segunda-feira, 21 de junho de 2010

Ciência para reduzir a pobreza


“Meeting the interlinked global challenges of poverty reduction, social justice and environmental sustainability is the great moral
and political imperative of our age”
Para quais problemas deve se voltar a atividade científica? Para muitos, a resposta é simplesmente para as grande perguntas capazes de aumentar a nossa compreensão sobre o mundo que nos cerca. Esta é, em grande parte, a agenda dos países desenvolvidos e, por inércia, reproduzida em quase todos os outros países, inclusive, em boa parte, o Brasil. Seguir os temas internacionais é confortável, possibilita o aumento da visibilidade da ciência, e dos cientistas, locais. Tudo isto aumenta as possibilidades de formação de pessoal capacitado em ciência e participação em projetos conjuntos internacionais.
Há, contudo, uma outra agenda para a ciência que tende a ser negligenciada. A ciência para reduzir as desigualdades. Há pouco foi lançado o New Manifesto alertando para que “Vivemos num tempo de avanços científicos e tecnológicos sem precedentes. O mundo está cada vez mais globalizado e interconectado, contudo a pobreza aumenta, o meio ambiente está em crise e o progresso para atingir os objetivos de desenvolvimento do milênio está interrompido.”
O primeiro parágrafo do documento é bastante informativo: 
“O gasto anual com pesquisa e desenvolvimento ultrapassa um trilhão de dólares. Os objetivos militares e relacionados com segurança são a maior área de gasto. Contudo a cada dia, nas regiões mais pobres do mundo, milhares de crianças morrem de doenças relacionadas com a água, mais de um bilhão de pessoas passa fome e mais de mil morre durante a gravidez ou ao nascer. Ao mesmo tempo, as futuras gerações enfrentam enormes desafios sociais, ambientais e econômicas de ameaças relacionadas com a mudança climática. A governança global, a economia e a política frequentemente trabalham contra os interesses dos povos e países mais pobres, aumentando as desigualdades”.
Muitos devem pensar que se trata de algum manifesto venezuelano ou cubano, talvez com parceria iraniana. Ledo engano. O New Manifesto é da STPES Centre, da Universidade de Sussex, do Economic and Social Research Council e do Institute of Development Studies e foi lançado na Royal Society em Londres. O novo Manifesto prossegue esforço já desenvolvido antes. Em 1970, um documento denominado The Sussex Manifesto ajudou a moldar o pensamento da ciência e tecnologia para o desenvolvimento. Como estamos hoje e do que precisamos para progredir nos objetivos de reduzir as desigualdades? A iniciativa New Manifesto visa, justamente, reorientar este esforço.
Para que o novo manifesto não seja apenas um documento que expressa boas intenções mas que se transforma em letra morta, é necessário criar os meios para que cientistas se dediquem aos temas da agenda da redução das desigualdades. Será necessário financiar, com ênfase, tópicos desta agenda e promover uma alteração nos critérios de avaliação da atividade científica, com inclusão de medidas que avaliem o progresso no avanço dos temas desta nova agenda.
A partir de 2003, o Brasil passou a implementar uma política de valorização de atividades científicas para inclusão social. Foi mesmo criada uma Secretaria específica no Ministério de Ciência e Tecnologia e vários editais foram lançados neste tema. Apesar disto, a atividade científica neste aspecto é insipiente e não avançamos nos critérios de valorização acadêmica destas atividades. Precisamos ser mais incisivos nestes aspectos.

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