quarta-feira, 7 de setembro de 2011

(Mais) Independência para as mulheres

Em artigo publicado no Guardian, duas pesquisadores do Instituto de Zoologia (Reino Unido) abordam a seguinte questão: cientistas mulheres são uma espécie em extinção?

Alguns números: menos de 10% dos Professors que trabalham em ciência no Reino Unido são mulheres. No entanto, mais da metade dos estudantes de nível secundário (GCSE) e superior (A-level) é do sexo feminino. Portanto o interesse existe. Por outro lado, as mulheres devem ter percebido o quanto de colegas meninas elas encontram quando vão a conferências ou quando participam de comitês.

As autoras sugerem que o século XXI não é tão igualitário (em termos de gênero), como se pensava e progresso para que a representação feminina na ciência aumente está lendo demais.

A pergunta feita: Por que as mulheres abandonam a ciência? O que pode ser feito a esse respeito? Como colocado acima, o interesse feminino pela ciência existe mas é necessário fazer com que as mulheres permaneçam na carreira. Na Grã Bretanha, 60% dos estudantes de graduação estão na área biológica. Esse número diminui pela metade quando se olha para as professoras em nível universitário. As que chegam ao nível de Professor ocupam menos de 15% das posições disponíveis.

As explicações, segundo as autoras, são a competição aumentada (problema enfrentado pelas mulheres em qualquer posição) e as obrigações domésticas que são assumidas, em sua maioria, pelas mulheres. Ainda nisso, os custos elevados das creches e a pouca disponibilidade das mesmas no local de trabalho tornam dificultam a aspiração de construir uma família e crescer na carreira, simultaneamente.

O que pode ser feito?

As autoras julgam que entusiasmo e vontade, por parte da mulheres, existe. Portanto, seria necessário reduzir o impacto de hiatos na carreira (career breaks) no avanço profissional. Por exemplo: nos pedidos de financiamento, sugere-se incluir nos formulários espaço para que estes hiatos sejam documentados e como os mesmos impactaram na carreira da candidata. (Interpretação pessoal: se determinada pesquisadora teve um número menor de publicações, por exemplo, durante período de sua carreira, esse mudança talvez esteja associada ao nascimento de um filho e algo assim). As autoras também sugerem que haja um suporte direcionado para mulheres na faixa de 30 anos, quando estão na transição entre pós-doc e pesquisadora independente.

Finalmente, as autoras reforçam que é necessário termos mais role models (exemplos, em tradução livre) femininos. Mulheres que alcançaram o topo, que chegaram a posições de destaque, de chefia, de coordenação, etc e que estejam dispostas a compartilhar suas experiências. “Todos sabem que o mundo precisa da ciência. Muitos atestam que a ciência necessita das mulheres. Vamos tornar possível com que a ciência consiga todas as mulheres que ela necessita”.


Nota pessoal: guardadas as devidas comparações entre a Grã Bretanha e o Brasil, talvez seja a hora das Sociedades de Pesquisa começarem a abrir espaço para estes relatos femininos. Em uma platéia composta, em sua maioria, por mulheres, sobretudo alunas de Iniciação Científica, por que não reforçar esse aspecto?

Um comentário:

  1. Acho que no Brasil, pelo menos na área de biomédicas,não há tanto o problema de "role models" para a carreira, mas sim para a vida. Não incorporamos a idéia de que a casa tem de ter igual peso para ambos nos relacionamentos. Um aluno de mestrado ou de doutorado que tem um filho continua a desempenhar seu papel no laboratório praticamente da mesma forma; já uma aluna de mestrado ou de doutorado que engravida é um problema... É muito mais fácil um aluno ser acompanhado pela companheira para um estágio no exterior do que uma aluna pelo companheiro. A responsabilidade da casa e o papel secundário da carreira da mulher em relação à do homem acaba se tornando um impedimento para alcançar posições de mais destaque.

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