Há poucos dias a Nature publicou uma News Feature intitulada: Building the best cities for science. Which urban regions produce the best research - and can their success be replicated? (doi:10.1038/467906a; o pdf está livre no site).
Há algum tempo se observou que a maior parte das atividades científicas se concentra em algumas áreas metropolitanas (75 destes núcleos produzem cerca de 57% das publicações - 3,9 milhões de artigos entre 2006 e 2008). O ramo da ciência que mapeia os clusters de produção no espaço físico foi designado de 'spatial scientometrics', mas acho que a tradução de cientometria espacial é ambígua (a cientometria de artigos sobre ciência espacial? ou, em futuro próximo, de artigos produzidos no espaço?), pelo que prefiro a expressão cientometria geográfica.
O artigo busca analisar as características destes núcleos com a idéia que o entendimento do fenômeno pode ajudar a criação, ou planejamento de continuidade, de centros produtivos. Estudos anteriores se voltaram para análise de casos de sucesso enquanto este artigo faz uma análise mais abrangente ao usar comparações entre todos os centros mais produtivos. Vale a pena tomar cuidado com vários aspectos metodológicos: a identificação de cidades nas publicações não é tão precisa, assim como a determinação do número de pesquisadores ou de investimento. Pra além disto, o conceito de clusters de produção científica não é definido rigidamente por cidades, inclui cidades próximas. Bethesda é uma cidade do estado de Maryland mas incluído no cluster de Washington DC, por exemplo. Copenhague na Dinamarca e Malmö, na Suécia, integram o mesmo cluster depois da construção de uma ponte que as une.
Veja no gráfico acima do post que estes clusters têm trajetórias e escolhas distintas. Austin investe em qualidade (eixo Y, impacto relativo de citação) mas que em quantidade (eixo X, número de artigo), enquanto Pequim mostra um esforço quantitativo não igualado pelo indicador de qualidade. Mais uma vez devemos ressaltar os cuidados de análise devido à metodologia. O parâmetro de impacto relativo de citação contempla adequadamente o crescimento recente da ciência sínica? Para ilustrar, os chineses estão mesmo interessados em ciência básica forte citável ou em inovação tecnológica, patentes e geração de riqueza?
O artigo comenta também o que torna as cidades atraentes para a permanência dos cientistas líderes (neste caso baseado em estudo de caso já publicados). Como este é um aspecto importante, cito só os principais: freedom, funding and lifestyle. Liberdade de pesquisar segundo suas próprias idéias; Financiamento e infra-estrutura capaz de permitir a investigação com perguntas de ponta e qualidade de vida na cidade.
Como esperado, não há uma conclusão absoluta. A leitura do artigo é interessante e instrutiva, pode ajudar a decisão e planejamento.
Algo do apresentado no artigo explica a concentração científica observada no Brasil?
Nenhum comentário:
Postar um comentário