terça-feira, 14 de junho de 2011

Regulação mediada pelo hospedeiro da superinfecção na malária

ResearchBlogging.org


Vitor R R de Mendonça

Após publicar sobre os efeitos benéficos do CO na proteção contra a malária cerebral na Nature Medicine em 2007, o grupo da Maria Mota continua ganhando notoriedade na comunidade científica malariologista ao emplacar este ano outro trabalho no mesmo periódico. Entitulado “Host-mediated regulation of superinfection in malaria”, o trabalho traz novos dados sobre a influência da fase sanguínea do plasmódio na prevenção da superinfecção.

Camundongos foram infectados com Plasmodium berghei (e outras espécies) e após a parasitemia ter desenvolvido, os mesmos animais foram reinfectados com o parasita expressando luciferase, para distinguir entre a infecção original e a subsequente. Percebeu-se que, independente da espécie do parasita, a forma eritrocítica da malária inibe a reinfecção, visto através da ausência de expressão da luciferase nos hepatócitos.

Após essa descoberta, os autores resolveram compreender qual seria o mecanismo que estaria levando a inibição do desenvolvimento da nova infecção. Uma análise genômica por microarray foi realizado para identificar os possíveis genes relacionados a esta inibição. Mecanismos da imunidade adaptativa ou apoptose foram descartados após diversos experimentos. O próximo passo para explicar a redução do número e tamanho das formas exoeritrocíticas do plasmódio seria a presença ou ausência de algum nutriente ou fator de crescimento que poderia estar limitando o desenvolvimento do estágio hepático da doença.

Percebeu-se que o Hamp, o gene que codifica a hepcidina (hormônio regulador do ferro) está significativamente maior expresso no fígado de camundongos com o estágio eritrocítico da malária. A hepcidina regula a homeostase e distribuição do ferro através da degradação do exportador do ferro (ferroportina), assim prevenindo a liberação para o plasma do ferro reciclado dos eritrócitos e da dieta pelos macrófagos e enterócitos que expressam ferroportina, respectivamente. Sabendo que a aquisição ou retenção do ferro pode ser essencial para o completo desenvolvimento do Plasmodium dentro das células do hospdereiro, a diminuição do ferro nos hepatócitos decorrente do aumento da hepcidina, resulta em uma inibição no desenvolvimento do parasita.

O papel do ferro no desenvolvimento do parasita foi confirmado por um “clinical trial” em que houve suplementação de ferro em crianças menores de 5 anos da Tanzânia, onde a malária é altamente endêmica. Demonstrou-se um aumento significativo nas infecções pela malária e no risco de morte nas crianças que receberam o ferro.

Os resultados pioneiros deste trabalho elucidam o papel do binômio ferro/hepcidina na infecção pelo plasmódio e apontam novas perspectivas para uma possível terapia e/ou prevenção contra à superinfecção da malária. No “Workshop on Innate Immunity and Malaria”, que ocorreu em Belo Horizonte entre 8 e 9 de junho de 2011, Maria Mota apresentou seus novos resultados. Segundo a pesquisadora, antes de desenvolver a forma eritrocítica da infecção, o parasita já na fase hepática garante uma proteção contra uma nova infecção provavelmente através de um mecanismo envolvendo o IFN-alfa. Aguardemos que, em breve, teremos mais um trabalho de alto impacto científico do grupo Mota.




Portugal, S., Carret, C., Recker, M., Armitage, A., Gonçalves, L., Epiphanio, S., Sullivan, D., Roy, C., Newbold, C., Drakesmith, H., & Mota, M. (2011). Host-mediated regulation of superinfection in malaria Nature Medicine DOI: 10.1038/nm.2368

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