quinta-feira, 12 de maio de 2011

Hemoglobina falcêmica confere tolerância à infecção pelo plasmódio





Post de Vitor R R de Mendonça

ResearchBlogging.org

Recentemente foi publicado por Ferreira et al(1) na Cell um trabalho correlacionando a hemoglobina da doença falciforme com a proteção à forma cerebral da malária em camundongos infectados pelo Plasmodium berghei. Que a doença falciforme e outras hemoglobinopatias - talassemias, HbC, HbE, etc - conferem resistência à forma sintomática da malária não é mais novidade. Contudo, a grande relevância deste artigo é descrever o provável mecanismo em que a hemoglobina falcêmica (HbS) garante tolerância ao plasmódio. E artigo vindo do grupo do Miguel Soares não seria de espanto se esperar o envolvimento da heme oxigenase-1 (HO-1) neste processo. A HO-1 é uma isoforma indutível da heme-oxigenase e é responsável em catabolizar o heme livre em biliverdina, ferro e monóxido de carbono (CO).

Descrevo alguns dos resultados mais importantes do manuscrito:

A HbS induz a expressão aumentada da HO-1 em células hematopoiéticas através do mecanismo envolvendo o fator de transcrição Nrf2. Além disso, o subproduto CO previne o acúmulo de heme livre depois da infecção pelo parasita, suprimindo desta forma a patogênese da malária cerebral. Outro resultado interessante é que a HbS inibe a ativação e/ou expressão de células T C8+ que reconhecem antígenos expressos no plasmódio.

Vale ressaltar, que todos esses mecanismos que levam a um efeito protetor da HbS independem da carga parasitária, sugerindo que essa hemoglobinopatia confere tolerância do hospedeiro ao parasita.

Posso adjetivar este trabalho como inovador e intrigante. Inovador, porque é o primeiro a descrever uma via, bem fundamentada, em que a HbS confere tolerância à malária. Intrigante, na medida em que propicia questionamentos relativos ao papel de outras moléculas e vias associadas ao HO-1 nesse contexto - hemopexina, metabolismo do ferro, CD163, etc. Destaco também a possibilidade de intervenção terapêutica que o estudo propõe na via Nrf2/HO-1 para o tratamento da malária grave.

Referência:

(1) Ferreira, A., Marguti, I., Bechmann, I., Jeney, V., Chora, �., Palha, N., Rebelo, S., Henri, A., Beuzard, Y., & Soares, M. (2011). Sickle Hemoglobin Confers Tolerance to Plasmodium Infection Cell, 145 (3), 398-409 DOI: 10.1016/j.cell.2011.03.049

Um comentário:

  1. Camila (no Facebook)14 de maio de 2011 às 12:52

    http://f1000.com/10292956 (link da avaliação deste artigo pelo F1000)

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