segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Novo Pres. do CNPq: orçamento, bolsas e ciencia basica vs aplicada.


Trechos da entrevista do novo Presidente do CNPq, na FSP de ontem, quando fala do orçamento da agência, dos valores de bolsa PG e investimento em pesquisa básica vs aplicada.  
No orçamento do CNPq para este ano está previsto o aumento dos valores de bolsa PQ, segundo havia sido informado à CATC pelo Dr. Zago, ao final do ano passado. Como a FSP nada perguntou sobre isto, o assunto não apareceu.

"FOLHA - Vem faltando dinheiro para o CNPq nos últimos tempos? 

CARLOS ARAGÃO - O ano passado foi um ano difícil. O orçamento do CNPq, pela lei orçamentária, veio abaixo do que foi necessário. Começamos com R$ 830 milhões. Ao longo do ano, tivemos um reforço. Com dinheiro de outras fontes, executamos R$ 1,678 bilhão.


FOLHA - É pouco? 

ARAGÃO - A pressão por novos programas e mais recursos é sempre muito grande. O CNPq nunca trabalha com folga.


FOLHA - Mas melhorou para este ano? Ou ainda há preocupação? 

CARLOS ARAGÃO - Nós temos preocupação, sim, com o orçamento, mas neste ano ele está melhor do que no ano passado. Já começamos com R$ 1,08 bilhão. É o maior orçamento que o CNPq já teve. Com o espaço que temos para correr atrás de mais recursos, esperamos que, no final, exista um aumento em relação ao ano passado.


FOLHA - Pós-graduandos podem sonhar com aumentos nas bolsas, então? 

CARLOS ARAGÃO - É sempre bom subir. Estamos aqui estudando o quadro atual e vamos ver o que vai ser possível fazer no orçamento. A gente tem consciência de que os valores já foram reajustados, tem se procurado reajustar de forma mais ou menos regular, sempre que existe uma folga orçamentária. Vontade sempre tem. Mas eu não poderia dizer agora que possibilidades nós vamos ter em relação a esse ano.


FOLHA - O sr. considera os valores atuais razoáveis? 

CARLOS ARAGÃO - A bolsa de doutorado é de R$ 1.800, por exemplo. Esse valor depende muito de onde a pessoa faz seu doutorado. Em uma cidade maior como São Paulo ou Rio, o custo de vida é mais alto.


FOLHA - O CNPq deve investir mais em ciência aplicada do que em ciência com utilidade prática menos imediata? 

CARLOS ARAGÃO - Não podemos correr o risco de despir um santo para vestir o outro. Existem áreas estratégicas, ligadas à energia, ao clima, áreas importantes para a indústria, como a nanotecnologia, áreas interdisciplinares, áreas que ainda são incipientes no país. Claro que a restrição orçamentária é um dado concreto, em um momento em que você tem de tomar uma decisão. Mas o investimento em uma não pode ser feito em detrimento das outras."

2 comentários:

  1. Evasivo...Espero que não seja mais uma gestão sem iniciativa direta em ciência básica de maneira sólida. Projetos tipo UNIVERSAL nunca alavancarão a ciência básica no pais.

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  2. Prezado Dr. Aragão:

    Permito-me fazer uso deste instrumento de comunicação para lhe fazer algumas perguntas, e apresentar sugestões.

    Pergunta: Não seria este o momento CERTO para finalmente adotarmos um modelo de auxílio tipo R0-I do NIH em nosso pais?

    Gasta-se uma energia (tempo) incrível submetendo projetos em programas de curta duração, disputando verbas que nos ajudam, mas continuam sendo bem aquém das necessidades.

    Os pesquisadores que possuem CV forte, capazes de apresentar projetos inovadores, deveriam ter mais tranquilidade para realizar seus trabalhos. Um sistema de auxilio inspirado no modelo do NIH (por exemplo, apoio durante 4 anos) poderia prover um pequeno pacote: recursos mais substanciais para consumo, equipamentos, além de permitir a contratação de Pós-Doutorandos (nem que fosse apenas 1 bolsa por pesquisador nivel 1A).

    Um das criticas que pode-se levantar em relação aos programas de apoio aos Institutos Nacionais do CNPq (critica também valida para o programa Milênio), e que afinal de contas, absorvem uma soma impressionante de recursos- é que este imenso guarda-chuva acaba indiretamente abrigando (financeiramente) um numero expressivo de laboratórios que cumprem um papel secundário (apoio tecnológico/logistico) dentro da rede. Ainda que sejam atividades importantes, deve-se reconhecer que estes grupos - dificil saber a proporção- acabam mantendo-se no sistema sem se expor ao processo de avaliação/competição direta do CNPq.
    Bons relacionamentos podem ser suficientes, dentro de uma rede tão grande.

    Um outro problema que já vem sendo detectado é a alta concentração (verticalização) na distribuição de recursos entre grupos de pesquisa. Existem lideranças que alcançaram estes status por inégavel mérito próprio.É natural/legítimo que se expandam. Outras, nem tanto (a atuação política é sempre compensatória...). Estes mega-grupos tendem a absorver um continente progressivamente maior de pos-docs. O processo natural de fortalecimento destes grupos acaba tendo impacto na alocação de vagas (contratação de docentes) em nossas instituições. Os novos docentes, uma vez contratados, disputam (e ganham por mérito) frações expressivas do orçamento colocado no programa Universal (e outros programas deste tipo). ESta expiral não tem fim. Se o CNPq pudesse fazer uma avaliação (ainda que aproximada) do volume de recursos TOTAL aplicado em cada pesquisador 1A, dividido pela sua produção científica (qualitativa), poderia detectar algumas distorções no sistema. Nenhum indice será perfeito, mas por outro lado, não podemos negar que a distribuição dos recursos já apresenta sinais de distorção exagerada. A natureza humana é assim, cabe ao CNPq ser mais vigilante, se estiver realmente disposto a agir em benefício da coletividade. Os jovens estão chegando, está na hora de abrir mais espaço para eles. Espero que estes comentários, feitos com a melhor das intenções, suscitem alguma reflexão.

    Atenciosamente

    Professor CNPq XYZ

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