sábado, 18 de setembro de 2010

Opção da linguagem científica: Português ou inglês?


Post originalmente publicado no endereço anterior do Sciencia Totum em 09.fevereiro.2009. Devido a problema de acesso, reproduzo aqui para facilitar a sua citação em outro post.
Há alguns anos a Sociedade Brasileira de Imunologia decidiu que todas as apresentações realizadas nos seus congressos, incluindo aquelas feitas por brasileiros, deveriam ser em inglês. Esta atitude se somava às decisões anteriores de diversas revistas científicas brasileiras de publicarem os artigos em inglês. No LIMI e no LIP, as apresentações de trabalho em andamento e a de discussão de artigos devem ter os diapositivos escritos em inglês. Os estudantes foram estimulados a apresentar em inglês, mas até o momento nenhum se aventurou.

Fui entusiasticamente favorável a estas medidas, por entender que inglês é a língua oficial da ciência moderna.  Quem deseja fazer ciência deve ser capaz de se comunicar com pessoas de diferentes países. A forma mais fácil de fazê-lo é todos se entenderem numa única língua. Imaginem um congresso com pessoas falando cada um a sua própria língua. Poucos (nenhum?) poderiam acompanhar as apresentações em holandês, alemão e russo. Imaginem em coreano, chinês e javanês, por exemplo.

Contudo, comecei a ficar em dúvida sobre os limites do uso do inglês ao ver o cartaz do congresso da SBI (2008) em inglês. Não saberia explicar bem porque, nem estabelecer os limites de onde usar inglês, mas achei que não seria necessário fazer o cartaz em inglês.  Também assim, pensei na linguagem deste sítio e do blog do LIMI e LIP. Se pretendem divulgar a ciência, porque não escrevê-los em inglês?

As minhas dúvidas se aprofundaram ao ler um texto sobre o uso da língua inglesa no De Rerum Natura, um interessante blog português. O post Podem destruir-se as culturas?, “post convidado de João Boavida, antes publicado no Diário As Beiras, sobre um assunto que, tanto é olhado como desprovido de interesse reflexivo, como é posto no cerne da identidade cultural: a língua ou línguas que usamos para pensar e comunicar.”

O texto merece ser lido. Seguem uns trechos:
“O poder americano, económico e político, a investigação científica, as universidades e a maciça colonização audiovisual tornaram o inglês língua dominante.
Mas, devemos promovê-la diligentemente, ou tomar algumas distâncias sanitárias? Há quem veja aqui um dilema: se aceitarmos o facto, engrossamos o caudal e afundar-nos-emos, como cultura, na corrente cada vez mais forte; se reagimos e a rejeitamos, ficaremos isolados, longe dos da frente na economia e na ciência, aumentando o nosso atraso.
....
Quando os cientistas só falarem e escreverem em inglês e os alunos tiverem que falar inglês nas universidades, o inglês acabará por vir para as ruas, transformando as outras línguas numa misturada, como aconteceu com o baixo latim. Ou então cientistas e homens cultos fechar-se-ão em grupos, isolados da população ignara, acabando por tirar às culturas o alimento que lhes dá vida e força.”

Bem, a opção do baixo inglês pode não ser tão ruim. Melhor isto que ter que aprender um baixo chinês....


Ilustração da “bandeira” do blog Hey Dog

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