segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Isca capaz de atrair o Anopheles mais que o odor humano



ResearchBlogging.org
Post de Petter Entringer
Um aspecto significante do comportamento de insetos hematófagos é a busca pelo hospedeiro vertebrado na tentativa de localizar a fonte alimentar. Para muitos desses insetos que são vetores de doenças, o sucesso da busca poder resultar não apenas na obtenção do alimento, mas também na transmissão de agentes patogênicos. 
Os dípteros se utilizam de órgãos de alta sensibilidade para rastrear agentes químicos e físicos oriundos dos hospedeiros. Mosquitos por exemplo, através de órgãos olfatórios percebem a presença e são atraídos por produtos do metabolismo, como CO2, ácido lático e amônia liberados pela pele, suor e respiração de vertebrados.  
Os agentes e características destes processos têm despertado o interesse de pesquisadores devido a sua importância para a epidemiologia de doenças como a malária, dengue e febre amarela transmitidas por mosquitos de diversos gêneros, durante a alimentação no homem. Uma das abordagens mais empregadas é a identificação e síntese in vitro de odores que podem ser reformulados para elaboração de misturas que “mimetizam” humanos, para atrair mosquitos. 
Em janeiro, a PLoS ONE publicou um trabalho de Fredros Okumu e colaboradores – Development and field evaluation of a synthetic mosquito lure that is more attractive than humans, volume 5, Issue 1, e8951 – no qual além de sintetizarem odorantes atrativos a Anopheles gambiae sensu stricto , vetor da malária, pela primeira vez testaram os agentes no ambiente natural desses insetos e não apenas em laboratório.  A eficácia da mistura composta por amônia, ácido lático, gás carbônico e ácidos carboxílicos alifáticos em competir com humanos – voluntários locais – foi testada em uma vila com altas taxas de transmissão de malária no interior da Tanzânia.
Quando a atração a cabanas distantes 10 a 100 metros uma das outras, foi comparada, aquelas que abrigavam apenas a mistura de odorantes atraíram mais mosquitos, incluindo anophelinos e culicídeos, do que as cabanas onde estavam apenas homens, demonstrando eficácia da mistura na competição a longa distância. Além disso, cabanas que continham homens e odorantes atraíram mais mosquitos do que aquelas que abrigavam apenas homens. Por outro lado, quando a comparação foi feita no interior de cabanas que abrigavam tanto homens quanto a mistura odorante, as diferentes espécies de mosquitos foram atraídas de forma igual ou preferencialmente para os homens. Na competição a curta distância, parece que a eficácia da mistura sintética foi suplantada pela relação forjada durante milhares de anos pela evolução. 
Os autores discutem a capacidade desse odorante sintético a atrair mosquitos da mesma maneira que odores humanos, mesmo sem conter todos os componentes biologicamente ativos naturalmente liberados pelos homens. Destacam também a atuação da mistura como atrativo competidor em longa distância, que poderia ser empregada para atrair mosquitos para armadilhas no peridomicílio, evitando que localizem e se alimentem em seres humanos no interior das residências.  Outra utilização para a mistura, que vale a pena ser destacada, seria como substituta de seres humanos como iscas para armadilhas para mosquitos em estudos científicos.
Embora o estudo tenha sido pioneiro ao avaliar o odorante em uma área endêmica para malária, fica evidente que a mistura obtida ainda não pode ser usada como ferramenta de combate a picadas por mosquitos no interior de residências. Pelo contrário, esse uso poderia ser um risco maior a transmissão da malária, pois contribuiria para atração dos mosquitos.
De uma forma geral o trabalho chama a atenção para uma estratégia que pode ser empregada no combate à malária e outras doenças transmitidas por insetos.  Mais uma arma, que pode ser utilizada em conjunto com outras nessa batalha épica. Por enquanto continuamos perdendo...

Ilustração do artigo "Development and field evaluation of a synthetic mosquito lure that is more attractive than humans".

Zwiebel LJ, & Takken W (2004). Olfactory regulation of mosquito-host interactions. Insect biochemistry and molecular biology, 34 (7), 645-52 PMID: 15242705

Okumu FO, Killeen GF, Ogoma S, Biswaro L, Smallegange RC, Mbeyela E, Titus E, Munk C, Ngonyani H, Takken W, Mshinda H, Mukabana WR, & Moore SJ (2010). Development and field evaluation of a synthetic mosquito lure that is more attractive than humans. PloS one, 5 (1) PMID: 20126628

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