domingo, 28 de fevereiro de 2010

Quer aprender a Teoria da Relatividade? Aula de Marylin

Confesse, você nunca entendeu porque Einstein ficou tão famoso. Afinal porque a relatividade é tão importante?
Aproveite a aula sobre relatividade que Marylin dá a Einstein.



Não entendeu?
Esqueça. Melhor tentar uma carreira tocando jazz!


Não sei bem o porque desta relação entre Marylin e Einstein, mas o blog De Rerum Natura divulgou a foto abaixo, com o texto:
"Por detrás de cada grande homem há uma grande mulher. Imagem preparada por Aude OLiva, do MIT, para o "New Scientist" de 31 de Março 2007. Ao perto vê-se Albert Einstein, ao longe (pode-se semicerrar os olhos, em vez de recuar) vê-se Marilyn Monroe."

Novidade do LIMI: Comemorações in absentia!

A foto mostra a mesa preparada para as comemorações de março:

  • Aniversários de Lílian e de Natália e
  • Formatura de Natali.

Só faltavam as homenageadas.

Aguarda mais, algumas ligações infrutíferas e ....

começam os parabéns!
Cláudia representou Lílian e Natália e Valéria representou Natali:
Depois dos parabéns, apareceu Natali e pouco depois Natália.
Da próxima vez, é melhor não confiar muito em festa surpresa.

PS. A torta e os pãezinhos estavam ótimos. Depois das fotos, apareceram também queijo e até umas cervejinhas.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Quem compra mais? homens ou mulheres?


ResearchBlogging.org
Para mim há pouca dúvida que, em geral, as mulheres compram mais ou, pelo menos, gostam mais de comprar que os homens. Há um prazer na atitude de comprar das mulheres raramente visto nos homens.  Sei que esta visão é compartilhada por muitos, de ambos os sexos. Mas quanto disto é preconceito ou humor e quanto é real? Uma pesquisa sobre diferenças de gênero nas atitudes de compra revelou resultados inesperados. Os dados estão relatados no estudo “Exploring gender differences in online shopping attitude” publicado em 2010 no Computers in Human Behavior (DOI: 10.1016/j.chb.2009.12.012. Bem, talvez não tão surpreendentes assim, se prestarem atenção que o estudo é sobre atitudes em compras online.
Segundo o artigo, os homens são mais inclinados a compras on line que as mulheres. As mulheres têm uma atitude mais positiva para compras convencionais e os homens a têm maior para compras online. 
No nível cognitivo, as mulheres são mais sépticas cépticas sobre compras online, elas temem riscos e ameaças relacionadas com esta modalidade.  No nível afetivo, as mulheres não gostam das compras online devido à falta de interação social.  O design do website também é bastante importante para as mulheres. 
As principais diferenças entre homens e mulheres para compras online são:
  • Os homens gastam mais tempo e dinheiro em compras online;
  • Os homens têm percepção mais favorável do desenho do site, da segurança,  da confiança e satisfação do site;
  • Os homens têm atitudes semelhantes nas compras online ou presenciais, já as mulheres gostam muito menos das compras online;
  • As mulheres preferem a avaliação física dos produtos;
  • Os homens preferem a facilidade da compra enquanto as mulheres valorizam mais a interação social.
Mesmo antes da evidências científicas, os vendedores tinham uma percepção disto. Na venda online, há mais produtos voltados para o público masculino, como como computadores e eletrônicos que produtos mais comprados por mulheres (decoração, roupas e sapatos).
Respondendo a pergunta do título: Depende, presencial ou online? 

Hasan, B. (2010). Exploring gender differences in online shopping attitude Computers in Human Behavior DOI: 10.1016/j.chb.2009.12.012

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Vírus e parasitas alteram o odor do hospedeiro?


ResearchBlogging.org
Que certas doenças levam à alteração dos odores do pacientes é sabido há muito tempo. Antes da existência do sofisticado armamentário diagnóstico os médicos usavam o olfato como uma das formas de chegar ao diagnóstico da doença.  Muitas doenças têm um odor característico e isto decorre da alteração do metabolismo e produção de produtos voláteis que podem ser percebidos na respiração ou transpiração. Quanto destas alterações podem se dever aos agentes causadores da doença? Neste caso, a alteração do odor é capaz de modificar o comportamento dos insetos vetores?
Um artigo recém publicado no PNAS, Deceptive chemical signals induced by a plant virus attract insect vectors to inferior hosts (DOI 10.1073/pnas.0907191107), trata deste tema em plantas infectadas pelo Cucumber mosaic virus (CMV). O aspecto central analisado é a alteração dos compostos voláteis das plantas infectadas, pois estes produtos são fundamentais para a atração dos vetores. A infecção do zuchini (Cucurbita pepo cv. Dixie) pelo CMV aumenta a atração de afídeos devido ao aumento da produção de produtos voláteis. Contudo, a infecção também reduz a qualidade da planta hospedeira. Os afídeos são intensamente atraídos, mas rapidamente emigram. Como isto afeta o vírus? 
“Thus, ... a pattern highly conducive to the nonpersistent transmission mechanism employed by CMV and very different from the pattern previously reported for persistently transmitted viruses that require sustained aphid feeding for transmission. …
our results suggest that the transmission mechanism is a major factor shaping pathogen-induced changes in host-plant phenotypes.”
Na interação entre vetores e vertebrados o odor também tem uma participação importante. O Anopheles gambiae é o principal transmissor da malária na África sub-saariana e ele localiza o homem pelo olfato. Petter Entringer publicou um post recente neste blog sobre “iscas” capazes de atrair o Anopheles mais que o homem. Tais abordagens decorrem do conhecimento das bases moleculares da atração dos vetores pelo odor. Um artigo recente “Odorant reception in the malaria mosquito Anopheles gambiae”, publicado na Nature (DOI 10.1038/nature08834), caracteriza o repertório de receptores de odor do A. gambiae e identifica receptores que respondem fortemente aos odores humanos e podem ter um papel no reconhecimento do homem.  Ademais comparam estes achados com o repertório da Drosophila melanogaster, que não apresenta atração pelo homem. 
Na discussão, os autores indicam que foi possível identificar receptores promissores e que podem ter impacto em medidas de controle da malária.
“Notably, some receptors that respond to human odorants are narrowly tuned and highly sensitive. Reciprocally, some notable odorants elicit strong responses from one or a few receptors. These highly focused relationships between certain odorants and receptors suggest a role for specific transmission channels in guiding the animal’s behaviour. A recent study of the D. melanogaster antennal lobe documented lateral inhibitory interactions that increased with greater total ORN input 43. Odorants that excite few receptors in the mosquito may produce signals that suffer less inhibition and enjoy more saliency. Another study found that ablation of either of two narrowly tuned ORN classes impaired behavioural attraction to their cognate odorants 44.”
No caso da leishmaniose, uma artigo de 2008, do grupo do Prof. Jailson Andrade “Headspace solid phase microextraction/gas chromatography-mass spectrometry combined to chemometric analysis for volatile organic compounds determination in canine hair: a new tool to detect dog contamination by visceral leishmaniasis” (DOI 10.1016/j.jchromb.2008.09.028) descreveu uma nova metodologia para avaliação do perfil de moléculas exaladas por pelos de cães, comparando cães mormais com animais infectados por Leishmania infantum. Os autores descrevem que foi possível separar cães sadios de infectados pela diferença em 2-hexanone, benzaldehyde, and 2,4-nonadienal. Assim, usando um método não invasivo e indolor se abre a perspectiva de identificação de biomarcadores para diagnóstico de leishmaniose canina.
Tudo isto mostra que os odores são importantes na atração de vetores e que há uma alteração do perfil de moléculas voláteis no curso de algumas enfermidades. Tais achados ocorrem para vertebrados e plantas, o que sugere uma vantagem seletiva muito forte.

Mauck, K., De Moraes, C., & Mescher, M. (2010). Deceptive chemical signals induced by a plant virus attract insect vectors to inferior hosts Proceedings of the National Academy of Sciences, 107 (8), 3600-3605 DOI: 10.1073/pnas.0907191107

Carey, A., Wang, G., Su, C., Zwiebel, L., & Carlson, J. (2010). Odorant reception in the malaria mosquito Anopheles gambiae Nature DOI: 10.1038/nature08834

DEOLIVEIRA, L., RODRIGUES, F., DEOLIVEIRA, F., MESQUITA, P., LEAL, D., ALCANTARA, A., SOUZA, B., FRANKE, C., PEREIRA, P., & DEANDRADE, J. (2008). Headspace solid phase microextraction/gas chromatography–mass spectrometry combined to chemometric analysis for volatile organic compounds determination in canine hair: A new tool to detect dog contamination by visceral leishmaniasis Journal of Chromatography B, 875 (2), 392-398 DOI: 10.1016/j.jchromb.2008.09.028

FORUM SOBRE O NOVO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA NO HOSPITAL ALIANÇA

Dia 19 de março de 2010 - 
No Auditório do Centro Médico Aliança - 8o. andar
Informações 2108-4687 ou 2108-5789

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Os EEUU (re)começam a ver a ciência no restante da América


A Science trará amanhã (26/02, na verdade já está no ar e anunciado no Twitter da Science) um texto de Timothy J. DeVoogd (professor no Department of Psychology and Field of Neurobiology and Behavior da Cornell University in Ithaca, NY) sobre cooperação científica EEUU e o restante da América”Science to Bridge the Americas (DOI: 10.1126/science.1183562)
Depois dos anos republicanos, parece que (alguns) americanos (os não envolvidos em detonar a reforma de saúde proposta por Obama) começam a olhar de novo a América além dos EEUU. Para o bem ou para o mal….
O autor recebeu uma Jefferson Science Fellowship das U.S. National Academies e viajou, no ano passado, por diversos países, visitando universidades, institutos de pesquisa e agências governamentais, buscando aumentar as conexões com cientistas estrangeiros. 
As observações do Dr. DeVoogd são bem intencionadas e econômicas, “With minimal additional resources, the United States could bolster such interactions.”; the U.S. State Department recognizes that "science diplomacy" in general is a powerful adjunct to other forms of international action…. The cost is trivial compared to that of other forms of "hard diplomacy.":
  1. Reformulação do programa Fulbright, para dar mais ênfase à ciência e fornecer um subsídio de retorno ao país de origem (re-entry support); 
  2. Um programa de visitas de 1 a 2 meses ao laboratórios nos EEUU: “Participants could learn new approaches to a research question and become part of a larger research network.”;
  3. Promoção de projetos conjuntos de pesquisa, com participação de diversas agências e dos países participantes;
  4. Realização pelas universidades americanas de cursos intensivos curtos, ensino à distância por internet e programas criativos de pesquisa para obtenção de Ph.D. (“many faculty members in Latin America would like to earn a Ph.D. in the United States but cannot leave family and job for long periods.”);
  5. Algo parecido com a UFBA Verão (ou nome parecido) para os estrangeiros de férias falarem ao aborígenes (“U.S. scientists visiting the Caribbean or Latin America for research or vacation could volunteer to spend time at a university, presenting their research and meeting with faculty and students.”).
Algumas propostas são ingênuas, como a 4, já que muitas universidades americanas, incluindo algumas grandes, já fazem esta atividade com fins comerciais. Outras inócuas para a ciência, como a 2, embora possam ter valor na "science diplomacy". Esta diplomacia científica da proposta 2 e a 5 não podem ser levadas muito a sério. Restam aspectos já bem conhecidos.
As propostas podem até ser bem intencionadas, mas têm um forte colonialist flavor.

Renato Cordeiro é escolhido para coordenação do Concea

Do JC online:

O ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, anunciou nesta quarta-feira, 24 de fevereiro, o nome do coordenador do Conselho Nacional de Controle da Experimentação Animal (Concea).

Renato Sérgio Balão Cordeiro, representante da Academia Brasileira de Ciências (ABC) no conselho, já preside reuniões do Concea em Brasília, nesta quinta e sexta-feira. Sua nomeação está publicada no Diário Oficial da União desta quinta-feira, dia 25.

O ministro Rezende conversou com o coordenador do Conselho e destacou os desafios que Cordeiro enfrentará. "O Renato [Cordeiro] terá muito trabalho para regulamentar a experimentação com uso de animais. Desejo uma boa sorte a ele", disse o ministro. Cordeiro participou ativamente do processo de tramitação do Projeto de Lei que criou o Conselho.

"Foram 13 anos de muito trabalho para aprovar no Congresso Nacional. Agora o nosso desafio é regulamentar e esclarecer à sociedade que a experimentação com animais é feita com muita ética e de uma forma bastante criteriosa visando sempre o bem estar da sociedade", destacou.

Até esta sexta, dia 26, serão aprovados o calendário anual de reuniões e definidos o regimento interno, os relatores e as Câmaras Temporárias para Elaboração de Normas do Concea.

Instalado em dezembro de 2009, o Concea reúne 28 representantes (entre titulares e suplentes) de ministérios, da comunidade científica e de sociedades protetoras dos animais legalmente estabelecidas no país. Entre as atribuições do grupo, está a função de credenciar instituições que utilizam animais em atividades de ensino e pesquisa científica, além de estabelecer normas, monitorar e avaliar técnicas alternativas e testes experimentais.

O Concea é órgão integrante do MCT e funciona como instância colegiada multidisciplinar de caráter normativo, consultivo, deliberativo e recursal. A criação do conselho atende à determinação da Lei 11.794. Após tramitar por 13 anos no Congresso Nacional, a Lei Arouca, como é conhecida, foi sancionada pelo Presidente da República em 2008 e regulamentada por Decreto em 16 de julho último.

Trajetória

Cordeiro é formado em Ciências Biológicas pela Universidade do Estado da Guanabara (UEG). Tem doutorado em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo (USP). O coordenador do Concea fez ainda pós-doutorado na Unité de Pharmacologie Cellulaire do Institut Pasteur, em Paris, na França.

Sua atuação profissional inclui a presidência da Sociedade Brasileira de Farmacologia e Terapêutica Experimental (SBFTE), de 1990 a 1993. Cordeiro foi também vice-presidente de Pesquisa e Ensino da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de 1997-2001 e diretor do Instituto Oswaldo Cruz, entre 2001 e 2005.

Hoje o pesquisador é membro titular da ABC e da Academia de Ciências da America Latina (Acal), consultor do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCT), membro da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) e da Comissão Intersetorial de Ciência e Tecnologia (CICT) do Conselho Nacional de Saúde.
(Assessoria de Comunicação do MCT)

Como motivar um grupo de pesquisa

ResearchBlogging.org
Post-zinho rápido para falar de um artigo que pretende indicar como criar um grupo de pesquisa motivado. !Vaya buena intención! 
O artigo How to Build a Motivated Research Group , Uri Alon , foi publicado em janeiro no Molecular Cell (37: 151-152, 2010 DOI 10.1016/j.molcel.2010.01.011).
Todos sabem que os grupos de pesquisa diferem em motivação, como de resto qualquer grupo. Segundo a descrição do autor, em alguns grupos os estudantes não conseguem esperar chegar de manhã no laboratório, não param de pensar em seus projetos e têm um senso de crescimento pessoal e intelectual; em outros grupos, após dois anos, os estudantes estão deprimidos, sem motivação e no final relutam em olhar seus próprios trabalhos. Confesso que neste ponto quase parei a leitura de texto tão maniqueísta.
Há alguns trechos interessantes, um deles é que muitas vezes se atribui a motivação apenas à responsabilidade do estudante: ou tem ou não tem. “However, research in psychology has begun to demystify motivation and can offer useful concepts for scientists. The goal is to provide people with the conditions that enhance their natural self-motivated behavior.”
Cita que alguns estudos realizados sobre a avaliação do comportamento auto-determinado (motivação) que o dinheiro e outros tipos de recompensa neste tipo de atividade aparentemente reduzem a motivação (Viram que o valor das bolsas está embasado cientificamente?).
O que leva à motivação? Competência, Autonomia e Conectividade social. Quanto à competência, não sobrecarregar o iniciante com tarefas acima de sua capacidade.
“...autonomy is essential for motivation. Autonomy is the sense that the project emanates from the person and not from an external source. Using threats or punishment tends to decrease autonomy. 
...
The third strand of motivation is social connectedness: having someone in the group care about you and your project.
….
And then a student gives a scientific talk, in which the group is given a role: imaginary referees if the project is before publication, brainstormers if this is a preliminary talk about a future project. I am mindful to explain jargon to newcomers and to appreciate members for effort in the face of tough problems and for helping each other. Over the years, this has created a culture of connectedness in the lab that is one of my main joys.”
No final tudo parece depender da escolha de um bom projeto. Precisa um artigo para chegar a esta conclusão?
Pouca coisa de nova ou importante. Conclusão: Buena intención, pobre resultado.

Alon, U. (2010). How to Build a Motivated Research Group Molecular Cell, 37 (2), 151-152 DOI: 10.1016/j.molcel.2010.01.011

Simpósio da Academia Brasileira de Ciências - Regional Nordeste em Salvador

Uma galega em NY com um brasileiro

Um pequeno filme da campanha para proteção à língua galega, no qual se enfatiza a semelhança entre o galego e o português, e também, como diz no filme, o brasileiro.

En galego, proba e verás from Coordinadora Galega ENDL on Vimeo.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Aedes sem asas podem controlar a dengue?


ResearchBlogging.org
Foi divulgado no early view do PNAS o artigo “Female-specific flightless phenotype for mosquito control” de Fu et al. (doi: 10.1073/pnas.1000251107) que relata a obtenção de fêmeas de Aedes aegypti sem asas, o que as torna efetivamente estéreis pois a reprodução da espécie depende do barulho feito pelas asas para atração dos machos. Isto pode ser uma estratégia para o controle da dengue?
A dengue continua a representar importante problema de saúde pública, com estimativas de 50 a 100 milhões de novas infecções por ano, e o Aedes aegypti é o principal vetor do vírus da dengue. O controle deste mosquito é considerado central nas estratégias de controle da dengue. As estratégias de controle do Aedes envolvem pulverização de inseticidas, com impacto sobre outras espécies e sobre o meio ambiente. Por isto, são buscadas outras alternativas.
A estratégia de liberação de machos estéreis (por irradiação) é utilizada em diversas situações. A biofabrica MoscaMed em Juazeiro (Bahia) produz machos estéreis de insetos que representam pragas da agricultura. Visa principalmente o controle da mosca Ceratitis capitata ou mosca de mediterrâneo (moscamed) que coloca seus ovos no interior das frutas. 
No trabalho discutido agora, os Aedes transgênicos foram desenvolvidos para que as fêmeas não desenvolvessem asas baseado no uso de promotor indireto para o músculo da asa, fêmea-específico, do gen Actina-4 do Aedes aegypti. Com isto se elimina a necessidade de irradiação e ao mesmo tempo é possível o uso dos ovos, para liberação no ambiente, e não de insetos adultos. Há várias vantagens nisto. Os ovos são mais facilmente transportados e sofrem menos na sua liberação no campo. Espera-se que com tal estratégia seja possível liberar um número tão grande de Aedes incapazes que estes superem os selvagens na área endêmica.
O aspecto da capacidade de sobrevivência no campo e sua maior capacidade de multiplicação e sobrevivência que o organismo selvagem é justamente o ponto fraco deste estudo. Em 2007, o grupo do Prof. Marcelo Jacobs-Lorena publicou no PNAS um artigo sobre mosquitos resistentes à malária (Transgenic malaria-resistant mosquitoes have a fitness advantage when feeding on Plasmodium-infected blood; PNAS 27;104(13):5580-3, 2007 doi: 10.1073/pnas.0609809104) onde descrevem a estratégia de introdução de gens que prejudicam o desenvolvimento do Plasmodium nos mosquitos. Eles haviam demonstrado que anofelíneos que expressam o peptídeo SM1 na luz do intestino médio têm prejuízo na transmissão de Plasmodium berghei. Um aspecto que os autores destacam no artigo é que os mosquitos transgenicos devem manter o fitness, não apresentando um desempenho menor que os selvagens, pois do contrário teriam dificuldade de sobrepujar os mosquitos selvagens e assim promover o controle. No caso do trabalho eles demonstram que os mosquitos transgênicos têm maior fecundidade e menor mortalidade que os selvagens. 
Os autores reconhecem a limitação:
“Further studies are needed to assess the mating competitiveness of males of specific strains, and their operational effectiveness in suppressing wild mosquito populations.”
De todo modo, e como também reconhecido pelos autores, estes Aedes transgênicos, mesmo se demonstrarem fitness apropriado em condições de campo, precisam ser integrados numa estratégia de controle e terão pouca utilidade se empregados isoladamente.
Ilustração Fig. 2 (parte) do artigo: Male and female adults (OX3604C þ tRE-DsRed) under white (E) and fluorescent light (F). Strong red fluorescence is visible in the IFMs of females, but not of males.
Fu, G., Lees, R., Nimmo, D., Aw, D., Jin, L., Gray, P., Berendonk, T., White-Cooper, H., Scaife, S., Kim Phuc, H., Marinotti, O., Jasinskiene, N., James, A., & Alphey, L. (2010). Female-specific flightless phenotype for mosquito control Proceedings of the National Academy of Sciences DOI: 10.1073/pnas.1000251107

Medlineplus para celular


A National Library of Medicine e o National Institutes of Health, dos EEUU, mantêm há longo tempo um serviço online de informação fidedigna em saúde, o Medlineplus. São informações confiáveis sobre tópicos de saúde, medicamentos, dicionário médico etc. Há também uma versão para celular. Na página do MedlinePlus há explicações apenas para o Blackberry e na Apple Store não o encontrei. (Nem tudo é perfeito).
Ouça um arquivo de divulgação da radio NIH sobre o mobile MedlinePlus.

Novas abordagens para avaliação de impacto das publicações. Conhece o SNIP?


O post poderia se denominar, para além do fator de impacto do ISI. Este tema é frequentemente discutido neste blog. Já abordamos as limitações do uso de citações como indicador de qualidade entre diferentes áreas do conhecimento e do risco do emprego deste indicador para avaliações individuais. Também vimos algumas das dificuldades do uso de citações como indicador de qualidade de artigos científicos, e outros indicadores que têm sido utilizados.
A colega Maria de Fátima Cruz, do IOC - FIOCRUZ, me alertou para uma série interessante de palestras sobre o tema disponíveis na rede.  São apresentações feitas na V Conferencia Internacional APE 2010 - Academic Publishing in Europe, realizada em Berlim, nos dias 19 e 20 de janeiro deste ano.
Há várias apresentações interessantes, mas recomendarei a palestra do Dr. Henk Moed, Universidade de Leiden: SNIP - A new metric for a new era. O novo indicador leva em consideração o potencial de citação da área do conhecimento do trabalho científico. Por isto se denomina Source Normalized Impact Factor (SNIP). Sem dúvida, a redução da influência da área (tanto o seu tamanho quanto o seu padrão de citações) é um avanço no uso de fator de impacto como um indicador de influência do trabalho na comunidade. Uma abordagem deste tipo, se cuidadosa, permitirá avaliações sem violentar o padrão de cada área do conhecimento. 
Outra que vale a pena conferir é a de Jan Velterop (Concept Web Alliance) Measuring is knowing - Or is it?. Ele apresenta dados do workshop Scholarly evaluation metrics, promovido pela National Science Foundation (EEUU) em dezembro de 2009. 

Catecol induz apoptose de células de gliobastoma


Post de divulgação de trabalho com participação do laboratório. 
ResearchBlogging.orgJorge Clarêncio é co-autor de um artigo recentemente publicado, pelo grup o do Prof. Ramon El-Bachá do Instituto de Ciências da Saúde -UFBA,  sobre o efeito in vitro do benzeno (mais precisamente do 1,2 dihidroxibenzeno - catecol) sobre células de glioblastoma: Catechol cytotoxicity in vitro: Induction of glioblastoma cell death by apoptosis, publicado no Human and Experimental Toxicology (29:199–212; 2010. DOI: 10.1177/0960327109360364.
A exposição ao benzeno leva a alterações hematopoiéticas, mas pouco se sabe sobre os seus efeitos sobre o sistema nervoso central. O trabalho agora publicado usou como sistema de teste a exposição in vitro .de células do glioblastoma GL-15 ao catecol.
O catecol induziu efeitos citotóxicos, dependentes de tempo e dose, sendo observadas alterações morfológicas, alterações funcionais e indução de apoptose.
O efeito citotóxico do catecol sobre as células do glioblastoma foi, assim, inequivocamente demostrado, nas condições testadas.

de Oliveira, D., Pitanga, B., Grangeiro, M., Lima, R., Costa, M., Costa, S., Clarencio, J., & El-Bacha, R. (2010). Catechol cytotoxicity in vitro: Induction of glioblastoma cell death by apoptosis Human & Experimental Toxicology, 29 (3), 199-212 DOI: 10.1177/0960327109360364

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Uma professora no II São Paulo Advanced Immunology Graduate Course (USP)


Post de Claudia Brodskyn
No período de 8 a 11 de fevereiro, aconteceu em São Paulo, na USP, o II São Paulo Advanced Immunology Graduate Course, seguido pelo II Symposium Research Advances and Progress in Immunology, organizado pela Dra. Loudes Isaac, Momtchilo Russo (ambos professores do Depto. de Imunologia da USP) e Dr. Mohamed Daha  (Department of Nephrology, Leiden University Medical Center, Leiden Holanda). 
O Curso ainda contou com a participação dos Professores: 
Dr. Gordon Brown da Aberdeen Fungal Group, Section of Immunology and Infection, Division of Applied Medicine, Institute of Medical Sciences, Foresterhill, University of Aberdeen; 
Dr. Yvette Van Kooyk  da VU University Medical Center, Amsterdã, Holanda; 
Dra. Vera Calich do Depto. de Imunologia da USP, 
Dr. João Santana da Silva,do Depto. de Imunologia da FMRP/USP e eu, 
Cláudia Ida Brodskyn da Fiocruz/Ba.
O formato do curso foi bastante interessante, com uma participação ativa dos estudantes, mesmo durante as manhãs, quando os professores apresentavam seus resultados e aulas. Os estudantes se comunicaram em inglês, o que me pareceu um aprendizado extremamente útil, obrigando-os a formular perguntas neste idioma, e apresentando também os seminários referentes aos artigos escolhidos.
Seria interessante reproduzir alguns aspectos deste curso em nosso meio, por exemplo, a vinda de professores estrangeiros ou de outros Estados do Brasil, certamente, permitiria uma interação com os estudantes, abrindo perspectivas para futuros projetos de colaboração e de pós- doutorado. Há alguns anos atrás, Dr. José Mengel organizou um curso semelhante, baseado nos moldes do antigo curso Yakult, e foi um sucesso total.  Em SP, o curso foi mais compactado e somente alguns aspectos da imunologia foram discutidos, porém, os temas foram atuais e permitiram discussões que ultrapassaram os resultados apresentados.
Infelizmente, não pude assistir todo o Simpósio, mas as conferências de Gordon Brown, sobre aspectos da imunidade inata contra fungos, principalmente relacionadas ao receptor Dectin-1 e de Dra. Yvette Van Kooyk sobre interações de DC com HIV, via DC sign ou Langerin mostraram a importância destes pesquisadores no cenário internacional. Assim, seria interessante fazer um esforço junto a pós-graduação e Fapesb para que estes eventos também ocorram no eixo Norte-Nordeste, trazendo alunos de outras regiões. Estas atitudes contribuirão para o desenvolvimento da Imunologia e novas possibilidades de interação, sem dúvida, serão benvindas.

Micropartículas derivadas do plasmódio induzem estimulação de macrófagos


ResearchBlogging.org
Post de Vitor Ramos
Já é bem descrito na literatura a correlação entre as manifestações clínicas das formas graves da malária e a potente resposta imune pró-inflamatória tipo I. Uma precoce resposta imune pró-inflamatória das células T é essencial para o controle da infecção pelo plasmódio. Contudo, uma produção excessiva de citocinas pró-inflamatórias incluindo IL-6, TNF-a e IFN-γ podem também contribuir diretamente para as formas graves da doença, como a anemia grave, malária cerebral e lesão em órgão-alvo (revisão de Couper, KN; 2010).
Recentemente (29 de janeiro de 2010) foi publicado na PLOS Pathogens (6(1): e1000744. doi:10.1371/journal.ppat.1000744) o trabalho “Parasite-derived plasma microparticles contribute significantly to malaria infection-induced inflammation through potent macrophage stimulation”, de Couper e cols. Esta publicação é mais uma tentando desvendar o mistério por trás da ativação da resposta imune pró-inflamatória, principalmente tipo I, na malária. O produto primário do plasmódio que exerce este efeito permanece sob controvérsias. Outros trabalhos já identificaram possíveis produtos parasitários exercendo esta ativação imune: a hemozoina, pigmento malárico, acarreta a produção de TNF, IL-6 e IL-12p40 através do receptor TLR-9 (Coban, C. et al; 2005); nos últimos anos, atenção especial tem sido focada no GPI (glycosylphosphatidyl-inositol), que é capaz de induzir a secreção de TNF em macrófagos através do TLR-2 e CD36 (Patel, SN et al; 2007).
Neste trabalho, o enfoque é nas micropartículas derivadas do plasma (MPs), que já foram demonstradas em induzir a produção de TNF em macrófagos (Combes, V et al; 2005). As MPs são produzidas por diversos tipos celulares através da vesiculação da membrana plasmática como conseqüência da morte celular ou ativação imune. O objetivo deste artigo foi demonstrar a importância das MPs de eritrócitos infectados pelo Plasmodium berghei em camundongos na ativação imune de macrófagos e apresentar a sua via sinalizadora.
Alguns itens de destaque neste trabalho:
  • Mediu-se a ativação macrofágica através dos níveis da produção de TNF e expressão de CD40. Percebeu-se que os macrófagos (isolados da medula óssea de camundongos) eram muito mais ativados na presença de MPs de camundongos infectados pelo plasmódio do que os MPs dos não-infectados.
  • Estimulação de macrófagos diretamente com eritrócitos não-infectados ou, até mesmo, com infectados pelo plasmódio falhou em aumentar a expressão de CD40 e produção de TNF. Enquanto que os MPs plasmáticos de camundongos infectados são importantes na ativação imune.
  • Como as MPs podem ser derivadas de vários tipos celulares, o autor conseguiu demonstrar que a maioria delas é proveniente de eritrócitos.
  • Sabendo que as MPs, em sua grande parte, são de origem eritrocitária, restou a dúvida se eram provenientes de eritrócitos infectados ou não, já que os últimos também sofrem lise na anemia grave da Malária. Provou-se que as MPs são derivadas dos eritrócitos infectados pelo plasmódio. 
  • Os MPs derivados da inflamação não produzem atividade pró-inflamatória. As MPs derivadas de camundongos injetados com LPS não tiveram efeito pró-inflamatório como os MPs derivados dos eritrócitos de camundongos infectados pela Malária.
  • Existe uma associação temporal entre o acúmulo de MPs pró-inflamatórios e o início da malária grave
  • Para verificar se a inflamação é necessária para a produção de MPs imunogênicas, o seguinte experimento foi realizado: MPs de eritrócitos infectados isolados de camundongos TNF-/-, IL-12p40-/-, IFN-γ-/-, RAG-1-/- e dos normais produziram, em todos, os mesmos níveis de ativação de macrófagos. Ou seja, essas MPs são produzidas na ausência de inflamação.
  • Descobriu-se que o mecanismo de ativação de macrófagos pelas MPs derivadas de eritrócitos infectados é através do TLR-4 e MyD88.
Este artigo traz idéias novas e atuais sobre a ativação imune tipo I na malária grave em camundongos. Juntamente com a hemozoína e o GIP, o MPs configura-se no cenário da literatura atual como um novo candidato à sinergista no desencadeamento da cascata pró-inflamatória durante a infecção pelo plasmódio.

Couper, K., Barnes, T., Hafalla, J., Combes, V., Ryffel, B., Secher, T., Grau, G., Riley, E., & de Souza, J. (2010). Parasite-Derived Plasma Microparticles Contribute Significantly to Malaria Infection-Induced Inflammation through Potent Macrophage Stimulation PLoS Pathogens, 6 (1) DOI: 10.1371/journal.ppat.1000744

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Egiptologia molecular: Tutankamon morreu de malária ou com malária?


ResearchBlogging.org
O estudo realizado em várias múmias egípcias, incluindo a de Tutankamon (Ancestry and Pathology in King Tutankhamun’s Family; JAMA 2010; 303(7):638-647 doi: 10.1001/jama.2010.121) recebeu bastante atenção da imprensa, tanto científica quanto leiga. Gostaria de comentar rapidamente dois aspectos: ele morreu de malária ou com malária? e o outro sobre os aspectos éticos de um estudo como este.
Ética
Começando pelo tópico da ética, não encontrei no artigo aprovação por um Institutional Review Board. Imaginei se os comitês de ética brasileiros aprovariam tal estudo. Em janeiro de 2009, postamos sobre Uso em pesquisa de dados ou amostras estocados. A Sociedade Brasileira de Patologia tem um parecer sobre o assunto (Parecer 31) que indica: “Desta forma a utilização de qualquer material biológico identificado necessita de termo de consentimento informado, porém quando o banco de dados trata-se de material biológico estocado (bloco de parafinas, laminas) ou materiais biológicos que seriam descartados após terem sido utilizados para fins de diagnósticos, estes poderão ser utilizados, desde que:
·Que não tenha acesso aos dados de identidade do paciente que forneceu o material ou outras informações que possam vir a identificá-lo
·Que o resultado desta pesquisa não gere informações que possam resultar em benefícios ou riscos para o paciente ou seus familiares.
Cabe salientar: para que a utilização seja realmente de material não identificável o paciente deve ser anônimo e a pesquisa isenta de conseqüências.”
Como, no caso, a identidade do paciente é bem conhecida e não há um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, creio que o estudo não poderia ser feito no Brasil.
Não me interpretem mal, não critico a realização do estudo, mas sim as nossas regulamentações muito rígidas. Aliás, não consigo entender também a parte do parecer que diz que para a utilização do material, a pesquisa deve ser isenta de conseqüências. Para que fazer uma pesquisa sem conseqüências???
Causa da morte
Ao ler a notícia na imprensa leiga, fiquei em dúvida se a malária havia mesmo sido a causa da morte de Tutankamon ou uma doença presente mas não necessariamente teria causado a morte. Os autores tratam deste aspecto e concluem que a malária esteve implicada diretamente na sua morte.
Eles alertam sobre o cuidado na interpretação da causa da morte e indicam que no caso de Yuya e Thuya (veja genealogia que ilustra o post) a malária não deve ter sido letal:
“Caution must be taken when interpreting cause of death in these mummies. It can be speculated that Yuya and Thuya had malaria, but it is not known if this was lethal ... either that the infection took place quite late in their lifetime, that they enjoyed strong genetic fitness, or that they acquired a partial immunity”
No caso de Tutankamon, embora tivesse múltiplas enfermidades, os autores implicam a malária na morte. Após reforçar que nem todos os pacientes com malária apresentam um quadro grave e potencialmente fatal, eles concluem:
“On the other hand, Tutankhamun had multiple disorders, and some of them might have reached the cumulative character of an inflammatory, immune-suppressive—and thus weakening—syndrome .... A sudden leg fracture possibly introduced by a fall might have resulted in a life-threatening condition when a malaria infection occurred.”
Contudo, as evidências adicionais à detecção do DNA do Plasmodium, não são exatamente convincentes:
“Seeds, fruits, and leaves found in the tomb, and possibly used as medical treatment, support this diagnosis…”
A presença de possíveis medicamentos na tumba me parece muito pouco. Enfatizo o possíveis, ou seja nem se tem indicação histórica que as sementes, frutas e folhas encontradas na tumba eram utilizadas contra malária no antigo Egito.

Hawass, Z., Gad, Y., Ismail, S., Khairat, R., Fathalla, D., Hasan, N., Ahmed, A., Elleithy, H., Ball, M., Gaballah, F., Wasef, S., Fateen, M., Amer, H., Gostner, P., Selim, A., Zink, A., & Pusch, C. (2010). Ancestry and Pathology in King Tutankhamun's Family JAMA: The Journal of the American Medical Association, 303 (7), 638-647 DOI: 10.1001/jama.2010.121