Virus de RNA de Leishmania controla severidade da leishmaniose mucocutânea
A Leishmaniose mucocutânea, causada por parasitas do subgênero Viannia, está associada com uma resposta imune persistente com presença de mediadores pro-inflamatórios (TNF-a, CXCL10, CCL4), além de uma elevada atividade de células T citotóxicas. Ives e colaboradores, em trabalho anterior, caracterizaram clones da L. guyanensis: cepa metastática (L.g.M+) ou cepa não-metastática (L.g.M−). A partir disto, os autores sugerem que estas cepas modulam diferentemente a resposta do macrófago no hospedeiro. Neste trabalho publicado na Science este ano, utilizando técnicas de microarranjos, Ives e colaboradores identificaram expressão gênica diferenciada em macrófagos não tratados ou infectados com L.g.M+ ou L.g.M−. In vitro, os macrófagos infectados apresentaram grande quantidade de CCL5, CXCL10, TNF-a, e IL-6 após infecção com parasitas L.g.M+ quando comparados com L.g.M− ou L. major. Eles também observaram expressão aumentada nestas quimiocinas e citocinas após infecção com parasitas obtidos de lesões de pacientes com leishmaniose mucosa, comparadas com parasitas obtidos de lesões de pacientes com leishmaniose cutânea. Assim, os níveis elevados de citocinas e quimiocinas podem estar associados com parasitas que sofrem metástase. Outro aspecto importante para o parasita é que, uma vez dentro do macrófago, ele permanece dentro de um fagolisossomo. Tratar estas células com cloroquina (induz alcalinização vacuolar impossibilitando reconhecimento de PAMPs por células) ou citocalasina D (inibe fagocitose), mostra que a indução de mediadores proinflamatórios por parasitas L.g.M.+ depende da entrada do mesmo na células e seu seqüestro por fagolisossomo. Assim, eles foram avaliar o papel dos TLR. Utilizando macrófagos deficientes para TLR3, 7 ou 9, ou para MyD88 e TRIF, eles demonstram que TLR3 e TRIF são essenciais para induzir o aumento na expressão deste mediadores após infecção com L.g.M.+. Ainda, ativação de TLR7 dependente de MyD88 foi necessária para máxima secreção destes mediadores. Já se sabe que TLR3 regula positivamente também a expressão de interferons tipo I. No presente trabalho, a infecção com L.g.M.+ induz um aumento significativo de IFN-β, quando comparado com L.g.M.-. Já se sabe que parasitas do subgênero Viannia possuem o vírus de RNA (LRV1). Este vírus contem um capsídeo que protege o RNA dupla fita. Eles demonstram que L.g.M.+ possuem níveis mais elevados de LRV1 do que L.g.M.-. Eles então trataram macrófagos com LRV1 e observaram um aumento na expressão dos mesmos mediadores daqueles infectados com L.g.M.+ e este aumento também foi dependente de TLR3. Assim, o papel in vivo foi avaliado em camundongos TLR3-/-, TR7-/- e selvagens infectados. Uma diminuição significativa no tamanho da lesão e na carga parasitária foi encontrada nos camundongos TLR3-/- infectados com L.g.M.+ ou L.g.−LRV. Assim, o presente trabalho mostra que o reconhecimento de LRV1 nos parasitas L.g.M.+ pelo hospedeiro promove inflamação e subverte o sistema imune para que haja persistência do parasita. Este resultado pode facilitar o desenvolvimento de novos tratamentos para esta patologia ou até mesmo melhorar terapias já existentes.
Ives, A., Ronet, C., Prevel, F., Ruzzante, G., Fuertes-Marraco, S., Schutz, F., Zangger, H., Revaz-Breton, M., Lye, L., Hickerson, S., Beverley, S., Acha-Orbea, H., Launois, P., Fasel, N., & Masina, S. (2011). Leishmania RNA Virus Controls the Severity of Mucocutaneous Leishmaniasis Science, 331 (6018), 775-778 DOI: 10.1126/science.1199326
Vale ressaltar que este artigo foi avaliado como “must read” ou “outstanding” pelos membros da F1000.
This is a fascinating piece of work, reporting that a double-stranded (ds)RNA virus, infecting Leishmania strains of the Leishmania Viannia subgenus, contributes to the severity of mucocutaneous leishmaniasis by triggering a persistent hyperinflammatory response by the infected host.”
B. Papadopolou, Univ. of Laval, Canada
This intriguing study shows that virus infection of the protozoan parasite Leishmania influences innate immune responses in macrophages. Furthermore, the authors suggest that virally infected Leishmania excel in disseminating to nasopharyngeal tissues, causing mucocutaneous leishmaniasis.
Jan Rehwinkel and Caetano Reis e Sousa, Cancer Research, UK
Portanto, sua leitura é altamente recomendada!
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