Post de Viviane Oliveira
A pele representa um mecanismo de defesa importante contra agressões microbianas e ambientais. Entre as células da resposta imune inata local, as células T gama-delta de sítios vizinhos na pele podem apresentar diferenças significativas. Essa especialização micro-compartimental da resposta imune na pele foi descrita pelo grupo de Weninger no JEM (fevereiro de 2011), analisando células T gama-delta de camundongos B6.
As células T gama-delta da epiderme e da derme exibem perfil fenotípico, necessidades de microambiente de citocinas e comportamento migratório distintos. Enquanto na epiderme as células T gama-delta expressam exclusivamente o receptor de célula T V5+, na derme foi encontrada uma população heterogênea de células T gama-delta V5+ou T V4+, o que sugere que essas últimas são capazes de responder a um espectro mais diverso de antígenos. A população de células T gama-delta na derme tem capacidade proliferativa local, é radioresistente e desenvolve-se na presença de IL-7. Além disso, as células T gama-delta da derme participam da indução da resposta imune específica a antígenos inoculados por via intradérmica. Elas regulam a resposta das células TCD4+ à infecção por BCG e secretam IL-17, induzindo o recrutamento de neutrófilos para o sítio de infecção. Essa capacidade de produzir IL-17 não foi identificada nas células T gama-delta da epiderme.
Os achados são reflexo da variedade e complexidade da resposta imune cutânea e do grau de especialização das células nos diferentes compartimentos. Já foi demonstrado em modelos de vacina que a variação na via de administração de antígenos na pele – intradérmica ou subcutânea- afeta de forma intensa a cinética e a magnitude da resposta Th1 (Mohanan et al., 2010). É possível que diferenças funcionais entre células fenotipicamente semelhantes na pele, como as descritas pelo grupo de Weninger, contribuam para a variação da resposta imune em sítios anatomicamente tão próximos.
Outro ponto interessante é a demonstração de que são as células T gama-delta da derme (e não as T alfa-beta) as principais produtoras de IL-17 após infecção com BCG. As células T gama-delta também estão entre as principais fontes de IL-17 na infecção experimental por M. tuberculosis por via inalatória (Lockhart et al, 2006). Tanto na pele quanto na mucosa essas células atuam como primeira linha de defesa contra essa bactéria, influenciando na resposta celular subsequente. Os autores demonstram que estas células antecedem a sensibilização de células Th1 produtoras de IFN-gama no pulmão, fornecendo mecanismos de defesa até o desenvolvimento da resposta protetora. Na infecção cutânea por BCG, recrutam neutrófilos que fagocitam e transportam as bactérias até os linfonodos, onde devem ativar resposta imune específica.
Figure: Neutrophil recruitment to the site of BCG infection is compromised in the absence of IL- 7-producing gamma-delta T cells.
Referências:
Sumaria, N., Roediger, B., Ng, L., Qin, J., Pinto, R., Cavanagh, L., Shklovskaya, E., Fazekas de St. Groth, B., Triccas, J., & Weninger, W. (2011). Cutaneous immunosurveillance by self-renewing dermal gamma-delta T cells Journal of Experimental Medicine DOI: 10.1084/jem.20101824
Mohanan D, Slütter B, Henriksen-Lacey M, Jiskoot W, Bouwstra JA, Perrie Y, Kündig TM, Gander B, Johansen P. Administration routes affect the quality of immune responses: A cross-sectional evaluation of particulate antigen-delivery systems. J Control Release, 2010 Nov 1;147(3):342-9. Epub 2010 Aug 18.
Lockhart E, Green AM, Flynn JL. IL-17 production is dominated by gammadelta T cells rather than CD4 T cells during Mycobacterium tuberculosis infection. J Immunol., 2006 Oct 1;177(7):4662-9.
Nenhum comentário:
Postar um comentário