quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Incidência de doença como fator limitante para o uso de células-tronco



Post de George A. DosReis
Ao lado da promessa de aplicações terapêuticas surpreendentes, o uso de células-tronco também pode sofrer limitações biológicas, que não estão sendo amplamente explicadas ou discutidas.
Em alguns casos, os pesquisadores envolvidos parecem partir da premissa errônea de que uma doença é causada apenas pela falta localizada de um tipo de célula. No entanto, a maioria das doenças – incluindo as degenerativas – são entidades bioquímicas sistêmicas, e que incidirão novamente, inclusive sobre as novas células transplantadas. Este parece ser o caso dos transplantes de neurônios fetais dopaminérgicos em pacientes com Doença de Parkinson. Estudos independentes demonstraram que os corpúsculos de Lewy – inclusões intracelulares de alfa-sinucleina características da doença – apareceram nos neurônios transplantados após 11-16 anos. Estes dados mostram que a patologia do paciente eventualmente se desenvolveu também nas células imaturas transplantadas. Além disso, a patologia parece ter sido acelerada, pois 11-16 anos é considerado um período muito curto para o aparecimento da patologia. (Veja a discussão sobre o assunto no artigo: “Assessing fetal nerve cell grafts in Parkinson’s disease”. Braak, H. and Del Tredici, K. Nat. Med. 14; 483-485, 2008). 
Outra limitação que deve preocupar os pesquisadores desta área é a possibilidade do desenvolvimento de neoplasias. Células-tronco existem normalmente em números reduzidos nos vários tecidos do corpo. No entanto, é plausível imaginar que a injeção localizada de grandes quantidades de células indiferenciadas poderia gerar um desbalanço no seu ciclo celular, e favorecer o desenvolvimento de neoplasias (tumores). Um artigo recente mostrou que estes temores não são infundados. Uma equipe de Israel demonstrou que um menino que recebeu injeções de células-tronco neurais fetais desenvolveu múltiplos tumores cerebrais, compostos pela descendência das células transplantadas. (“Donor-derived brain tumor following neural stem cell transplantation in an ataxia-telangiectasia patient”. Amariglio, N. et al., PLoS Medicine 6; e1000029, 2009).  
Estes dados indicam que o uso de terapias celulares, às vezes é ineficaz, e às vezes não é seguro. E que portanto, uma grande evolução no conhecimento sobre células-tronco é necessária, antes que o tratamento possa ser administrado a seres humanos.
George A. DosReis

Um comentário:

  1. Muito interessante esse post, ele resume muito de um fenomeno que parece ser uma lei nas ciências, de que quando surge uma nova disciplina (linha de pesquisa), ela sempre é mais sucesso potencial que sucesso efetivo, e com o passar do tempo a diferença entre ambos vai diminuindo, formando uma lacuna de sucesso potencial que tende a ser preenchida por uma nova disciplina, com a promessa de resolver todos os problemas ;).

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