segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Micropartículas derivadas do plasmódio induzem estimulação de macrófagos


ResearchBlogging.org
Post de Vitor Ramos
Já é bem descrito na literatura a correlação entre as manifestações clínicas das formas graves da malária e a potente resposta imune pró-inflamatória tipo I. Uma precoce resposta imune pró-inflamatória das células T é essencial para o controle da infecção pelo plasmódio. Contudo, uma produção excessiva de citocinas pró-inflamatórias incluindo IL-6, TNF-a e IFN-γ podem também contribuir diretamente para as formas graves da doença, como a anemia grave, malária cerebral e lesão em órgão-alvo (revisão de Couper, KN; 2010).
Recentemente (29 de janeiro de 2010) foi publicado na PLOS Pathogens (6(1): e1000744. doi:10.1371/journal.ppat.1000744) o trabalho “Parasite-derived plasma microparticles contribute significantly to malaria infection-induced inflammation through potent macrophage stimulation”, de Couper e cols. Esta publicação é mais uma tentando desvendar o mistério por trás da ativação da resposta imune pró-inflamatória, principalmente tipo I, na malária. O produto primário do plasmódio que exerce este efeito permanece sob controvérsias. Outros trabalhos já identificaram possíveis produtos parasitários exercendo esta ativação imune: a hemozoina, pigmento malárico, acarreta a produção de TNF, IL-6 e IL-12p40 através do receptor TLR-9 (Coban, C. et al; 2005); nos últimos anos, atenção especial tem sido focada no GPI (glycosylphosphatidyl-inositol), que é capaz de induzir a secreção de TNF em macrófagos através do TLR-2 e CD36 (Patel, SN et al; 2007).
Neste trabalho, o enfoque é nas micropartículas derivadas do plasma (MPs), que já foram demonstradas em induzir a produção de TNF em macrófagos (Combes, V et al; 2005). As MPs são produzidas por diversos tipos celulares através da vesiculação da membrana plasmática como conseqüência da morte celular ou ativação imune. O objetivo deste artigo foi demonstrar a importância das MPs de eritrócitos infectados pelo Plasmodium berghei em camundongos na ativação imune de macrófagos e apresentar a sua via sinalizadora.
Alguns itens de destaque neste trabalho:
  • Mediu-se a ativação macrofágica através dos níveis da produção de TNF e expressão de CD40. Percebeu-se que os macrófagos (isolados da medula óssea de camundongos) eram muito mais ativados na presença de MPs de camundongos infectados pelo plasmódio do que os MPs dos não-infectados.
  • Estimulação de macrófagos diretamente com eritrócitos não-infectados ou, até mesmo, com infectados pelo plasmódio falhou em aumentar a expressão de CD40 e produção de TNF. Enquanto que os MPs plasmáticos de camundongos infectados são importantes na ativação imune.
  • Como as MPs podem ser derivadas de vários tipos celulares, o autor conseguiu demonstrar que a maioria delas é proveniente de eritrócitos.
  • Sabendo que as MPs, em sua grande parte, são de origem eritrocitária, restou a dúvida se eram provenientes de eritrócitos infectados ou não, já que os últimos também sofrem lise na anemia grave da Malária. Provou-se que as MPs são derivadas dos eritrócitos infectados pelo plasmódio. 
  • Os MPs derivados da inflamação não produzem atividade pró-inflamatória. As MPs derivadas de camundongos injetados com LPS não tiveram efeito pró-inflamatório como os MPs derivados dos eritrócitos de camundongos infectados pela Malária.
  • Existe uma associação temporal entre o acúmulo de MPs pró-inflamatórios e o início da malária grave
  • Para verificar se a inflamação é necessária para a produção de MPs imunogênicas, o seguinte experimento foi realizado: MPs de eritrócitos infectados isolados de camundongos TNF-/-, IL-12p40-/-, IFN-γ-/-, RAG-1-/- e dos normais produziram, em todos, os mesmos níveis de ativação de macrófagos. Ou seja, essas MPs são produzidas na ausência de inflamação.
  • Descobriu-se que o mecanismo de ativação de macrófagos pelas MPs derivadas de eritrócitos infectados é através do TLR-4 e MyD88.
Este artigo traz idéias novas e atuais sobre a ativação imune tipo I na malária grave em camundongos. Juntamente com a hemozoína e o GIP, o MPs configura-se no cenário da literatura atual como um novo candidato à sinergista no desencadeamento da cascata pró-inflamatória durante a infecção pelo plasmódio.

Couper, K., Barnes, T., Hafalla, J., Combes, V., Ryffel, B., Secher, T., Grau, G., Riley, E., & de Souza, J. (2010). Parasite-Derived Plasma Microparticles Contribute Significantly to Malaria Infection-Induced Inflammation through Potent Macrophage Stimulation PLoS Pathogens, 6 (1) DOI: 10.1371/journal.ppat.1000744

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