sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Vírus e parasitas alteram o odor do hospedeiro?


ResearchBlogging.org
Que certas doenças levam à alteração dos odores do pacientes é sabido há muito tempo. Antes da existência do sofisticado armamentário diagnóstico os médicos usavam o olfato como uma das formas de chegar ao diagnóstico da doença.  Muitas doenças têm um odor característico e isto decorre da alteração do metabolismo e produção de produtos voláteis que podem ser percebidos na respiração ou transpiração. Quanto destas alterações podem se dever aos agentes causadores da doença? Neste caso, a alteração do odor é capaz de modificar o comportamento dos insetos vetores?
Um artigo recém publicado no PNAS, Deceptive chemical signals induced by a plant virus attract insect vectors to inferior hosts (DOI 10.1073/pnas.0907191107), trata deste tema em plantas infectadas pelo Cucumber mosaic virus (CMV). O aspecto central analisado é a alteração dos compostos voláteis das plantas infectadas, pois estes produtos são fundamentais para a atração dos vetores. A infecção do zuchini (Cucurbita pepo cv. Dixie) pelo CMV aumenta a atração de afídeos devido ao aumento da produção de produtos voláteis. Contudo, a infecção também reduz a qualidade da planta hospedeira. Os afídeos são intensamente atraídos, mas rapidamente emigram. Como isto afeta o vírus? 
“Thus, ... a pattern highly conducive to the nonpersistent transmission mechanism employed by CMV and very different from the pattern previously reported for persistently transmitted viruses that require sustained aphid feeding for transmission. …
our results suggest that the transmission mechanism is a major factor shaping pathogen-induced changes in host-plant phenotypes.”
Na interação entre vetores e vertebrados o odor também tem uma participação importante. O Anopheles gambiae é o principal transmissor da malária na África sub-saariana e ele localiza o homem pelo olfato. Petter Entringer publicou um post recente neste blog sobre “iscas” capazes de atrair o Anopheles mais que o homem. Tais abordagens decorrem do conhecimento das bases moleculares da atração dos vetores pelo odor. Um artigo recente “Odorant reception in the malaria mosquito Anopheles gambiae”, publicado na Nature (DOI 10.1038/nature08834), caracteriza o repertório de receptores de odor do A. gambiae e identifica receptores que respondem fortemente aos odores humanos e podem ter um papel no reconhecimento do homem.  Ademais comparam estes achados com o repertório da Drosophila melanogaster, que não apresenta atração pelo homem. 
Na discussão, os autores indicam que foi possível identificar receptores promissores e que podem ter impacto em medidas de controle da malária.
“Notably, some receptors that respond to human odorants are narrowly tuned and highly sensitive. Reciprocally, some notable odorants elicit strong responses from one or a few receptors. These highly focused relationships between certain odorants and receptors suggest a role for specific transmission channels in guiding the animal’s behaviour. A recent study of the D. melanogaster antennal lobe documented lateral inhibitory interactions that increased with greater total ORN input 43. Odorants that excite few receptors in the mosquito may produce signals that suffer less inhibition and enjoy more saliency. Another study found that ablation of either of two narrowly tuned ORN classes impaired behavioural attraction to their cognate odorants 44.”
No caso da leishmaniose, uma artigo de 2008, do grupo do Prof. Jailson Andrade “Headspace solid phase microextraction/gas chromatography-mass spectrometry combined to chemometric analysis for volatile organic compounds determination in canine hair: a new tool to detect dog contamination by visceral leishmaniasis” (DOI 10.1016/j.jchromb.2008.09.028) descreveu uma nova metodologia para avaliação do perfil de moléculas exaladas por pelos de cães, comparando cães mormais com animais infectados por Leishmania infantum. Os autores descrevem que foi possível separar cães sadios de infectados pela diferença em 2-hexanone, benzaldehyde, and 2,4-nonadienal. Assim, usando um método não invasivo e indolor se abre a perspectiva de identificação de biomarcadores para diagnóstico de leishmaniose canina.
Tudo isto mostra que os odores são importantes na atração de vetores e que há uma alteração do perfil de moléculas voláteis no curso de algumas enfermidades. Tais achados ocorrem para vertebrados e plantas, o que sugere uma vantagem seletiva muito forte.

Mauck, K., De Moraes, C., & Mescher, M. (2010). Deceptive chemical signals induced by a plant virus attract insect vectors to inferior hosts Proceedings of the National Academy of Sciences, 107 (8), 3600-3605 DOI: 10.1073/pnas.0907191107

Carey, A., Wang, G., Su, C., Zwiebel, L., & Carlson, J. (2010). Odorant reception in the malaria mosquito Anopheles gambiae Nature DOI: 10.1038/nature08834

DEOLIVEIRA, L., RODRIGUES, F., DEOLIVEIRA, F., MESQUITA, P., LEAL, D., ALCANTARA, A., SOUZA, B., FRANKE, C., PEREIRA, P., & DEANDRADE, J. (2008). Headspace solid phase microextraction/gas chromatography–mass spectrometry combined to chemometric analysis for volatile organic compounds determination in canine hair: A new tool to detect dog contamination by visceral leishmaniasis Journal of Chromatography B, 875 (2), 392-398 DOI: 10.1016/j.jchromb.2008.09.028

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