segunda-feira, 15 de junho de 2009

O movimento de acesso livre em publicações científicas tem crescido. A característica básica deste movimento é a possibilidade de acesso total ao conteúdo dos artigos pela web sem pagamento pelo leitor.

O CNPq apoiou o acesso livre, através de resolução do Conselho Deliberativo, em 2003. O governo americano, a partir do ano passado, obriga a que os artigos financiados com recursos públicos sejam colocados em acesso livre no máximo seis meses após sua publicação. Várias universidades americanas (Harvard e Stanford em algumas escolas e MIT em todas as unidades) têm uma política de acesso livre.

O apoio das instituições ao acesso livre se dá algumas vezes pela inclusão como membro na editora (na PLoS, e.g) e com isto os autores recebem um desconto. Em outros casos, a instituição arca com o custo da publicação junto à editora. Além de instituições acadêmicas, em maio a Pfizer decidiu pagar os custos de autor de seus empregados em publicações na BioMed Central.

De todo modo, fica claro que o acesso é livre, mas a publicação não. Aliás, não poderia ser de outro modo, visto que há um custo em todo o processo que precisa ser assumido. No processo tradicional, os autores pagam uma pequena parte do custo e os leitores assumem o restante. No sistema de acesso livre, o custo é bancado exclusivamente pelos autores.

Uma preocupação no sistema pago pelo autor é a possibilidade que a editora exerça menos rigor e aceite material de menor qualidade, devido à necessidade financeira. Ou seja, que o sistema de pagamento pelo leitor exerça uma influência muito forte sobre a decisão editorial. Lembre que no sistema pago pelo leitor, se a qualidade cair, o interesse pelos artigos diminui e também os lucros. Com o pagamento pelo autor, as receitas não diminuem mesmo que haja queda de qualidade.

Phillip Davis (estudante de doutorado na Harvard) no post Open Access Publisher Accepts Nonsense Manuscript for Dollars no The Scholarly Kitchen, o blog da Society for Scholarly Publishing, relata, em 10/06/2009, que enviou um manuscrito sem sentido para o The Open Information Science Journal da Bentham Science Publishers e o trabalho foi aceito. Após receber várias mensagens-convite para publicação na Bentham Science ele resolveu testar o sistema.

“Using SCIgen, a software that generates grammatically correct, “context-free” (i.e. nonsensical) papers in computer science, I quickly created an article, complete with figures, tables, and references. It looks pretty professional until you read it. For example:

In this section, we discuss existing research into red-black trees, vacuum tubes, and courseware [10]. On a similar note, recent work by Takahashi suggests a methodology for providing robust modalities, but does not offer an implementation [9].”

Ele enviou dois artigos e o citado acima foi aceito, depois de ter sido submetido a revisão por pares (?), bastava que pagasse 800 dólares.

Evidentemente que não se deve generalizar para outras revistas de acesso livre. É possível, também, que o artigo fosse aceito em revistas publicadas no sistema tradicional de pagamento pelo leitor. É certo, contudo, que algumas editoras virtuais perceberam uma forma fácil de lucro com o sistema de acesso livre.

O acesso livre é extremamente importante e deve ser apoiado, mas é preciso exercer bastante cautela - como sempre - na escolha das revistas. Tanto para enviar artigos quanto para ler.


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