quinta-feira, 29 de abril de 2010

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Interferons do tipo I e tuberculose


Post de Ricardo Khouri
Publicado originalmente no SBlogI
ResearchBlogging.orgMais uma vez, os laços científicos estabelecidos entre o excelente imunologista Dr. Alan Sher e pesquisadores brasileiros trouxeram bons frutos (veja post). Recentemente, a Dra. Lis Antonelli, após um período de dois anos como Visiting Fellow no NIAID Laboratory of Parasitic Diseases, publicou um interessante trabalho sobre o papel dos IFNs do Tipo I (IFN-alfa/beta) endógenos no modelo experimental murino infectado com Mycobacterium (M.) tuberculosis in vivo (Intranasal Poly-IC treatment exacerbates tuberculosis in mice through the pulmonary recruitment of a pathogen-permissive monocyte/macrophage population. J Clin Invest. 2010).
Depois de algumas décadas sendo descritos simplesmente como citocinas antivirais, os IFNs do tipo I (IFN-alpha/beta) ganharam, nos últimos anos, uma atenção considerável como imunomoduladores em doenças infecciosas causadas por agentes como bactérias, fungos e protozoários. No entanto, não há na literatura nenhum papel protetor ou deletério estabelecido nos diferentes modelos experimentais usados para estudar tais doenças infecciosas, apresentando frequentemente efeitos contrastantes quando usados em diferentes doses e/ou regimes de tratamento. 
No estudo realizado por Antonelli et al., camundongos selvagens C57BL/6 foram expostos a concentrações baixas de M. tuberculosis (H37Rv), através de aerosois, e foram tratados por quatro semanas com doses intranasais de Poli ICLC (Poli I:C associado a poli-L-lisina e carboximetilcelulose). O uso de Poli IC associado a poli-L-lisina e carboximetilcelulose prolonga a indução de IFNs do Tipo I in vivo. O tratamento foi iniciado nos grupos animais no primeiro dia (fase aguda) ou no quarto mês após a infecção (fase crônica) e foi capaz de induzir altas concentrações de IFNs do tipo I nos pulmões dos camundongos. O uso do Poli ICLC na fase aguda exacerbou a infecção em 2-log e induziu extensas áreas de necrose nos orgãos pulmonares dos animais. O uso do Poli ICLC na fase crônica da infecção determinou a morte dos animais já no dia 17 após inicio do tratamento. Estes efeitos deletérios não foram observados quando camundongos C57BL/6 depletados do receptor para IFN do tipo I (ifnabr) infectados com M. tuberculosis foram tratados com Poli ICLC.
Interessante, o efeito maléfico do Poli ICLC não estava associado a uma redução na resposta imune do tipo Th1 entre os camundongos tratados ou não. Em ambos os grupos dos camundongos infectados foram detectados as mesmas quantidades de células CD4+CD44+ e CD4+T-bet+ no infiltrado pulmonar e a mesma capacidade dessas células produzirem IFN-gama/TNF-alfa após estimulo in vitro
O papel prejudicial dos IFNs do tipo I foi explicado pelo recrutamento preferencial de uma população macrofágica (CD11b+Gr1int) permissiva a infecção por M. tuberculosis. Antonelli et al., mostraram que a indução da expressão de grandes quantidades da quimiocina CCL2 após o tratamento com Poli ICLC atraía os macrófagos CD11b+Gr1int para o sítio da infecção. Ademais, a permissividade dessas células foi exacerbada pelo tratamento com IFNs do tipo I exógeno in vitro reduzindo a expressão de MHC II e aumentando significativamente a carga parasitária nestes macrófagos.
De acordo com os resultados apresentados neste trabalho, os efeitos deletérios dos IFNs do tipo I, já foram mostrados anteriomente no modelo experimental de leishmaniose humana. Nosso grupo demonstrou que o IFN-beta exógeno era capaz de induzir um aumento significante da carga parasitária dos macrófagos infectados in vitro (Khouri et al., 2009; www.jimmunol.org/cgi/doi/10.4049/jimmunol.0802860). Este aumento foi reflexo da redução na geração de superóxido pelos macrófagos tratados, causado pelo aumento da indução da enzima antioxidante superóxido dismutase 1 (SOD1). 
Assim, a inibição da atividade leishmanicida e bactericida de macrófagos humanos in vitro revela uma semelhança notável do IFN tipo I com o TGF-β, a principal citocina responsável pela desativação de macrófagos. Dessa maneira, os resultados deste trabalho alertam para o uso de adjuvantes para potencialização dos efeitos protetores de vacinas contra microorganismos intracelulares. Como sabemos, muitos dos adjuvantes, assim como o Poli ICLC, utilizam os PRRs (Pathogens Recognition Receptors) para induzir sua ação imunomoduladora e produzir entre muitos fatores, IFNs do tipo I (veja o post Janeway e os PRRs).
Antonelli, L., Gigliotti Rothfuchs, A., Gonçalves, R., Roffê, E., Cheever, A., Bafica, A., Salazar, A., Feng, C., & Sher, A. (2010). Intranasal Poly-IC treatment exacerbates tuberculosis in mice through the pulmonary recruitment of a pathogen-permissive monocyte/macrophage population Journal of Clinical Investigation DOI: 10.1172/JCI40817

Polimorfismo desfuncionalizante no FCGR2B está associado com a proteção contra malária e susceptibilidade ao lúpus eritematoso sistêmico


ResearchBlogging.org
Post de Vitor Mendonça
O lúpus eritematoso sistêmico (LES) é uma doença auto-imune sistêmica que se caracteriza, histologicamente, pelo depósito em diversos órgãos de imunocomplexos contendo tanto imunoglobulinas quanto componentes do complemento. A malária é uma doença infecto-parasitária causada por parasitas do gênero Plasmodium. A incidência de LES é estimada em 12 a 64 casos por 100,000 indivíduos e registram-se 350 a 500 milhões de casos clínicos da malária por ano. 
O gene FCGR2B codifica o receptor Fc gama IIb(FcγRIIb), um receptor IgG expresso em células imunes incluindo células B, células dendríticas, macrófagos e células plasmáticas. Quando ativado, este receptor sinaliza uma cascata de reações que inibe a proliferação celular, fagocitose e a liberação de citocinas pró-inflamatórias. Camundongos depletados de FcγRIIb são propensos à induzir doenças auto-imunes espontâneas com fenótipos que assemelham-se ao LES.
Um SNP “Single Nucleotide Polymorphism” no FCGR2B (rs1050501) codifica uma treonina no lugar de uma isoleucina na posição 232 do domínio transmembrana do FcγRIIb. Estudos in vitro têm mostrado que a forma do receptor com treonina (FcγRIIbT232) carece de ligações lipídicas e,assim, é incapaz de interagir com receptores ativadores e exercer seu efeito inibitório na função celular. A diminuição da função inibitória causada pelo FcγRIIbT232 resulta em maior ativação das celulas B e células mielóides. Apesar deste polimorfismo predispor ao LES, um sistema imune mais ativo pode ser benéfico em resposta à infecção. O objetivo principal do artigo “A defunctioning polymorphism in FCGR2B is associated with protection against malaria but susceptibility to systemic lupus erythematosus” (doi 10.1073/pnas.0915133107) foi avaliar o SNP no FCGR2B (rs1050501) com a proteção contra malária e predisposição ao LES.
  • LES e FcγRIIbT232:  não houve significância estatística na prevalencia de FcγRIIbT232 entre 819 pacientes com LES de Hong Kong e 1,026 controles (OD=1,34; 0,91-1,99). Contudo, em pacientes caucasianos (326 com LES e 1,296 controles), os homozigotos para FcγRIIbT232 foram significantemente associados com LES (P=0,014).
  • Malária e FcγRIIbT232: foram utilizados 684 crianças  com malária e 998 controles. Quando comparadas, crianças homozigotas para FcγRIIbT232 estavam protegidos contra a malária grave (OR=0,50; P=0,001).
  • Bacteremia e FcγRIIbT232: nenhuma associação significativa foi encontrada entre homozigotos para FcγRIIbT232 e proteção contra infecções bacterianas.
Importante questão discutida pelos autores do trabalho refere-se aos camundongos depletados de FcγRIIb  que produzem níveis mais altos de TNF-α tanto durante quanto depois da infecção pelo P. chabaudi chabaudi, assim como macrófagos humanos FcγRIIbT232. Portanto, o TNF-α, cujo papel na imunopatogênese da malária já está bem descrito na literatura, pode ajudar na proteção a esta doença associado com o FcγRIIbT232. Inquietação esta que não foi respondida no trabalho, não havendo comentários de dosagem e correlações com o TNF-α.

Willcocks, L., Carr, E., Niederer, H., Rayner, T., Williams, T., Yang, W., Scott, J., Urban, B., Peshu, N., Vyse, T., Lau, Y., Lyons, P., & Smith, K. (2010). A defunctioning polymorphism in FCGR2B is associated with protection against malaria but susceptibility to systemic lupus erythematosus Proceedings of the National Academy of Sciences DOI: 10.1073/pnas.0915133107

terça-feira, 27 de abril de 2010

Avaliações para inglês ver


Há uma expressão antiga que me atormenta quando preciso fazer algumas “avaliações” atualmente: Para inglês ver. Claramente uma expressão colonizada, fazer algo para que o “civilizado” nos reconheça. Assim de inúteis estão algumas das avaliações que fazemos hoje.
O motivo desta minha alergia recente é uma avaliação que precisei fazer num pedido de bolsa de iniciação científica. Valorizo bastante o programa de iniciação científica (juntamente com a jaboticaba, algo que só existe no Brasil e é excelente) e me preparei com alto ânimo para a tarefa. Frustração total.
O formulário me colocava frente aos abomináveis baremas. Não precisava avaliar nada. Se me pediu somente para contar os trabalhos científicos, orientações etc registrados no CV do orientador. Claramente uma perda de tempo. Como o CV estava em formato eletrônico, e deveria apenas  contar itens, o próprio programa que me exigia isto poderia fazer mais rápido, e com menos erro. Ao ver este exemplo de inutilidade, me perguntei: um programa de iniciação científica valoriza igualmente um trabalho publicado na Science ou Nature e um publicado no Mongolian Journal of Experimental Medicine?   Será que vale mesmo a pena indicar um estudante para ingressar neste sistema???
Como otimista irrecuperável, pensei que pediriam minha avaliação na análise do projeto apresentado. Nova surpresa. Apareceu a informação que o projeto era financiado e eu apenas deveria colocar 10 em todos os itens. Além da continuada decepção, aumentava a humilhação. Se era para colocar 10 em todos os itens, porque deveria ser eu a fazê-lo? Ninguém que elaborou o programa pensou que, se não havia escolha, tudo poderia já ser preenchido pelo próprio programa???? (ainda hoje vejo muita gente pagando para usar programas proprietários sofisticados de edição de texto para fazer o mesmo que faziam nas velhas máquinas dactilográficas – assim, com c mesmo).
No ano passado tive crise semelhante (veja post) em relação à análise de CV. O problema era o mesmo e não houve qualquer alteração. Acabava o post do ano passado com:
Se o julgamento pudesse ser feito por algoritmos e baremas, não precisaríamos de comitês para analisar. Parece que é nisto que alguns desejam chegar. Aqueles que discordamos, devemos reagir (enquanto ainda há tempo)."
Será que ainda há tempo?
Ilustração: Sísifo (de Tiziano), em lembrança aos trabalhos infrutíferos e sem esperança.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Dados atualizados sobre várias doenças no Brasil


Saiu em abril o novo número (ano 10, no. 2) do Boletim Epidemiológico Eletronico (baixe em pdf) da Secretaria de Vigilância Sanitária do Minsitério da Saúde. Há vários dados da situação epidemiológica das zoonoses de interesse para a saúde pública e alguns mapas, gráficos e figuras bem feitas.
Estão apresentados os dados de:
Febre amarela – 2009
Hantavirose – 2009
Raiva – 2009
Doença de Chagas – 2009
Leishmaniose visceral – 2008
Leishmaniose Tegumentar Americana – 2008 (mapa acima)
Leptospirose – 2008
Febre Maculosa – 2008
Animais peçonhentos – 2009 (mapa de ofidismo, abaixo com cículo preto para indicar óbito).


domingo, 25 de abril de 2010

Existe uma hierarquia das ciências?


ResearchBlogging.org
A física está no topo da hierarquia científica, as ciências sociais na base e as ciências biológicas em posição intermediária. Esta idéia é “assumida” por muita gente, inclusive cientistas. Os físicos dizem que ela é “intuitiva” e está refletida em vários aspectos da vida acadêmica. Muitas vezes dita na forma que as ciências físicas são mais duras. 
A “dureza” das ciências é assumida pelo grau com que os seus resultados são determinados por dados e teorias no lugar por fatores não cognitivos. Lembre que a idéia de medicina baseada em evidências não é muito antiga, ainda há quem faça medicina mais como arte. 
Mas, qual o embasamento científico da afirmativa desta hierarquia científica. Os resultados e teorias da física são mesmo mais baseados em dados sólidos? Um artigo recente na PLoS ONE, provocativamente intitulado “Positive” Results Increase Down the Hierarchy of the Sciences, analisa esta questão. O estudo analisou 2.434 trabalhos de várias disciplinas que declaravam haver testado uma hipótese e determinaram quantos trabalhos haviam chegado a resultados “positivos” ou “negativos” para confirmação da hipótese. Eles assumiram que se a hierarquia científica estiver correta os pesquisadores de ciências menos “duras”, por terem menos restrições aos seus vieses conscientes ou inconscientes terão mais resultados positivos.
Os dados mostrados confirmaram a hipótese, para disciplinas, campos científicos e metodologias. Há vários elementos que foram considerados na análise, como as diferenças entre disciplinas puras e aplicadas, teste de mais de uma hipótese. 
O quadro geral (Figura 1 do trabalho e reproduzida acima) por disciplina indica diferenças interessantes:
the odds of reporting a positive result were around 5 times higher among papers in the disciplines of Psychology and Psychiatry and Economics and Business compared to Space Science …. In all comparisons, biological studies had intermediate values.”
Eles concluem que a natureza das hipóteses testadas e a lógica e o rigor empregado para testá-las variam de forma sistemática entre disciplinas e campos científicos e que há uma hierarquia sim.
O que acham da posição da imunologia?

Fanelli, D. (2010). “Positive” Results Increase Down the Hierarchy of the Sciences PLoS ONE, 5 (4) DOI: 10.1371/journal.pone.0010068

Livros que você pode alterar digitalmente


Você gosta do livro, disponível on line, mas gostaria de alterar algumas partes. Isto será possível em breve, pelo menos para textos didáticos. Creio que haverá resistência para os textos de literatura, mas tudo é possível.
Segundo o NY Times, de 22 de abril, a Macmillan lançará até agosto o software DynamicBooks
“Professors will be able to reorganize or delete chapters; upload course syllabuses, notes, videos, pictures and graphs; and perhaps most notably, rewrite or delete individual paragraphs, equations or illustrations.”
Parece bem interessante a possibilidade.

sábado, 24 de abril de 2010

Boa revisão sobre adjuvantes


ResearchBlogging.org
Recebi de Bruno Andrade uma cópia da revisão sobre adjuvantes recém publicada no BMC Biology intitulada Immune mechanisms of protection: can adjuvants rise to the challenge?, a revista tem acesso livre e o artigo vale a leitura.
Além de uma mini-revisão com ilustração de aspectos do sistema imune (figura acima) a revisão contem uma tabelas (ilustrado abaixo) muito bem organizadas sobre a situação atual de uso humano e mecanismos propostos para a ação dos adjuvantes.

McKee, A., MacLeod, M., Kappler, J., & Marrack, P. (2010). Immune mechanisms of protection: can adjuvants rise to the challenge? BMC Biology, 8 (1) DOI: 10.1186/1741-7007-8-37

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Feliz Eyjafjallajokull pra você também

Se alguém me dissesse Eyjafjallajokull, até poucos dias atrás, eu responderia como acima (num bar, talvez respondesse: A mãe de quem?). Agora, depois que o inferno teve um pequeno vazamento no fim do mundo, bastante mais ilustrado sobre o poder dos vulcões sobre o tráfego aéreo, sei que se trata de um vulcão na Islândia (um país que é quase uma ficção científica para mim).
Como a gente sempre pode saber muito mais sobre algo, segue uma lista:
se o seu interesse é se divertir, clique aqui para o 'Eyjafjallajokull Rap';
se deseja ver algumas imagens, até o YouTube.
se você é uma pessoa, séria e quer conhecer mais sobre o impacto econômico da erupção, veja o relatório da Stratfor, que a mana Juçara Parra me enviou. Entre outras coisas, você vai saber que a Islândia tem mais três buraquinhos do inferno e todos com nomes mais simples. Escolher este para "eruptar" foi só para testar a nossa capacidade de falar islandês.

Bio-text, excelente recurso: Procura de textos científicos com figuras e tabelas


ResearchBlogging.org
Não sei o que vocês pensam, mas uma das primeiras coisas que procuro numa publicação são as figuras. Delas depende muito a minha decisão de ler ou não o artigo completo. Contudo a maioria das buscas não nos dá uma preview das figura; aparece título, autores e revistas. Abrir cada um deles consome bastante tempo. Assim, nossa decisão de buscar o artigo completo depende muito do prestígio da revista e do autor e do título.
Há, já algum tempo, foi lançado o Bio-text, uma ferramenta de busca de textos científicos permite buscar o resumo, figuras com legendas e tabelas para uma visão prévia. O programa, livre, busca em artigos da área biológica publicados em revistas com acesso livre.
“Developed as part of the BioText project at the University of California, Berkeley, the BioText Search Engine is a freely available Web-based application that provides biologists with new ways to access the scientific literature.
The interface has been carefully designed according to usability principles and techniques. The system uses Lucene for the underlying indexing, and users can use all the Lucene operators in their search queries.
The search engine is a work in progress and more functionality is being added over time.”
Os responsáveis pelo Bio-Text publicaram recentemente na PLoS One um artigo ("Full Text and Figure Display Improves Bioscience Literature Search"; doi 10.1371/ journal.pone.0009619) sobre o uso do Bio-Text. Nele descobri que estou com a maioria, 19 dos 20 participantes desejam que um programa de busca que apresente as figuras, além dos resultados de texto.
Um ponto importante é que para que um sistema deste funcione é necessário que os artigos sejam publicados em acesso livre, pois exige acesso ao texto completo dos documentos e das restrições para mostrar figuras.
Há pouco republicamos um post sobre um outro sistema de busca por textos científicos similares, o eTBLAST.

Divoli, A., Wooldridge, M., & Hearst, M. (2010). Full Text and Figure Display Improves Bioscience Literature Search PLoS ONE, 5 (4) DOI: 10.1371/journal.pone.0009619

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Prêmio
Prof. Wroclawski 
2010, para publicações


A revista einstein, publicação científica oficial do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein, premiará artigos científicos originais na área da saúde, submetidos à revista, no período de 16/08/2009 até 31/07/2010.
Objetivo:
Fomento e divulgação de estudos nacionais nas categorias de Ciências Básicas e Medicina Experimental, Medicina Clínica, Medicina Cirúrgica e Saúde Multiprofissional.
Regulamento:
Os trabalhos deverão ser completos e originais, formatados como artigo científico conforme instruções descritas no site da einstein.

Maiores detalhes no site do Prêmio. 

Perigos da leitura

"Quando lemos, outra pessoa pensa por nós: repetimos apenas o seu processo mental. Ocorre algo semelhante quando o estudante que está a aprender a escrever refaz com a pena as linhas traçadas a lápis pelo professor. Sendo assim, na leitura, o trabalho de pensar é-nos subtraído em grande parte. Isso explica o sensível alívio que experimentamos quando deixamos de nos ocupar com os nossos pensamentos para passar à leitura. Porém, enquanto lemos, a nossa cabeça, na realidade, não passa de uma arena dos pensamentos alheios. E quando estes se vão, o que resta? Essa é a razão pela qual quem lê muito e durante quase o dia inteiro, mas repousa nos intervalos, passando o tempo sem pensar, pouco a pouco perde a capacidade de pensar por si mesmo - como alguém que sempre cavalga e acaba por desaprender a caminhar. 
Tal é a situação de muitos eruditos: à força de ler, estupidificaram-se. Pois ler constantemente, retomando a leitura a cada instante livre, paralisa o espírito mais do que o trabalho manual contínuo, visto que, na execução deste último, é possível entregar-se aos seus próprios pensamentos. No entanto, como uma mola que, pela pressão constante acarretada por meio de um corpo estranho, acaba por perder a sua elasticidade, também o espírito perde a sua devido à imposição contínua de pensamentos alheios. E, do mesmo modo como uma alimentação excessiva causa indigestão e, consequentemente, prejudica o corpo inteiro, pode-se também sobrecarregar e sufocar o espírito com uma alimentação mental excessiva. 





Pois, quanto mais se lê, menos vestígios deixa no espírito aquilo que se leu: a mente transforma-se em algo semelhante a uma lousa, à qual encontram-se escritas muitas palavras, umas sobre as outras. Por isso, não se chega à ruminação (ou melhor, o afluxo intenso e contínuo do conteúdo de novas leituras serve apenas para acelerar o esquecimento do que se leu anteriormente): entretanto, apenas esta permite assimilar o que foi lido, do mesmo modo como os alimentos nos nutrem não porque os comemos, mas porque os digerimos. Se, ao contrário, lê-se continuadamente, sem mais tarde pensar a respeito do que se leu, o conteúdo da leitura não cria raízes e, na maioria das vezes, perde-se. Em geral, o processamento da alimentação mental não difere daquele da alimentação corporal: apenas a cinquentésima parte do que se consome chega a ser assimilada; o restante é eliminado por meio da evaporação, da respiração ou similares. 
A tudo isso soma-se o facto de que os pensamentos transportados para o papel não são nada além de uma pegada na areia: pode-se até ver o caminho percorrido; no entanto, para saber o que tal pessoa viu ao caminhar, é preciso usar os próprios olhos." 

Arthur Schopenhauer, in 'Da Leitura e dos Livros'


Esta pérola, em perfeito luso, me foi enviada por Lucas Nogueira. Pelos vistos o gajo anda a ler bem, cuide-se pois.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Procura de textos científicos similares


Esta é uma republicação de post do ano passado, que acho que teve pouco uso, apesar de sua importância:

Dica rápida sobre um instrumento (eTBLAST) de busca de textos similares no Medline. A busca é feita pela similaridade de texto. Enquanto o Pubmed busca por palavras-chave, no eTBLAST você pode colocar um parágrafo inteiro.
Qual a vantagem?
Você não precisa escolher palavras precisas. Coloca o texto todo e a busca tende a ficar mais precisa pois encontra artigos relacionados que trazem as mesmas palavras.
Onde pode usar?
Ao preparar o Abstract de um novo artigo você pode fazer um blast do texto e ver se não esqueceu algum artigo com texto similar, e com grande chance de ser relevante.
Em breve o eTBLAST incluirá busca de patentes do USPTO.
Um artigo recente da Nature, relata o uso do eTBLAST para identificar o problema ético de cópia de texto (plágio) em artigos científicos: “Are scientists publishing more duplicate papers? An automated search of seven million biomedical abstracts suggests that they are.”
Bom uso!

Ilustração: de D. Parkins

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Leishmaniose: Da bancada à beira do leito

Diapositivos (ou melhor, filme dos) da apresentação de Aldina na XXI Jornada de Parasitologia e Medicina Tropical do Maranhão em São Luis:

domingo, 18 de abril de 2010

Células tronco não funcionam no coração










Artigo recente no Science Translational Medicine (Challenges in Using Stem Cells for Cardiac Repair; doi 10.1126/scitranslmed.3000558) com participação do pesquisador brasileiro Jose Krieger (do Incor) indica que os experimentos têm chegado a resultados pouco promissores. Eles dizem que os resultados clínicos de longo prazo são desapontadores.


Veja o resumo:
“Of the many diseases discussed in the context of stem cell therapy, those concerning the heart account for almost one-third of the publications in the field. However, the long-term clinical outcomes have been disappointing, in part because of preclinical studies failing to optimize the timing, number, type, and method of cell delivery and to account for shape changes that the heart undergoes during failure. In situations in which cardiomyocytes have been used in cell therapy, their alignment and integration with host tissue have not been realized. Here we review the present status of direct delivery of stem cells or their derivative cardiomyocytes to the heart and the particular challenges each cell type brings, and consider where we should go from here.”
Após apontar várias possíveis causas para os problemas enfrentados, os autores mostram que não perderam a esperança:
“Adult stem cells appear to be preferable in terms of safety and potential to be autologous, even if they do not form cardiomyocytes. The focus should be on identifying the mechanisms of any improvement, however small, and finding the best cell type, number, and timing of delivery to optimize that process.”
 Na frase O foco deve ser a identificação de mecanismos de alguma melhora, ainda que modesta... esta última expressão parece indicar que o entusiasmo não é grande no campo.
Mummery, C., Davis, R., & Krieger, J. (2010). Challenges in Using Stem Cells for Cardiac Repair Science Translational Medicine, 2 (27), 27-27 DOI: 10.1126/scitranslmed.3000558

sábado, 17 de abril de 2010

Temos o dever ético de eliminar a poliomielite?


Publicado originalmente no Blog da SBI.
ResearchBlogging.org
Um artigo recente do The Lancet levanta esta questão (Is there an ethical obligation to complete polio eradicationdoi:10.1016/S0140-6736(10)60565-X).
Claudia Emerson e Peter Singer comentam sobre o debate entre as posições de erradicação e de “controle efetivo”. Vários grupos têm se posicionado contra a erradicação. Seus argumentos são baseados em análise de risco e benefício, o equilibrio entre o bem individual e o coletivo, o consentimento esclarecido etc.
Quais os argumentos éticos a favor da erradicação? Segundo os autores, eles têm sido pouco divulgados e eles propõem:


  • A falta de erradicação resulta em dano e é uma obrigação moral evitar o dano prevenível;


  • A completa erradicação poupa as futuras gerações dos danos  associados à poliomielite;


  • Já há um compromisso moral reconhecido de expandir a saúde pública como um bem público global.
O texto expande nestes tópicos e traz muitos pontos relevantes. Vale a pena a leitura. Afinal, vacina é um dos grandes avanços resultantes do conhecimento imunológico. Discutir o tema de vacina pressupõe algo para além do estímulo do sistema imune.
Emerson, C., & Singer, P. (2010). Is there an ethical obligation to complete polio eradication? The Lancet, 375 (9723), 1340-1341 DOI: 10.1016/S0140-6736(10)60565-X

Pesquisas com seres humanos: projeto de lei ainda em debate

Veja o texto do JC e-mail 3991, de 16 de Abril de 2010 e alguns comentários decorrentes de reunião de pesquisadores da FIOCRUZ na Bahia:
"O Projeto de Lei 2473/2003, que regulamenta a realização de pesquisas com seres humanos, foi debatido na terça-feira (13/4) em audiência pública na Câmara. Segundo a relatora do projeto, deputada Cida Diogo (PT-RJ), o texto deverá ser revisto e seguir o trâmite com um substitutivo.
Para a deputada, o PL original, proposto por Colbert Martins (PPS-BA), é muito detalhista e, por isso, deve ser simplificado para poder ser aplicado em longo prazo e não engessar as pesquisas. Além disso, a petista defende a retirada de punições do texto.
Martins acredita que as pesquisas que envolvam seres humanos só devem ser admissíveis quando oferecerem possibilidade de gerar conhecimento para entender, prevenir ou aliviar um problema que afete o bem-estar.
No texto entregue à Câmara em 2003, o deputado define conceitos, regulamenta a atividade e chega a tipificar crimes, sem prejuízo a sanções previstas no Código Penal e em leis especiais.
"Nós temos condições de construir uma alternativa que concilie os dois projetos, para que o país possa avançar", disse Cida Diogo durante a audiência.
Para a vice-presidente da SBPC, Helena Nader, o debate em torno do projeto fortalece a democracia brasileira, mas afirma que país precisa de "uma lei objetiva, clara, que dê dispositivos legais de punição quando necessários.
Atualmente, a pesquisa com seres humanos é regulamentada por 599 comitês de ética coordenados pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), criada em 1996 e que, por sua vez, responde ao Conselho Nacional de Saúde (CNS). O substitutivo de Cida Diogo passa ao CNS e à Conep a responsabilidade de regulamentar o setor.
Segundo a coordenadora da Conep, Gysélle Saddi Tannous, muitas pessoas se candidatam a participar de pesquisas quando estão em estado de desespero financeiro, o que as fazem colaborar sem fazer questionamentos.
Para Helena Nader, é necessário melhorar e não acabar com os comitês de ética. "Nos 14 anos de funcionamento do sistema CEP/Conep fica evidente o impacto positivo para o usuário do sistema de saúde bem como para o avanço do conhecimento e melhoria incontestável na produção científica das áreas da saúde e para a sociedade. No entanto, o sistema Cep/conep necessita adequações em especial no tempo de tramitação dos processos" afirma.
Em reunião de pesquisadores do CPqGM (FIOCRUZ-Bahia) entendemos que a inclusão da ANVISA, como definidora das sanções cabíveis quando houver inobservância dos protocolos aprovados pelo sistema CEP/Conep, extrapola as funções previstas para ela.

Pela proposta do deputado Colbert Martins, o responsável será obrigado por lei a suspender os trabalhos imediatamente ao perceber algum risco ou dano à saúde do participante da pesquisa - por sua vez, o paciente pode desistir a qualquer tempo da pesquisa. Tal procedimento já existe hoje, mas não há lei que o regulamente.
O CPqGM propõe que a Legislação designe o Ministério da Saúde como responsável pela definição das sanções, podendo ao seu interesse delegá-lo a outro órgão, desde que exerça supervisão adequada do desempenho.

O bioeticista e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Dirceu Bartolomeu Greco afirmou que o sistema de proteção a participantes de pesquisas funciona de maneira eficiente no Brasil, há 14 anos. Ele defendeu a criação de legislação que proteja o País de pressões de empresas multinacionais farmacêuticas, que querem alterações no sistema atual.
Para os pesquisadores do CPqGM, a versão do Projeto consolidada pela Deputada Cida Diogo representa o anseio da comunidade científica, visto que legitima o Sistema CEP/Conep (Comitê de Ética em Pesquisa/Comissão Nacional de Ética em Pesquisa) como regulamentador das pesquisas envolvendo seres humanos.

Para o secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Reinaldo Guimarães, é urgente a necessidade de regulamentar a pesquisa com seres humanos no Brasil. Ele disse que a decisão de realizar pesquisas de produtos médicos parte sempre de multinacionais farmacêuticas. Assim, a única autonomia do País é justamente garantir pesquisas feitas de forma ética.
(Marcelo Medeiros, do Jornal da Ciência, com informações da Agência Câmara)"
Na reunião do CPqGM foi importante também a menção à necessidade de avaliação e acompanhamento das atividades da CONEP: 
"... decorrente dos repetidos problemas enfrentados pela comunidade científica quando à eficiência da CONEP, sugere que o Art. 2º do substitutivo, inclua nas atribuições do CNS o acompanhamento e a avaliação do desempenho da CONEP, ampliando, assim, os termos atuais  constantes do substitutivo e que citam o estabelecimento de diretrizes e normas referentes à revisão ética das atividades de pesquisa em saúde com seres humanos."