Post de Theolis Bessa
A tuberculose segue como um importante problema de saúde pública em todo o mundo. Os índices da doença vêm caindo, sobretudo pelo investimento no diagnóstico precoce e terapia supervisionada. Porém, com um terço da população mundial infectada pelo bacilo, tem-se investido na pesquisa de métodos diagnóstico e biomarcadores que possam prever a transição da doença latente para a doença ativa, como estratégia para restringir o contágio de novos hospedeiros.
Nesta revisão sistemática e meta-análise, o grupo de Madhkar Pai se debruça na análise dos novos ensaios de liberação de IFN-gama (IGRAs), que vêm sendo testados em várias populações como potencial substituto para o teste tuberculínico intradérmico (que utiliza o derivado proteico purificado de Mycobacterium tuberculosis , o PPD) no diagnóstico da tuberculose latente. Os IGRAs apresentam maior especificidade para a detecção da infecção tuberculosa pois utilizam antígenos que estão presentes em um número restrito de micobactérias do complexo M. tuberculosis, o que assegura que reações ao teste não sejam influenciadas por contato com outras micobactérias ambientais ou pela vacinação prévia com a BCG. No entanto, ambos os testes são incapazes de distinguir pacientes com tuberculose latente de pacientes com tuberculose ativa.
Os IGRAs são testes relativamente novos, e não há consenso sobre se indivíduos com IGRA positivo seriam elegíveis para a quimioprofilaxia, à semelhança do que tem sido estabelecido para comunicantes de pacientes com tuberculose ativa que apresentaram conversão ao teste tuberculínico. Neste estudo, não se observa risco aumentado de desenvolvimento da doença ativa em indivíduos com teste IGRA positivo em comparação com indivíduos com teste tuberculínico positivo, em um seguimento médio de 2 a 6 anos. O risco relativo estimado no estudo de desenvolvimento de tuberculose entre indivíduos diagnosticados com tuberculose latente é de aproximadamente duas vazes superior ao encontrado entre indivíduos sem diagnóstico de tuberculose latente, para ambos os testes. É importante salientar que a análise buscou incluir tanto estudos realizados em países com elevada renda (“desenvolvidos”), e baixa incidência da doença, como países com média e baixa renda (“em desenvolvimento”). Devido às características dos estudos incluídos na análise, entretanto, após a exclusão de estudos com potencial confundimento não foi possível verificar se há influência desta divisão em relação à renda na acurácia da previsão da progressão da doença latente para a doença ativa.
Os IGRAs constituem um primeiro avanço na busca de melhores testes diagnóstico para a tuberculose, que possam auxiliar melhor no controle da doença. Será necessário continuar investindo na busca de biomarcadores que possam orientar a quimioprofilaxia de indivíduos com a tuberculose latente, de forma a utilizar esta estratégia racionalmente, já que as drogas anti-tuberculosas apresentam efeitos colaterais importantes e deve-se equacionar os potenciais benefícios e riscos de implementação desta terapia.
Referências:
Rangaka, M., Wilkinson, K., Glynn, J., Ling, D., Menzies, D., Mwansa-Kambafwile, J., Fielding, K., Wilkinson, R., & Pai, M. (2011). Predictive value of interferon-γ release assays for incident active tuberculosis: a systematic review and meta-analysis The Lancet Infectious Diseases DOI: 10.1016/S1473-3099(11)70210-9
Nenhum comentário:
Postar um comentário