educação básica. Também é importante que não só as inovações geradas nas universidades, mas também nos órgãos técnicos da própria Secretaria de Educação sejam produzidas em relações de colaboração. Além disso, é importante pensar modalidades de projetos colaborativos entre professores da educação básica não só de áreas diferentes, mas também, de uma mesma área que atuam em níveis escolares diferentes, o que poderia contribuir para a apropriação de conceitos científicos pelos professores das séries iniciais (não garantida pelos cursos de Pedagogia) ou finais (conceitos de Física/Química/Biologia) do Ensino Fundamental. Além de favorecer a formação dos professores, esta colaboração contribuiria para que professores das séries mais avançadas conhecessem melhor o percurso de aprendizagem dos seus alunos. Além disso, seria possível realizar estudos longitudinais com vistas à proposição de inovações educacionais.

3. Por fim, da perspectiva das universidades, é importante fomentar melhores condições para aproximação entre a pesquisa educacional e a prática docente, com base em propostas como as que seguem:

3.1. A proposição de novos editais que fomentem parceria entre escolas e universidades em propostas não só de pesquisa, mas também de inovação educacional, podendo ser proponentes não apenas universidades, mas também escolas da educação básica.

3.2. Fomentar a criação de núcleos de aproximação pesquisa-prática docente nas universidades, com professores do quadro docente da universidade com experiência de trabalho colaborativo com professores da educação básica, que possam atuar como negociadores de fronteiras (Wenger, 1998) entre as distintas comunidades de pesquisadores, professores e outros atores educacionais. Para promover a negociação de fronteiras entre universidade e escola, seria interessante um sistema em que diferentes professores de prática de ensino - orientadores dos estágios supervisionados - assumissem esta função durante um período - por exemplo, dois a quatro anos - e, para tanto, tivessem sua carga horária de sala de aula reduzida à orientação de estágio e a este papel mediador, para o qual seria requerido que vivenciassem o cotidiano tanto da universidade quanto das escolas.

4. A SBPC e a Academia Baiana de Ciências devem fomentar propostas para a melhoria da educação científica que não sejam construídas somente por pesquisadores das áreas específicas (biólogos, físicos, químicos etc.), ou somente por pesquisadores das áreas pedagógicas. Estas propostas devem ser elaboradas por equipes verdadeiramente interdisciplinares, na medida em que o problema educacional é complexo, demandando aportes de conhecimento sobre os conteúdos e procedimentos específicos das disciplinas científicas; sobre os processos de ensino e aprendizagem; sobre os processos de gestão da sala de aula e da escola; sobre o saber docente; sobre a história, filosofia e ensino de ciências. A sugestão é, então, que a SBPC Regional e a Academia Baiana de Ciências se contraponham a propostas unilaterais de transformação da educação científica que por vezes vemos alardeadas nos meios científicos e mesmo na mídia. Para um problema complexo, necessitamos de uma abordagem que envolva distintas perspectivas, não com uma única mirada.

5. Como a Secretaria de Educação e Cultura tem promovido as Feiras de Ciências da Bahia, precedidas das Feiras de Ciências nas escolas, seria importante haver um monitoramento do processo investigativo que resulta nos produtos expostos nas feiras, com destaque para a concepção de ciência envolvida. Seria importante que as Feiras de Ciências fossem precedidas de um levantamento das atuais condições estruturantes das escolas e universidades, seguidas de um relatório que contemplasse também o estado de empoderamento dos professores, protagonistas obrigatórios em qualquer iniciativa escolar, visando disponibilizar informações diagnósticas sobre as feiras, visando à construção de projetos com fundamentos sólidos e bem estruturados, que não frustrem os agentes do processo educativo nas escolas.

Referências:
EL-HANI, C. N. & GRECA, I. M. Participação em uma comunidade virtual de prática desenhada como meio de diminuir a lacuna pesquisa-prática na educação em biologia. Ciência e Educação, v. 17, n. 3, p.  579-601, 2011.
EL-HANI, C. N. & GRECA, I. M. ComPratica: A virtual community of practice for promoting biology teachers' professional development in Brazil. Research in Science Education, no prelo.
EL-HANI, C. N. & SEPULVEDA, C. Comunidades de prática, pesquisa colaborativa e núcleos de pesquisa em ensino de ciências nas escolas: inovação educacional e democratização da produção de conhecimento. Jornal da Ciência, n. 4479, 18/04/2012.
HARGREAVES, D. H. The knowledge-creating school. British Journal of Educational Studies, v. 47, n. 2, p. 122-144, 1999.
MCINTYRE, D. Bridging the gap between research and practice. Cambridge Journal of Education, v. 35, n. 3, p. 357-382, 2005.
SCHOONMAKER, F. One size doesn't fit all: reopening discussion of the research-practice connection. Theory into Practice, v. 46, n. 4, p. 264-271, 2007.
WENGER, E. Communities of practice: learning, meaning, and identity. New York, NY: Cambridge University Press, 1998.

*Este documento é um produto coletivo dos participantes do grupo "Colaboração em pesquisa e prática em educação científica - CoPPEC".

UFBA:
Charbel Niño El-Hani (LEHFBio, IB-UFBA)
Thiago Serravalle de Sá (LEHFBio, IB-UFBA)
Juan Manuel Sánchez Arteaga (LEHFBio, IB-UFBA)
Maria Daniela Martins Guimarães (LEHFBio, IB-UFBA)
Maria Aparecida dos Santos Santana (LEHFBio, IB-UFBA)
Rosiléia Oliveira de Almeida (EnCiMa, FACED-UFBA)
Izaura Santiago da Cruz (EnCiMa, FACED-UFBA)

UEFS:
Claudia de Alencar Serra e Sepulveda (GCPEC, Depto. de Educação-UEFS)
Mariangela Cerqueira Almeida (GCPEC, Depto. de Educação-UEFS)

Colégio da Polícia Militar (CPM), Unidade Dendezeiros, Salvador:
Cássia Regina Reis Muniz
Valter Alves Pereira
Natália Rodrigues da Silva
Anna Cássia de Holanda Sarmento

Instituto de Educação Gastão Guimarães (IEGG), Feira de Santana:
Vanessa Perpétua Garcia Santana Reis
Maria da Conceição Lago Carneiro

Colégio Estadual Hermano Gouveia Neto, Lauro de Freitas:
Jorge Bugary Teles Junior
Tânia Costa Caldas
Vânia Jaciara Bispo Costa

Colégio Modelo Luís Eduardo Magalhães, Feira de Santana:
Ana Lucia Albuquerque Pereira Costa Amarante

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA), Camaçari:
Ana Paula Miranda Guimarães
Alessandro Eduardo de Almeida Sousa

Colégio Estadual Plataforma, Salvador
Andrea da Silveira Cordeiro Cunha"

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Reitores ganham muito mais que professores

Vejam no gráfico acima que há Reitores que ganharam em 2011 quase dois milhões. Isto foi cerca de 12 vezes o salário médio dos professores titulares.

Não adianta se preparar para concorrer a Reitor, pois os dados são dos EEUU. Aqui no Brasil, tanto quanto saiba, os Reitores só ganham muito mais que os professores em problemas.

Para saber mais detalhes dos dados do gráfico consulte o Chronicle (aqui).

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Pensando em aprender línguas? Tente Láadan


Veja se voce entende estas palavras: ab, bala, bina? 
Abreviação, Projétil, Aparelho de identificação de chamada além de um sobrenome. Respondeu assim? 
Para português acertou, mas veja outras palavras da mesma língua: dóthadelh, dóthadelh, aradiídin.  Já n˜qo dá para tentar adivinhar:

Veja abaixo o significado de cada uma:


  • "ab: amor por alguém que você ama, mas não respeita
  • bala: raiva com razão, com alguém para culpar, que não é fútil
  • bina: raiva sem razão, sem ter a quem culpar, que não é fútil
  • dóthadelh: permitir que alguém persista em um comportamento auto-destrutivo através de desculpas ou até mesmo ajudando tal pessoa a evitar as consequências de tal comportamento.
  • nehena: contentamento apesar de circunstâncias negativas; como diria Camões, um “contentamento-descontente”.
  • radiídin: um não-feriado, um feriado com mais trabalho que descanso; um dia que é oficialmente um feriado, mas que acaba se tornando um transtorno por causa de todo o trabalho em preparar festas para a ocasião, especialmente quando há muitos convidados e nenhum deles ajuda."
Que língua é esta?

Segundo o blog Hypercubic:
"Suzette Haden Elgin inventou a língua Láadan para um romance de ficção científica. ... o que torna a Láadan única é que ela é uma linguagem feminina, por assim dizer. Foi criada especialmente para expressar as percepções das mulheres."


e na Wikipedia:
"Láadan is a constructed language created by Suzette Haden Elgin in 1982 to test the Sapir–Whorf Hypothesis, specifically to determine if development of a language aimed at expressing the views of women would shape a culture; a subsidiary hypothesis was that Western natural languages may be better suited for expressing the views of men than women. The language was included in her science fiction Native Tongue series. Láadan contains a number of words that are used to make unambiguous statements that include how one feels about what one is saying. According to Elgin, this is designed to counter male-centered language's limitations on women, who are forced to respond "I know I said that, but I meant this"."

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Teste de medicina do dia a dia

Li no voo um artigo interessante no Wall Street Journal com um teste de alternativas para assuntos médicos do dia a dia. Exemplo:


To clean a cut or scrape, it is best to use:
A) Hydrogen peroxide
B) Isopropyl (rubbing) alcohol
C) Neither
D) Both

O artigo apresenta as respostas apropriadas.

Veja o artigo completo no WSJ (aqui).

terça-feira, 15 de maio de 2012

Novo ranking Scimago de Universidades da Iberoamérica

Saiu o novo ranking Iberoamericano de Universidades feito pela Scimago:
"El Ranking Iberoamericano SIR 2012 constituye la tercera edición de esta herramienta para el análisis de la actividad investigadora de las Instituciones de Educación Superior en Iberoamérica. El informe, diseñado en forma de conjunto de rankings o tablas clasificatorias, incluye una selección de indicadores bibliométricos cuya finalidad es poner de manifiesto las dimensiones más relevantes del rendimiento investigador de las instituciones.
Como en las ediciones anteriores, el Ranking Iberoamericano persigue servir de herramienta de análisis y evaluación de la investigación para responsables de políticas científicas, gestores institucionales, investigadores y medios de comunicación. Cuenta además con un doble objetivo: por un lado pretende ofrecer una visión general, ayudando a los responsables políticos a comprobar cómo se adecuan los resultados de investigación de las instituciones a los objetivos establecidos en los planes y programas nacionales de ciencia. Y por otro, desde un punto de vista más específico, proporciona un instrumento de benchmarking a las propias Instituciones de Educación Superior."

O Scidev publicou nota sobre o novo ranking:
"Las universidades brasileras producen el mayor número de publicaciones científicas en América Latina, pero otras instituciones de la región las superan en calidad de la investigación, según el último ranking de la actividad científica en Iberoamérica (16 de abril). 
El Ranking SCImago 2012 incluye a 1.041 instituciones de educación superior con algún documento científico incluido en la base de datos Scopus entre los años 2006 y 2010. Esta base contiene revistas de primer nivel sobre ciencias sociales, psicología, economía, ciencias y medicina. 
El ranking muestra que 75 de las 370 universidades brasileras incluidas tienen más de 400 documentos publicados; las 269 mexicanas lograron 29; las 91 argentinas, 18; y las 54 chilenas, 14. "


Veja o ranking completo (aqui em pdf). 
Veja a notícia do Scidev (aqui).

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Biologia Evolutiva do Desenvolvimento/Evo-Devo – Um curso de curta duração na Universidade Federal da Bahia


Evolutionary Developmental Biology (Evo-Devo)
A short course at the Federal University of Bahia
(Biologia Evolutiva do Desenvolvimento/Evo-Devo – Um curso de curta duração na Universidade Federal da Bahia)
Stuart A. Newman, Ph.D.
New York Medical College
Organização: Charbel Niño El-Hani, Ph.D.
Promoção: Projeto “Integrando Níveis de Organização em Modelos Ecológicos Preditivos: Aportes da Epistemologia, Modelagem e Estudos Empíricos” (INOMEP/PRONEX).
Professores assistentes: Charbel Niño El-Hani, Ph.D. (Instituto de Biologia, Universidade Federal da Bahia); Emilio de Lanna Neto (Instituto de Biologia, Universidade Federal da Bahia), Ms. C.; José Wellington Alves dos Santos (Instituto de Biologia, Universidade Federal da Bahia), Ph.D.; Ana Maria Rocha de Almeida (Universidade da Califórnia, Berkeley), Ms. C.
Estrutura do curso
O curso terá um total de 20 horas. Destas 20 horas, 10 horas consistirão de aulas proferidas por Prof. Stuart Newman em língua inglesa e 10 horas corresponderão a sessões de discussão de artigos selecionados. Os artigos serão em língua inglesa, mas a discussão será conduzida em língua portuguesa pelos professores assistentes, em grupos de 20 alunos.
Somente serão emitidos certificados para participantes com mais de 80% de presença.
Número de vagas: 80
Local: Instituto de Biologia, Campus de Ondina, Universidade Federal da Bahia.
Data: 12 a 16/11/2012
Turno das aulas: Matutino.
Procedimento de inscrição: Enviar email para charbel.elhani@gmail.com manifestando seu interesse pelo curso. Enviar currículo (formato Lattes CNPQ) e carta de justificativa do interesse pelo curso.
Data de divulgação do resultado da seleção dos estudantes: 05/09/2012
Programa provisório
Dia 1 (Segunda, 12 de Novembro) 
Vida multicelular: animais, plantas, fungos, amebozoários. Quando eles surgiram; exemplos modernos; similaridades e diferenças anatômicas e genéticas. Exemplos de processos e mecanismos desenvolvimentais característicos de cada grupo. Uniformitarismo vs. não-uniformitarismo na teoria evolutiva; desafios conceituais da Evo-Devo à Síntese Moderna.
Dia 2 (Terça, 13 de Novembro)
Mecanismos físicos de morfogênese e formação de padrões em sistemas animais (e em alguns sistemas vegetais): liquidez (liquidity) de tecido; adesão diferencial e separação de fase; oscilação e sincronização de estado bioquímico; multi-estabilidade do estado diferenciado; conseqüências moleculares da polaridade celular; morfógenos; inibição lateral; padronização de reação-difusão (reaction-diffusion patterning); filotaxia; mecanismos celulares de padronização autônoma; mecanismos envolvendo sinalização célula a célula e mecanismos independentes de sinalização; mecanismos compostos: morfoestáticos vs. morfodinâmicos.
Dia 3 (Quarta, 14 de Novembro)
Módulos de padronização dinâmica (DPMs): a física encontra a genética no estado multicelular. O genoma do coanoflagelado Monosiga brevicollis; mobilização de adesão e adesão diferencial por caderinas e de inibição lateral por Notch-Delta, conseqüências multicelulares de polaridade apico-basal e planar mediada por Wnt; oscilações e sincronia baseadas em Hes1; difusão e quebra controlada na formação dos gradientes dos morfógenos Hedgehog, BMP e FGF; actomiosina e excitabilidade mecânica dos epitélios; formação de redes e matrizes extracelulares colagenosas. Plasticidade inerente dos resultados de padronização DPM. Papel geral dos DPMs na origem dos planos corporais de animais e plantas.
Dia 4 (Quinta, 15 de Novembro)
Interação dos DPMs na formação do plano corporal animal e dos motivos de órgãos: dinâmica do modelo do relógio e da onda frontal (clock and wavefront) na somitogênese; papel do oscilador Notch-Hes1; sincronização; FGF, Wnt e plasticidade da somitogênese: o caso da segmentação aumentada na serpente; interação do ambiente uterino com o relógio somítico levando a número alterado de segmentos ou defeitos axiais; dinâmica ativadora-inibidora no desenvolvimento do membro de vertebrados; papéis de TGF-β e fibronectina; plasticidade do desenvolvimento dos membros: efeito de mutações, transplantes de tecidos, teratógenos; cenários para a produção de membros fósseis. Introdução às galectinas; um novo DPM baseado em rede de galectinas no membro em desenvolvimento.
Dia 5 (Sexta, 16 de Novembro)
A “ampulheta embrionária”: diferentes trajetórias embrionárias para o mesmo ponto médio morfológico. Insetos de banda germinativa longa vs. insetos de banda germinativa curta; exemplos do desenvolvimento de nematódeos; a relação da padronização celular autônoma no ovo com a função dos DPMs no estágio morfogenético do desenvolvimento; papel das propriedades variacionais dos mecanismos de padronização pós-estágio morfogenético. Plasticidade desenvolvimental na inovação evolutiva; origens de aves a partir de dinossauros em conseqüência de perda de genes: a hipótese do músculo esquelético termogênico.