Post recente do Abobrinhas de Nelson Pretto se intitula Avaliação científica: a loucura se instalou! merece reflexão. Falando sobre o julgamento dos pedidos de bolsa IC na UFBA, escreve:
“A primeira parte é uma mera avaliação no Lattes do pesquisador. Aí temos que contar o número de publicações, de livros, de congressos, essas coisas todas e lançar um nota em função dessa "performance" do candidato, nosso colega. Isso demanda um tempo enorme não avaliação nenhuma...
Acho que temos que fazer INSTITUCIONALMENTE algo sobre isso...
[Aliás, a modo pegou, não sei quem ensinou a quem. mas o sistema da FAPESB era isso também quando eu estava na Camara... e os consultores no Brasil todo estavam revoltados... espero que tenha mudado.. se não mudou, cabe a nós nos manifestarmos também!!!]
No meio de tantas coisas que temos que fazer nos pedem para ficar CONTANDO número de artigos e coisas e tais e dar uma notinha no sistema... “
Em resposta a um comentário, Nelson escreve:
“Tem cabimento para avaliar um projeto eu ter que abrir um Lattes e contar quantos artigos fulano publicou para dar depois um nota? ... Ora bolas, faz um script que automaticamente lê quantos artigos, quantos congressos (tudo já estratificado pelos qualis da vida, A, B, C bla bla... que se criou para classificar tudo!!! arghh!!!)
Pronto, o sistema já abre com o perfil do pesquisador-candidato explicitado... Esse fulano publicos 5aqui, 3 ali, trezontes orientantos e sua posição no RANKING é TAL. (eh eh eh.. no pódio!). ... Mas tem cabimento o governo gastar tanto com nossa formação e salário para sairmos contando pontinhos?!
Aí, nós, professores (que já não temos nada que fazer!), avaliamos o projeto e com isso podemos ter uma posição clara do que deve ou não ser financiado. [Claro, até inventarem uma maquininha que faça isso automaticamente a partir de algoritimos intelectuais que identifacm palavras chaves, tags e tudo mais e avalie tudo sózinha, pois se tudo é questão de PADRÃO, basta comprar.. (desculpa, não sou da área de avaliação!)]”
Em 2006, a Congregação da Faculdade de Medicina da Bahia (UFBA) buscava mecanismos para avaliar currículos em concursos e foi proposto um barema. O barema é exatamente a tabela de avaliação de currículos de que fala Nelson. Naquela época encaminhei um documento à Congregação me manifestando contra esta forma de avaliação. Transcrevo abaixo um trecho do texto:
“Para que necessitamos quantificar em tantos detalhes a vida acadêmica? Se não confiarmos no discernimento da banca examinadora neste aspecto tão facilmente avaliável, pois documental, como vamos confiar no seu discernimento nas etapas mais subjetivas do concurso? O BAREMA não elimina e nem mesmo corrige qualquer problema de escolha da banca.
Se adotássemos a quantificação, deveríamos exercer bastante cautela:
Os BAREMAS - ... - igualam o que não é igualável. Como exemplo: ...“Artigo científico publicado como 1º autor e/ou autor de correspondência em periódico especializado com corpo editorial e indexação internacional” vale um ponto por unidade. Corremos o risco de valorizar mais um artigo publicado numa obscura revista internacional no qual o candidato é o primeiro autor entre 50 autores que um artigo publicado numa revista de ponta no qual o candidato seja o segundo de apenas três autores;...”
Há pouco o CNPq solicitou aos Comitês Assessores (CAs) uma revisão dos critérios de avaliação dos candidatos às bolsas de pesquisa. Todos os CAs revisaram e os novos critérios estão no site do CNPq. Há uma tentativa clara de se afastar de tabelas, vejas os critérios da área de Imuno.
Se o julgamento pudesse ser feito por algoritmos e baremas, não precisaríamos de comitês para analisar. Parece que é nisto que alguns desejam chegar. Aqueles que discordamos, devemos reagir (enquanto ainda há tempo).
Ilustração: Gráfico que demonstra correlação inversa entre consumo de cerveja e publicações científicas (ou seja, estímulo a mudar para vinho e whisky).
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