terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Aedes sem asas podem controlar a dengue?


ResearchBlogging.org
Foi divulgado no early view do PNAS o artigo “Female-specific flightless phenotype for mosquito control” de Fu et al. (doi: 10.1073/pnas.1000251107) que relata a obtenção de fêmeas de Aedes aegypti sem asas, o que as torna efetivamente estéreis pois a reprodução da espécie depende do barulho feito pelas asas para atração dos machos. Isto pode ser uma estratégia para o controle da dengue?
A dengue continua a representar importante problema de saúde pública, com estimativas de 50 a 100 milhões de novas infecções por ano, e o Aedes aegypti é o principal vetor do vírus da dengue. O controle deste mosquito é considerado central nas estratégias de controle da dengue. As estratégias de controle do Aedes envolvem pulverização de inseticidas, com impacto sobre outras espécies e sobre o meio ambiente. Por isto, são buscadas outras alternativas.
A estratégia de liberação de machos estéreis (por irradiação) é utilizada em diversas situações. A biofabrica MoscaMed em Juazeiro (Bahia) produz machos estéreis de insetos que representam pragas da agricultura. Visa principalmente o controle da mosca Ceratitis capitata ou mosca de mediterrâneo (moscamed) que coloca seus ovos no interior das frutas. 
No trabalho discutido agora, os Aedes transgênicos foram desenvolvidos para que as fêmeas não desenvolvessem asas baseado no uso de promotor indireto para o músculo da asa, fêmea-específico, do gen Actina-4 do Aedes aegypti. Com isto se elimina a necessidade de irradiação e ao mesmo tempo é possível o uso dos ovos, para liberação no ambiente, e não de insetos adultos. Há várias vantagens nisto. Os ovos são mais facilmente transportados e sofrem menos na sua liberação no campo. Espera-se que com tal estratégia seja possível liberar um número tão grande de Aedes incapazes que estes superem os selvagens na área endêmica.
O aspecto da capacidade de sobrevivência no campo e sua maior capacidade de multiplicação e sobrevivência que o organismo selvagem é justamente o ponto fraco deste estudo. Em 2007, o grupo do Prof. Marcelo Jacobs-Lorena publicou no PNAS um artigo sobre mosquitos resistentes à malária (Transgenic malaria-resistant mosquitoes have a fitness advantage when feeding on Plasmodium-infected blood; PNAS 27;104(13):5580-3, 2007 doi: 10.1073/pnas.0609809104) onde descrevem a estratégia de introdução de gens que prejudicam o desenvolvimento do Plasmodium nos mosquitos. Eles haviam demonstrado que anofelíneos que expressam o peptídeo SM1 na luz do intestino médio têm prejuízo na transmissão de Plasmodium berghei. Um aspecto que os autores destacam no artigo é que os mosquitos transgenicos devem manter o fitness, não apresentando um desempenho menor que os selvagens, pois do contrário teriam dificuldade de sobrepujar os mosquitos selvagens e assim promover o controle. No caso do trabalho eles demonstram que os mosquitos transgênicos têm maior fecundidade e menor mortalidade que os selvagens. 
Os autores reconhecem a limitação:
“Further studies are needed to assess the mating competitiveness of males of specific strains, and their operational effectiveness in suppressing wild mosquito populations.”
De todo modo, e como também reconhecido pelos autores, estes Aedes transgênicos, mesmo se demonstrarem fitness apropriado em condições de campo, precisam ser integrados numa estratégia de controle e terão pouca utilidade se empregados isoladamente.
Ilustração Fig. 2 (parte) do artigo: Male and female adults (OX3604C þ tRE-DsRed) under white (E) and fluorescent light (F). Strong red fluorescence is visible in the IFMs of females, but not of males.
Fu, G., Lees, R., Nimmo, D., Aw, D., Jin, L., Gray, P., Berendonk, T., White-Cooper, H., Scaife, S., Kim Phuc, H., Marinotti, O., Jasinskiene, N., James, A., & Alphey, L. (2010). Female-specific flightless phenotype for mosquito control Proceedings of the National Academy of Sciences DOI: 10.1073/pnas.1000251107

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