sábado, 9 de abril de 2011

As condições de armazenamento, transporte e temperatura sazonal afetam a viabilidade das células mononucleares

ResearchBlogging.org


Post de Elisabete Conceição (LIMI/CPqGM - Fiocruz)



A avaliação das condições de armazenamento e transferência de material biológico para a realização de ensaios imunológicos têm sido o objetivo de alguns estudos. Estes trabalhos relatam que a realização de ensaios clínicos em diferentes centros podem aumentar a variabilidade dos resultados devido a problemas no processamentos das amostras, como o intervalo entre a coleta e o processamento. O tempo e a temperatura de armazenamento afetam a viabilidade dos linfócitos quando o sangue é estocado “overnight” a 4ºC, ou quando armazenado a temperatura ambiente, afetando a separação das células mononuclares do sangue periférico (PBMC) por gradiente de Ficoll [1,2]. O estabelecimento de um protocolo padrão no transporte e armazenamento das amostras é um fator importante em estudos de doenças infecciosas. O transporte inadequado do sangue total altera a resposta linfoproliferativa a antígenos microbianos em indivíduos infectados pelo HIV e em doadores saudáveis [2]. Após 8 horas de armazenamento do sangue total ocorre acentuada diminuição na função imune celular [3].

Olson e colaboradores [4] procuram realizar uma ampla avaliação do efeito da temperatura e do transporte na viabilidade celular, neste estudo recém publicado no Journal of Translational Medicine, que investigou o impacto do clima, das condições de armazenamento e transporte na recuperação e função das PBMC’s de 285 pacientes envolvidos em dois ensaios clínicos de vacina para melanoma. Neste estudo as amostras de sangue foram coletadas em dois centros responsáveis por ensaios clínicos (em Houston e na Filadélfia) e enviadas para a Universidade da Virgínia em Charlottesville por correio durante nove meses (final do verão e início da primavera). As amostras de sangue foram monitoradas através de pacotes contendo um sensor para determinar a temperatura durante o transporte.

Os autores mostram que houve variação na temperatura dos pacotes contendo as amostras de acordo com a temperatura sazonal, de próximo a 0 até 40°C. Menores temperaturas obtidas no inverno estavam associadas com recuperação de menor número de células, enquanto que maiores temperaturas favoreceram a recuperação de células do sangue. O armazenamento de sangue total a 15°C ou a 40°C foi associado a menor recuperação de células após a criopreservação, e embora não tenham sido observadas diferenças na proporção de células CD4+, CD8+ ou CD56+, uma elevada proporção de células CD4+ e CD8+ sofreu apoptose após incubação por 8h em amostras que foram mantidas a 40°C antes da criopreservação. As células CD8+ foram as mais susceptíveis neste ensaio, e outras células mononucleares são bastante afetadas (Figura 3). Não houve diferença na detecção de células produtoras de IFN-gama por ELISpot nas várias condições testadas.





Em conclusão, para a manutenção das amostras em condições equivalentes ao armazenamento constante a 22°C, a temperatura satisfatória entre as testadas foi de 30°C. É desejável manter o transporte entre centros em uma variação de temperatura máxima entre 15°C e 35°C até o processamento das amostras.

[1] R.A. Betensky, E. Connick, J. Devers, A.L. Landay, M. Nokta, S. Plaeger, et al., Shipment impairs lymphocyte proliferative responses to microbial antigens, Clin. Diagn. Lab. Immunol. 7 (2000) 759-763.
[2] A. Weinberg, R.A. Betensky, L. Zhang, G. Ray, Effect of shipment, storage, anticoagulant, and cell separation on lymphocyte proliferation assays for human immunodeficiency virus-infected patients, Clin. Diagn. Lab. Immunol. 5 (1998) 804-807.
[3] M. Bull, D. Lee, J. Stucky, Y.-L. Chiu, A. Rubin, H. Horton, et al., Defining blood processing parameters for optimal detection of cryopreserved antigen-specific responses for HIV vaccine trials, J. Immunol. Methods. 322 (2007) 57-69.
[4] Olson, W., Smolkin, M., Farris, E., Fink, R., Czarkowski, A., Fink, J., Chianese-Bullock, K., & Slingluff, C. (2011). Shipping blood to a central laboratory in multicenter clinical trials: effect of ambient temperature on specimen temperature, and effects of temperature on mononuclear cell yield, viability and immunologic function Journal of Translational Medicine, 9 (1) DOI: 10.1186/1479-5876-9-26

Um comentário:

  1. Muito útil.
    Bom que alguém tenha feito a avaliação sistemática das condições.

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