Post de Vitor Rosa Ramos de Mendonça
Em um artigo recentemente publicado na Haematologica - ‘’Increased serum hepcidin and alterations in blood iron parameters associated with asymptomatic P. falciparum and P. vivax malaria’’ (doi:10.3324/haematol.2009.019331) a hepcidina e os parâmetros de ferro são estudados na malária assintomática.
O hormônio hepcidina, dentre suas ações, inibe a absorção do Fe pelos enterócitos e interrompe a liberação deste metal pelos macrófagos através da degradação da ferroportina, o único exportador de Fe. Citocinas pró-inflamatórias estimulam a expressão da hepcidina, e esta leva às manifestações típicas da anemia da doença crônica.
Deficiência de Fe é uma condição comum em regiões endêmicas para a malária, e suas complicações não são restritas à anemia, mas inclui dificuldade de crescimento, de desenvolvimento cognitivo e de capacidade psíquica.
A malária assintomática é definida pela presença de parasitemia na ausência de febre ou sintomas relacionados à infecção. O objetivo do estudo supracitado foi determinar se a parasitemia assintomática induz distúrbios na homeostase do Fe.
Realizou-se um screening para a malária, através do exame microscópico, em 1197 crianças entre 5 e 15 anos da Indonésia. Destas, 73 (6.1%) foram diagnosticadas com parasitemia assintomática por P. falciparum e 18 (1.5%) com P. vivax. 17 crianças assintomáticas com exame negativo foram utilizadas como controle.
As crianças com malária assintomática com ambas as espécies dos parasitas tiveram maiores concentrações de hepcidina que o controle, assim como altos níveis de ferritina e baixos valores de ferro sério, saturação de transferrina, capacidade total de ligação do ferro, volume corpuscular médio e hemoglobina. As concentrações séricas de IL-1ra, IL-6, IL-10 e TNF-α foram baixas, com valores abaixo do limite de detecção. A GDF15, um regulador negativo na expressão da hepcidina, não alterou entre os grupos.
O tratamento contra a malária resultou em pequenas, mas significativas, diminuições nas concentrações séricas de hepcidina e ferritina, e discreto aumento da hemoglobina.
Permanece na especulação a causa exata do aumento da produção da hepcidina na malária assintomática. Armig et al demonstrou em recentes estudos que os eritrócitos parasitados pelo P. falciparum aumentam diretamente a produção de hepcidina pelas células mononucleares do sangue periférico através de padrões de reconhecimento de receptores.
Para finalizar, o artigo destaca a importância da hepcidina. Alega que este hormônio pode se tornar uma ferramenta adequada para o screening da parasitemia e da deficiência funcional de Fe, auxiliando os programas de suplementação de Fe.
Será que a dosagem da hepcidina terá vantagens socioeconômicas nessa abordagem? A meu ver, um exame microscópico e um bom hemograma seriam mais acessíveis, principalmente nas regiões carentes, onde, na maioria dos casos, a malária é endêmica.
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ResponderExcluirAlguns comentarios:
ResponderExcluir1. Serah que os pacientes eram realmente assintomaticos? Os pacientes foram seguidos apos o primeiro exame microscopico? O paper diz que as criancas com malaria assintomatica foram visitadas um dia depois da coleta de sangue para a microscopia...A temperatura dos sintomaticos foi estritamente a mesma dos assintomaticos...Pode ser que os assintomaticos estejam em periodo de incubacao, pre-sintoma, mas que nao significa ausencia de doenca...ainda.
2. A diferenca na Hb encontrada tem alguma importancia clinica, se levados em conta os valores normais? No paper o grupo sintomatico tem media de 12.6 e o grupo assintomatico tem media de 12.2... Na minha opiniao medica, o significado destes valores eh o mesmo.
3. Foram excluidas outras co-infeccoes importantes na area? O paper nao refere nada sobre isso, pelo menos nos metodos (nao consegui chegar na discussao do paper).
4. A estatistica toda nas tabelas foi feita comparando cada grupo experimental com o controle, o que pode ser feito mas nao responde a pergunta experimental que fundamenta o trabalho. As diferencas nos graficos, apesar de estatisticamente significantes, nao apresentam magnitude importante, e algumas diferencas visualmente parecem nem existir, o que nos faz pensar de novo na importancia biologica das diferencas.
Trata-se de uma trabalho pobre de descricao e tambem pobre em poder inferencial biologicamente importante. Verifiquei o FI da revista. Eh 6.416, maior do que o do JI. Soh sei que se este FI se mantiver alto nao vai ser por causa deste paper.