quarta-feira, 31 de março de 2010

Of mice and men, in immunology


George dosReis chama a atenção para o texto da Science de 26 de março: Immunology Uncaged (doi: 10.1126/science.327.5973.1573), que comenta sobre os problemas resultantes da imunologia ser fortemente baseada em estudos em camundongos e da dificuldade de transpor os resultados para o homem:
“An immunologist argues that to move beyond mice and galvanize clinical research, his field needs its own version of the Human Genome Project. … Davis says: "Hundreds of clinical trials have been based on curing mice, but almost none led to clinical treatments." ..."Studies on mice are very elegant and beautiful, but they aren't reflecting the needs of the [human] population," says Jacques Banchereau, head of the Baylor Institute for Immunological Research in Dallas, Texas.
Assim, a proposta é um grande projeto para imunologia humana:
“… call for immunology to go big science in a very human way. If enough labs combine efforts to analyze the thousands of blood samples drawn in the United States or around the world every day, a so-called Human Immunology Project could quickly amass and scrutinize data from large numbers of healthy and sick people, Davis says. Within 5 to 10 years, he predicts, "we could have the first crude benchmarks of immune function." Davis doesn't know what these benchmarks will be—perhaps the levels of particular cytokines or the abundances of certain types of T cells—but he says researchers will probably settle on five or six variables that reflect overall immune status in people, the equivalents of LDL, HDL, and triglyceride levels.”

Mudança do Secretário de Ciência e Tecnologia da Bahia

Foi publicada, nesta quarta-feira, 31, no Diário Oficial do Estado, lista com nomes dos novos secretários estaduais que substituem os atuais gestores que deixaram seus cargos para concorrer nas próximas eleições. Confira a relação abaixo:

> Eduardo Salles substitui Roberto Muniz, na Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária (Seagri);

> F
eliciano Tavares Monteiro substitui Eduardo Ramos, na Secretaria da Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti);

> Arany Santana Neves Santos substitui Valmir Assunção na Secretaria do Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza (Sedes);

> Cícero de Carvalho Monteiro substitui Afonso Florense na Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedur);

> Wilson Alves de Brito Filho substitui João Leão, na Secretaria de Infraestrutura (Seinfra).

> Eugênio Spengler substitui Juliano Matos na Secretaria de Meio Ambiente (Sema);

> Paulo Cézar Lisboa substitui Rui Costa na Secretaria das Relações Institucionais (Serin);

> Antonio Carlos Marcial Tramm substitui Domingos Leonelli na Secretaria do Turismo (Setur);

> Luciana Tannus da Silva substitui Nelson Pellegrino na Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (SJCDH). 

Fator de Revisor?? mais sobre revisão por pares


A revisão por pares é essencial, mas é uma atividade anônima (para os autores e para os leitores - excetuando-se raras revistas que divulgam seus nomes) e realizada ad honorem.  Estes dois fatores contribuem para que muitos dos solicitados para a tarefa o façam sem os devidos cuidados.  Assim, vários textos tratam de como melhorar a qualidade das revisões. Há algumas propostas de punição (retardar a publicação dos trabalhos dos revisores que não enviam a sua revisão tempestivamente, e.g.). Há pouco entusiasmo para as propostas punitivas, mais bem se cuida de estimular o trabalho bem elaborado.  Nesta linha aparece, na Reviewers’ Update da Elsevier, o artigo Rewarding reviewers – could a Reviewer Factor be a solution?
A autora propõe uma forma de reconhecer o trabalho dos revisores e dar um valor prático para esta atividade através da criação de Fator de Revisor (RF). Este fator mediria a importância anual dos revisores no seu campo. O índice seria obtido pela soma do número de revisões na Web of Sciences ou Scopus multiplicado pelo fator de impacto da revista por ano.  As revisões enviadas a destempo.  A autora não esclarece se os editores poderiam reduzir a nota dos revisores que fizerem revisões aligeiradas ou rancorosas.
Parece interessante, para adicionar mais uma linha nos CV, mas lembrem-se que é uma arma de dois gumes: os indivíduos com alto Review Factor serão muito demandados pelos editores. 
A revisão por pares é tema frequente neste blog, confira o último post no assunto.

terça-feira, 30 de março de 2010

O que realmente significa “Estatisticamente significante”?


Todo estudante da área de ciências aprende a expressão “Estatisticamente significante”, quantos realmente entendem apropriadamente o que estão dizendo? Alguns conceitos simples de significância não são bem sedimentados. Assim muitos pensam que “estatisticamente significante” significa “biologicamente relevante”. De modo inverso, a ausência de significância estatística não significa que há uma evidência de inexistência do efeito ou da associação  (Ausência de evidência não é evidência de ausência). O engano acontece mesmo com aqueles que sabem definir estas diferenças.
A compreensão da significância estatística é um ponto de extrema importância na formação científica, pois a publicação de um trabalho pressupõe que os dados mostrados não aconteceram por mero acaso na amostragem ou devido a fatores não controlados no estudo.  Para uma análise crítica do tema, recomendo o artigoOdds Are, It's Wrong. Science fails to face the shortcomings of statistics” de Tom Siegfried no ScienceNews (March 27th, 2010; Vol.177 #7; p. 26).  O artigo é um pouco longo, mas merece o tempo dedicado à sua leitura.
Veja abaixo alguns tópicos do artigo para estimular a leitura:
“… there’s no logical basis for using a P value from a single study to draw any conclusion. If the chance of a fluke is less than 5 percent, two possible conclusions remain: There is a real effect, or the result is an improbable fluke. Fisher’s method offers no way to know which is which. On the other hand, if a study finds no statistically significant effect, that doesn’t prove anything, either. Perhaps the effect doesn’t exist, or maybe the statistical test wasn’t powerful enough to detect a small but real effect.”
“A recent popular book on issues involving science, for example, states a commonly held misperception about the meaning of statistical significance at the .05 level: “This means that it is 95 percent certain that the observed difference between groups, or sets of samples, is real and could not have arisen by chance.” That interpretation commits an egregious logical error (technical term: “transposed conditional”): confusing the odds of getting a result (if a hypothesis is true) with the odds favoring the hypothesis if you observe that result. A well-fed dog may seldom bark, but observing the rare bark does not imply that the dog is hungry. A dog may bark 5 percent of the time even if it is well-fed all of the time.”
“Because of the way statistical formulas work, a study with a very large sample can detect “statistical significance” for a small effect that is meaningless in practical terms. A new drug may be statistically better than an old drug, but for every thousand people you treat you might get just one or two additional cures — not clinically significant.”
“Ziliak studied journals from various fields — psychology, medicine and economics among others — and reported frequent disregard for the distinction. “I found that eight or nine of every 10 articles published in the leading journals make the fatal substitution” of equating statistical significance to importance, he said in an interview.”
Espero ter convencido que você não deve dormir hoje sem ter lido o artigo completo. Ou pelo menos não deixe de ler o tópico sobre erro em ensaios clínicos:
“Determining the best treatment for a particular patient is fundamentally different from determining which treatment is best on average,” physicians David Kent and Rodney Hayward wrote in American Scientist in 2007. “Reporting a single number gives the misleading impression that the treatment-effect is a property of the drug rather than of the interaction between the drug and the complex risk-benefit profile of a particular group of patients.”
Tem outros tópicos interessantes, sobre meta-análise e estatística bayesiana, por exemplo.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Efeitos adversos baseados em relato de paciente ou impressão dos médicos?



ResearchBlogging.org
Você sabe que os efeitos adversos listados nas bulas dos remédios é baseada na impressão dos médicos sobre os sintomas dos pacientes e não nos relatos dos próprios pacientes? Se não, você precisa ler o Perspective do New England Journal of Medicine, de 11 de março, The Missing Voice of Patients in Drug-Safety Reporting.
Se são sintomas não são observáveis pelos médicos. Se fossem passíveis de observação, seriam sinais. Os sintomas são expressos pelos pacientes, como então as informações das bulas são obtidas das impressões dos pacientes?
Não haveria problema se as duas medidas concordassem. O problema indicado pelo artigo do NEJM é que não há concordância nas duas medidas. O gráfico acima, retirado do artigo, dá uma indicação do grau de discordância em sete aspectos. 
Algumas vezes o médico pode ter a impressão que os pacientes estão super-estimando as suas reações e sintomas. Neste caso o filtro do médico poderia ser importante. Contudo, como estabelecer o grau de “filtro” que o médico pode estabelecer? A informação do médico pode, também, estar influenciada pelo grau de confiança que ele tem na droga testada, por exemplo, e estabelecer um viés. E, ainda pior, não podemos esquecer que estes relatos médicos são feitos em ensaios clínicos largamente financiados pela indústria farmacêutica.  
Considerando os exemplos recentes de problemas de informações médicas influenciadas indevidamente pela indústria de medicamentos, como relatado recentemente neste blog, é recomendável tomar bastante cuidado. Não deixe de ler o artigo. 

Basch, E. (2010). The Missing Voice of Patients in Drug-Safety Reporting New England Journal of Medicine, 362 (10), 865-869 DOI: 10.1056/NEJMp0911494

domingo, 28 de março de 2010

Aniversário de Salvador. Algo a comemorar?


"Em 29 de Março de 1549 chegam, pela Ponta do Padrão, Tomé de Sousa e comitiva, em seis embarcações: três naus, duas caravelas e um bergantim, com ordens do rei de Portugal de fundar uma cidade-fortaleza chamada do São Salvador. Nasce assim a cidade de Salvador: já cidade, já capital, sem nunca ter sido província." (Wikipedia)
Nestes 461 anos, muito se fez e outro tanto se deixou de fazer. 
Nas últimas décadas, "a cidade acumulou índices assustadores de compactação demográfica e veicular, concentração de pobreza, insegurança e destruição do meio ambiente, que apontam para seu colapso em curto prazo." Este é um trecho do artigo "Salvemos Salvador" do Dr. Paulo Ormindo por ocasião do 460 aniversário.
No ano passado o reproduzimos aqui, e o artigo continua atual. Vale a leitura.

Ilustração. Salvador por Nilton Souza publicada n'A Tarde.

Os testes atômicos e o vinho. Vinho atômico?


Ao provar o seu vinho você sente aromas e sabores de frutas vermelhas? couro? terra molhada? ....
e de solo do atol de Bikini com carbono radioativo? 
Não se apavore, o carbono radioativo está mesmo presente no vinho, porém em concentrações inócuas. Desde as últimas explosões atômicas realizadas na atmosfera é possível detectar o “pulso” atômico na composição dos vinhos.
Sem fazer mal à saúde, o “pulso” permite realizar datações precisas do vinho o que combate a fraude. Estima-se que cerca de 5% dos vinhos de colecionador podem ser representados por vinhos comuns (ordinaire) vendidos fraudulentamente como vinhos de topo de linha. Para ter uma idéia do potencial da fraude imagine que uma caixa de Chateau Lafite Rothschild 1982 foi vendida recentemente por mais de £25,000 (cerca de R$ 67 mil). 
Lógico que não vão fraudar os vinhos comuns que posso comprar, por falta de apelo econômico, mas o “pulso” estaria ali para me defender. Mesmo se você, como eu, não está sujeito à fraude na compra de vinhos, vale a pena ler o artigo How atom bomb tests could help detect wine fraud, do Guardian de 21 de março último.
Ilustração: Composição de imagens de vinho em taça, explosão atômica e explosão de vinho.

sábado, 27 de março de 2010

É o álcool que causa a ressaca?


ResearchBlogging.org
Você não acreditará que alguém publicou um artigo que demonstra que a ressaca se deve à ingestão de álcool. Quem financiou um estudo para saber se o álcool causa ressaca? O artigo Predictors of hangover during a week of heavy drinking on holiday é um forte candidato a Medical News of the Obvious.
Imagine-se examinando uma proposta de projeto nos seguintes termos: Metodologia - Entrevistar 112 jovens dinamarqueses em três ocasiões durante as férias num resort na Bulgária. Eu pensaria que é brincadeira, entender jovens dinamarqueses sóbrios já é uma tarefa sobre-humana, imagine bêbados, ou de ressaca. Não faço um estudo deste nem na maior brodagem! 
Os dinamarqueses têm a respeitável marca de 11,7 litros de consumo de álcool per capita na população acima de 15 anos. São o sétimo lugar no mundo (para os curiosos: o 1o. é Luxemburgo com 15,5, a França o segundo com 14,8 e a Espanha é 6o. com 11,7; Brasil e Bulgária são modestos, com 5,8 e 5,9, respectivamente). Estes dados de consumo médio estão em vários sítios da internet, veja um deles.
Voltando ao trabalho, os sujeitos da pesquisa preenchiam uma escala de ressaca (Acute Hangover Scale) e informavam sobre o consumo de álcool e a duração do repouso. 
Vejam os resultados: a incidência de ressaca foi de 68% após o consumo de 12 unidades padrão de álcool. A intensidade de ressaca aumentou significantemente durante uma semana de consumo elevado de bebida. Houve uma interação tempo e número de doses.
Sinceramente, quem não sabia disto? De todo modo, atente para o fato que quase um terço dos bravos daneses não teve ressaca mesmo havendo ingerido 12 unidades de álcool. Êta povo que aguenta bebida!
Ilustração: World map showing countries by alcohol consumption per capita. WHO 2008.

Hesse, M., & Tutenges, S. (2010). Predictors of hangover during a week of heavy drinking on holiday Addiction, 105 (3), 476-483 DOI: 10.1111/j.1360-0443.2009.02816.x

sexta-feira, 26 de março de 2010

PIBIC na UFBA


Comunicamos que estão abertas as  inscrições até 11/04/2010 para o Programa de Iniciaçaõ Científica PIBITI (Tecnológica) PIBIC e PIBIC/AF para o período 2010/2011.
 
Acessem http://www.sisbic.ufba.br (utilizem o programa mozilla firefox )
 
Para os bolsistas DCR ou PRODOC primeiramente  terão que fazer o cadastro no sistema sius (como terceirizados) no CPD (procurar o setor de atendimento), após isso se faz necessário trazer  na  secretaria do PIBIC na PRPPG, cópia comprobatória do vínculo com a  UFBA, que ateste a condição, para que possamos inseri-lo no sisbic e só dessa forma possam efetuar a  inscrição de projetos e planos.
 
Professores novos no sisbic e os alunos candidatos também, deverão efetuar o cadastro e obter uma senha que poderá ser modificada caso desejem e que será utilizada para ter acesso ao sisbic quando da realização de eventos do PROGRAMA (submissão de relatórios parciais e finais, incrições de projetos etc)
 
Segue abaixo um passo a passo.

acesse www.sius.ufba.br e clique no lado esquerdo da tela "senhas do sistema web" e depois "envio via e-mail" eles vão dizer para qual e-mail foi enviado a senha.
 
Caso não seja o e-mail que voce abre normalmente faça outro procedimento: solicitando vizualizar a senha na tela e proceda os caminhos que eles solicitam.
 
Para ver se seu cadastro está completo, após  a obtenção da senha fazer o procedimento que segue:
 
acesse www.sius.ufba.br e clique :
logo abaixo da frase :Informações e Recuperação de Senhas clique em : Página Inicial  ao abrir coloque login e senha aparecerá do lado esquerdo :
"privado
"inicio
"sua conta (pouse o "ratinho" sobre sua conta e escolha a opção: editar cadastro" ao aparecer seu cadastro complete as informações que precisem complementar, inclusive colocando o e-mail que voce utiliza para que tenhamos essa informação no sistema sisbic.
 
qualquer duvida ligue para o pibic 3283-7968.

Edital do PIBIC FIOCRUZ

EDITAL

A Vice-Presidente de Pesquisa e Laboratórios de Referência da Fundação Oswaldo Cruz (VPPLR- FIOCRUZ), responsável pelas cotas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PIBIC/CNPq), em conformidade com a Resolução Normativa N° 017/2006 do CNPq, torna pública a abertura das inscrições e estabelece normas relativas ao processo seletivo de candidatos a Bolsa de Iniciação Científica - nova ou de renovação - nas Unidades Técnico-Científicas.

1. Objetivos do Programa
1.1. Estimular pesquisadores produtivos a envolverem estudantes de graduação nas atividades científica, tecnológica, profissional, artística e cultural.
1.2. Proporcionar ao bolsista, orientado por pesquisador qualificado, a aprendizagem de técnicas e métodos de pesquisa, bem como estimular o desenvolvimento do pensamento cientifico e da criatividade, decorrentes das condições criadas pelo confronto direto com os problemas de pesquisa.

2. Inscrição
2.1. Período de Inscrição: 29 de março a 26 de abril de 2010. Não haverá prorrogação do prazo.


Veja o Edital completo.

Sonhos dos animais

Desenhos interessantes vistos no De Rerum Natura, fazendo jus ao nome: Da natureza das coisas.

Sentiu alguma solidariedade?
Veja mais uma:

Se você ficou muito sensibilizado, será que, em pouco tempo, questionará o uso de animais na ciência?
Neste caso, pense:
"If you oppose animal testing in medicine you favor human testing in medicine, or no progress in medicine."

Formação de médicos para o novo milênio. O desafio da escola médica


Início do ano letivo na Faculdade de Medicina e, à procura de alguns arquivos no computador, deparei-me com um texto que escrevi sobre a formação de médicos. Não lembro precisamente a época em que o escrevi, seguramente em torno do ano 2000. Encontro-o atual (ou parei no tempo, sempre há que se considerar hipóteses alternativas) e fico feliz que a nossa vetusta Faculdade tenha optado por modernizar o seu ensino. O processo de transformação curricular está em curso, a despeito das previsíveis resistências, e creio estar a dar bons resultados. As minhas experiências de ensino com os novos alunos, do eixo de formação científica e com os alunos da imunopatologia são muito gratificantes.
“As escolas médicas estão frente a um desafio de grande porte. Como formar médicos bem preparados que dominem um conhecimento sempre em expansão? A duração do curso médico é longa. Há muito tempo o curso de Medicina se estende por seis anos. A formação e atualização médica são feitas através da leitura de artigos científicos, publicados em revistas especializadas, e que apresentam os conhecimentos mais recentes nos diversos temas. A informação em todas as áreas da medicina tem aumentado de forma dramática, superando mesmo a capacidade de absorve-la completamente. O volume destas comunicações é surpreendente. Somente no ano de 1999 foram publicados mais de 58.000 artigos sobre câncer. Para sabê-los todos um estudante de medicina precisaria ler 160 destes artigos por dia, incluindo sábados domingos e feriados. Mesmo que dedicasse o seu esforço somente para esta tarefa, o tempo seria insuficiente. Não é possível, fisicamente, ler 160 artigos científicos num dia. Ainda que esta tarefa titânica fosse cumprida, o estudante estaria cobrindo apenas uma área da medicina. Tentasse ele saber também sobre diabetes, e teria que ler mais 23 artigos em cada um dos 365 dias do ano. Tarefa semelhante é colocada frente ao médico já formado, como se manter atualizado neste mar de informações? 
O aumento da duração do curso não resolverá o problema. Em cada ano que se prolongue o curso haverá um acúmulo de informações tão grande que a tarefa não teria mais fim. É necessário abandonar a postura de tentar transmitir todo o conhecimento, pela sua impossibilidade. Por outro lado, o ensino médico deve garantir a qualidade do egresso. A sociedade necessita de profissionais bem qualificados, capazes de cuidar integralmente da saúde. Ensinar apenas parte do conhecimento médico, formando arremedo de especialistas, é solução inadequada. Não há bons especialistas sem uma sólida formação geral em medicina. Não se pode entender adequadamente a parte sem uma compreensão harmônica do todo.
A tarefa que se impõe à escola médica é a de modificar o ensino aumentando a sua eficiência. Duas características devem ser estimuladas desde o início da formação médica. A capacidade de buscar a informação desejada e a seletividade na sua escolha. Sendo impossível ler tudo, o médico deve saber escolher qual a informação que necessita para entender um assunto, e exercer um espírito crítico sobre o que lê. Desnecessário salientar que nem tudo que se publica é do interesse de todos, e que nem tudo é de boa qualidade. O médico, em formação ou o já formado, deve ser capaz de separar o joio do trigo. Como adquirir esta capacidade? O domínio de conceitos e da metodologia pela qual se gera o conhecimento, aliado à análise cuidadosa de elementos que apontam para a qualidade de como a informação foi gerada, são capazes de fornecer os instrumentos para realizar com sucesso a seleção crítica da boa literatura médica. Buscar sempre a atualização, e reter o conhecimento necessário e de qualidade permite conhecer o que é importante para a boa prática.
Ensinar a buscar o conhecimento adequado na literatura médica resolve parte do desafio da escola médica que se pretende moderna. Há outros elementos na formação do médico, já que a medicina exige a prática. De pouco adiantaria um profissional conhecedor do saber médico e incapaz de realizar o exame, ou interpretar os resultados de exames, que lhe fornecessem os elementos para o diagnóstico. O ensino deve buscar novos espaços de prática, inserir o aluno desde cedo, e com supervisão, nos locais onde se realiza a medicina. A utilização de laboratórios, centros de saúde individual e da família para o ensino médico é útil para o ensino, e benéfico para a sociedade. Os esforços necessários para esta integração devem ser realizados pela área educacional e pela área da saúde.
O desafio da formação do profissional médico para o novo milênio pode ser realizado, depende da ousadia de implantar mudanças nas escolas médicas e de apoio da sociedade. O resultado será, seguramente, do interesse de todos.”
Ilustração. Fotografia do Prof. Fernando Carvalho: escadaria da bicentenária Faculdade de Medicina da Bahia.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Defesa de Tese de Bruno Bezerril Andrade

Defesa de Tese de Doutorado

BRUNO DE BEZERRIL ANDRADE
 “Identificação de potenciais determinantes imunológicos de gravidade da malária humana” 

Comissão  examinadora :

Drª Antoniana Ursine Krettli-                   CPqRR (MG)                   
Dr. Edgar Marcelino de Carvalho Filho  UFBA
Drª Marilda de Souza Gonçalves-            CPqGM                    
Dr. Mitermayer Reis dos Reis            CPqGM         
Dr. Manoel Barral-Netto                  orientador

Local : AUDITÓRIO do CPqGM
 Waldemar Falcão, 121 - Candeal
Data: 29/ 03 / 2010
Horário: 14 h

Nova rodada de financiamento da Gates Foundation



The Bill & Melinda Gates Foundation is now accepting grant proposals for Round 5 of Grand Challenges Explorations, a US $100 million initiative to encourage unconventional global health solutions. Anyone can apply, regardless of education or experience level.

Grant proposals are being accepted online at http://www.grandchallenges.org/explorations until May 19,2010, on the following topics:

New!   Create Low-Cost Cell Phone-Based Applications for Priority Global Health Conditions
NEW!   Create New Technologies to Improve the Health of Mothers and Newborns
      Create New Technologies for Contraception
      Create New Ways to Protect Against Infectious Diseases


Initial grants will be $100,000 each, and projects showing promise will have the opportunity to receive additional funding of up to $1 million US Dollars.  Full descriptions of the new topics and application instructions are available at http://www.grandchallenges.org/explorations.

We are looking forward to receiving innovative ideas from scientists around the world and from all scientific disciplines. If you don't submit a proposal yourself, we hope you will forward this message to someone else who might be interested.

quarta-feira, 24 de março de 2010

IL-32: proteção ou exacerbação da patogênese na infecção por M. tuberculosis?

Post de Theolis Barbosa Bessa
ResearchBlogging.org
A apoptose de macrófagos infectados por Mycobacterium tuberculosis parece ser um importante mecanismo de defesa contra o bacilo. As bactérias liberadas das células pouco responsivas podem dessa forma ser disponibilizadas para fagocitose e destruição intracelular por macrófagos ativados recrutados para o local de infecção. Corroborando essa hipótese, a capacidade de inibição da apoptose dos macrófagos hospedeiros tem sido relacionada à virulência de micobactérias (Velmurugan et al. 2007). A indução de apoptose em macrófagos infectados por M. tuberculosis está associada à sinalização pelos receptores toll-like 2 e 4, e à produção de TNF (Sánchez et al. 2009) e de superóxido (Hinchey et al. 2007). 
A IL-32 é uma citocina pró-inflamatória produzida por linfócitos T, células NK, monócitos e células epiteliais, sendo estas últimas a fonte predominante da citocina. Ela é encontrada em 4 variantes de splicing (IL-32α, IL-32β, IL-32δ e IL-32γ), sendo mais abundante o transcrito IL-32α. Sua produção é estimulada por IFN-γ e essa citocina tem como efeito o aumento da produção de IL-1β, IL-6, IL-8 e TNF. A IL-32 aparentemente não é secretada; sua liberação ocorreria apenas por morte celular. A liberação de IL-32 tem sido associada à indução de apoptose e à amplificação da inflamação nas doenças inflamatórias crônicas do intestino e na artrite reumatóide, além da infecção tuberculosa (Andoh et al.2008).
No artigo de Bai e colaboradores (2010) os autores demonstram que na infecção de células humanas de linhagem macrofágica THP-1 com M. tuberculosis a IL-32 tem papel na indução de apoptose, que é pelo menos em parte mediada pela caspase 3. A inibição da produção de IL-32 também foi associada à grande diminuição da produção de TNF e ao aumento da carga bacilar nos macrófagos infectados, sugerindo um papel direto da IL-32 e da apoptose no controle do bacilo. Cabe ressaltar, no entanto, que a IL-32 também foi implicada na apoptose de linfócitos T induzida por ativação (Goda et al. 2006), e elevada apoptose destas células em indivíduos com tuberculose ativa foi associada à anergia nestes pacientes (Abebe et al. 2010). Como observado na literatura em relação ao TNF, é possível que a IL-32 tenha papel dual na infecção por M. tuberculosis, estando implicada tanto na proteção quanto na exacerbação da doença.

Bai, X., Kim, S., Azam, T., McGibney, M., Huang, H., Dinarello, C., & Chan, E. (2010). IL-32 Is a Host Protective Cytokine against Mycobacterium tuberculosis in Differentiated THP-1 Human Macrophages The Journal of Immunology, 184 (7), 3830-3840 DOI: 10.4049/jimmunol.0901913

terça-feira, 23 de março de 2010

Patentes são boas para a saúde?


Uma mulher e seu médico no consultório:
- Doutor, minha mãe e minha avó tiveram câncer de mama. Devo fazer o exame para detectar mutações dos gens BRCA1 e BRCA2?
- Deve sim. O exame custa 3.500 dólares.
- Porque tão caro?
- É que estes gens estão patenteados desde 1995 e a companhia dona da patente determina o preço.
Isto é verdade. A companhia se chama Myriad Genetics e foi fundada por pesquisadores da Universidade de Utah que descobriram as mutações em 1993.
Assim, com pequenas alterações de tradução e forma, começa um interessante post de Pere Estupinya no seu blog Apuntes Científicos.  O blog, aninhado no El Pais, é muito interessante e desperta muita atenção. Os posts recebem um número alentado de comentários (ou inveja….).
Em maio do ano passado, falamos desta companhia e destas patentes (Pacientes e patologistas contra patente de gens), comentando uma notícia do New York Times sobre uma causa judicial movida contra o patenteamento de gens. Este ano o Boston Globe tratou desta questão (Protect biotech research, but not by patenting genes) veja o que eles dizem:
Under US patent law, no one can patent what occurs in nature. Inventors can patent the microscope that zooms in on an insect in the Amazon rainforest - or a drug that they invent based on the insect’s DNA - but not the insect itself. Yet for the past three decades, the US Patent and Trademark Office has been doling out exclusive patent rights to companies and universities for gene sequences they isolate from human chromosomes. In effect, researchers who discover what a specific gene does can retain the exclusive right to study it, and develop tests and therapies related to it.”
Pere segue deste ponto para tratar das patentes da indústria farmacêutica:
¿Cuál es el problema fundamental que pervierte la innovación en el desarrollo de nuevos medicamentos? Uno tan claro como éste: El coste de la investigación se recupera con el precio final en las ventas.
... La responsabilidad social de la industria farmacéutica es diferente. Y la manera en que está organizado el sistema de patentes actual conlleva una serie de consecuencias negativas:
a) Enfermedades olvidadas: No hay incentivos económicos suficientes para investigar en enfermedades que afectan desproporcionadamente a países en desarrollo sin capacidad de pagar precios altos por los medicamentos. Ejemplos: herramientas de diagnostico para la tuberculosis, o tratamientos para la enfermedad del chagas.
b) Las farmacéuticas gastan mucho más dinero en marketing y promoción que en I+D. En EEUU, hasta el doble según este estudio reciente.
c) Existe mayor interés económico en retocar fórmulas y patentar productos secundarios sin mejora terapéutica importante, en lugar de fármacos que afectan a pocos individuos, o a países pobres, y que requieran altos costes de innovación.
d) Muchos medicamentos se comercializan a precios demasiado altos para ser asequibles a pacientes y gobiernos, incluso del primer mundo.
e) Enfermos de Sida en países en desarrollo no pueden acceder a medicamentos más efectivos de segunda y tercera generación porque las patentes bloquean la producción de genéricos.
En fin, si otorgamos derechos exclusivos a las compañías farmacéuticas para recuperar los costes de la innovación, su comportamiento en el mercado tiende a ser monopolista, imponiendo barreras a la competencia para retardar la entrada de productos genéricos en el mercado. En Europa, la Comisión Europea se ha percatado del problema y está investigando el funcionamiento del sector farmacéutico con el objetivo de “averiguar por qué las farmacéuticas no fabrican medicamentos innovadores y por qué no aparecen genéricos alternativos más baratos".
O assunto é bastante complexo. Quanto ao patenteamento de gens, não me resta dúvida que não se deve fazê-lo, como já previsto na legislação atual em muitos países. Quanto ao desenvolvimento de fármacos, devemos nos perguntar: Sem a proteção intelectual, e possibilidade de retorno dos gastos, a indústria investiria neles? Leia o  post de Pere no  Apuntes Científicos.

Marcadores moleculares de exposição a picadas de flebótomos e seu uso com moléculas recombinantes na área endêmica. Trabalhos do LIP e LIMI


ResearchBlogging.org
Acabam de sair dois trabalhos do LIP e LIMI sobre a resposta do hospedeiro vertebrado às picadas de flebótomos e como esta resposta pode ser utilizada como marcador epidemiológico de exposição. Todos os dois trabalhos resultam de intensa colaboração, entre os laboratórios LIP e LIMI, com os parceiros nacionais do Maranhão e do Piauí, e com colaboradores internacionais, dos EEUU e da Espanha. Há de se registrar também a continuada colaboração com colegas que fizeram doutoramento no LIMI e LIP.
No primeiro trabalho, com Clarissa Teixeira como primeira autora, (Discovery of Markers of Exposure Specific to Bites of Lutzomyia longipalpis, the Vector of Leishmania infantum chagasi in Latin America. PLoS Negl Trop Dis 4(3): e638. doi:10.1371/journal.pntd.0000638) são descritos alguns marcadores de exposição específicos para a Lu. longipalpis

Há produtos capazes de funcionar como marcadores no homem e no cão:
“Salivary recombinant proteins are of value as markers of vector exposure. In humans, LJM17 and LJM11 emerged as potential markers of specific exposure to Lu. longipalpis, the vector of Leishmania infantum chagasi in Latin America. In dogs, LJM17, LJM11, LJL13, LJL23, and LJL143 emerged as potential markers of sand fly exposure. Testing these recombinant proteins in large scale studies will validate their usefulness as specific markers of Lu. longipalpis exposure in humans and of sand fly exposure in dogs.”
O passo seguinte seria testar estes marcadores recombinantes em estudos populacionais com amostras maiores.  Este é justamente o trabalho que foi publicado no mesmo número da revista.
O trabalho de Ana Paula (Using Recombinant Proteins from Lutzomyia longipalpis Saliva to Estimate Human Vector Exposure in Visceral Leishmaniasis Endemic Areas PLoS Negl Trop Dis 4(3): e649. doi:10.1371/journal.pntd.0000649), usa populações com diversas características e de diferentes áreas endêmicas para avaliar a utilidade destes marcadores na população e conclui que:
“Our results show the possibility of substituting Lu. longipalpis SGS for two recombinant proteins, LJM17 and LJM11, in order to probe for vector exposure in individuals residing in endemic areas.”
Os resultados são promissores para uso, pois não há reação cruzada com a resposta anti-Lutzomyia intermedia (figura abaixo). 


Teixeira, C., Gomes, R., Collin, N., Reynoso, D., Jochim, R., Oliveira, F., Seitz, A., Elnaiem, D., Caldas, A., de Souza, A., Brodskyn, C., de Oliveira, C., Mendonca, I., Costa, C., Volf, P., Barral, A., Kamhawi, S., & Valenzuela, J. (2010). Discovery of Markers of Exposure Specific to Bites of Lutzomyia longipalpis, the Vector of Leishmania infantum chagasi in Latin America PLoS Neglected Tropical Diseases, 4 (3) DOI: 10.1371/journal.pntd.0000638

Souza, A., Andrade, B., Aquino, D., Entringer, P., Miranda, J., Alcantara, R., Ruiz, D., Soto, M., Teixeira, C., Valenzuela, J., de Oliveira, C., Brodskyn, C., Barral-Netto, M., & Barral, A. (2010). Using Recombinant Proteins from Lutzomyia longipalpis Saliva to Estimate Human Vector Exposure in Visceral Leishmaniasis Endemic Areas PLoS Neglected Tropical Diseases, 4 (3) DOI: 10.1371/journal.pntd.0000649