Há pouco discutimos aqui a questão do emprego do fator de impacto (FI) das revistas para avaliação da produção científica de indivíduos. Há vários outros exemplos de uso inadequado.
Um erro frequente é a comparação dos FI entre diferentes áreas do conhecimento. O tamanho das áreas não é homogêneo, há muito mais gente trabalhando em certas disciplinas e temas. Isto reflete diretamente no FI. Quanto maior o número de trabalhos forem publicados num tema, maior o número total de citações. Lembre que o fator é calculado por revista, ou seja pelo número de artigos publicados por cada revista, não pelo total de artigos publicados no tema.
Para ter uma idéia desta variação, nem precisamos sair da área da saúde. Revistas médicas de grande prestígio chegam a FI=50 (New England J Med -50; JAMA - 31.72; Lancet - 28.41). No campo dos artigos originais em imunologia, a Nature Immunology atinge 25.11, havendo ainda Immunity - 20.58 e JEM - 15. 22, já na medicina tropical a revista com maior impacto em 2008 foi o PLoS Neglected Tropical Diseases (4.17), seguido do Malaria Journal (2.91) e Am. J. Trop. Med. Hyg (2.45).
Este erro tem uma solução razoavelmente simples, o uso da posição relativa da revista em relação às demais do mesmo tema. Por exemplo, o grupo da Medicina Geral e Interna tem 107 revistas e o grupo da Medicina Tropical tem 15. O PLoS Neglected Tropical Diseases, a primeira revista da Medicina Tropical (1/15), com 4.17 de FI se compara ao Medicine com 4.33, mas esta última é a revista no 15o posto entre as 107 do grupo. Já a tradicional Am. J. Trop. Med. Hyg (3/15) tem FI comparável ao QJM-Int J Med (FI=2.48), a 28a entre as 107 revistas do seu grupo.
Caro Barral
ResponderExcluirAproveitando para por mais um pouco de lenha na fogueira, entre outras coisas para sugerir que nesse assunto pouca coisa é simples, comento a frase no seu blog:
"Este erro tem uma solução razoavelmente simples, o uso da posição relativa da revista em relação às demais do mesmo tema."
Com a crescente necessidade de quebrar barreiras entre disciplinas, não se estaria contribuindo para manter cristalizadas as disciplinas clássicas?
Por outro lado, o fator de impacto como indicador da revista parece OK, o que nos incomoda é o uso para avaliar o pesquisador. Nesse caso, o tráfego entre disciplinas clássicas e a ampliação do escopo da pesquisa tornam o indicador classificado por temas (que no caso de sua frase significa áreas clássicas) muito simplista. Você não acha?
Rafael chama a atenção para um ponto importante e que deve estar cada vez mais ressaltado. Os pesquisadores são cada vez menos apenas de uma área.
ResponderExcluirO alerta dado no post continua sendo para as cautelas necessárias na interpretação do fator de impacto.
Não podemos comparar os entomologistas clássicos com os pesquisadores que trabalham em AIDS, por exemplo, usando o fator de impacto das revistas, sem um modo de "correção" para o tamanho da comunidade.
Contudo, também não se pode comparar um entomolgista clássico com um bioquímico que trabalha em entomologia, embora o tema seja muito próximo.
Ou seja, nenhuma fórmula substitui o bom senso e a crítica dos avaliadores.