terça-feira, 1 de março de 2011

Ecuadorean Villagers May Hold Secret to Longevity


Post de Fabiana Celes
LIP- CPqGM/FIOCRUZ


O Hormônio do Crescimento (GH) é um peptídeo produzido pela hipófise anterior que age indiretamente nos tecidos através de sua ligação ao receptor de hormônio do crescimento (GHR). Este receptor é uma proteína celular transmembrana cuja porção externa é reconhecida pelo GH circulante enquanto a interna promove a sinalização celular via proteínas da família STAT e JAK [1,2]. Em resposta a ligação do GH ao seu receptor, as células do fígado e de tecidos moles secretam Fatores de Crescimento Semelhantes à Insulina (IGFs), os quais aumentam a produção de ATP e a intensidade de entrada de aminoácidos nas células, acelerando a síntese protéica. Através deste mecanismo, o GH promove o crescimento esquelético e muscular em crianças e jovens e atua no processo de cicatrização, reparo celular e manutenção da massa óssea e muscular dos adultos [2,3].
A Insensibilidade ao Hormônio do Crescimento (IGH) pode ser definida como a inabilidade de tecidos-alvos de responderem normalmente ao GH e pode relacionar-se com o funcionamento inadequado de genes responsáveis pela produção de componentes do eixo GH/IGF [2,4]. As manifestações clínicas são diversas, entretanto o quadro clássico é descrito como Síndrome de Laron (SL) que envolve baixa estatura importante, características faciais típicas e obesidade centrípeta [4]. Esta síndrome é decorrente de uma mutação no gene codificante do GHR que resulta na perda de 8 unidades da porção externa do receptor, impedindo a ligação do GH ao mesmo, comprometendo a produção de IGFs.
Os estudos (Guevara-Aguirre et al.) abordados pela reportagem em questão envolvem um grupo de moradores de aldeias remotas do Equador, os quais geralmente medem menos de 1,06 metros de altura e são portadores da Síndrome de Laron. Um grupo de 99 indivíduos tem sido acompanhado há 24 anos pelo Dr. Jaime Guevara-Aguirre, médico equatoriano especialista em diabetes. De acordo com indicadores de saúde acumulados de seus pacientes, observou-se que embora o câncer seja freqüente entre as pessoas que não têm a SL, aqueles que a possuem raramente desenvolvem esta patologia. Além disso, verificou-se que, embora a obesidade seja comum em portadores desta síndrome, eles não apresentam quadros de diabetes.
Estes indivíduos foram encontrados por Aguirre em 1987 e após 7 anos, em 1994, a comparação dos portadores de SL com seus familiares já demonstrava a ausência de desenvolvimento de câncer, entretanto críticas importantes foram feitas a este trabalho uma vez que o grupo avaliado era pequeno e o tempo de acompanhamento tinha sido curto.
Estudos laboratoriais com C. elegans knockout para o gene do receptor de IGF 1 (DAF 2) tem demonstrado que a ausência do receptor faz com que os animais knockout vivam 2 vezes mais que os naive. Os pacientes com SL têm efeito equivalente, uma vez que suas células produzem IGF em pequena quantidade e por isso possuem baixa sinalização para DAF 2. Dessa maneira espera-se que os pacientes com SL possam viver por mais tempo. Esta sobrevida poderia ser significante caso a taxa de morte por causas não relacionadas a idade, como alcoolismo e acidentes, não fossem tão elevadas entre estes indivíduos.
Com o intuito de relacionar os níveis baixos de IGF 1 e a ausência de diabetes e câncer em portadores de Síndrome de Laron, realizou-se ensaios onde células humanas foram cultivadas com soro de pacientes com SL e posteriormente induziu-se lesão do DNA por ação de um composto químico. Verificou-se que o soro protegeu as células do dano genético e estimulou a autodestruição de células danificadas como mecanismo que impedir a proliferação exacerbada das mesmas gerando tumores. Estes efeitos foram revertidos quando quantidades pequenas de IGF 1 foram adicionadas ao soro.
Uma linhagem de camundongos criada por John Kopchick da Universidade de Ohio tem um defeito no gene do receptor de hormônio de crescimento, tal como os portadores de SL. Estudos tem demonstrado que estes camundongos vivem 40% mais que os normais.
Embora baixas taxas de IGF 1 sejam benéficas aos indivíduos com SL é importante considerar que algum nível deste hormônio é necessário para proteger estes indivíduos de doenças cardíacas e que a administração de IGF 1 antes da puberdade poderia promover o crescimento normal da musculatura e ossos destes indivíduos, levando a melhoria da qualidade de vida.

Referências:
1. The New York Times. Ecuadorean Villagers May Hold Secret to Longevity. Disponível aqui. Acesso em 23 de fevereiro de 2011.

2. BOGUSZEWSKI, C. L. Genética Molecular do Eixo GH-IGF1. Arq Bras End Met. 45 (2001)

3. TORTORA, G. J.; GRABOWSKI, S.R. Princípios de Anatomia e Fisiologia. 9ed. Guanabara Koogan. Rio de Janeiro. 2002. p 523-524

4. SBEM. Insensibilidade ao Hormônio do crescimento. Disponível aqui
Acesso em 23 de fevereiro de 2011

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