terça-feira, 8 de junho de 2010

João Moreira Salles: Sobre ciência e arte.


Uma dos melhores textos sobre a ciência no Brasil, ou melhor, sobre a necessidade de ciência no Brasil o “Um documentarista se dirige a cientistas.  Arte, ciência e desenvolvimento” de João Moreira Salles, derivado de sua participação em simpósio da Academia Brasileira de Ciências.  Se você precisa de estímulo para ler o excelente artigo  no qual discute “a hipervalorização das artes e humanidades em detrimento das ciências "duras" e da engenharia, e as consequências do processo para o desenvolvimento tecnológico, científico e cultural do país”, veja pequenos trechos abaixo (o negrito foi adicionado por nós):
“Existem 128 cursos superiores de moda no Brasil. Em 2008, segundo o Inep [Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira], o país formou 1.114 físicos, 1.972 matemáticos e 2.066 modistas. Alimento o pesadelo de que, em alguns anos, os aviões não decolarão, mas todos nós seremos muito elegantes.
É evidente que um país pode ter documentaristas demais e físicos de menos. O Brasil já sofre uma carência de engenheiros. ... a taxa de formação de engenheiros no Brasil é inferior à da China, da Índia e da Rússia, países emergentes com os quais competimos. A Rússia forma 190 mil engenheiros por ano, a Índia, 220 mil e a China, 650 mil, diz o relatório. Nós formamos 47 mil. Os números da China são pouco confiáveis, mas outras comparações eliminam possíveis dúvidas. A Coreia do Sul, por exemplo, com 50 milhões de habitantes, forma 80 mil engenheiros por ano, 26% de todos os formandos. Na China, a crer nas métricas, essa proporção chega a 40%. Em 2006, a taxa por aqui era de apenas 8%. Até o México, país com indicadores sociais semelhantes aos nossos, hoje possui 14% de seus formandos nessa área.”
...
“Sempre me espanto com a presença cada vez maior de projetos sociais que levam dança, música, teatro e cinema a lugares onde falta quase tudo. Nenhuma objeção, mas é o caso de perguntar por que somente a arte teria poderes civilizatórios. Ninguém pensa em levar a esses jovens um telescópio ou um laboratório de química ou biologia? ”
Se você não conhece JOÃO MOREIRA SALLES e pensa que é um físico, matemático ou engenheiro veja a auto-descrição colocada no início do artigo.
“Sou ligado ao cinema documental e, mais recentemente, ao jornalismo, atividades que, se não são propriamente artísticas, decerto existem na fronteira da criação. Jornalismo não é literatura nem documentário é cinema de ficção. Nosso capital simbólico é muito menor e nosso horizonte de possibilidades é limitado pelos constrangimentos do mundo concreto.
... minhas afinidades pessoais e profissionais estão muito mais próximas de um livro ou de um filme do que de uma equação diferencial -o que não me impede de achar que há um limite para a quantidade de escritores, cineastas e bacharéis em letras que um país é capaz de sustentar. “

Agradeço a João Gabriel Ramos e Emílio Silva que, de forma independente, alertaram-me para o excelente artigo.

2 comentários:

  1. Excelente!
    Essa questão sempre me fez refletir muito.
    Pra onde vão os jovens que, ao completarem 18 anos, não podem mais frequentar estes projetos sociais como alunos?
    A iniciativa é fantastica e frequentar a escola é pré-requisito para participar dos projetos, mas a formação acadêmica acaba ficando em segundo plano...

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