quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Microesferas de alginato e vacinas para a leishmaniose

Post de Diego Moura (LIP-CPqGM/FIOCRUZ)
ResearchBlogging.orgLeishmaniose é uma doença parasitária que afeta 12 milhões de pessoas no mundo, sendo que mais de 350 milhões estão em risco de contrair a doença. A leishmaniose é causada por diferentes espécies de Leishmania, transmitida pelo flebótomo infectado. O fato de que a recuperação de uma primeira infecção confere proteção contra uma re-infecção sugere que o controle das leishmanioses através da vacinação é possível. Com o objetivo de desenvolver uma vacina eficaz contra a doença, os grupos de pesquisa fazem uso de tecnologias desde as mais simples, como por exemplo, autoclavar o parasita, até o uso de ferramentas mais avançadas como parasitas transgênicos capazes de infectar, mas não de causar a doença. O uso de parasitas autoclavados fundamenta a primeira geração de vacinas. A Leishmania major autoclavada (ALM) foi usada em testes clínicos de fase 3, apresentando uma eficácia limitada [1,2,3].

Sabe-se que a imunogenicidade de um antígeno é aumentada quando este está encapsulado em partículas biodegradáveis [4]. Desta forma, Taffaghodi e colaboradores [5] foram avaliar a capacidade protetora do ALM e CpG encapsulados em micropartículas biodegradáveis de alginato de sódio (polissacarídeo presente na parede celular de algas marinhas e algumas bactérias). Inicialmente, os autores demonstraram que o encapsulamento não afetou a integridade do antígeno, através de um gel de poliacrilamida. Depois, camundongos BALB/c foram imunizados e infectados com L. major. Os animais imunizados com ALM + CpG, (ALM)NP, (ALM)NP+CpG ou (ALM + CpG)NP apresentaram, todos eles, um menor tamanho da lesão comparado com o grupo que recebeu PBS ou somente ALM. Entretanto, é importante frisar que os animais que receberam a vacina na presença do CpG apresentaram lesões ainda menores. Já o grupo (ALM)NP que não recebeu o adjuvante, apresentou uma lesão menor do que o grupo controle, embora maior do que os grupos que receberam o CpG. Em relação à produção das citocinas analisadas, os grupos imunizados com ALM+CPG (sem partícula) e (ALM+CpG)NP apresentaram os maiores níveis de IFN-g. Em relação a IL-4, apenas o grupo imunizado com ALM+CpG apresentou uma produção maior, enquanto nos outros grupos a produção foi idêntica ou menor que os controles negativos.

Diante do acima exposto, ficou claro que apesar de obter uma proteção parcial contra a infecção por L. major, o encapsulamento do ALM e CpG em micropartículas (ALM+CpG)NP não foi capaz de melhorar o grau de proteção já obtida pela imunização com o ALM+CpG, pois nos dois grupos o grau de proteção foi o mesmo, comparando o tamanho da lesão. Fez falta neste trabalho a análise da carga parasitária, pois já se sabe que as partículas são capazes de ativar a imunidade inata. Desta forma, o grupo imunizado com (ALM+CpG)NP poderia estar apresentando uma menor carga parasitária em relação ao ALM+CpG.

1. Khalil EA, El Hassan AM, Zijlstra EE, Mukhtar MM, Ghalib HW, et al. (2000) Autoclaved Leishmania major vaccine for prevention of visceral leishmaniasis: a randomised, double-blind, BCG-controlled trial in Sudan. Lancet 356: 1565-1569.

2. Khamesipour A, Rafati S, Davoudi N, Maboudi F, Modabber F (2006) Leishmaniasis vaccine candidates for development: a global overview. Indian J Med Res 123: 423-438.

3. Noazin S, Modabber F, Khamesipour A, Smith PG, Moulton LH, et al. (2008) First generation leishmaniasis vaccines: a review of field efficacy trials. Vaccine 26: 6759-6767.

4. Diwan M, Tafaghodi M, Samuel J (2002) Enhancement of immune responses by co-delivery of a CpG oligodeoxynucleotide and tetanus toxoid in biodegradable nanospheres. J Control Release 85: 247-262.


5. Tafaghodi M, Eskandari M, Khamesipour A, & Jaafari MR (2011). Alginate microspheres encapsulated with autoclaved Leishmania major (ALM) and CpG-ODN induced partial protection and enhanced immune response against murine model of leishmaniasis. Experimental parasitology PMID: 21767536


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