quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Anticorpos contra linfócitos apoptóticos alteram a resposta do macrófago ao Trypanosoma cruzi


ResearchBlogging.org
Novo trabalho do grupo de George dos Reis, com participação de Valéria Borges (LIMI) dentre outros colaboradores, acaba de ser publicado: “Apoptotic lymphocytes treated with IgG from Trypanosoma cruzi infection increase TNF-a secretion and reduce parasite replication in macrophages” (Fabricio Montalvao, Geisy M. Almeida, Elisabeth M. Silva, Valeria M. Borges, Rita Vasconcellos, Christina M. Takiya, Marcela F. Lopes, Marise P. Nunes and George A. DosReis. Eur. J. Immunol. 2010. 40: 417–425 DOI 10.1002/eji.200939606).
A infecção pelo Trypanosoma cruzi leva à produção de anticorpos contra o parasita, mas também contra moléculas do hospedeiro. O grupo já havia demonstrado que a fagocitose de linfócitos apoptóticos leva à exacerbação da replicação do T. cruzi em macrófagos, em um processo dependente da produção de PGE2 e de TGF-b1 (Freire-de-Lima et al., Nature, 2000).  O estudo agora publicado explora a possibilidade que anticorpos contra linfócitos apoptóticos possam ter um papel protetor durante a infecção por T. cruzi ajudando no controle da replicação do parasita por macrófagos.
Eles demonstram que existem anticorpos IgG capazes de opsonizar linfócitos apoptoticos tanto no soro de camundongos controles como nos chagásicos. Porém, apenas a opsonização feita com anticorpos do soro de animais infectados reduziu a replicação do T. cruzi nos macrófagos. Em relação às culturas tratadas com linfócitos apoptóticos sem opsonização ocorreu redução da produção de TGF-b1 e aumento da produção de TNF-a pelos macrófagos infectados. Este aumento da produção de TNF-a está diretamente implicado na ativação do macrófago e redução da carga parasitária.
Um dado muito interessante foi obtido in vivo. A preimunização com linfócitos apoptóticos ou a injeção de linfócitos apoptóticos opsonizados com IgG chagásica levou a uma redução da parasitemia de camundongos.
Os elegantes dados apresentados pelo grupo do Prof. dosReis ilustram o cuidado que todos devemos ter ao interpretar dados científicos. A adição de anticorpos ao sistema que incluía macrófagos infectados pelo T. cruzi e linfócitos apoptóticos leva a uma resposta totalmente diferente da encontrada na ausência de anticorpos. É possível, que o aumento da complexidade do sistema pela introdução de outros elementos leve a novas conclusões. Ou seja, a abordagem reducionista experimental é essencial ao progresso da compreensão de sistemas altamente complexos como os envolvidos na resposta imune, mas suas respostas devem ser tomadas com cautela.
Este estudo é também um bom exemplo de mecanismo de proteção imune mediado por anticorpos, mas efetuado pelo braço celular da reposta imune, avançando na eliminação das fronteiras entre os antigos campos da imunologia.

Montalvão, F., Almeida, G., Silva, E., Borges, V., Vasconcellos, R., Takiya, C., Lopes, M., Nunes, M., & DosReis, G. (2010). Apoptotic lymphocytes treated with IgG from infection increase TNF-α secretion and reduce parasite replication in macrophages
European Journal of Immunology, 40 (2), 417-425 DOI: 10.1002/eji.200939606

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