Poucos professores universitários no Brasil têm um preparo adequado para a própria tarefa de ensinar. Em muito casos, praticamente em todos, a seleção para o ensino superior é feita majoritariamente com base na competência da área profissional, e marginalmente nos aspectos didáticos. Dois aspectos relacionados com ensino são particularmente avaliados nos concursos: a experiência de ensino registrada no Curriculum e a realização de uma prova didática. Quanto à experiência docente prévia, a análise da banca se limita a computar se o candidato tem experiência didática e por quanto tempo. Pouco se pergunta se a experiência anterior foi frutífera. Avaliar se a experiência foi relevante para os alunos, nem pensar! Afinal há pouca experiência de avaliação dos docentes pelos discentes. Em relação à prova didática, outra calamidade. Na maioria das vezes, a prova didática consiste em proferir uma aula expositiva de 50 minutos, muito embora todos os manuais modernos de didática recomendem evitar este tipo de aula. Assim, seleciona-se com base no que NÃO deve ser feito.
Considerando o panorama descrito, pode parecer ociosa a preocupação de que trata o artigo Learning to Teach Online: Creating a Culture of Support for Faculty, o qual reconhece que a oferta de cursos online aumenta na educação superior e que é necessário facilitar aos professores ao desenvolvimento de novas habilidade pedagógicas. O artigo revê a literatura atual sobre as preocupações e as práticas recomendadas nesta área e relata sobre um programa de suporte institucional para capacitação dos professores.
Veja alguns trechos:
“Respondents were asked to rate themselves on a scale of 1–5 for confidence in online teaching (1 = not at all confident , 5 = highly confident). Sixty five percent rated themselves at a 4 or a 5; the mean score was 3.84.”
“Several examples from this study confirmed previous findings and best practices. Speck’s (2000) call for adequate faculty preparation before online teaching was consistent with the high value this survey’s respondents placed on their preparation, whether it came from their peers or from other sources.”
“Components of an effective model for faculty development therefore include a course release and/or a learning stipend, LIS-specific training in instructional design and online pedagogical skills, and structured mentoring. The importance of a strong program-level support structure which accounts for the special needs of LIS emerged as a recurring thread throughout the survey responses and should be an integral component of this model. The importance of a culture of support for innovation is indicated in the best practice literature and is supported by the findings in this study.”
Em relação ao ensino baseado na internet na área médica, Bruno Andrade me alertou para um artigo recente da BMC Medical Education, Internet-based medical education: a realist review of what works, for whom and in what circumstances. O artigo faz uma revisão sistemática qualitativa da literatura no tema para identificar modelos de ensino teóricos de como a internet pode dar suporte ao ensino. Para isto eles selecionaram estudos que usassem a internet como suporte à aprendizagem, envolvesse médicos ou estudantes de medicina e que contivessem uma avaliação formal.
Após a análise de 249 artigos, eles identificaram duas teorias que explicavam a satisfação dos estudantes e dos desfechos. Falar sobre estes modelos fica para quem entende destes aspectos, limitar-me-ei a destacar alguns dos resultados e das conclusões do autores. Algumas delas são que os estudantes aceitavam mais facilmente um curso que oferecesse uma vantagem clara sobre alternativas disponíveis sem o uso da internet e que a “interatividade” só levou ao aprendizado efetivo se os estudantes tivessem possibilidade de estabelecer diálogo, com tutores, outros estudantes ou tutoriais virtuais;
A primeira conclusão do trabalho foi que diferentes formas de curso se adaptam a estudantes diferentes em contextos diferentes. Esta reproduzo ipsis verbis “Different modes of course delivery suit different learners in different contexts.” pois é candidata a aparecer no Medical News of the Obvious do blog ACP Internist.
Ao escolher um curso oferecido pela internet (ou preparar um curso) avalie se as suas necessidades e prioridades são compatíveis com os atributos técnicos do curso. Os autores propõem as questões da tabela abaixo para ajudar na decisão:
“Five questions for developers and prospective learners to ask of an Internet-based course
Technology acceptance
1. How useful will the prospective learners perceive the Internet technology to be?
For example, in any particular context and compared to what is currently available to them, to what extent will this technology
- Increase their access to learning?
- Provide consistent, high-quality content?
- Be a convenient format in which to receive their education?
- Save them money?
- Save them time?
- Link to course assessment?
- How easy will the prospective learners find this technology to use?
- How well does this format fit in with what learners are used to and expect?
Achieving interactive dialogue
- How will high-quality human-human (learner-tutor and learner-learner) interaction and feedback be achieved?
- For example what use will be made of
a. Structured virtual seminars?
b. Email, bulletin boards?
c. Real-time chat?
d. Supplementary media e.g. video, audio, phone calls, videoconferencing?
e. Course assessment and feedback on performance?
How will high-quality human-technical interaction and feedback be achieved? For example what use will be made of
- Questions with automated feedback?
- Simulations?”
Provavelmente iniciativas deste tipo também são necessárias entre nós. Caso alguém tente, sugiro não esquecer de colocar no programa uma “revisão” dos conceitos básicos sobre o processo ensino-aprendizagem (o que já era conhecido antes dos cursos online). Aposto que será muito útil. Adicionalmente, será bom pensar também em como motivar os professores para se submeter à capacitação. Um terço se afasta por pavor ao ensino à distância (se fosse só à distância o problema seria menor), um terço pensa que já sabe tudo o que será ensinado e o outro terço tem certeza que poderia até ensinar aos instrutores do curso.
KKKKK
ResponderExcluirO último parágrafo foi muito forte. Há colegas que não irão gostar...
Abraço
Não se preocupe Bruno. Estes, dificilmente, chegarão ao final do texto....
ResponderExcluirOlá professor,
ResponderExcluirExcelente post!
Acho que não me encaixo em nenhum dos "terços" acima :)
Semestre passado fui convidada para criar a disciplina de Imunologia on line para a Licenciatura em Biologia pela UAB (eu que nem licenciada sou...).Já tinha ouvido falar no Moodle, sabia muito pouco. Fiz o curso de formação de professores para o EAD e o de criação de disciplinas on-line. Tudo na Faculdade de Educação. Sofri bastante e aprendi muito por achar que não sabia nadinha do processo. Comprei livros, li textos e agora vou apresentar a disciplina para os tutores presenciais e on line. A disciplina será oferecida agora e ao final do semestre vou descobrir de tive competência para tanto... Nisso, mudei também a disciplina presencial que terá atividades complementares no Moodle. Sou defensora do EAD feito com seriedade!
Bom final de semana!
Ainda bem Cecília que vc não se encaixa nos terços. Há poucos assim e são o futuro da Universidade.
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