segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Novos medicamentos contra a tuberculose estão em processo de aprovação pelo FDA

Originalmente publicado no site do Fundo Global



Esperança contra a multirresistência
Projeto Fundo Global TB - Brasil
Após mais de 40 anos sem novidades no tratamento desde o lançamento da Rifamcina, dois novos fármacos estão em processo de aprovação pelos órgãos regulatórios internacionais, como FDA (Food and Drugs Administration - agência americana de controle de medicamentos), e poderão ter seu uso liberado até 2013. Entre as sete moléculas atualmente em estudo clínico, as mais promissoras são uma diarilquinolina (TMC 207), que deverá ser aprovada ainda neste semestre, e uma oxazolidinona (PA824), ambas destinadas ao tratamento de formas multirresistentes da tuberculose.
O primeiro medicamento (TMC207) demonstrou potencial para inibir o crescimento de cepas sensíveis e multirresistentes e, já em estudo pré-clínico, que sua associação ao esquema atual para MDR-TB é mais eficaz. O segundo (PA 824) mostrou eficácia bactericida nas fases intensiva e de continuação, além de limpeza bacilar mais rápida quando associado aos medicamentos MOXI e PZA.
Brasil poderá ser pioneiroPor ter sido sítio para ensaios clínicos de alguns dos novos fármacos, o Brasil poderá ser um dos primeiros países a recebê-los sob a forma de compassionate use (uso compassionado), termo em inglês que define o fornecimento de terapia experimental para uso em humanos antes da aprovação final do FDA. Um procedimento geralmente utilizado em grupos de indivíduos muito doentes ou que não têm outras opções de tratamento. Segundo Margareth Dalcolmo, o fato de termos normas nacionalmente adotadas, com provimento governamental e universal de medicamentos, aliado a não termos conflito entre medicina pública e privada, reforça esta possibilidade. “Mas qualquer decisão sobre o uso de novos fármacos passará necessariamente pela aprovação do Comitê Nacional Assessor do Ministério da Saúde, do qual fazemos parte pela Fiocruz, seguido de registro na Anvisa, que é o órgão regulatório para esse fim”, acrescenta. Está prevista para novembro um reunião que debaterá a adoção dos fármacos no país.
Em junho, a chefe do Centro de Referência Professor Hélio Fraga representou o Brasil no encontro promovido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em parceria com o Stop TB Partnership que reuniu, em Genebra, cerca de 30 dos mais renomados especialistas de todo o mundo para reformular as recomendações terapêuticas para tuberculose, estabelecer critérios para guiar os países na introdução e no uso dos novos fármacos e regimes de tratamento para as formas sensíveis e resistentes de tuberculose, além de rever as atuais recomendações para o tratamento de formas resistentes da doença.  Segundo ela, as novas recomendações são para garantir o uso racional desses novos fármacos, evitando-se seu uso comercial, e prevenir a resistência a eles, decorrente de seu uso em esquemas de associação inadequada. "Para as formas multirresistentes, a situação é bem mais complexa e o uso destes novos fármacos tem que ser muito controlado. Mas isso depende da padronização do tratamento e sua regulamentação por órgãos oficias de cada país, de programas bem estruturados e do consenso entre medicina privada, pública e academia, o que não ocorre em alguns países de alta carga de TB-MDR, como a Índia e o Paquistão", alerta.
Com um regime de associação bactericida mais eficiente e a possível redução no tempo de tratamento, a expectativa é que as novas drogas permitam conter o avanço da TB-MDR (sigla em inglês para Multi-Drug-Resistant), essa grave forma da doença, que representa 2% de todos os casos no mundo, o equivalente à 500 mil casos novos ao ano, e igualmente responsável pela alta morbidade e mortalidade de formas resistentes da doença.
A tuberculose MDR não responde aos medicamentos usados no tratamento convencional da doença, exigindo drogas mais caras, mais tóxicas e por um período muito mais longo (18 meses, em vez dos usuais seis meses).Os custos do tratamento são elevadíssimos porque também exigem cuidados da equipe multidisciplinar, supervisão de tomadas e eventualmente hospitalização. Se não for controlada a tempo, aumenta o risco de propagação. Em geral, ela é consequência do mau uso dos medicamentos ou do abandono ao tratamento. Mas, embora pouco comum no Brasil, cada vez mais pessoas estão contraindo na primeira infecção a forma resistente da doença. No Rio de Janeiro, do total de casos de TB-MDR, 97% (1.629 casos) são notificados de resistência adquirida, ou seja, a que resulta da interrupção ou abandono ao tratamento. Apenas 3% (48 casos) foram notificados como resistência primária. Para o representante da secretaria estadual, Alexandre Chieppe, este resultado demonstra a dificuldade de acompanhamento e manutenção do tratamento. "Nosso desafio é descentralizar a referência para o tratamento das formas multirresistentes, facilitando o acesso ao diagnóstico e tratamento adequado em todas as regiões do estado", explicou. Atualmente, apenas duas unidades funcionam comom referência para atendimento da tuberculose MDR no estado do Rio: Centro de Referência Hélio Fraga, em Curicica, região oeste da capital; e o Hospítal Estadual Ary Parreiras, em Niterói.
No Brasil, dos 72 mil novos casos de tuberculose descobertos a cada ano, estima-se que entre 0,6% e 1,4% sejam do tipo resistente. Os estados mais populosos concentram a maior parte dos casos, sendo o Rio de Janeiro o campeão com 42,6% dos casos, seguido por São Paulo, Bahia, Pará e Ceará. No entanto, a incidência pode ser ainda maior pela falta de diagnóstico e defasagem do sistema de informação. De acordo com o o superintendente de vigilância epidemiológica da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro, Alexandre Chieppe, o sistema de informação que norteia as políticas públicas fica aquém da realidade na maioria dos municípios. "Lamentavelmente, nem todos os casos são devidamente registrados e a consolidação dos registros ainda é atrasada", acrescentou.
O processo de aprovação
A avaliação de novos fármacos em humanos é feita através de ensaios clínicos em até quatro fases. Na primeira, avalia-se a segurança e o perfil farmacocinético e farmacodinâmico do medicamento. Na segunda, avalia-se a eficácia e a segurança a curto prazo. No caso da tuberculose, nesta fase leva-se em consideração a capacidade do medicamento esterilizar a lesão (atividade bactericida precoce) e compara o esquema contendo o novo medicamento (braço experimental) com o esquema atual (braço controle). Na terceira fase, avalia-se a eficácia e segurança a longo prazo e o valor terapêutico absoluto e relativo do medicamento em variado grupo de pacientes. Por fim, realiza-se o chamado “estudo de farmacovigilância” ou “vigilância pós-comercialização” que acompanha um grande número de pacientes para detectar e avaliar o surgimento de reações adversas. Em média, da descoberta de uma nova molécula até sua disponibilização nas prateleiras leva pelo menos 10 anos.
Todo país tem um órgão encarregado de analisar os prós e os contras de cada remédio. No Brasil, é a Divisão de Medicamentos (Dimed) da Vigilância Sanitária, ligada ao Ministério da Saúde. Nos Estados Unidos, é o Food and Drug Administration (FDA).

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