Vírus ainda não é tão letal, dizem especialistas
Os pesquisadores do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Investigação em Imunologia (iii-INCT) decidiram expor a opinião da instituição sobre o vírus Influenza A (H1N1), como forma de contribuir para o debate científico e social.
Veja o texto abaixo:
Inconsistência no número de casos
Uma das questões que vem intrigando a população é o desencontro dos números de infectados e vítimas divulgados pela mídia. Desde o início do surto, diversos boletins emitidos por governos locais e pela Organização Mundial de Saúde (OMS) não se mostram consistentes com números divulgados anteriormente. Qual seria a razão disso? Segundo o infectologista Esper Kallás do iii-INCT e da Faculdade de Medicina da USP, as principais causas são a dificuldade de fazer o diagnóstico e a definição de caso.
No Brasil, por exemplo, os kits para identificar o vírus só chegariam hoje (06/05) ao país, segundo o Ministério da Saúde, e, apesar do esforço dos laboratórios responsáveis pelas análises das amostras, ainda não se chegou a nenhuma conclusão definitiva utilizando os métodos disponíveis, que são mais lentos. A exata definição de caso, ou seja, quais seriam as principais características clínicas da gripe, ainda não foi concluída e pode mudar de um país para o outro, levando a OMS a procurar padronizar a definição. Daí é possível entender porque um país pode divulgar que tem menos casos confirmados da doença do que informou no dia anterior. Para o Brasil, o atraso na chegada dos kits para realizar o diagnóstico pode também prejudicar o combate ao vírus, já que a demanda pelos kits pode ser maior do que a oferta, o que atrasaria ainda mais a definição dos dados sobre a incidência real da doença no país.
Risco de pandemia
O risco de uma pandemia existe, concordam os especialistas do iii-INCT. A possibilidade de conter a disseminação do vírus talvez tenha sido perdida há algumas semanas, quando os primeiro casos foram identificados. Segundo Kallás, a principal questão agora é conseguir definir se ele sofrerá mutações e aumentará sua agressividade, embora os dados epidemiológicos disponíveis até o momento não apontem para isso. Entretanto, ainda não há clareza ainda sobre qual será a evolução do vírus.
Riscos para a população
Os pesquisadores lembram que a maior parte das mortes foi registrada no México, país que possui um sistema de saúde deficiências relevantes, e o vírus tem apresentado uma letalidade baixa no contexto dos sistemas de saúde mais bem estruturados. O risco, alerta o epidemiologista Francisco Bastos do INCT e da Fiocruz – RJ, será o vírus se disseminar pelos países em desenvolvimento durante o inverno, como na África do Sul ou o Quênia, por exemplo, quando a população fica mais concentrada em ambientes pequenos, criando focos potenciais de transmissão num quadro de alta prevalência de outras doenças, como a AIDS, a tuberculose e a malária, além da prevalência relativamente elevada de desnutrição.
Os pesquisadores do iii-INCT também acreditam que esta é uma oportunidade para exercitar e avaliar a capacidade da mídia de informar o público em casos de epidemia.
Vacina
Finalmente, a pesquisadora Ana Maria Moro, do iii-INCT e do Instituto Butantan, que a instituição irá se envolver na produção da vacina contra o vírus influenza A (H1N1), utilizando a fábrica que foi construída para a produção da vacina regular da influenza.
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