O número de publicações brasileiras internacionalmente indexadas é crescente, tanto na base do Institute of Scientific Information (ISI) quando na base Scopus, a qual alimenta o projeto Scimago. Paralelamente, houve uma expansão considerável das revistas brasileiras acompanhadas tanto pelo ISI quanto pela SCOPUS e tem havido um progressivo aumento do fator de impacto destas publicações.
O ponto principal do post é sobre os brasileiros publicarem pouco em revistas brasileiras e é motivado pela recente publicação de Rogério Meneghini “Publication in a Brazilian journal by Brazilian scientists whose papers have international impact”. Ele relata um experimento interessante no qual nove cientistas brasileiros de impacto internacional foram convidados a enviar um artigo original para um número dos Anais da Academia Brasileira de Ciências. A hipótese é que o prestígio dos autores seria transferido para a revista. Dois anos após a publicação foram avaliadas as citações recebidas. Estes artigos tiveram um média de citações acima daquelas recebidas por outros artigos da mesma revista. Contudo, tais artigos possuíam uma média de citações menor que outros artigos dos mesmos autores publicadas em revistas internacionais no mesmo período.
O ponto não controlado, e reconhecido pelo autor, é que os cientistas que publicaram podem haver escolhido artigos de menor “significado” para enviar para a revista brasileira, reservando os seus dados mais “quentes” para as outras publicações. Tal aspecto prejudica a hipótese alternativa que há um menor prestígio das revistas brasileiras. O que pode reforçar esta segunda possibilidade é dada pelo dado que ocorre “A clear imbalance due to a remarkable under-citation of Brazilian authors by authors publishing in Brazilian journals raises the possibility that psychological factors may affect the decision of citing Brazilian journals.”
A política das agência de fomento brasileiras em relação às revistas nacionais foi tema de um intenso debate quando se propôs a alteração da escala Qualis (aqui e aqui).
Há, também, uma larga predominância de publicações brasileiras divulgadas em língua inglesa. O ponto anterior, das publicações em revistas brasileiras, não deve ser confundido com este aspecto, pois a maioria das publicações brasileiras nas áreas mais consolidadas da ciência publicam em português. O tema da escolha da língua inglesa já foi tratado há algum tempo neste blog em pelo menos dois posts: Opção da linguagem científica: Português ou inglês? e Nossa pátria é nossa língua? ou Um português ataca o português.
A minha opinião no tema é muito clara: “... por entender que inglês é a língua oficial da ciência moderna. Quem deseja fazer ciência deve ser capaz de se comunicar com pessoas de diferentes países. A forma mais fácil de fazê-lo é todos se entenderem numa única língua. Imaginem um congresso com pessoas falando cada um a sua própria língua. Poucos (nenhum?) poderiam acompanhar as apresentações em holandês, alemão e russo. Imaginem em coreano, chinês e javanês, por exemplo.” Menos contundente que a Desidério Mucho: "O importante, em suma, é olhar para as pessoas em vez de deixarmos de as ver porque estamos a olhar para abstracções. Perguntemo-nos o que é realmente importante para os nossos jovens estudantes. ... para eles é importante o mesmo que é importante para os jovens estudantes dinamarqueses, suecos ou israelitas: que a língua inglesa lhes seja tão própria quanto a língua portuguesa, porque isso será para eles o passaporte de acesso à maior bibliografia que o planeta já conheceu. ... E este facto é que conta. ... A única coisa má nisto é que hoje, porque não há a coragem política de fazer da língua inglesa a língua escolar oficial em Portugal e no Brasil, os alunos andam perdidos a ler tolices mal traduzidas, porque não dominam uma língua culta. E os que a dominam é porque ou são ricos e andaram nos melhores colégios, ou se esforçaram pessoalmente.” (texto completo aqui)
Não tenho dúvida sobre a publicação em inglês, contudo não tenho uma visão muito clara sobre o destino das revistas científicas brasileiras. O que fazer para que elas tenham competitividade em termos de influência e respeitabilidade?
O que você acha?
A minha opinião no tema é muito clara: “... por entender que inglês é a língua oficial da ciência moderna. Quem deseja fazer ciência deve ser capaz de se comunicar com pessoas de diferentes países. A forma mais fácil de fazê-lo é todos se entenderem numa única língua. Imaginem um congresso com pessoas falando cada um a sua própria língua. Poucos (nenhum?) poderiam acompanhar as apresentações em holandês, alemão e russo. Imaginem em coreano, chinês e javanês, por exemplo.” Menos contundente que a Desidério Mucho: "O importante, em suma, é olhar para as pessoas em vez de deixarmos de as ver porque estamos a olhar para abstracções. Perguntemo-nos o que é realmente importante para os nossos jovens estudantes. ... para eles é importante o mesmo que é importante para os jovens estudantes dinamarqueses, suecos ou israelitas: que a língua inglesa lhes seja tão própria quanto a língua portuguesa, porque isso será para eles o passaporte de acesso à maior bibliografia que o planeta já conheceu. ... E este facto é que conta. ... A única coisa má nisto é que hoje, porque não há a coragem política de fazer da língua inglesa a língua escolar oficial em Portugal e no Brasil, os alunos andam perdidos a ler tolices mal traduzidas, porque não dominam uma língua culta. E os que a dominam é porque ou são ricos e andaram nos melhores colégios, ou se esforçaram pessoalmente.” (texto completo aqui)
Não tenho dúvida sobre a publicação em inglês, contudo não tenho uma visão muito clara sobre o destino das revistas científicas brasileiras. O que fazer para que elas tenham competitividade em termos de influência e respeitabilidade?
O que você acha?
Incrível como não acreditamos em nossos próprios frutos. Geralmente, um filho desta Pátria Amada já vem ao mundo nati-morto.
ResponderExcluirAcredito que devemos agregar áreas similares em um única revista, de peso, impacto, ter revisores internacionais, editorial internacional, idôneo, com o máximo de imparcialidade. Agências de fomento podem levar em consideração uma boa pontuação maior que publicações nesta revista na hora de dividir o bolo.
Às vezes tenho a impressão que o crescimento de revistas, como o de muitas outros assuntos com base de ciência segue o crescimento de partidos políticos neste País. Cada um quer o seu curral para melhor ultrapassar entraves, leis, etc. Que tal uma reforma científica?
Me parece que a política de publicação neste país é reflexo da política dos meus amigos. Para dar exemplo, sempre falam que é mais difícil publicar em MIOC, por conta de possíveis picuinhas, que em JI, IAI, MI, etc. Isso é verdade?
Ultrapassar estas barreiras, criadas com vieses históricos, desequilíbrios regionais, é o mais difícil e sinto muito, não tenho resposta trivial.
Acho interessante os argumentos levantados pelo Anonimo acima. Fiquei aqui pensando se publicar no MIOC eh mais dificil mesmo que um JI ou mesmo IAI.
ResponderExcluirEu particularmente duvido. Mas nunca tentei enviar nada ao MIOC.
Abraco
Acho difícil convencer alguém que tem um artigo com grande potencial de ser aceito por uma revista internacional de grande impacto a submeter para uma revista brasileira. Vejo como algo meio artificial tentar aumentar o fator de impacto de uma revista a partir do favor de alguns pesquisadores. As revistas brasileiras já têm um papel importante e se dia tiverem o impacto de grandes revistas internacionais é porque o Brasil cresceu cientificamente para tal. Não adianta querer colocar o carro na frente dos bois.
ResponderExcluir