sexta-feira, 11 de março de 2011

The protective effect against Leishmania infection conferred by sand fly bites is limited to short-term exposure




Rohoušová, I., Hostomská, J., Vlková, M., Kobets, T., Lipoldová, M., & Volf, P. (2011). The protective effect against Leishmania infection conferred by sand fly bites is limited to short-term exposure International Journal for Parasitology DOI: 10.1016/j.ijpara.2011.01.003

Post de Diego Moura-Santos, LIP/CPqGM-FIOCRUZ


ResearchBlogging.org
A saliva de flebotomíneos contém moléculas anti-hemostáticas e fatores que influenciam a imunidade na pele, além de possuir influência direta no aumento da infecção por Leishmania. Indivíduos expostos à picada do inseto desenvolvem uma resposta imune específica às proteínas salivares. Desta forma, hipotetiza-se que o efeito potencializador da infecção, próprio da saliva, possa ser abolido pela resposta imune em humanos vacinados contra a saliva do vetor. Alguns trabalhos já demonstraram proteção parcial contra infecção por L. major em camundongos imunizados pela picada de vetores não infectados [1,2]. Embora os testes em laboratórios demonstrem que a exposição prévia de animais à saliva do vetor leva a uma infecção mais branda, isto não foi observado em campo. Nas áreas endêmicas a prevalência de vetores infectados com Leishmania é baixa, e os hospedeiros estão comumente expostos à picada do vetor não infectado. Apesar desta contínua exposição, a leishmaniose persiste nas áreas endêmicas. Os habitantes destas áreas desenvolvem uma resposta humoral contra os antígenos da saliva, que está correlacionada com a proteção contra a leishmaniose visceral, mas não com a leishmaniose cutânea. Neste trabalho, os autores avaliaram o efeito protetor conferido pela picada do vetor em diferentes tempos e duração da exposição à picada do flebotomíneo.

Os animais foram expostos à picada do vetor por 2 ou 15 semanas, e sofreram infecção logo após (2 e 15 respectivamente) ou 15 semanas depois (2+0 e 15+0 respectivamente). Apenas o grupo 2 mostrou uma proteção parcial contra infecção por L. major, no qual os animais apresentaram uma menor lesão e menor carga parasitária acumulada (carga da orelha+LN) comparado com os outros grupos. O longo tempo de exposição à saliva do vetor pode ter levado a dessensibilização aos antígenos salivares e a falha na proteção nos grupos 15 e 15+0, assim como ocorre nos habitantes das áreas endêmicas. Todos os grupos mostraram uma elevada produção de anticorpos IgG anti-Leishmania, e o aumento destes anticorpos estavam correlacionados com o tamanho da lesão. Da mesma forma, foi encontrada uma relação entre o tamanho da lesão e o nível de anticorpos IgG anti-P. duboscqi. Desta forma, o grupo 2, que apresentou menor lesão, possuía menor produção de anticorpos IgG anti-Leishmania e IgG anti-P. duboscqi comparado com os outros grupos. Estes resultados estão de acordo com os resultados das áreas endêmicas de leishmaniose cutânea causada por L. braziliensis, onde baixos níveis de anticorpos IgG anti-saliva do vetor foram encontrados em indivíduos sem contato prévio com Leishmania e indivíduos com DTH positivo, mas aparentemente protegidos [3]. Por outro lado, indivíduos com DTH positivo para leishmaniose visceral apresentam elevados níveis de anticorpos IgG anti-saliva do vetor [4].

Os autores concluem que estes resultados podem explicar a persistência da leishmaniose em áreas endêmicas e devem ser levados em consideração no desenvolvimento de vacinas baseadas em proteínas salivares do vetor.

1. Belkaid Y, Kamhawi S, Modi G, Valenzuela J, Noben-Trauth N, et al. (1998) Development of a natural model of cutaneous leishmaniasis: powerful effects of vector saliva and saliva preexposure on the long-term outcome of Leishmania major infection in the mouse ear dermis. J Exp Med 188: 1941-1953.
2. Oliveira F, Lawyer PG, Kamhawi S, Valenzuela JG (2008) Immunity to distinct sand fly salivary proteins primes the anti-Leishmania immune response towards protection or exacerbation of disease. PLoS Negl Trop Dis 2: e226.
3. de Moura TR, Oliveira F, Novais FO, Miranda JC, Clarencio J, et al. (2007) Enhanced Leishmania braziliensis infection following pre-exposure to sandfly saliva. PLoS Negl Trop Dis 1: e84.
4. Gomes RB, Brodskyn C, de Oliveira CI, Costa J, Miranda JC, et al. (2002) Seroconversion against Lutzomyia longipalpis saliva concurrent with the development of anti-Leishmania chagasi delayed-type hypersensitivity. J Infect Dis 186: 1530-1534.

2 comentários:

  1. Amém. Então na verdade todo mundo teria que ser vacinado e revacinado em curto periodo para um controle dequado da doenca? Na minha opiniao, as pessoas que vivem em areas endemicas sao expostas diariamente aos flebotomos. COnsiderando que a maioria eh realmente nao infectada com Leishmania, um natural prime boost ocorre quase que diariamente. As pessoas sao expostas aos flebotominios no peri-domicilio, dentro de casa, e etc, e nao somente quando vao fazer trilhas no meio do mato. Se essa minha concepcao estiver correta, e me corrija se nao for o caso, o argumento que sustenta a ocorrencia da doenca, baseado em periodos sem exposicao e a dessensibilizacao, nao me convence. O trabalho da Vera Vinhas (EJI, 2007) mostou em um elegante experimento expondo pessoas a picadas de flebotomos nao infectados, que ha uma poderosa recall response mesmo depois de um ano sem a teorica exposicao a picadas, e que celulas desses individuos expostos sao mais resistentes a infeccao in vitro.

    Extra oficialmente, trabalhos do grupo do Jesus Valenzuela mostram bons resultados com proteinas da saliva induzindo protecao.

    Ainda tem a questao levantada pelo grupo do Dr. Pimenta (CPqRR) que aponta diferencas entre flebotomos wild type, capturados de areas endemicas, e os cultivados em laboratorio.

    Ainda existem outros, como o David Sack, que mostram que a saliva per se nao parece ser um imunogeno digno de vacinologia at all.

    No final, ainda temos muito o que aprender neste campo.

    Abraco

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  2. Desculpem o typo: o nome do cara eh David Sacks. Quem eh que nao sabe disso nao eh?

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