terça-feira, 30 de novembro de 2010

OS CO-BENEFÍCIOS DA SAÚDE PARA POLÍTICAS DE COMBATE ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS


Resumo
As mudanças climáticas representam uma ameaça significante para a saúde humana. Os efeitos adversos à saúde provocados pelas mudanças climáticas podem ser atenuados pela redução das emissões de gases de efeito estufa e pela adoção de medidas de adaptação. Os custos financeiro e social destas medidas podem ser de grande monta. Entretanto, há um conjunto de evidências indicando que algumas das medidas voltadas para a mitigação das mudanças climáticas podem, por elas mesmas, promover ganhos imediatos de saúde. De modo geral são os co-benefícios de saúde das medidas de redução de emissão dos gases de efeito estufa, os quais não são devidamente considerados nas negociações globais sobre o tema. Neste cenário, os líderes mundiais deveriam, nos fóruns de encontro, ter em mente os princípios de saúde e estimular práticas que contribuam, de modo mais efetivo, para o avanço nas negociações climáticas.
Mudanças climáticas e saúde
Mudanças climáticas
Há uma grande concordância de que as atividades humanas estão modificando o clima da Terra, acima das mudanças cíclicas naturais (1). A emissão e acúmulo de gases de efeito estufa são conseqüências, principalmente, da queima intensiva dos combustíveis fósseis, bem como fatores relativos às mudanças do uso e destinação do solo. Dependendo do ritmo de crescimento da emissão de gases de efeito estufa, o Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) estima que a temperatura terrestre provavelmente será entre 1.1°C a 6.4°C superior à observada no período entre 1980 a 1999 (2,3). Para evitar o pior, esforços consideráveis têm sido feitos para limitar o aumento da temperatura média da Terra em 2oC em relação à era pré-industrial (4). É importante ressalvar que mesmo sendo atingida esta meta, ocorrerão impactos negativos significativos para o planeta (5).
Os impactos das mudanças climáticas sobre a saúde
Os efeitos adversos das mudanças climáticas sobre a saúde humana podem ser diretos ou indiretos (6). Eventos climáticos extremos, como inundações, tempestades e períodos de seca, culminarão com feridos emortos, causarão transtornos mentais e propiciarão aumento das doenças infecciosas, seja por contaminação de alimentos e água, bem como pela migração e acomodação de grande número de pessoas. O avanço da temperatura aumentará as concentrações ambientais de ozônio no nível do solo, promovendo morbidade e mortalidade por doenças respiratórias e cardíacas. A escassez de alimentos promoverá fome e deterioração da qualidade alimentar. Ondas de frio e calor excessivo causarão mortalidade prematura em crianças e idosos, notoriamente nos grandes centros urbanos devido ao fenômeno das ilhas de calor. Haverá grande alcance de doenças infecciosas veiculadas por insetos, tanto em humanos como no cenário agropecuário (7,8). A combinação do aumento populacional com as mudanças climáticas será um fator de significante insegurança alimentar, escassez qualitativa e quantitativa de recursos hídricos e carência de moradia (9). Estes eventos promoverão episódios de migração em larga escala, acarretando uma pressão adicional à já precária infraestrutura de saúde, deteriorará as condições de saneamento básico para os assim chamados refugiados ambientais, podendo criar condições para a eclosão de conflitos. Tendo por base as projeções do IPCC, os efeitos negativos das mudanças climáticas ultrapassarão em muito os pequenos efeitos positivos do aquecimento terrestre, neste caso representados pela redução das mortes pelas ondas de frio, em grande parte nos países em desenvolvimento (10).
O mais desfavorecidos serão os mais afetados
As maiores consequências das mudanças climáticas recairão sobre os países mais pobres, que são justamente aqueles com menor responsabilidade pela emissão per capita de gases de efeito estufa (11). Os modelos metereológicos indicam que as mudanças ocorrerão com maior intensidade nas populações pobres que habitam países localizados em baixas latitudes, onde a vulnerabilidade é maior e, também, a desnutrição, a diarréia e doenças infecciosas já são mais prevalentes. Gestantes, crianças e idosos serão as maiores vítimas das mudanças climáticas (12). Nos países de baixa renda, a saúde das famílias e da comunidade, bem como as respectivas economias, é altamente dependente do bem-estar da população feminina (13,14). Neste cenário, as mudanças climáticas irão dificultar ainda mais os esforços globais voltados à redução da pobreza, das diferenças econômicas e de desenvolvimento entre as nações, de melhoria das condições de saúde das mulheres e crianças e adiará o alcance das Metas de Desenvolvimento do Milênio (15). Além disso, a redução da capacidade laboral, secundárias às doenças promovidas pelas mudanças climáticas, irá prejudicar ainda mais a economia de países em que a economia é bastante frágil, criando condições para a ampliação da pobreza (16). A população indígena do Ártico, onde as temperaturas vêm aumentando rapidamente neste último século, é particularmente vulnerável, fato que poderá ser negligenciado pelo número reduzido de habitantes dessa região e sua grande dispersão geográfica (17).
Mitigação e adaptação
Embora ainda possa haver algumas incertezas sobre a magnitude dos efeitos das mudanças climáticas sobre a saúde, há um consenso generalizado que a redução dos efeitos negativos demanda um corte substancial e imediato da emissão de gases de efeito estufa. As ações devem ser maiores nos países que mais se beneficiam da queima de combustíveis fósseis. Quanto maior for a demora para a tomada de ações, maiores serão os efeitos sobre a saúde, o meio ambiente, a economia e aumento dos gastos para a futuras ações de mitigação (18). Uma vez que algum grau de mudança no clima já é inevitável, as nações terão que implementar medidas de adaptação para fazer frente à demanda adicional de saúde (19).
Co-benefícios de saúde da mitigação
Há uma percepção geral de que as medidas necessárias para mitigar as mudanças climáticas terão alto custo social e econômico. Este conceito pode não ser necessariamente verdadeiro. Estudos recentes indicam que as políticas voltadas para mitigar as mudanças climáticas promovem, ao mesmo tempo, benefícios à saúde da população nas áreas onde são adotadas. Os co-benefícios de saúde, que se somam àqueles já descritos na escala global, têm o potencial de reduzir, ou mesmo absorver com sobras, os custos das medidas tomadas, visando a redução das mudanças climáticas. Por exemplo, um estudo recente de meta-análise, focalizando os efeitos das políticas climáticas sobre a qualidade do ar, indica um ganho entre US$ 2,00 a US$196,00 (média de US$49,00) por tonelada de redução de emissões locais de gás carbônico (CO2), sendo que os maiores benefícios, neste caso, seriam sentidos nos países de menor renda (20). Estes resultados apontam que os co- benefícios locais representam um ganho da mesma ordem de magnitude dos custos inerentes às medidas de abatimento das emissões, o que fornece argumentos adicionais em favor da redução de emissões e, ao mesmo tempo, incentiva as nações a adotar políticas urgentes de cortes (21).
Evidências científicas
A maior parte das evidências dos co-benefícios de saúde das mudanças climáticas provém de uma série de estudos realizados por uma comissão internacional de cientistas, a qual analisou detalhadamente as fontes de emissão de gases de efeito estufa em países de alta e baixa renda (22). Nestes estudos foram desenvolvidos modelos de simulação em vários estudos de casos em quatro tipos de atividades emissoras de gases de efeito estufa e que, ao mesmo tempo, produzem dano significativo à saúde humana.
Energia doméstica: Na Índia, a substituição dos atuais fogões à lenha ou fogueiras a céu aberto por fogões de baixa emissão, com alta eficiência na queima de biomassa, reduziria significativamente a emissão de vários poluentes domésticos, como as partículas de carbono elementar – um dos poluentes reconhecidamente causador das mudanças climáticas. Paralelamente, reduziria as concentrações ambientais de um dos poluentes mais associados ao dano à saúde humana (infecções respiratórias em crianças e doenças cardíacas e respiratórias em adultos). Foi estimado que um programa de 10 anos na Índia, objetivando a instalação de 150 milhões de fogões de biomassa com baixa emissão, evitaria a morte prematura de 2 milhões de pessoas, particularmente devido à doença pulmonar obstrutiva crônica em mulheres e infecções do trato respiratório inferior em crianças (23).
Transporte urbano: Atividades de transporte são responsáveis por cerca de 25% das emissões globais de gases do efeito estufa e estão aumentando rapidamente pela ascensão da demanda do transporte individual (24). Dados obtidos para as cidades de Londres e Nova Delhi indicam que medidas de estímulo à mobilidade ativa, como o cliclismo e caminhada, bem como adoção de motores de baixa emissão, levariam a uma redução substancial da produção de gases de efeito estufa, com benefícios imediatos à saúde, tanto pela redução do sedentarismo como pela redução das concentrações locais de poluentes atmosféricos (25). No caso de Londres, foi estimado que a adoção deste tipo de política levaria a uma redução das doenças cardíacas e isquemia cerebral entre 10 a 20%, de câncer de mama entre 12 a 13%, de demância em 8% e depressão em 5%. Em Delhi, as projeções indicam uma redução entre 11 a 25% das doenças cardíacas e cérebro-vasculares e uma diminuição entre 6 a 17% nos gastos com diabetes.
Geração de eletricidade:A adoção de tecnologias mais limpas de geração de eletricidade, com redução do emprego de usinas termoelétricas que utilizam carvão, tem o potencial de reduzir a emissão de material particulado, um dos poluentes mais associados ao excesso de morbidade e mortalidade precoce por doenças respiratórias e cardíacas (26). Os ganhos econômicos em saúde, obtidos neste caso, ultrapassam largamente os custos do emprego de tecnologias mais limpas, especialmente na Índia e China. Neste contexto, a oferta de energia elétrica obtida a partir de tecnologia limpa atinge, simultaneamente, os objetivos de redução de emissão de gases de efeito estufa e ganho em saúde pela redução dos poluentes em escala regional, desde que a energia seja oferecida a custos acessíveis à população de baixa renda.
Alimentos e agricultura: As atividades agropecuárias, especialmente a produção de metano por ruminantes, são fontes importantes de gases de efeito estufa. A produção de arroz em campos alagados e mudanças do uso do solo também contribuem para as mudanças do clima. A demanda crescente por alimentos faz prever que o potencial de emissões das atividades agropecuárias aumentará no futuro, dada às necessidades advindas do aumento populacional e melhoria econômica de alguns países emergentes. A fim de evitar esta situação, é necessário adotar uma série de medidas, tais como: melhoria tecnológica da produção de elementos, pecuária mais eficiente e redução da produção de carnes. Em suma, ações que certamente contribuirão a atingir os objetivos de redução das emissões. Políticas adequadas que saibam obter o equilíbrio entre a demanda por alimentos com a disseminação de melhores práticas de agropecuária são imperativas. Ao mesmo tempo, a redução do consumo de alimentos de origem animal produzirá benefícios à saúde. Por exemplo, uma redução de 30% de ingestão de gordura saturada de origem animal tem o potencial de redução de 15% das doenças cardíacas em Londres e 16% em São Paulo (27). Há também que se considerar que algumas medidas de redução da emissão de gases do efeito estufa podem acarretar danos à saúde. Por exemplo, em algumas situações, a produção de biocombustíveis pode comprometer a produção de alimentos, causar situação de insegurança alimentar e gerar aumento dos preços de alimentos (28). Esta situação indica claramente que as alternativas propostas para a redução dos gases devem levar em conta os seus efeitos à saúde humana, em um cenário de curto e longo prazo.
Rumo a um sistema de saúde de baixa emissão de carbono
Os sistemas de saúde são fonte significativa de emissão de gases de efeito estufa, fornecendo oportunidades de redução. Na Inglaterra foi estimado que o Sistema Nacional de Saúde é responsável pela emissão de mais de 21 milhões de toneladas de CO2 equivalentes em 2007, divididas em procedimentos (59%), energia dos prédios (24%) e transporte (17%) (29 ). O Sistema Nacional de Saúde da Inglaterra tem como meta uma redução de 10% das emissões até 2015, através de medidas de incentivo do transporte ativo pelos profissionais de saúde, aumento da eficiência energética das edificações, emprego de fontes mais limpas de energia e utilização de suprimentos com menor pegada de carbono.
Recomendações
As evidências crescentes da relação entre mudanças climáticas e saúde humana modificaram a percepção de como as mudanças climáticas são sentidas, oferecendo um novo espaço político a ser considerado nas negociações
relacionadas com as mudanças climáticas. Enquanto os benefícios da redução das emissões demandam um largo período de tempo para serem sentidas, bem como são dispersas ao longo do planeta, os co-benefícios de saúde são imediatos e são perceptíveis localmente. Considerando a magnitude dos co-benefícios em saúde das medidas de redução de emissão de gases de efeito estufa, as Academias signatárias deste documento recomendam que:
· A melhoria das condições de saúde, tanto localmente quanto globalmente, deveriam ser um dos critérios para a adoção de procedimentos de mitigação das mudanças climáticas. Os co-benefícios potencias de saúde deveriam ser considerados a partir da formulação de políticas de mitigação. · Nas negociações internacionais sobre mudanças climáticas, deve ser dada maior visibilidade e importância aos co-benefícios de saúde das políticas de mudanças climáticas.
· Os Ministros e Ministérios da Saúde devem engajar-se ativamente na promoção de políticas de mitigação que resultem em co-benefícios de saúde em seus países, assim como defender as suas teses junto aos representantes nas negociações internacionais sobre mudanças climáticas. · Os formuladores de políticas de saúde, os profissionais da saúde e a indústria deveriam ultrapassar as fronteiras nacionais e da disciplinaridade e colaborar entre si, visando a implementação das políticas de redução de emissões que resultem em benefício à saúde.
· A comunidade da saúde deve assumir papel de liderança pelo exemplo, por meio da redução das emissões dos sistemas de saúde.
Referências
1 Solomon S, et al. (2007). Climate change 2007: the physical science basis. Contribution of Working Group I to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Cambridge University Press, Cambridge and New York. 2 The Intergovernmental Panel on Climate Change is the leading body for the assessment of climate change, established by the United Nations Environment Programme (UNEP) and the World Meteorological Organization (WMO) to provide the world with a clear scientific view on the current state of climate change and its potential environmental and socio-economic consequences.
3 Alley, A et al. (2007). A report of Working Group I of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Summary for Policymakers. Cambridge University Press, Cambridge and New York. 4 G8 (2009). Declaration of the Leaders the Major Economies Forum on Energy and Climate. http://www.g8italia2009.it/G8/Home/Summit/G8-G8_Layout_locale-1199882116809_Atti.htm
5 Department of Health (2008). Health effects of climate change in the UK 2008: an update of the Department of Health report 2001/2002. http://www.dh.gov.uk/prod_consum_dh/groups/dh_digitalasset s/@dh/@en/documents/digitalasset/dh_082836.pdf 6 Parry ML, et al. (2007). Climate change 2007: impacts, adaptation and vulnerability. Contribution of Working Group II to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Cambridge University Press, Cambridge, United Kingdom and New York, NY, USA.
7 European Science Academies Science Advisory Council (2010). Climate change and infectious diseases in Europe. EASAC, Halle, Germany. 8 Parry ML, et al. (2007). Climate change 2007: impacts, adaptation and vulnerability. Contribution of Working Group II to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Cambridge University Press, Cambridge, United Kingdom and New York, NY, USA.
9 Costello A, et al. (2009). Managing the health effects of climate change. Lancet 373, 1693-733.
10 Parry ML, et al. (2007). Climate change 2007: impacts, adaptation and vulnerability. Contribution of Working Group II to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Cambridge University Press, Cambridge, United Kingdom and New York, NY, USA 11 Patz JA, et al. (2007). Climate Change and Global Health: Quantifying a Growing Ethical Crisis. EcoHealth, 4(4), 397-405.
12 The Interagency Working Group on Climate change and Health (2010). A Human Health Perspective On Climate Change. National Institute of Environmental Health Services, NC, USA. 13 G8 Science Academies (2010). Joint G8 Science academies’ statement on Health of Women and Children. G8 Science academies.
14 WHO (2009). Gender, climate change and health. Draft discussion paper. http://www.who.int/globalchange/ publications/reports/final_who_gender.pdf 15 United Nations (2009). Millennium development goals report. http://www.un.org/millenniumgoals/pdf/ MDG_Report_2009_ENG.pdf
16 Kjellstrom T, Holmer I and Lemke B (2009). Workplace heat stress, health and productivity – an increasing challenges for low and middle income countries during climate change. Global Health Action. doi: 10.3402/ gha.v2i0.2047 17 Parkinson AJ and Evengard B (2009) Climate change, its impact on human health in the Arctic and the public health response to threats of emerging infectious disease. Global Health Action. Stockholm, Sweden. doi: 10.3402/gha.v2i0.2075
18 Stern N (2006). The economics of climate change. HMSO, London. 19 Pachauri RK and Reisinger A (2007). Summary for policy makers. In Climate change 2007: synthesis report. Contribution of Working Groups I, II and III to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. IPCC, Geneva, Switzerland. 20 Nemet, GF, Holloway T, and Meier P (2010). Implications of incorporating air-quality co-benefits into climate change policymaking, Environmental Resesearch Letters, 5, 014007, doi:10.1088/1748- 9326/5/1/014007. 21 Haines A, et al. (2009). Public health benefits of strategies to reduce greenhouse-gas emissions: overview and implications for policy makers. The Lancet. doi:10.1016/S0140-6736(09)61759-1. 22 The Lancet (2009). Health and climate change. The Lancet Series. http://www.thelancet.com/series/ health-and-climatechange 23 Wilkinson P, et al. (2009). Public health benefits to strategies to reduce greenhouse-gas emissions: household energy. The Lancet. doi:10.1016/S0140-6736(09)61713-X 24 Metz B, et al. (2007). Contribution of Working Group III to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Cambridge University Press, Cambridge, United Kingdom and New York, NY, USA. 25 Woodcock J, et al. (2009). Public health benefits of strategies to reduce greenhouse-gas emissions: urban
land transport. The Lancet. doi: 10.1016/S0140-6736(09)61714-1 26 Markandya A, et al. (2009). Public health benefits of strategies to reduce greenhouse-gas emissions: low- carbon electricity generation. Lancet. doi:10.1016/S01406736(09)61715-3 27 Friel S, et al. (2009). Public health benefits of strategies to reduce greenhouse-gas emissions: food and agriculture. The Lancet. doi: 10.1016/S0140-6736(08)61345-8. 28 Tilman D, et al. (2009). Beneficial biofuels – the food, energy and environmental trilemma. Science, 325 (5938), 270-271. 29 Further information is available from: http://www.sdu.nhs.uk/page.php?page_id=160.
Academias signatárias
· Academia Nacional de Medicina de Buenos Aires · Academy of Medical Sciences of Armenia · Austrian Academy of Sciences · Bangladesh Academy of Sciences
· Academia Boliviana de Medicina · Brazilian Academy of Sciences · Academia Nacional de Medicina de Colombia · Croatian Academy of Medical Sciences · Academy of Scientific Research and Technology, Egypt · The Delegation of the Finnish Academies of Science and Letters · Union of German Academies of Sciences and Humanities · Deutsche Akademie der Naturforscher, Leopoldina · Academia de Ciencias Medicas, Fisicas y Naturales de Guatemala · Hungarian Academy of Sciences · Indonesian Academy of Sciences · Accademia Nazionale dei Lincei · TWAS, academy of sciences for the developing world · Islamic World Academy of Sciences · African Academy of Sciences · Kenya National Academy of Sciences · The National Academy of Sciences, Rep. of Korea · Akademi Sains Malaysia · National Academy of Medicine of Mexico · Nigerian Academy of Science · National Academy of Science and Technology, Philippines · Polish Academy of Sciences · The Caribbean Academy of Sciences · Russian Academy of Medical Sciences · Slovenian Academy of Sciences and Arts · Academy of Science of South Africa · National Academy of Sciences of Sri Lanka · Royal Swedish Academy of Sciences · The Tanzania Academy of Sciences · Thai Academy of Science and Technology · Turkish Academy of Sciences · Uganda National Academy Sciences · Academy of Medical Sciences, UK · Institute of Medicine, US NAS
Comitê de especialistas que redigiram o documento
Professor Detlev Ganten (Chair) Deutsche Akademie der Naturforscher Leopoldina, President of the World Health Summit Charité Berlin, Chairman of the Board, Charité Foundation and member of the IAMP Executive Committee.
Professora Roseanne Diab Academy of Science of South Africa Executive Officer and Vice Chair of the InterAcademy Council Review of the InterGovernmental Panel on Climate Change.
Professor Sir Andrew Haines FMedSci Professor of Public Health and Primary Care, London School of Hygiene and Tropical Medicine, UK
Professor Thomas Mettenleiter Director of Institute of Molecular Biology at the Friedrich-Loeffler- Institut, Federal Research Institute for Animal Health, Greifswald- Insel Riems, Germany
Professor Tony McMichael Director of the National Centre for Epidemiology and Population Health, Australia National University, Canberra
Professor Jonathan Patz Professor of Environmental Studies and Population Health Sciences, University of Wisconsin-Madison, USA
Professor Paulo Saldiva Professor of Pulmonary Pathology and Chair of the Department of Pathology, Universidade de São Paulo Medical School, Brazil Professor Stig Wall Professor of Epidemiology and Health care Research, Umea University, Sweden
Scientific administration Laurie Smith, The Academy of Medical Sciences, UK Dr Kathrin Happe, Leopoldina, Germany

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Avanços e Perspectivas da Ciência no Brasil, América Latina e Caribe 2010


Pela quinta vez consecutiva, a ABC reúne alguns dos principais pesquisadores da região para relatarem os avanços do conhecimento em suas áreas de atuação.
Neste evento, a Academia procura também evidenciar o trabalho dos jovens e promissores talentos reconhecidos: os membros afiliados da ABC e os jovens cientistas da TWAS.
Atinge-se, desta forma, o ideal de reunir em um mesmo encontro os pesquisadores mais jovens e os mais experientes. Desta interação nasce um novo diálogo, que oxigena e alimenta o avanço da Ciência no Brasil e na região.
Os objetivos da Conferência incluem:
· divulgar, tendo sempre em vista os benefícios para a sociedade, o avanço das diversas áreas da ciência e a integração multidisciplinar;

· promover o diálogo entre a comunidade científica e as principais agências de C&T nacionais e estaduais;

· estimular jovens talentos da Ciência, de todas as regiões do Brasil e dos demais países da América Latina;

· apresentar uma visão geral da Ciência no Brasil e demais países da ALC, visando estreitar a cooperação científica na região;

· apresentar os resultados dos Grupos de Estudos da Academia.
O evento anual será realizado na sede da ABC, entre os dias 29/11 e 3/12/2010, sendo gratuito e aberto ao público. Os participantes receberão certificados referentes às palestras a que comparecerem.

Veja a programação abaixo e em formato de pdf no site da ABC (aqui).







Uma análise da LeishVacina em 2010. Apresentação de Aldina na reunião do CYTED.

Na semana passada, ocorreu em Cacun uma reunião do Programa CYTED. Aldina apresentou os resultados obtidos no período de 2007 a 2010 pela LeishVacina.


Todos os objetivos foram cumpridos e a rede gerou bastante interação entre os participantes.
Como indicado na apresentação, ainda há duas ações a ocorrer e uma delas (um worshop de padronização de sorologia para leishmaniose utilizando antígenos recombinantes) se inicia hoje.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

The Inner Life of a Cell Explained

Vejam o filme The Inner Life of a Cell Explained, que Manellis, ao comentar o post  Animação Molecular indicou dizendo: 
"Uma animação capaz de converter um vestibulando de Direito em um acadêmico de Medicina!"



Sobre a animação:
BIOVISIONS AT HARVARD UNIVERSITY. The creation of the materials presented have been made possible by the Howard Hughes Medical Institute. http://multimedia.mcb.harvard.edu/

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Subtitles
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For people with problems of hearing impairment or deafness, I wrote those subtitles. There might be some mistakes in them so please tell me if you see some.
I'll provide french subtitles soon.
If some of you want to make subtitles in other langages, I can give you the subtitle file in english, you will just have to traduce. You will also need this device: Subtitle Workshop, really easy to use. Just open my file and traduce it with it. Secure download here: http://download.softpedia.ro/dl/77cc0...

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Clip Credits:
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Inner Life of the Cell animation conception and scientific content by Alain Viel and Robert A. Lue.
Animation by John Liebler/XVIVO.

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About BioVisions
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Research in the biological sciences often depends on the development of new ways of visualizing important processes and molecules. Indeed, the very act of observing and recording data lies at the foundation of all the natural sciences. The same holds true for the teaching and communication of scientific ideas; to see is to begin to understand. The continuing quest for new and more powerful ways to communicate ideas in biology is the focus of BioVisions at Harvard University.

The potential of multimedia in the area of biology education has yet to be fulfilled. Indeed, multimedia as a means of imparting biological information is years behind its use in other areas such as entertainment. BioVisions is meant to close this gap by combining the highest quality multimedia development with rigorous scientific models of how biological processes occur. In addition, this new generation of science visualizations are not meant to simply be simulations or mirrors held up to reality, rather they are designed with a specific pedagogical goal in mind. This means that each decision made on how to represent a given biological process also includes consideration of how best to visually communicate particular aspects of the process.

BioVisions is based on a collaborative community of Harvard scientists, teaching faculty, students, and multimedia professionals. It is directed by Dr. Robert A. Lue, who founded BioVisions with generous and continuing support from the Howard Hughes Medical Institute and Harvard University.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

$10,000 Prize for New Scientists Without Borders Nutrition Challenge


Dear Scientists Without Borders Community Member:
I am writing to inform you of a very exciting new open innovation challenge that Scientists Without Borders is sponsoring which seeks solutions to the pressing global issue of micronutrient deficiency in women of childbearing years, and that offers up to $10,000 in awards for the most innovative ideas submitted. I urge you to learn more about the challenge, offer your creative solutions, and share it with your network of colleagues and friends.
As you are aware, undernutrition remains one of the most urgent and least addressed global health challenges, leading to an estimated 3.5 million preventable maternal and child deaths each year. Folic acid deficiency in women of child-bearing ages in the developing world is among the major contributors, causing failure of nervous system development that leads to infant death. Despite the weight of scientific evidence and the obvious need, effective treatments and tools to intervene have remained either unavailable or have failed to reach the women and children at greatest risk.
Recognizing this problem, Scientists Without Borders is seeking effective at-home or community-based solutions that would allow women to easily, affordably, and safely supplement or fortify their diets with Folic Acid in a manner that fits in with their lifestyle and routines and will not require significant behavioral or cultural adaptation.
The deadline for submissions is December 12, 2010Click here to learn more.
The winning solution will be published on the Scientists Without Borders web-based platform, and, if possible, will lead to further collaborative development of the solution.
To develop this Challenge and ensure the highest level of scientific rigor, Scientists Without Borders convened an independent Advisory Panel comprised of three of the world’s leading nutrition science and policy experts, who were vested with the authority to identify the appropriate parameters, specific focus area, and criteria for this Challenge. They will also participate in selecting the winning submission. Click here to read more about our Advisory Panel.
To issue this challenge, Scientists Without Borders, in conjunction with The Sackler Institute for Nutrition Science at the New York Academy of Sciences, teamed up with InnoCentive, a leading open innovation company, to administer the Challenge, and PepsiCo to fund the prize. This partnership reflects our mutual commitment to utilize innovative approaches and leverage multi-sector resources in order to identify and implement solutions to global health problems.
In addition to this important challenge, the Scientists Without Bordersplatform is also currently hosting several additional important challenges in the areas of pharmaceutical development, clean water, and childhood cancer that have been posted by your fellow community members. These challenges also urgently need your resources and expertise, so please log in to help.
Warmest regards,
Shaifali Puri
Executive Director, Scientists Without Borders 

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Premio Profa. Maria Theresa Pacheco

1-OBJETO-Homenagear a memória da Profa.Maria Theresa Pacheco e incentivar o desenvolvimento da pesquisa. 
1.1-O prêmio, de âmbito nacional, é destinado a profissionais das áreas médica e jurídica, e a estudantes que estejam cursando o último semestre do curso de medicina ou direito, mediante apresentação de 3-A cada dois anos, a iniciar-se em 2011, será determinada uma área que regulará o prêmio e a apresentação do trabalho.
1.2-Para a primeira edição do porêmio a área escolhida será Medicina Legal. 
1.4-A palavra trabalho é entendida como artigo científico (apresentando temas ou abordagens originais (do tipo relato de caso, comunicação ou nova prévia) de, no mínimo, 10 (dez) e, no máximo, 15 (quinze) páginas, tamanho A4, corpo 12, tipo Times New Roman, entrelinhas 1.5, justificado, com exceção das citações de mais de três linhas e do resumo, que devem ser digitados em corpo 11 com espaço simples, em programa Word for Windows. Para construção do artigo, devem ser adotadas as orientações da Associação Brasileira de Normas Técnicas ABNT –NBR 6022:2003 nas apresentações de artigos científicos impressos. Esta norma regulamenta os elementos que constituem o aartigo científico.
2-PRAZO DE INSCRIÇÃO E ENTREGA DOS TRABALHOS: 
2.1As inscrições e a entrega dos trabalhos poderão ser realizadas a partir do   dia 22/11/2010 até o dia 30 de maio de 2011.
2.2-O Regulamento e a ficha de inscrição ficarão disponíveis para consuldtanos sites da Fundação José Silveira (www.fjs.org.br) e do Instituto Geraldo Leite (www.institutogeraldoleite.com).
2.3- Informações sobre inscrições poderão ser obtidas através do telefone (71) 3504-5174, ou através de e-mail para centrodepesquisa@fjs.org.br.
3-FORMA DE INSCRIÇÃO:
3.1-As inscrições e a entrega dos trabalhos poderão ser feitas na sede da Fundação José Silveira/Centro de Pesquisa, Ladeira do Campo Santo, s/n, Federação, Salvador, Bahia, em horário comercial, ou através desedex encaminhado para o endereço desta.
3.2-No ato da inscrição, cada candidato deverá manifestar, formalmente, sua plena, incondicional e irrecusável concordância com todas as cláusulas e disposições deste Regulamento, sem o que a inscrição não se completará.
3.3-A Fundação José Silveira encaminhará e-mail a cada candidato inscrito, confirmando sua inscrição e o recebimento do trabalho.
3.4-Findo o prazo de entrega dos trabalhos, não serão mais aceitos novos trabalhos, salvo os postados até a data de encerramento da entrega dos mesmos.
4-JULGAMENTO DOS TRABALHOS:
4.1-O julgamento ocorrerá em uma única etapoa, sendo que a avaliação dos trabalhos inscritos será feita por uma comissão julgadora composta de 5 (cinco) representantes, os quais sedrão nomeados pelas instituições patrocinadoras e parceiras, dentre as personalidades e/ou profissionais de renomada atuação nas áreas de saúde e jurídica.
4.2-Os trabalhos serão apreciados pela comissão, cabendo a esta, a seu livre e exclusivo critério, escolher o vencedor.
4.3-Caberá a Comissão definir os temas que serão objetos dos próximos prêmios.
4.4-As decisões da comissão são soberanas e não caberá recurso de qualquer espécie.
5-RESULTADO – DATA DE DIVULGAÇÃO:
5.1-O resultado do concurso será divulgado no dia 02 de setembro de 2011, devendo o vencedor ser devidamente comunicado.
6-PRÊMIO:
6.1-O vencedor do prêmio será contemplado com uma medalha Profa. Maria Theresa Pacheco, além da importância de R$ 10.000,00 (dez mil Reais).
7- ENTREGA DO PRÊMIO:
7.1-A premiação será realizado em sessão solene no Auditório do IBIT-Instituto Brasileiro da Tuberculose, Ladeira do Campo Santo, s/n, Federação, Salvador-Ba, na semana de comemoração do dia do médico, em horário a ser previamente divulgado.
8- DIVULGAÇÃO DOS TRABALHOS:
8.1-Com a assinatura da ficha de inscrição, e sob pena de não recebimento ou devolução do prêmio, se for o caso, o participante autoriza as instituições organizadoras e parceiras do Prêmio a, livremente e gratuitamente divulgar o trabalho por ele realizado, pelo período que desejar.
8.2-A divulgação poderá ser realizada, alivre critério das referidas entidades, em qualquer meio publicitário, como jornais, revistas, outdoors,etc.
8.3-Com a assinatura da ficha de inscrição o participante cede ao INSTITUTO GERALDO LEITE, FUNDAÇÃO JOSÉ SILVEIRA, INSTITUTO MÉDICO LEGAL NINA RODRIGUES, UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, UNIVERSIDADE CATÓLICA DO SALVADOR, ESCOLA BAHIANA DE MEDICINA E SAÚDE PÚBLICA, ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR DA BAHIA, ASSOCIAÇÃO BAHIANA DE MEDICINA, CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DA BAHIA, ACADEMIA BAIANA DE EDUCAÇÃO, ACADEMIA DE EDUCAÇÃO DE FEIRA DE SANTANA, CLISA e a ACADEMIA DE CULTURA DA BAHIA todos os direitos autorais referentes ao trabalho apresentado.
9-DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS:
9.1-Os trabalhos concorrentes ao presente Prêmio deverão ser entregues, mediante inscrição, conforme disposto neste Regulamento.
9.2-Os concorrentes deverão entgregar cinco vias do artigo apresentado ao concurso, respeitando o quanto disposto neste Regulamento.
9.3-Após a divulgação do resultado do Prêmio, os trabalhos entregues pelos candidatos inscritos, exceto o do vencedor, estarão à disposição na Fundação José Silveira para devolução, pelo prazo máximo de 2 (dois) meses. Após este período, poderão ser destruidos.
9.4-Os dados omissos neste Regulamento serão decididos pela Comissão Julgadora.

Manifesto da Ciência Tropical: um novo paradigma para o uso democrático da ciência como agente efetivo de transformação social e econômica no Brasil

por Miguel Nicolelis
É hora de a ciência brasileira assumir definitivamente um compromisso mais central perante toda a sociedade e oferecer o seu poder criativo e capacidade de inovação para erradicar a miséria, revolucionar a educação e construir uma sociedade justa e verdadeiramente inclusiva.
É hora de agarrar com todas as forças a oportunidade de contribuir para a construção da nação que sonhamos um dia ter, mas que por muitas décadas pareceu escapar pelos vãos dos nossos dedos.
É hora de aproveitar este momento histórico e transformar o Brasil, por meio da prática cotidiana do sonho, da democracia e da criação científica, num exemplo de nação e sociedade, capaz de prover a felicidade de todos os seus cidadãos e contribuir para o futuro da humanidade.
No intuito de contribuir para o início desse processo de libertação da energia potencial de criação e inovação acumulada há séculos no capital humano do genoma brasileiro, eu gostaria de propor 14 metas centrais para a capacitação do Programa Brasileiro de Ciência Tropical.
A implementação delas nos permitirá acelerar exponencialmente o processo de inclusão social e crescimento econômico, que culminará, na próxima década, com o banimento da miséria, a maior revolução educacional e ambiental da nossa história e a decolagem irrevogável e irrestrita da indústria brasileira do conhecimento.
Estas 14 metas visam a desencadear a massificação e a democratização dos meios e mecanismos de geração, disseminação, consumo e comercialização de conhecimento de ponta por todo o Brasil.
1) Massificação da educação científica infanto-juvenil por todo o território nacional
O objetivo é proporcionar a 1 milhão de crianças, nos próximos 4 anos,  acesso a um programa de educação científica pública, protagonista e cidadã de alto nível. Esse programa utilizará o método científico como ferramenta pedagógica essencial, combinando a filosofia de vida de dois grandes brasileiros: Paulo Freire e Alberto Santos-Dumont.
Ao unir a educação como forma de alcançar a cidadania plena com a visão de que ciência se aprende e se faz “pondo a mão na massa”, sugiro a criação do Programa Educação para Toda a Vida, do qual faria parte o Programa Nacional de Educação Científica Alberto Santos -Dumont (veja abaixo). A porta de entrada se daria nos serviços de pré-natal para as mães dos futuros alunos do programa. Após o nascimento, essas crianças seriam atendidas no berçário e na creche, depois na escola de educação científica que os serviria dos 4-17 anos, para que esses brasileiros e brasileiras possam desenvolver toda a sua potencialidade intelectual e criativa nas duas próximas décadas de suas vidas.
O programa de educação científica seria implementado no turno oposto ao da escola pública regular, criando um regime de educação em tempo integral para crianças de 4-17 anos, por meio de parceria do governo federal com governos estaduais e municipais. Cada unidade da rede de universidades federais poderia ser responsável pela gestão de um núcleo do Programa Educação para Toda Vida, voltado para a população do entorno de cada campus.
O governo federal poderia ainda incentivar a participação da iniciativa privada, oferecendo estímulos fiscais e tributários para as empresas que estabelecessem unidades de educação científica infanto-juvenil, ao longo do território nacional. Por exemplo, o novo centro de pesquisas da Petrobras poderia criar uma das maiores unidades do Educacao para Toda Vida.
2) Criação de centros nacionais de formação de professores de Ciência
A implementação do Programa Educação para Toda Vida geraria uma demanda inédita para professores especializados no ensino de ciência e tecnologia. Para supri-la, o governo federal poderia estabelecer o Programa Nacional de Educação Científica Alberto Santos -Dumont, que seria o responsável pela gestão dos centros nacionais de formação de professores de ciências, espalhados por todo território nacional. As universidades federais, os Institutos Federais de Tecnologia (antigos CEFETs) e uma futura cadeia de Institutos Brasileiros de Tecnologia (veja abaixo) poderiam estabelecer programas de formação de professores de ciências e tecnologia em todo o país.
Esses novos programas capacitariam uma nova geração de professores a ensinar conceitos fundamentais da ciência, através de aulas práticas em laboratórios especializados, tecnologia da informação e utilização de métodos, processos e novas ferramentas para investigação científica. Os alunos que se graduassem no programa Educação para Toda Vida teriam capacitação, antes mesmo do ingresso na universidade, para se integrar ao trabalho de laboratórios de pesquisa profissionais, tanto públicos como privados, através doPrograma Nacional de Iniciação Científica e do Bolsa Ciência (veja abaixo).
3) Criação da carreira de pesquisador científico em tempo integral nas universidades federais
Seria em paralelo à tradicional carreira de docente. Ela nos permitiria recrutar uma nova geração de cientistas que se dedicaria exclusivamente à pesquisa científica, com carga horária de aulas correspondente a 10% do seu esforço total. Sem essa mudança não há como esperar que pesquisadores das universidades federais possam dar o salto científico qualitativo necessário para o desenvolvimento da ciência de ponta do país.
4) Criação de 16 Instituos Brasileiros de Tecnologia espalhados pelo país
Eles serviriam para suprir a demanda de engenheiros, tecnólogos e cientistas de alto nível e promover a inclusão social por meio do desenvolvimento da indústria brasileira do conhecimento. Atualmente o Brasil apresenta um déficit imenso desses profissionais.
Para sanar essa situação, o Brasil poderia reproduzir o modelo criado pela Índia, que, desde a década de 1950, construiu uma das melhores redes de formação de engenheiros e cientistas do mundo, constituída pela cadeia de Institutos Indianos de Tecnologia.
Para tanto, o governo federal deveria criar nos próximos oito anos uma rede de 16 Institutos Brasileiros de Tecnologia (IBT) e espalhá-los em bolsões de miséria do território nacional, especialmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Cada IBT poderia admitir até 5.000 alunos por ano.
5) Criação de 16 Cidades da Ciência
Localizadas nas regiões com baixo índice de desenvolvimento humano, como o Vale do Ribeira, Jequitinhonha, interior do Nordeste, Amazônia, as Cidades da Ciência ficariam no entorno dos novos IBTs.
As Cidades da Ciência seriam, na prática, o componente final da nova cadeia de produção do conhecimento de ponta no Brasil. Acopladas aos novos IBTs e à rede de universidades federais, criariam o ambiente necessário para a transformação do conhecimento de ponta, gerados por cientistas brasileiros, em tecnologias e produtos de alto valor agregado que dariam sustentação à indústria brasileira do conhecimento.
Nas Cidades da Ciência seriam criadas e estabelecidas as grandes empresas do conhecimento nacional, onde o potencial científico do povo brasileiro poderia se transformar em novas fontes de riqueza a serem aplicadas na gênese de um sistema nacional autossustentável. Tal iniciativa permitiria a inserção do Brasil na era da economia do conhecimento que dominará o século XXI.
6) Criação de um arco contínuo de Unidades de Conservação e Pesquisa da Biosfera da Amazônia
Esse verdadeiro cinturão de defesa, formado por um arco contínuo de Unidades de Conservação e Pesquisa da Biosfera da Amazônia, seria disposto em paralelo ao chamado “Arco de Fogo”, formado em decorrência do agronegócio predatório e da indústria madeireira ilegal, responsáveis pelo desmatamento da região. Essa iniciativa visa a fincar uma linha de defesa permanente contra o avanço do desmatamento ilegal, modificando a estratégia das unidades de conservação a fim de colocá-las a serviço de um Programa Nacional de Mapeamento dos Biomas Brasileiros.
Uma série de unidades de conservação poderia ser transformada em unidades híbridas. Assim, além da conservação, poderiam incluir grandes projetos de pesquisa que possibilitem ao Brasil mapear a riqueza e a magnitude dos serviços ecológicos e climáticos encontrados nos diversos biomas nacionais.
Para incentivar a participação de populações autóctones nesse esforço, o governo federal poderia criar o programa Bolsa Ciência Cidadã. Homens, mulheres e adolescentes, que vivem na floresta amazônica e conhecem seus segredos melhor do que qualquer professor doutor, receberiam uma bolsa, similar ao bolsa família, para integrarem as equipes de pesquisadores e responsáveis pela implementação das leis ambientais na região. Esse exército de cidadãos, devotado à investigação científica e à proteção da Amazônia, mostraria ao mundo o quão determinado o Brasil está em preservar uma das maiores maravilhas biológicas do planeta.
Evidentemente tal iniciativa poderia ser replicada em outras áreas críticas, também ameaçadas pela indústria predatória, como o Pantanal, a caatinga, o cerrado, a Mata Atlântica e os Pampas.
7) Criação de oito “Cidades Marítimas” ao longo da costa brasileira
A descoberta do pré-sal demonstra claramente que uma das maiores fontes potenciais de riqueza futura da sociedade brasileira reside no vasto e diverso bioma marítimo da nossa costa.
Apesar disso, os esforços nacionais para estudo científico desse vasto ambiente são muito incipientes. Aqui também o Brasil pode inovar de forma revolucionária. Em parceria com a Petrobras, o governo federal poderia estabelecer, no limite das 350 milhas marinhas, oito plataformas voltadas para a pesquisa oceanográfica e climática, visando ao mapeamento das riquezas no mar tropical brasileiro.
Essas verdadeiras “Cidades Marítimas”, dispostas a cada mil quilômetros da costa brasileira, seriam interligadas por serviço de transporte marítimo e aéreo (helicópteros) e se valeriam de incentivos à renascente indústria naval brasileira, para o desenvolvimento, por exemplo, de veículos de exploração a grandes profundidades.
Cada “Cidade Marítima” seria autossuficiente, contando com laboratórios, equipamentos e equipe própria de pesquisadores. Tais edificações serviriam também como postos mais avançados de observação dos limites marítimos do Brasil. Com o crescente desenvolvimento da exploração do pré-sal, essa rede de“Cidades Marítimas” poderia assumir papel fundamental na defesa da nossa soberania marítima dentro das águas territoriais.
8) Retomada e Expansão do Programa Espacial Brasileiro
Embora subestimado pela sociedade e a mídia brasileiras, o fortalecimento do programa espacial brasileiro oferece outro exemplo emblemático de como o futuro do desenvolvimento científico no Brasil é questão de soberania nacional.
Dos países pertencentes ao BRIC, o Brasil é o que possui o mais tímido e subdesenvolvido programa espacial. Apesar da sua situação geográfica altamente favorável, a Base de Alcântara não tem correspondido às altas expectativas geradas com a sua construção.
Essa situação é inaceitável, uma vez que, a longo prazo, pode levar o Brasil a uma dependência irreversível no que tange a novas tecnologias e novas formas de comunicação, colocando a nossa soberania em risco. Dessa forma, urge reativar os investimentos nessa área vital, definir novas e ambiciosas metas para o programa espacial brasileiro e esclarecer o papel da sociedade civil na operação dos programas da Base de Alcântara, cujo controle deveria estar nas mãos de uma equipe civil de pesquisadores e não das forças amadas.
9) Criação de um Programa Nacional de Iniciação Científica
Com a criação do Programa Educação para Toda Vida, seria necessário implementar novas ferramentas para que os adolescentes egressos desses programas pudessem dar vazão a seus anseios de criação, invenção e inovação através da continuidade do processo de educação científica, mesmo antes do ingresso na universidade e depois dele.
Na realidade, é extremamente factível que grande número desses jovens possa começar a contribuir efetivamente para o processo de geração de conhecimento de ponta antes do ingresso na universidade.
O governo federal poderia criar um Programa Nacional de Iniciação Científica que leve ao estabelecimento de 1 milhão de Bolsas Ciência. Uma experiência preliminar desse programa já existe no CNPQ, através do recém-criado programa dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia. Bastaria ampliá-lo e remover certas amarras burocráticas que dificultam a sua implementação neste momento. Esse programa poderia também ser usado pelo governo federal para eliminar uma porcentagem significativa (30%) da evasão do ensino médio, decorrente da necessidade dos alunos em contribuir para a renda familiar.
Jovens de talento científico reconhecido deveriam também ter a opção de seguir carreira de inventor ou pesquisador sem necessitar de doutorado ou outro curso de pós-graduação. Tal alternativa contribuiria decisivamente para a diminuição do período de treinamento necessário para que talentos científicos pudessem participar efetivamente do desenvolvimento científico do Brasil.
10) Investimento de 4-5% do PIB em ações de ciência e tecnologia na próxima década
Tendo proposto novas ações, é fundamental que essas sejam devidamente financiadas. Para tanto e, ainda, para assegurar a ascensão da ciência brasileira aos patamares de excelência dos países líderes mundiais, o governo brasileiro teria de tomar a decisão estratégica de destinar, nas próximas décadas, algo em torno de 4-5% do PIB nacionala à ciência e tecnologia.
Em vários países, como os EUA, essa conta é dividida em partes iguais entre o poder público e privado. No Brasil, todavia, não existem condições para que isso ocorra de imediato. Dessa forma, não restaria outra alternativa ao governo federal senão assumir a responsabilidade desse investimento estratégico, usando novas fontes de receita, como a gerada pela exploração do pré-sal.
11) Reorganização das agências federais de fomento à pesquisa
Reformulação de normas de procedimento e processo para agilizar a distribuição eficiente de recursos ao pesquisador e empreendedor científico, bem como criar um novo modelo de gestão e prestação de contas.
A ciência e o cientista brasileiro não podem mais ser regidos pelas mesmas normas de 30-40 anos atrás, utilizadas na prestação de contas de recursos públicos para construção de rodovias e hidrelétricas.
Urge, portanto, reformular completamente todos os protocolos de cooperação do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) com outros ministérios estratégicos para execução de projetos multiministeriais.
Na lista de cooperação estratégica do MCT, incluem-se os ministérios da Educação, Saúde, Meio Ambiente, Minas e Energia, Indústria e Comércio, Agricultura, Defesa e Relações Exteriores. Normas comuns de operação dos departamentos jurídicos e dos processos de prestação de contas devem ser produzidas entre o MCT e esses ministérios, de sorte a incentivar a realização de projetos estratégicos interministerais, como o Educação para Toda Vida.
O cenário atual cria inúmeros empecilhos para ratificação de projetos estratégicos aprovados no mérito científico (o principal quesito), mas que, via de regra, passam meses e até anos prisioneiros dos desconhecidos meandros e procedimentos conflitantes com que operam os diferentes departamentos jurídicos dos diferentes ministérios.
Urge eliminar tal barreira kafkaniana e transferir o poder de decisão, atualmente nas catacumbas jurídicas dos ministérios onde volta e meia processos desaparecem, para as mãos dos gestores de ciência treinados para implementar uma visão estratégica do projeto nacional de ciência e tecnologia.
11) Criação de joint ventures para produção de insumos e materiais de consumo para prática científica dentro do Brasil
É’ fundamental investir numa redução verdadeira dos trâmites burocráticos “medievais” que ainda existem para aquisição de materiais de consumo e equipamentos de pesquisa importados. Para tanto, é importante definir políticas de incentivo ao estabelecimento de empresas nacionais dispostas a suprir o mercado nacional com insumos e equipamentos científicos.
12) Criação do Banco do Cérebro
Um dos maiores gargalos para o crescimento da área de ciência e tecnologia no Brasil é a dificuldade que cientistas e empreendedores científicos enfrentam para ter acesso ao capital necessário para desenvolver novas empresas baseadas na sua propriedade intelectual.
Na maioria das vezes, esses inventores e microempreendedores científicos ficam à mercê da ação deventure capitalists, que oferecem capital em troca de boa parte do controle acionário da empresa em que desejam investir.
Para reverter esse cenário, o governo federal poderia criar o Banco do Cérebro, uma instituição financeira destinada a implementar vários mecanismos financeiros para fomento do empreendedorismo científico nacional.
Essas ferramentas financeiras incluiriam desde programa de microcrédito científico até formas de financiamento de novas empresas nacionais voltadas para produtos de alto valor agregado, fundamentais ao desenvolvimento da ciência brasileira e da economia do conhecimento.
Para isso, o governo federal deverá exigir que esses novos empreendimentos científicos sejam localizados numa das novas Cidades da CiênciaJoint ventures entre empreendedores brasileiros e estrangeiros também deverão ser estimuladas pelo Banco do Cérebro, seguindo o mesmo critério social.
13) Ampliação e incentivo a bolsas de doutorado e pós-doutorado dentro e fora do Brasil
À primeira vista pode parecer contraditório propor metas para o desenvolvimento da Ciência Tropical e, ao mesmo tempo, reivindicar aumento significativo de bolsas de doutorado e pós-doutorado para alunos brasileiros no exterior.
Novamente, a proposta da Ciência Tropical é, antes de tudo, um nova proposta para o desenvolvimento de excelência na prática da pesquisa e educação científica. Dessa forma, ela tem de incentivar todas as formas que permitam aos melhores e mais promissores cientistas brasileiros complementarem sua formação fora do território nacional.
Como bem disse a presidente-eleita Dilma Rousseff durante a campanha: “ O Brasil precisa de seus cientistas porque eles iluminam o nosso país”.
Pois que os futuros jovens cientistas brasileiros tenham a oportunidade de se transformar em genuínos embaixadores da ciência brasileira e complementar seus estudos em universidades e institutos de pesquisa estrangeiros, líderes em suas respectivas áreas.
Esse processo de intercâmbio e “oxigenação” de idéias é essencial à prática da ciência de alto nível. Mesmo os cientistas brasileiros que optarem por ficar no exterior depois desse e treinamento poderão trazer dividendos fundamentais para o desenvolvimento da Ciência Tropical.
14) Recrutamento de pesquisadores e professores estrangeiros dispostos a se radicar no Brasil
Com a crise financeira, verdadeiros exércitos de cientistas americanos e europeus estarão procurando novas posições nos próximos anos. Cabe ao Brasil tirar vantagem dessa situação e passar a ser um importador de cérebros e não um exportador de talentos.
Historicamente, a academia brasileira tem inúmeros exemplos excepcionais de pesquisadores estrangeiros de alto nível que alavancaram grandes avanços científicos no Brasil. O Programa Brasileiro de Ciência Tropical só teria a ganhar com uma política mais abrangente, audaciosa e sistêmica de importação de talentos.