Post de George A. DosReis
Ao lado da promessa de aplicações terapêuticas surpreendentes, o uso de células-tronco também pode sofrer limitações biológicas, que não estão sendo amplamente explicadas ou discutidas.
Em alguns casos, os pesquisadores envolvidos parecem partir da premissa errônea de que uma doença é causada apenas pela falta localizada de um tipo de célula. No entanto, a maioria das doenças – incluindo as degenerativas – são entidades bioquímicas sistêmicas, e que incidirão novamente, inclusive sobre as novas células transplantadas. Este parece ser o caso dos transplantes de neurônios fetais dopaminérgicos em pacientes com Doença de Parkinson. Estudos independentes demonstraram que os corpúsculos de Lewy – inclusões intracelulares de alfa-sinucleina características da doença – apareceram nos neurônios transplantados após 11-16 anos. Estes dados mostram que a patologia do paciente eventualmente se desenvolveu também nas células imaturas transplantadas. Além disso, a patologia parece ter sido acelerada, pois 11-16 anos é considerado um período muito curto para o aparecimento da patologia. (Veja a discussão sobre o assunto no artigo: “Assessing fetal nerve cell grafts in Parkinson’s disease”. Braak, H. and Del Tredici, K. Nat. Med. 14; 483-485, 2008).
Outra limitação que deve preocupar os pesquisadores desta área é a possibilidade do desenvolvimento de neoplasias. Células-tronco existem normalmente em números reduzidos nos vários tecidos do corpo. No entanto, é plausível imaginar que a injeção localizada de grandes quantidades de células indiferenciadas poderia gerar um desbalanço no seu ciclo celular, e favorecer o desenvolvimento de neoplasias (tumores). Um artigo recente mostrou que estes temores não são infundados. Uma equipe de Israel demonstrou que um menino que recebeu injeções de células-tronco neurais fetais desenvolveu múltiplos tumores cerebrais, compostos pela descendência das células transplantadas. (“Donor-derived brain tumor following neural stem cell transplantation in an ataxia-telangiectasia patient”. Amariglio, N. et al., PLoS Medicine 6; e1000029, 2009).
Estes dados indicam que o uso de terapias celulares, às vezes é ineficaz, e às vezes não é seguro. E que portanto, uma grande evolução no conhecimento sobre células-tronco é necessária, antes que o tratamento possa ser administrado a seres humanos.
George A. DosReis
Muito interessante esse post, ele resume muito de um fenomeno que parece ser uma lei nas ciências, de que quando surge uma nova disciplina (linha de pesquisa), ela sempre é mais sucesso potencial que sucesso efetivo, e com o passar do tempo a diferença entre ambos vai diminuindo, formando uma lacuna de sucesso potencial que tende a ser preenchida por uma nova disciplina, com a promessa de resolver todos os problemas ;).
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